quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2330: A Marinha e a Força Aérea nas terras do Cantanhês (Mário Fitas, CCAÇ 763)

1. Mensagem do Camarada Mário Fitas, de 2 de Dezembro

Assunto - Os Marinheiros e os seus Navios

Caro Luís,

Corpo di bó, tá bom?

É verdade, há já alguns dias que tenho andado desenfiado. Mas só em termos de escrita, pois o trabalho de pesquisa e contactos continuam.

Como ainda sou "blufo" no Blogue, tenho andado a ver coisas para trasmente e tem sido de grande utilidade.

Vou ver se consigo falar com o Benito, para se fazer o levantamento das operações em conjunto das CCAÇ 763 e 1484.

Ao ler o Post Guiné 63/74 – DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (1), vi a correspondência trocada entre o Moura Ferreira da CCAÇ 1621 – substitutos da CCAÇ 763 em Cufar - e o Lema Santos sobre um ataque ao Orion ao largo de Cadique, em 8 de Maio de 1966.



Orion com as marcas da Guerra assinaladas. Foto de M. Lema Santos.

Fui aos meus canhenhos, e lá está: “O 2º. Grupo de combate (o meu) montou segurança a um comboio naval no Cais de Impungueda e o Pel Art a pedido das F.N. flagelou Cafal”.



O 2º Gr Comb da CCAÇ 763 em Impungueda no dia em que o Lema Santos descreve o ataque ao Orion. O chefe dos Vagabundos (Mário Fitas, o 1º da esquerda) com o Manuel Ferreira (o homem que fazia tiro instintivo com a MG42, e que foi evacuado com hepatite, nunca mais soube deste meu maravilhoso companheiro). Do lado direito, o meu Cabo Piçarra, cacimbado de Beja, grande amigo. Foto de Mário Fitas.

A narração da verdadeira Guerra vai-se completando. Não há hipóteses de engano, o cruzamento está feito.

Assim sendo, aqui vai mais uma aventura dos Lassas de Cufar, na esperança, que o Lema Santos saiba alguma coisa sobre quais foram as LDM e a LFG que safaram o enrascanço. Porque da parte da F. Aérea, o Victor Barata já me deu uma boa pista, sobre os pilotos respectivamente do T6 que aterrou de emergência em Cufar, Alf. Pilav. Ribeiro e o parelha Ten. Cor. Pilav. Lopes Pereira.

Narra assim, a História da CCAÇ 763:

17 de Setembro de 1965 – A Companhia a 3 Gr Comb colaborou na operação Retorno, planeada para aniquilar o IN referenciado no novo acampamento localizado em Flaque Injã, tendo embarcado pelas 24h00 no cais de Impungueda em 2 LDM.

Pelas 1h25 a Companhia desembarcou na bolanha imediatamente a oeste de Caboxanque, rapidamente progredindo e ultrapassando esta tabanca e a de Flaque Injã internando-se na mata a leste desta. Era intuito da Companhia dirigir-se ao antigo acampamento, destruído no decorrer da operação Satã, que constituiria o 1º objectivo a alcançar.

Durante a progressão dentro da mata foram emboscados 5 elementos IN, dos quais 2 foram aprisionados, indicando a existência do novo acampamento. Este foi imediatamente detectado e quando a Companhia montava o dispositivo para atacar, o IN rompeu fogo com armas ligeiras fazendo uso de cartuchos com bala tracejante. Apesar da forte resistência oposta, as NT conquistaram o acampamento repelindo o IN que atacou imediatamente e a quem causaram 6 baixas e apreenderam diverso material.

Depois de batido o local a Companhia dirigiu-se em direcção a Caboxanque surpreendendo um numeroso grupo IN que atacou imediatamente causando-lhe mais 2 mortos e apreendendo uma ML, uma pistola e munições. Posteriormente, quando junto ao rio e aguardando reembarque, a Companhia foi atacada por um grupo entre 100 a 200 IN que tentaram a aproximação fazendo uso de armas ligeiras MP e LGF. As nossas tropas ripostaram. Considerado, porém, o elevado número de elementos IN foi pedido o apoio da FAP que flagelou duramente as posições do adversário.

Um dos T6 foi atingido com 17 impactos, pelo que teve de aterrar de emergência em Cufar. Após um demorado contacto, e com reforço de 2 LDM e da vedeta que entretanto chegaram ao local, o IN foi reduzido ao silêncio e repelido, permitindo desta forma o reembarque da Companhia.


Nota:

Segundo os nossos informadores, seria uma Companhia do Exército Popular (FARP), comandada pelo Comandante Nino. Seria? Aqui já não pode haver informações. Só do outro lado.

Continuando:

Ontem, dia 1 de Dezembro, estive num almoço tradicional rememorando Vila Fernando, a minha pequenina mas bela aldeia do Alentejo. Não me é possível deixar de escrever aqui um momento que me comoveu, mas que me encheu de orgulho, quando o capitão Rui Baixa, meu companheiro de brincadeiras de criança, me descreveu, como - ainda primeiro sargento - com o seu cabo escriturário, em Guidaje, limparam as campas dos Páras ali sepultados, e de tábuas dos caixotes do bacalhau fizeram cruzes para assinalar que os Portugueses nunca seriam esquecidos. Orgulho-me deste Homem Grande da Planície.

Como na Pami, o formigueiro vai abrindo novos caminhos.

Quem quiser que saiba beber desta inesgotável fonte que é a Tabanca Grande.
Do tamanho do Cumbijã, o abraço de sempre.

Mário Fitas

2. Nova mensagem do Mário Fitas, em 3 Dezembro:

Olá, Briote,

(...) É verdade, toda a operação por mim transcrita da História da CCAÇ 763, tem a ver com o T6 e o envolvimento do Dakota.

Não há nada escrito na História da Companhia, mas as descrições nos dias seguintes demonstram, de facto, a grande actividade da CCaç 763. Pois, a mata de Cufar Nalu, as tabancas a Sul e estrada e cruzamento para Catió eram patrulhadas, pelo que está escrito com dois grupos de combate sempre fora, e o Pelotão de Artilharia a flagelar Flaque Injã, Caboxanque, Cadique Iála e Cadique Nalu.

Mas eu vou tentar descrever o que a memória vai buscar. Recordo perfeitamente que o Dakota ia levar um motor para o T6 e o equipamento necessário para a sua colocação. Só que em Setembro ainda é época de chuvas na Guiné. A pista de Cufar era na altura a melhor pista de todo o Sul, mandada fazer pelo Sr. Camacho, dono da quinta de Cufar e terá sido inaugurada pelo Gen Craveiro Lopes em 1955. Em terra batida, tinha uma certa consistência.

O Dakota fez-se à pista de poente para nascente, ou seja sobre o ilhéu de Cantone para Cufar, mais propriamente do fim da pista para a porta do aquartelamento rolando naturalmente. A determinada altura a roda esquerda do trem de aterragem foi deixando um rasto e enterrando-se na pista, até que a aeronave adornou um pouco e afocinhando, enterrou as hélices no chão.

O Dakota enterrado na pista de Cufar (o Mário Fitas é o 1º da direita). Foto do Mário Fitas.

Isto tudo poderá ser confirmado com mais pormenores por algum camarada ou, inclusive, pessoal da FAP que, pertencente à BA12, se deslocou para Cufar, para reparar tudo.

Pelo exposto, as fotos do T6 e do Dakota estão de facto relacionadas com a operação Retorno, de 17 de Setembro de 1965. E acho que têm cabimento na descrição.

Estou à espera que o Carlos Filipe me forneça mais alguns dados sobre os cães, pois ele é que chefiava a secção de cães. Assim que tiver o material envio.

Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas

PS - O assunto também inclui agora a malta da FAP. Era tudo boa gente, e para nós extraordinário sabermos que havia sempre alguém que dava uma ajuda quando havia enrascanço.
__________

Notas de vb:

(1) Vd.posts do Manuel Lema Santos:

25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1842: 10 de Junho: Nós também estivemos lá (A. Marques Lopes / Lema Santos)

21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1665: Operação Larga Agora, Tancroal, Cacheu, local maldito para a Marinha (Parte I) (Lema Santos)

13 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1586: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (2): Lema

7 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

1 comentário:

história e arte disse...

Viva!!
parabèns pelo blog, muito didático e fundamental para q as memórias não se percam... tive o previlégio de conhecer a guiné bissau em 2003\2004 e mais do q uma vez me aconteceu algo incrivel, quando nos aventuravamos para tabancas mais remotas e diziamos q eramos portugueses havia sempre alguem que nos apresentava com orgulho a caderneta de militar português, achei comovente como é q 30 anos depois e sem qualquer apoio do governo português as pessoas mantinham escrupulosamente guardado um documento que à partida os relacionaria com memórias negativas, mas pelo contrário eles mantêm esse simples papel como um elo a algo muito positivo... enfim mistérios da história... q sem dúvida q o vosso blog ajuda a dissipar!