quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3880: Blogoterapia (91): Eu, Ranger, me confesso: todos iguais, todos diferentes (Paulo Salgado / Magalhães Ribeiro)

Guiné-Bissau > Maqué > 26 de Fevereiro de 2006 > " O mais belo poilão que conheço da Guiné" (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp, sentado, ao lado do ex-1º Cabo Moura Marques; ambos pertenceram à CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; o comandante da companhia era o Cap Cav Mário Tomé ) (*)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Estrada S. Domigos-Varela > Edjim (ou Igim, de acordo com o mapa geral da Guiné, de 1961)> 10 de Fevereiro de 2006 > O Paulo Salgado, administrador hospitalar, cooperante, com um colega do Hospital Nacional Simão Mendes, à beira do Rio de Edjim, conversando com um antigo soldado guineense, apanhador de ostras. (**)

Guiné-Bissau >Olossato > 26 de Fevereiro de 2006 > O Grão-de-bico, ontem criança, hoje Homem Grande, pai de filhos, reencontra o Moura Marques e o Paulo Salgado... (*)

Fotos: © Paulo Salgado(2006). Direitos reservados


1. Do nosso camarada e amigo Paulo Salgado, que tem andado arredio do blogue (por viver e trabalhar neste momento em Angola) (Juntei três pequenos mails que ele me enviou nos primeiros dias de Fevereiro; e daqui vão as nossas melhores saudações bloguísticas).

Viva, Luís Graça,

Como dizem os brasileiros que por aqui pululam, nesta Angola que tanto cativa, que tanto apela ao negócio, e que seria um bom laboratório para a tua área: faz tempo!

Na verdade, ainda estou por Luanda, julgando que ajudo, julgando que querem o meu trabalho, julgando que há possibilidade de me sentir útil.

(...) Da celeridade que pões nos assuntos, do teu empenho e do teu sentido de solidariedade - ninguém pode duvidar. Já não assim do meu desleixo face ao que prometi quando almoçámos na Escola faz um ano. E também tenho sido um miserando bloguista! (...)

Põe lá este (pouco) saboroso naco de prosa, por favor. A propósito de uma mensagem de um 'ranger'.

Paulo Salgado


Já há muito que não escrevo nada para o blogue que o sempre sereno Luís Graça iniciou com tanta humildade intelectual. Por vezes somos confrontados, camaradas, com opiniões diversas - o que é absolutamente salutar. Afirmei isto, por diversas ocasiões, em 2005 e 2006, na altura presente na Guiné em trabalho de cooperação, a propósito de encararmos as actividades das NT e do IN sob diversos ângulos, e tive mesmo oportunidade de contar episódios concretos (ainda que não descritos na sua totalidade pelo respeito que a História me merece), os quais eram narrados de forma diferente pelos militares que participavam numa emboscada, num patrulhamento, num golpe de mão, ou caíam numa emboscada ou eram alvo de ataques ao aquartelamento.

Para mim, isto não é ciência nem representa qualquer melindre. Faço um parêntesis para vos dizer que na guerra de 14-18 estiveram dois homens da minha aldeia, juntos no norte de Moçambique, jovens que eu já conheci idosos, como é óbvio, e de que guardo recordações de grande humanismo. Pois bem: mesmo estando juntos na mesma guarnição lá junto do Rovuma, as histórias que contavam eram sempre diferentes...apesar de vividas lado a lado. As coisas relatadas dependem do clima emocional, da capacidade de olhar para as coisas, que sei eu?!

Mas vamos ao caso deste camarada [, Magalhães Ribeiro]: o de os ditos operações especiais não serem referidos nas crónicas dos bloguistas. Tem razão na mágoa que sente, ao não serem falados, julgo mais por esquecimento do que por acinte.

Eu fui Alferes Operações Especiais, comandei a companhia alguns meses, sofri como o caraças, tive medo que nem imaginais, participei em patrulhamentos e outras acções mesmo sem o meu grupo de combate. Não me sentia superior, em nada, aos outros camaradas alferes. Talvez sofresse mais, pelo menos antes das acções, pois sabia de antemão o que se iria passar nos dias seguintes e nas operações que desciam do Alto Comando em Bissau. Talvez sofresse mais pela responsabilidade de comandar 150 camaradas na ausência do Mário. Porra, noites sem dormir...

Havia um furriel que andou comigo em Lamego - nutríamos uma relação de proximidade, e ele gostava de dizer que era ranger... Era compreensível, julgo.

Por isso, camarada Ribeiro, não te zangues, os bloguistas vão repor os factos e relembrar que havia lá uns rapazes que tinham andado em Lamego, e que sem serem melhores, eram diferentes.

Mantenhas pa tudus. Salgado

Post scriptum: a espaços retomarei o meu lugar de bloguista,com vossa licença, sobretudo para falar de aspectos não militares que emolduravam a nossa presença na Guiné, que acabei por calcorrear meses e meses (anos até) como cooperante, sem ressentimentos, do meu lado e do de muitos combatentes que vim conhecer nas tabancas do Morés, de Buruntuma, de Mansoa...


2. Mensagem que circulou pela nossa Tabanca Grande, em 3 do corrente, enviada pelo nosso camarada Eduardo Magalhães Riberio, o pira de Mansoa (Trabalha no Porto, vive em Matosinhos; fez parte do 4º turno de 1973 do Curso de Operações Especiais/RANGER; missão na Guiné em 1974; criador e editor do blogue COISASDOMR > OPERAÇÕES ESPECIAIS/RANGERS DE PORTUGAL/GUERRA DO ULTRAMAR).

Asunto - O novo site da Guerra do Ultramar/Colonial (***)

Amigos bloguistas,

Já dizia o meu falecido pai (Sargento do Exército Português durante cerca de 50 anos), que "Quem não se sente, não é filho de boa gente". Ora, como eu penso que sou, aqui vai:

O nosso camarada/bloguista Pedro Lauret lançou e bem, digo eu, um poste que recebeu a referência P3829, onde se convida o pessoal para a apresentação do novo sítio da Guerra do Ultramar/Colonial, com o endereço: http://www.guerracolonial.org/(***).

Para vos ser franco, após uma primeira análise, para MIM (mim em letras maiúsculas para frisar que esta é uma opinião pessoal), nada traz de novo, é só mais um site, e passo a explicar porquê.

Dizem os camaradas que estiveram na guerra e, se calhar com muita razão, que os RANGERS/Operações Especiais eram, salvo raríssimas excepções, extremamente discretos.

Esta discrição, chamem-lhe qualidade ou defeito, é, ainda nos dias de hoje, incutida na instrução em Lamego, por motivos óbvios e inerentes à própria especialidade, e porque as missões a que eram destinados assim o impunham.

E se, por exemplo, os temíveis COMANDOS, os formidáveis PÁRA-QUEDISTAS, e os não menos terríveis FUZILEIROS eram treinados a nível de companhia, e assim permaneciam em actividade até ao fim das suas comissões, os RANGERS eram disseminados pelos diversos batalhões e companhias, de infantaria, cavalaria, etc. (****).

Muitos já no Ultramar, por convite ou voluntariado, integravam os famigerados e eficazes Grupos Especiais e Grupos Especiais Pára-quedistas, tanto em Moçambique, como Angola e na Guiné.

Não vou aqui falar dos feitos dos RANGERS, tanto nas companhias como nos diversos batalhões, nem sequer nos grupos especiais, que são sobejamente conhecidos por todos aqueles que passaram pela guerra, e porque há conceituadas altas patentes militares bem mais habilitadas para o fazer do que eu.

O que me surpreende e aos milhares de RANGERS que prestaram serviços de suma relevância nas 3 frentes da guerra, é que tanto o presente site, como os livros, as reportagens, etc. sobre o assunto Guerra do Ultramar/Guerra Colonial, são omissos, ou por ignorância, ou por outro motivo qualquer, na parte que lhes devia tocar, no tratamento da parte dedicada às tropas especiais.
Talvez por este motivo os meus camaradas desta especialidade, os seus familiares, simpatizantes e amigos, quando são chamados a ver estas coisas limitam-se a um encolher de ombros e a soltar uma, ou mais palavras de depreciação e desprezo.

Eu só digo:
- É pena ver isto tão incompleto!

Eduardo José Magalhães Ribeiro
Ex-Furriel Mil Operações Especiais/RANGER
CCS/BCAÇ 4612/74 - Mansoa/Guiné (1974)
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCI: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12): reviver o passado em Olossato

(**) Vd. poste de 30 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXI: Estrada de São Domingos: as minas de ontem e as de hoje (Paulo Salgado)

(***) Vd. último poste da série Blogoterapia > 1 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3874: Blogoterapia (90): Natal é quando o Homem quiser (Santos Oliveira)

(****) Vd. sítio Guerra Colonial (1961-1974)> Forças Portuguesas

4 comentários:

Anónimo disse...

Penso que a explicação poderá estar no próprio texto “ os RANGERS era dessiminados pelos diversos batalhões e companhias”...
Apenas conheci de perto um Ranger, o Fur Mil António dos Santos Mano que pertencia à CCaç 1439 ( madeirenses) sediada no Enxalé e que faleceu no dia 6-10-1966 em consequência duma mina a/c em Mato Cão, quando regressava de um reabastecimento a Missirá. Quando a noticia da morte chegou à companhia houve uma revolta geral, com situações de desespero que não foi fácil dominar.
Henrique Matos

Anónimo disse...

Para quem não usa corrector e escreve de rajada, os erros acontecem.Claro que queria dizer "disseminados".
Henrique Matos

Anónimo disse...

Está correcto,
Cada Companhia levava um Alferes e um Furriel de Operações especiais, tendo geralmente o Comandante o curso de Contra-guerrilha.
Tudos estes cursos, funcionavam em Lamecus!

Mário Fitas

Juvenal Amado disse...

Meu caro Magalhães
Na CCS do 3872 tinhamos um alferes e três furrieis Rangers todos pertencentes ao PELREC ( Castro, Silva e Vito. Também o alferes Armandino que morreu na emboscada do Quirafo era Ranger e originário de Lamego. O Dias do Dulombi são os que me recordo.
Embora esquecidos por alguns, não foram como vez esquecidos por todos.
Resta acrescentar que muito mato percorri com eles e a sua elevada preparação, faziam deles comandantes, em que se podia confiar.
Um abraço
Juvenal Amado