segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3927: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (2): Op: "Grão Mongol", "Firmes e Singulares" e "Sempre Firmes"

1. Mensagem de Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 10 de Fevereiro de 2009:

Um abraço:
Aqui vai mais um escrito em anexo:
As grandes Operações da Cart 2339.
CMS



CART 2339 – Fá Mandinga e Mansambo – 1968/69

As grandes operações da Companhia ( 1 ) – Op Grão Mongol

As grandes operações da Companhia ( 2 ) – Op Firmes Singulares e Sempre Firmes


12 viaturas. Coluna monstra.

300 auxiliares africanos vão estar na Operação, crianças armadas de Mauser e alguns com G3 e diligramas. Mas que guerra é esta !!!!!!

Cerca de 500 homens em marcha. Sol, calor sede. Barulho tremendo.

É impossível suster esta imensidão de gente.

A 21 de Março de 1968 a CART 2339 com dois meses de Guiné e a sua irmã gémea 2338 iniciaram uma batida no regulado de CHANHA e partir de MANA a sul da estrada Nova LamegoPiche até ao rio Corubal, um rio também cheio de tradições.

Boa zona para actuar e principalmente para quem acabado de chegar ao Teatro de Operações tinha ouvido contar estórias.

Detectar e aniquilar o IN era a missão.

Mas enfim, era a nossa missão e lá fomos. Longe da nossa casa mãe que era a ex-fazenda experimental do Aristides Cabral, com prédios em cal e tijolo e algum sossego, perto da estrada alcatroada para Bafatá e onde de caminho podíamos adquirir cabritos, leitões e vacas para nossa subsistência.

Participaram na Operação:

O CMD do BCAÇ 2835

Agrup Alfa – A CART 2338 a 4 GComb e Grupo verde de Aux. Mandingas

Agrup Beta – A CART 2339 a 4 GComb e Grupo vermelho de Aux. Fulas.

Saímos em 20 de Fevereiro às 08,00h de Fá para Nova Lamego em coluna auto e em 21 fomos transportados para CAMBAJÃ onde aguardámos as forças auxiliares com carregadores e guias.

A batida iniciou-se em 21 às 07,00h seguindo a nossa Companhia na rectaguarda da coluna.

A ligação entre grupos foi mantida, mas difícil.

Eram centenas de militares e acompanhantes. Nunca, nem pensava, assistir a tamanho folclore, sem esquecer que andávamos na zona do Boé.

Batida a zona entre Cumbijã e Sichã Alfa, pernoitámos.

Em 22 de Fevereiro prossegue-se a batida a caminho de Ganguiró. Já se nota uma grande desorganização e falta de autoridade das chefias das forças auxiliares com desobediência aos seus chefes.

É o CAOS.

À tarde a 5Km de Ganguiró, elementos do Grupo vermelho negam-se a prosseguir por falta de alimentos.

Apesar disso e acalmados os ânimos, pois a ração era para 4 dias, continuámos, mas a noite foi desastrosa. Fogueiras e barulho era o que estava a dar.

Afinal aquilo que tínhamos aprendido nas elementares regras da guerrilha estavam fora de contexto.

Assim, a 23 de Fevereiro o CMDT do Ag Alfa comunicou ao PCV o que se passava e este mandou retirar (suspender a Operação)

Atingimos Nova Lamego ao princípio da noite, depois de marcha extenuante devido à distância.

Quase metade das Companhias ficou inoperacional.

Bolhas nos pés, injectadas com mercuro-cromo, era o que estava a dar.

7 evacuados por Héli, mas chegámos todos.
8 Sem contacto.

Mas não terminámos aí.

Agora só tropa. Pelo menos saberíamos todos como agir.

Como bons militares e obedientes ao PLANO de OPERAÇÕES (bem delineado ???) voltámos à estrada em 25 de Fevereiro, na Oeração Sempre Firmes. Saímos de Nova Lamego para Canjadude a oeste do SIAI onde dormimos. (Canjadude é terra de boa memória para alguns de nós).

A CART 2338 a 58% e a CART 2339 a 60% (pessoal recuperado) a 26 de Fevereiro bateu o caminho para Ganguiró que atingiu às 09,30h, deslocou-se para sul e pernoitou na confluência dos rios Chorade e Bouro.

Em 27 de Fevereiro pelas 07,00h atingimos Dongol Siai cerca das 09,00h, regressando a Canjadude, sem contacto, mas com evidente esgotamento das NT.

Soubemos que esteve programada uma emboscada para o nosso regresso, mas felizmente saímos mais cedo em direcção ao destino – Nova Lamego.

Uma semana em beleza.

Em 28 pelas 06,00h saímos para Fá Mandinga.

Aqui nestas duas acções prenunciava-se o fim de MADINA do BOÉ e o desatre do CHECHE.

UM ANO DEPOIS.

CMSantos
__________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3862: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (1): Operação "Grão Mongol", a primeira

1 comentário:

Luís Graça disse...

Mail do Torcato Mendonça, que foi Alf Mil da CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69) e vive no Fundão:

Com um abraço aos dois. É bonito abrir o blogue e ver o "emblema" da minha CART.

A Operação foi em MARÇO de 68.
Fá Mandinga foi Estação Experimental do Engº. Agrónomo AMILCAR Cabral. Havia um Luís Cabral, irmão de Amilcar e 1º Presidente da Guiné; o Aristides Pereira foi, com os anteriores e outros, fundador do PAIGC. Como vocês, melhor que eu sabem, foi Presidente de Cabo Verde.

Desculpem a correcção.

Fui evacuado nessa operação (a primeira evacuação) acordei em Nova Lamego a ser assistido por uma Enfermeira Páraquedista (se ela ouvisse um beijo para ela. Não ouve mas mando um beijo para Elas, Mulheres do ar e Anjos para os apeados). Um médico apresentou queixa de mim ao CMDT do Batalhão etc. Fugi do "hospital". Fomos na repetição com os pés, a boca e sei lá que mais rebentados...foi a vingança do curandeiro...

O Carlos devia contar a "segurança" que fizemos, inicio de Fevereiro à ida de Sua Excelência o Senhor Presidente da Republica Portuguesa Almirante Américo Tomás, perdão, - Thomaz.

Renovo os abraços. Bom Carnaval. A Grã Mongal (destruição do Galo Corubal) foi no Carnaval.
Torcato