1. Comentário de José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, deixado no dia 23 de Outubro de 2009 no poste 5139*:
Caros camaradas,
Mais uma vez fomos espicaçados por um livro (que não li) que nos dá como derrotados na Guerra da Guiné.
Juntamos a isso um comentário que, para além de mal educado, não debate a teoria do artigo, e opta pelo insulto.
Matar o mensageiro não elimina aquilo que, sem se compreender bem porquê, alguns desses guerreiros do ar condicionado continuam interessados em divulgar: as inverdades da nossa guerra.
As atitudes derrotistas de alguns desses senhores ofendem, a avaliar pelos comentários, muitos de nós que nos interessamos por estas coisas.
Então, se nós perdemos a guerra, ou estávamos em vias disso, porque permitiram que nós continuássemos a matar e a morrer depois?
Será que, por isso mesmo, lhes tenho que chamar cobardes e assassinos?
Não o farei porque isso não trará de volta o soldado da minha Companhia, único amparo de uma mãe viúva e de uma irmãzinha de dez anos de idade. E, como ele, muitos outros que empaparam com o seu sangue o solo da Guiné.
Não o farei porque isso seria dar importância demais a alguém que, por obrigação e ética militares, tinha o dever de, no mínimo, contar a verdade. É na verdade que está a nossa honra, enquanto filhos de Portugal.
Não, senhores da guerra, se alguém saiu derrotado daquela contenda foram os senhores: porque não nos respeitaram na altura da guerra e, hoje, ofendem-nos.
Todos nós sabemos que um dos grandes problemas que nós tinhamos era a fixação de quartéis facilmente identificavéis. As nossas saídas eram vigiadas e, em muitos casos, até seguidas. Para o PAIGC era fácil atacar-nos.
Em contrapartida nós não tinhamos essas possibilidades em relação ao nosso inimigo. Tínhamos que trabalhar, e muito, para atingir os nossos objectivos, os nossos sucessos, que foram muitos.
Perguntas legítimas que podemos fazer aos senhores que nos ofendem:
1 - Quantos quartéis nossos foram tomados pelo PAIGC?
2 - De quantas zonas foram as nossas tropas expulsas pelo PAIGC?
Depois, comparem as vossas respostas com aquelas que têm para as seguintes perguntas:
1 - Quantos acampamentos IN foram tomados, melhor dizendo, passados a pente fino pelas nossas tropas?
2 - Quantas zonas de acção foram limpas pelo PAIGC?
3 - Onde e quando foram as nossas tropas impedidas de actuar no TO da Guiné?
Tenho a certeza que o prato da balança favorece, e de que maneira, o lado das nossas tropas.
Um abraço,
José Câmara
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5111: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (8): Guerras palacianas
Vd. último poste da série de 24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5151: Controvérsias (30): O despertar dos Combatentes (Mário Pinto)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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7 comentários:
AO ANÓNIMO ANTERIOR.
QUANDO A CORAGEM DE ASSUMIR AS AFIRMAÇÕES QUE SE PRODUZEM,ANDA ARREDIA,ALGO VAI MUITO MAL.
O ANONIMATO,NORMALMENTE ESCONDE
COBARDIA E FALTA DE CARÁCTER.
O ZÉ CÂMARA ENQUANTO MILITAR QUE CUMPRIU O SERVIÇO MILITAR NA GUINÉ ,E SOBRETUDO NA QUALIDADE DE HOMEM QUE NÃO FUGIU ÀS SUAS RESPONSABILIDADES,NÃO PODE SER INSULTADO DESTA MANEIRA.
NÃO CONSIGO VISLUMBRAR NESTE SEU TEXTO NENHUMA INVERDADE,POR ISSO MESMO,CONCORDO COM A GENERALIDADE DAQUILO QUE POR ELE FOI AQUI PRODUZIDO.
NÃO SEI SE SERÁ O CASO VERTENTE, MAS A MUITAS DESTAS MANIFESTAÇÕES DE DESILEGÂNCIA,COMO ESTA PRODUZIDA SOB A CAPA DO ANONIMATO, SUBJAZEM POSIÇÕES DE ABJECTA SITUAÇÃO DE DESERÇÃO,DE
VERGONHOSA ATITUDE COMO REFRACTÁRIOS,DE INACEITÁVEL POSICIONAMENTO COMO VENDE PÁTRIAS, TÃO HABITUAIS ENTRE DETERMINADOS GRUPOS DE PSEUDO INTELECTUAIS COM LIGAÇÕES A DETERMINADAS FORÇAS POLÍTICAS INTERNACIONALISTAS,
Ao anónimo:
TRETAS não temos, mas temos um nome e esse é HONRADO.
TETAS terá que ver a que lhe toca na distribuição que agora "recomeçou". A "massa das esmolas" vai dando para muito!
José Martins
Caro José da Camara!
Felizmente que o anónimo foi removido. Sou alérgico aos anónimos desde que meu avô enviovou, eu apenas com quatro anos fui para casa dele, porque ele não queria abandonar a sua casa e ir para casa de meus pais.
No tempo em que uma herdade do Estado Português com mil hectares, era guardada por um homem, apenas com um pau de marmeleiro. Quando existia algum problema, meu avô batia com o pau no chão e dizia:
"João Fitas até na sola dos pés!"
Com meu pai e meu avô aprendi muito. Mas deixemos esta história e vamos ao que interessa!
Se me permites coloco aqui o comentário que escrevi no P5139 sobre este assunto. Já é velho mas se o editor ou co-editores o quiserem transformar em Post, assumo como meu pai e meu avô a responsabilidade.
Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
CARO CAMARADA
Se procurares no anonimato das patentes que se escondiam atráz dos homens da frente e que hoje surgem anónimamente a comentar e palavrear actos e factos que não viveram, tens os verdadeiros derrotados desta Guerra.
Um abraço
Mário Pinto
Caríssimo José da Câmara,
Quem perdeu a guerra efectivamente foi PORTUGAL.
O PAÍS, A NAÇÃO, A PÁTRIA. disso não tenho dúvidas. Mas quem vendeu essa guerra (tamém não tenho dúvidas) àqueles que queriam lucrar com ela, ou seja AS GRANDES POTÊNCIAS(EUA,e URSS). E lá continuam instalados, uns no petróleo e outros nos diamantes e por íncrivel que pareça era a única
provincia ultramarina em que PORTUGAL já quase tinha a guerra no papo.
Mas os políticos,sempre os políticos, neste caso os antigos tiveram mêdo de recorrer a um referendo às populações inspeccionado pela ONU (estou completamente convencido que ganhavamos), perderam a melhor oportunidade de ganhar a guerra.
Os politicos que vieram a seguir venderam-na e muito bem vendida e não me estou a referir aos Movimentos de Libertação, não foram esses a pagar a conta foram os outros a quem já me referi.
A própria CHINA, que nem dinheiro tinha para dar de comer ao seu povo, mesmo assim comparticipava para ajudar os Movimentos de Libertação. Para cúmulo da ironia hoje PORTUGAL dá aos chineses que constituam empresas no nosso país condições, que não dá aos nacionais que queiram fazer o mesmo. COMO AS COISAS SÃO!
Mas quem não teve culpa nenhuma de se ter perdido as provincias ultramarinas foram os milicianos desde os capitães aos soldados constituídos em "BANDOS" dito por um general qualquer, outros até poderiam dizer "REBANHOS", mas não foram esses que falharam, ainda que por vezes a passar fome, mesmo assim não falharam.
Quero aqui também referir que os militares do quadro que comandaram o COP 3 a que nós pertencemos operacionalmente, quer o Ten. Coronel Correia de Campos, quer o Comandante dos fuzileiros Alpoím Calvão, pessoas por quem tenho muita consideração e respeito, se mostraram sempre muito dignos das missões que desempenharam.
Nao fomos nós que perdemos a guerra camaradas foram os pol'iticos que a fizeram e os políticos que a venderam.
Como podem ver camaradas, se alguém perdeu alguma coisa foi PORTUGAL,O PAÍS, A PÁTRIA, A NAÇÃO.
Chamem-lhe o que quiserem "E FAÇAM O FAVOR DE SER FELIZES".
Um grande abraço para todos do "camarigo"
ADRIANO MOREIRA -FUR. MIL. CART.2412 -BIJENE,BINTA,GUIDAGE E BARRO
1968/70
Ainda que esta sempre apaixonante questão de guerra ganha-guerra perdida já tenha sido alvo das opiniões de todos que a quiseram manifestar, a verdade é que, mais ou menos esporadicamente, ela volta à ribalta e presenteia-nos com as habituais cobardias de quem comenta escondido atrás do biombo do anonimato em plena demonstração da falta de hombridade, de verticalidade de respeito por si próprio.
Seja-me permitido também acicatar os ânimos dos que discordam do meu ponto de vista mas direi que há dois momentos absolutamente diferentes nesta discussão que urge chamar a atenção para não estarmos a falar, simultaneamente, de alhos e de bugalhos.
Por um lado, pergunta-se se a guerra estava ou não perdida, ora isso pressupõe uma altura antes da dita guerra acabar.
Por outro lado afirma-se que perdemos a guerra e isso dá a guerra já como terminada.
Se quanto ao primeiro ponto sou de opinião que a guerra não estava perdida, já no segundo reconheço que Portugal é que cedeu e aí, a haver a necessária contabilidade, admito que a perdemos.
Continuo, entretanto, a defender que a nós, combatentes, actores vivos dos acontecimentos, não nos cabe fazer a história. Essa será concerteza tema de profissionais ainda que os nossos depoimentos lhes facilitem a tarefa.
Ontem, quarta feira, assisti ao lançamento do livro "Em Nome da Pátria", escrito por um militar não interveniente naquela guerra mas que nem por isso deixo de lhe reconhecer o direito à opinião com a qual sou livre de concordar ou discordar.
O livro, prefaciado pelo Prof.Dr.Adriano Moreira que abrilhantou a sessão com a frescura do seu pensamento e a clarividência do seu raciocínio, é composto por 551 páginas de texto compacto, estruturalmente bem concebido ainda que o conteúdo possa estar eivado de anti corpos passíveis de alta contestação.
O ambiente na sala pareceu-me bastante heterogéneo e o modo desabrido e frontal do autor deu azo a vários cruzamentos e descruzamentos de pernas e aos "comprometedores" sons abafados dos rabos a virarem-se nas cadeiras...
Algumas palmas que entrecortaram a sua intervenção pareceram-me demasiado fundamentalistas a darem o ar de contas mal ajustadas com o passado.
Seguiu-se um "Porto" aquando da sessão de autógrafos durante a qual tive oportunidade de me dar a conhecer ao coronel Coutinho Lima e a quem lhe fiz a pergunta : " como tem convivido com a sua decisão de então ? " à qual me respondeu " muito bem pesem embora as opiniões de oposição algumas das quais muito violentas ".
Mais uma vez tive ocasião de lhe manifestar a minha maneira de ver de que não podemos querer ser senão os relatores da nossa estória para que outros escrevam a História.
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