segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5282: Gabriel Telo e José Carlos Machado, CCAÇ 3518, Guidaje, 1973: Presentes ! (Juvenal Candeias)




1. Mensagem do Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cacine, Guileje, Cameconde, 1971/74, membro da nossa Tabanca Grande desde Maio último (*)


Caros amigos,

O passado sábado, no Monumento aos Mortos do Ultramar, foi de muita emoção com a chegada dos restos mortais do Gabriel Telo e do José Carlos Machado (**), que pertenceram a uma companhia - CCaç 3518 - "irmã gémea" da minha - CCaç 3520.

Formámos as companhias no BII 19, no Funchal, donde saímos para a Guiné na madrugada do dia 20 de Dezembro de 1971, no Angra do Heroísmo.

Depois da IAO no Cumeré, viajámos novamente juntos para o Sul, eles com destino a Gadamael, nós a Cacine.

Estava também presente na cerimónia alguém que eu não via desde a Guiné. O Daniel Matos, Furriel Miliciano da CCaç 3518, que estava no mesmo abrigo em que o Telo e o Machado morreram. Foi ele que tratou de todo o trabalho fúnebre seguinte! Naturalmente que ele estava ainda mais emocionado e não conseguiu suster as lágrimas.

Desculpem lá este assunto, mas tinha que desabafar com alguém!

Assim sendo, hoje não há história com tiros e flagelações! (***)

Vai [, depois,] uma história breve e soft para desanuviar! E podem gozar-me à vontade! Eu quero é que vocês riam e sejam felizes! Nem que seja à minha custa!

Um grande abraço.

Juvenal Candeias

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4294: Tabanca Grande (136): Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cacine, Cameconde (1972/74)

(...) Como eu já tinha dito ao Luís, os meus textos têm normalmente algumas especificações desnecessárias para os antigos combatentes, mas a realidade é que eu os escrevo, primeiro que tudo para os meus filhos e a seu pedido! Portanto, se quiseres corrigir... estás à vontade! (...)

(**) Vd. poste de 14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5272: Efemérides (31): Regressaram os restos mortais de mais três heróis de Guidaje, Maio de 1973 (José Martins)

(...) (ii) 1º Cabo GABRIEL FERREIRA TELO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de João de Jesus Telo e Maria Flora Ferreira Telo, natural da freguesia de Paul do Mar, concelho de Calheta - Madeira:

Morreu em Guidaje em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidaje.

(iii) Furriel miliciano JOSÉ CARLOS MOREIRA MACHADO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de Manuel achado e Delta de Jesus Moreira, natural de freguesia de Ervões, concelho de Valpaços:

Morreu em Guidaje em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidaje. (...)


Vd. também os postes de:

22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)

24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1546: Lembrando a CCAÇ 3518, os Marados de Gadamael, retidos no inferno de Guidaje (Daniel de Matos)

(...)Como estive 22 dias cercado em Guidaje (Maio/Junho de 1973), gostaria de deixar também um testemunho. Tal como o posto de transmissões, nas fotos referidas também não aparece o abrigo do obus, destruído a 25 de Maio, onde me encontrava no momento do rebentamento da morteirada, com mais 15 camaradas, metade dos quais que ali se refugiaram durante um ataque do IN. Desses, morreram logo 6 (que dias mais tarde fui incumbido de enterrar nas imediações) e apenas eu não fui ferido (todos os outros se feriram com diferentes gravidades).

A maioria pertencia à minha companhia, independente - a CCAÇ 3518, Marados de Gadamael - que ali viu retidos 2 pelotões durante um abastecimento de cibe vindo de Bissau, fazendo segurança à coluna que inicialmente se destinava apenas a Farim.

Não percebo por que razão esta Companhia nunca aparece referenciada nos acontecimentos de Guidaje e nos efectivos que lá permaneceram nesses dias fatídicos. Aliás, o número de mortos em combate que muitas vezes é mencionado, parece-me incorrecto. Lembro-me de enterrar camaradas envoltos em lençóis, por já se terem esgotado os caixões...

Cordiais saudações
Daniel de Matos
(ex-Furriel Miliciano) (...)


(***) Vd. postes da série Histórias de Juvenal Candeias:

16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5113: Histórias de Juvenal Candeias (5): Vicente, o Piu

16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4961: Histórias de Juvenal Candeias (4): Há periquitos no Quitafine

1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4623: Histórias de Juvenal Candeias (3): Um Manjaco em chão Nalú

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4323: Histórias de Juvenal Candeias (2): Incêndio no Rio Cacine

7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4299: Histórias de Juvenal Candeias (1): Pirofobia ou a mina que não rebentou por simpatia

7 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Juvenal

Um forte e sentido abraço!
E deixa isso de "um homem não chora". Não resolve é problemas com choro, mas quando se é um ser humano integral o choro é redentor.
Hélder S.

Luís Graça disse...

É uma pena que o Daniel Matos não me tenha lido (ou não tenha querido responder a) o meu comentário, convidando-o a integrar a nossa Tabanca Grande...

É preciso um galo de todo o tamanho para "ir à lenha" e ser apanhado no inferno de Guidaje...
Juvenal, vê se localizas alguém da CCAÇ 3518... Temos escassa informação sobre os "marados de Gadamael" que vão morrer a Guidaje...

Um abraço. Luís

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Amigo Juvenal receba um forte abraço de um ex- combatente de Angola, fico sempre com um nó na garganta quando lembro todos os camaradas mortos naquela guerra e que não tiveram regresso, aos p+oucos vão regressando alguns.
O nosso governo não liga nada a isso nem ao menos manda arranjar as sepulturas existentes nas provincias de Angola, Guiné e Moçambique.
Deviam aprender com os franceses que tratam os cemitérios dos ex-combatentes da II Guerra.
Um homem deve sempre chorar, não falta de machismo.

Anónimo disse...

Caro Amigo Juvenal

Entendo a vossa comoção pelo regresso dos nossos camaradas, que é como já o disse um acto de justiça, temos de continuar dentro das nossas possibilidades, a pugnar para que mais alguns regressem.
Registo com muito agrado, que os camaradas presentes na cerimónia, homenagearam os nossos mortos com elevado sentido de honra, por mim agradeço por me sentir por vós representado.

Quanto ao camarada Daniel Matos, eu li o seu testemunho e gostava de saber qual foi a data em que foram a Guidaje, porque á Comp.as. que fizeram colunas para lá e não há esses registos.

Faço mesmo apelo que o camarada Luís Graça, encontrem malta da Ccaç 3518, para completar o puzzle de Guidaje.
Um grande abraço
Manuel Marinho

Anónimo disse...

Caro Candeias,
Só nós sabemos o que significa misturar as nossas lágrimas com a memória dos nossos camaradas que morreram, para que nós vivessemos.
Chora amigo.
Um abraço,
José Câmara

Anónimo disse...

Amigo Juvenal

Também eu fiquei emocionado quando, há dias, vi no blogue os nomes do Gabriel Telo (1º Cabo) e do José Carlos Machado (Fur. Milº).

Dois elementos da CCAÇ 3518 que, conjuntamente com a CCAÇ 3519 e com a nossa CCAÇ 3520, embarcaram na Madeira em 20/12/71 com destino à Guiné.

Só agora fiquei a saber que 2 pelotões daquela CCAÇ, tinham sido apanhados, "por acaso", no meio daquela tragédia.
Não sabia que as mortes tinham ocorrido em Guidage e muito menos que os seus restos mortais lá tinham ficado.

Fiquei estupefacto com o que ia lendo no blogue sobre os restos mortais dos nossos camaradas!!!

A partir de 1966/1967, o Estado passou a encarregar-se das trasladações...pois!!!!

Como foi possível que camaradas tombados em 1973 (outros haverá), enterrados em circunstâncias extremamente críticas, mas em local devidamente sinalizado, só agora tenham sido trazidos para Portugal?

Nesses dias, face aos constantes bombardeamentos, não havia evacuações em Guidage, mas...e depois? Quando as coisas acalmaram mais...?
Será que 1 mês, dois, três meses depois, os corpos não podiam ter sido recolhidos, trasladados e entregues às famílias para estas os poderem chorar e lhes darem um funeral condigno?

Como é possível que os nossos "comandantes" da altura (e seguintes), de lá e de cá, nada tenham feito a este respeito...?

Um abraço emocionado para o Daniel Matos.
A minha homenagem aos camaradas mortos e um abraço de condolências aos seus familiares.
Um abraço para ti, Juvenal
extensivo aos camaradas da Tabanca

José Vermelho
Ex-Fur. Milº. - CCAÇ 3520 - Cacine

José Marcelino Martins disse...

Caro Juvenal Candeias

Agradeço que entres em contacto com o meu enderesso electronico, ja que não tenho o teu disponivel.

Um abraço

josesmmartins@sapo.pt