O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos, em 28 de Junho Último, a seguinte mensagem a propósito do dia 10 de Junho:
Camaradas,
A propósito do título acima, escrevi um pequeno texto que deixo à vossa consideração. Penso que é um tema que eventualmente poderá ser apresentado a 26 Junho.
No separar é que está o ganhar
O 10 de Junho, o António Barreto e a Ana Duarte (poste P6591) obrigaram-me a uma reflexão sobre o que é ser um antigo combatente por oposição ao que deveria ser.
Comecemos pelo princípio, pelas perguntas:
Porque razão não estão os antigos combatentes unidos?
Porque se reúnem uns em Belém outros na Batalha, outros em Faro?
Porque se reúnem uns a 9 de Abril, outros a 10 de Junho, 11 Novembro?
Porque marcham apenas quando “alguém” os deixa marchar?
Porque ficam contentes quando “alguém” lhes passa a mão pelo ombro, seja uma choruda contribuição monetária de 150 euros anuais, ou o direito para alguns de marchar atrás da tropa, mas desde que não desfilem com os guiões?
Porque razão se contentam com a cerimónia de Belém no 10 Junho, com umas entidades oficiais a mostrar solidariedade mas a enquadra-los não vá o diabo tecê-las, com uns discursos bacocos e um almoço tipo piquenique (os piqueniques patrocinados pelos supermercados levam mais gente).
Porque deixam que, passados 36 anos do fim da guerra, os nomes de inúmeros mortos pela Pátria continuem ausentes na parede do Monumento?
E para terminar, porque aceitam que o Monumento fique ali, naquele lugar, escondido das vistas, não vá perturbar alguma mente mais sensível?
Quem tem as respostas, qual pedrada no charco, não é o António Barreto, o Presidente das Comemorações ou a Liga dos Combatentes, mas sim a Ana Duarte quando diz que, “no separar é que está o ganhar”.
Ou, por outras palavras, vejam lá se morrem para acabarmos com estes problemas.
Que diabo, não somos capazes de nos unirmos?
Unidos não precisamos de andar a pedir, podemos exigir:
- Exigir a inscrição imediata no Monumento do nome de todos os que morreram pela Pátria, independentemente de posto, credo ou cor da pele;
- Exigir ter uma cerimónia nossa, não a reboque das cerimónias ditas “oficiais”;
- Exigir marchar em continência ao Monumento, não os habituais Paras, Fusos ou Comandos mas todos os antigos combatentes, à semelhança do que se faz em Inglaterra no Remembrance Day.
No dia 26 vamos juntar 145 amigos para um almoço tipo “Remembrance”.
Que me dizem se no próximo ano formos todos a Belém, não para assistir passivamente a mais do mesmo mas sim para marchar em homenagem aos que morreram pela Pátria.
E 145 um ano, 1000 no seguinte, só precisamos de vontade e uma banda.
Que surpresa seria para as “forças vivas”.
E quando formos 1000 a desfilar poderemos dizer:
- Queremos o Monumento mudado para um lugar mais condigno, onde a Pátria honre verdadeiramente os seus mortos.
PS: Porque não para o cimo do Parque Eduardo VII, trocamos com as pedras do Cargaleiro.
Um Abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav na BA12
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
13 de Junho de 2010 >
14 comentários:
Caro António Matos
Se me permites, coloco o meu nome por baixo do teu.
Subscrevo uma a uma todas as palavras.
VAMOS EM FRENTE!
Jose Martins
Caro António Martins de Matos
Susbcrevo também inteiramente as tuas palavras.
O meu "elogio" às palavras de António Barreto tinham o significado de dizer que pela primeira vez em público, numa cerimónia oficial, era dito aquilo que nunca tinha sido dito sobre os antigos combatentes.
Mas também lá expresso o meu descrédito sobre a possibilidade de alguma coisa mudar.
Temos de ser nós como muito bem dizes a fazê-lo, porque ninguém o fará por nós.
Um abraço
Camarigo António Matos
Subscrevo inteiramente tudo o que disseste.
Está na hora de agitar as águas e provocar trovoadas nas bolanhas.
Vamos a eles.
"Á CARGA "
Luís Borrega
Caro António Matos:
A tua reflexão sobre o que foi dito no 10 de Junho e as questões que colocas são demasiado pertinentes.
Segundo ditado popular "quando a esmola é grande até o pobre desconfia".
Estou completamente de acordo com as tuas propostas e disponível para colaborar naquilo que entendermos, como necessário, para mostrarmos que existimos e temos vontade própria.
Um abraço
Manuel Reis
Caro camarada
Se me for permitido subscrevo na integra as tuas palavras.
Creio que nunca estive tão de acordo com uma proposta como esta.
Vamos a eles.
Um abraço
Mário Pinto
Caro António Martins de Matos
Camaradas
Já ando a dizer isso há anos, mas como sempre, ninguém quer saber.
Somos uma cambada de otários, quando podiamos ter muita força, é só querer.
Lembram-se da indignação que foi quando nos retiraram 50€ de 150€ (150€ já foi caro António Matos, agora não chega a 100) ao complemento anual? Não passou disso mesmo, só conversa no blogue. Para ex-combatentes veteranos de guerra, somos muito pacíficos. E chegou a ser proposto um dia para uma grande concentração, mas como habitualmente, deu em nada.
Já é tempo de dizer BASTA.
Um abraço
cumprim/jteix
Amigos & Camaradas,
Em tempos não muito distantes as diversas associações de combatentes, desculpavam-se e trocavam acusações mútuas, porque estavam muito divididas, sendo quase impossível chegar a um consenso sobre os modos mais eficazes de nos fazermos afirmar, a nível nacional, e lutar pelos nossos direitos.
Depois formou-se a federação dos combatentes, à coisa de 5 anos, com a quase totalidade das associações, e pergunta-se: para quê?
O que é que tem feito a federação?
Será que os subsídios do Estado impedem, ou entravam, posições e decisões?
Depois, eu penso que a culpa é apenas de todos os combatentes, que não sabem mostrar unidade, respeito, honra e dignidade.
Nos dias 10 de Junho, é vê-los encafuados às centenas, ou milhares, em inúmeros autocarros a caminho de Fátima, para o Dia da Criança, que a igreja criou para ajudar a dividir mais a malta.
Outros vão pescar, ou passear, ou...
Junto ao Monumento deslocam-se umas escassas centenas, fortes e firmes, mas sem a força da unidade.
E aqui, eu estou de acordo com acabar com este feriado, para aqueles que não o usam para o fim que foi criado e, já agora por falar neste assunto, com o fim dos feriados religiosos (Natal, Páscoa, Corpo de Deus, etc.), para os ateus e os não praticantes da religião católica!
Primeiro que tudo havia que mudar mentalidades, mas agora que estamos a velhos e estamos a desaparecer rapidamente?
Ao nível deste blogue poder-se-iam mobilizar umas centenas para uma manifestação, mas isso não era significativo, nem produziria força necessária para mudar o que quer que fosse.
Creio eu que a pressão deve ser TODA feita sobre a federação, mas, por sua vez, é INDISPENSÁVEL e INDISCUTÍVEL que a federação precisa do apoio de TODOS nós, para ter o poder de tomar uma posição dura e inflexível, sobre os nossos direitos e ambições colectivas, junto da Tutela e, se necessário de toda e qualquer força!
E ou ela actua ou então acabe-se de vez com ela!
Um abraço Amigo do, Magalhães Ribeiro
Até que em fim houve um ex combatente revoltado com todas as separações ou nós não somos todos ex combatentes, todos os herois que morreram têm o mesmo direito estarem escondidos dos mirones de toda a gente independente da cor, para não dar a conhecer quantos morreram pela Pátria.
Meus camaradas combatemos todos com o mesmo ideal, porm isso agora mais do que nunca só a nossa união fará com que a mentalidade daqueles que hoje se aproveitaram do que bom foi o 25 de Abril e esqueceram os que lutaram e morreram pela Pátria.
Não temos medo como sempre o fizemos em situações mais difíceis contem comigo "o meu lema é sempre pronto".
Pois como não podia deixar de ser subscrevo na integra tudo o que escreves-te e só a união faz a força
Um abraço
Fernando Chapouto
Fur Milic.O.P. CCaç 1426 Guiné 65/67
Amigos Camaradas.
Se me derem permissão direi que estou muito perto dos 70, mas com muita força para vos acompanhar nessa caminhada da luta pelos nossos direitos. Vamos em frente e fazer uma mobilização geral pressionando os governantes do governo sem rumo a olhar para os Ex. Combatentes de uma forma mais atempada e consideração .
Um abraço para todos do Valentim Oliveira.
Caro Antonio Matos
Até que enfim que alguem tem palavras mais que certas, para a coragem que nos tem faltado. Estamos todos "acomudados" só se diz em bocas baixas o que nos incomoda, e fica por aqui.
Caro amigo, conta comigo para levar para a frente, todas as iniciativas para dignificar todos os combatentes. Estou ao dispor, aqui vai o meu compromisso, desde que fique á porta a politica, religião e afins, porque o assunto só a nós diz respeito.
Um abraço
Rogerio Cardoso
Ex-Fur.Mil.Cart643-Aguias Negras
Caro António Matos
Subescrevo totalmente o que escreveu sobre como nos dividimos e como nos querem tratar.
É tempo de todos os ex combatentes terem perfeita consciência de como temos sido trtados e é igualmente tempo de todos juntos exigirmos que os governantes deste país olhem para nós enquanto cá andamos porque a idade não perdoa.
Um abraço
António Branco
Guiné 1972-1974
É meritória e de aplaudir a ideia de mudar o monumento para o alto do Parque, embora não me pareça que tal venha a acontecer.
Como disse, não tendo havido oportuna integração das condições e das implicações sociais da Guerra d'África na consciência colectiva não me parece que o acontecimentos venha alguma vez a constituir-se 'memória histórica' pelo que se me afigura improvável que alguma entidade pública de natureza política assuma essa iniciativa, uma vez que prestigiar a tropa não é, na nossa terra, um costume arreigado e por conseguinte não promoveria quem a tomasse.
Definitivamente o orgulho de ter sido combatente passaria(apesar do desfecho) mais pela assumpção dessa condição quanto ao espírito e cumprimento da missão, exitos e resultados do que pela visibilidade espectacular e um tanto desfigurada que tanto é utilizada para promover um escritor morto como um futebolista vivo. Ora, a tropa não é bem 'isso' e a tropa não carece de visibilidade televisiva, carece apenas do reconhecimento institucional e da dignificação que nunca teve.
Há porém militares muito responsáveis pelo perpetuar deste 'estado de coisas'.
Há também militares cuja forma de pensar e agir sempre foi cúmplice deste 'estado de coisas'.
Não seriam pois, agora, civis aposentados e militares reformados que viriam a ter um peso que não fosse além da encenação de que vimos um primeiro ensaio.
E!
seria bom não perder de vista o caracter dispiciendo deste comentário.
E dos outros, neste meio.
SNogueira
Estamos todos morrendo lentamente. Para muitos de nós teria sido melhor termos morrido em combate.Os MALES que esta guerra nos provocou e que nos vai matando lentamente, foi a pior coisa que nos podia ter acontecido.Estes politicos que nasceram pós 25 de Abril, a maioria de pais que não estiveram na guerra, jamais darão um passo por nós.è preciso agitar este sentimento de revolta, porque é que esperamos.
José Costa ex-militar na Guiné 1968/1970.
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