terça-feira, 21 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7016: (In)citações (9): Rosinha, preservemos o que temos de melhor em comum, na história das relações entre os nossos povos: a língua, os fortes laços afectivos (Nelson Herbert)

1. Texto de Nelson Herbert, enviado como comentário ao poste (presume-se)  P6971, de António Rosinha:


Mais Velho Rosinha...

É complicado abordagens do género, versando o pré e pós-colonização, sobretudo na perspectiva, por vezes simplista,  em que o coloca. Mas no fundo são leituras suas, com as quais confesso não concordar, apesar de as respeitar.

A gesta da emancipação de um povo está por assim dizer, pela ordem inversa da filosofia de qualquer colonização.

Por conseguinte toda e qualquer colonização, acaba por carrear mágoas,feridas e por vezes sensibilidades à flor da pele...

Dai que convenhamos...quiçá tivesse sido melhor não ter havido colonização ou qualquer outra espécie de submissão humana, com base em fundamentos inócuos ...de um povo ou cultura superior a outro. Mas como diriam os angolanos,da Angola da sua juventude, "agora que esta assim como está, vamos fazer mais o quê,então ? "

Diria eu...resta-nos preservar o que de positivo se assemelha, nesse capitulo da história comum dos nossos paises e povos...ou seja a língua,  os fortes lacos afectivos...isto sem perdermos de vista a verdade histórica...

Falar de divergências ou supostas animosidades entre caboverdianos, guineenses mestiços e guineenses negros, implicaria decerto evocar as responsabilidades da colonização nesse processo... particularmente a forma maquiavélica com que soube por vezes explorar as divergências e conflitos locais, latentes a qualquer sociedade!

Portanto, por aqui deduza-se... o próprio PAIGC foi.  em certa medida, uma emanação da Guiné Colonial, com todas as suas "virtudes  e vicissitudes" ! 

E neste particular confesso pois ter alguma dificuldade em compreender a abrangência do seu raciocínio sempre e quando se refere aos "caboverdianos do PAIGC"...partido...em cujas fileiras militavam guineenses negros ( uma multiplicade de grupos étnicos),  guineenses mestiços ( de várias origens) mas também eles parte do mosaico étnico nacional e caboverdianos.Estes últimos engajados numa causa, numa trincheira comum,  que também se manifestaria determinante ao desfecho do processo nacionalista nas ilhas atlânticas.

Por conseguinte antecedendo a unidade preconizada entre os dois países, havia decerto a independência dos dois territórios sob domínio colonial de Portugal.
E convenhamos aqui, independências que acabariam por ser conquistadas graças a essa mesma fórmula ... de guineenses e caboverdianos, unidos sob uma causa.

Para lhe ser franco,  ainda hoje tenho dificuldades em visionar uma luta pela libertação dos dois territórios, no quadro da realidade histórica da época, concebida com base numa opção estratégica distinta daquela que acabou por resultar !

A etapa seguinte, a da unidade entre os dois estados soberanos, essa sim teria que depender da maturidade evolutiva conseguida pelos dois estados... pós-colonial.  

Mas os factos e a realidade são pois o que dela hoje se conhece ! Falhou !


Mas tudo isto para sublinhar o quão fatal tende a ser qualquer erro de análise, que se limite a identificar na tal "Unidade", a causa do desaire do Estado pós-colonial na Guiné..

Como se diria, ninguém é de ferro... o PAIGC (entenda-se movimento libertador) também ele integrava homens, com sensibilidades, emoções e, porque não, fraquezas, que acabaram por pesar de forma catastrófica, na construção do estado independente da Guiné Bissau...

Nas ilhas atlânticas, os ideiais e a perseverançaa, acabaram por contornar as fragilidades !

Mantenhas

Nelson Herbert

USA 

5 comentários:

Anónimo disse...

"Resta-nos preservar o que de positivo se assemelha,nesse capítulo da história comum dos nossos países e povos...ou seja a língua,os fortes lacos afectivos...isto sem perdermos de vista a verdade histórica...". (Pragmático resumo dos cinco séculos de efectividade colonial!) Um abraco.

Antº Rosinha disse...

Luis, o Herbert fez este comentário ao post 7006 e não ao post 6971.

E eu como já fiz um comentário a este comentário, apenas quero dizer ao Nelson Herbert que concordando com tudo o que ele diz, apenas me chateia terem-me interrompido umas convivências como uma mesa enorme de bancos corridos, com um grande panelão de Cachupa, em quintais tropicais com sombra de cajueiros.

Em que quem chegava se considerava convidado, mesmo que não falasse crioulo.

E isto numa idade em que ainda tinha algum jogo de cintura e que quase, quase já dava uns passos de coladera.

Mais tarde, mas já mais para lá que para cá, ainda fui matar saudades com umas chabeusadas valentes em Bissau em ambiente semelhante.

Cumprimentos,

Anónimo disse...

Mais Velho

XE mais velho, nao fala dessas coisas de panela..de Cachupa e Xabeu..ou Chebem ..aos domingos, como manda a tradicao...que me tira a concentracao do que estou fazendo..

Sabe a mente eh vadia...e responde a essas sugestoes e provocacoes...

Mantenhas..a esta hora da mnha ( aqui nos States) e um bom dia

Nelson Herbert
USA

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Verifica-se que o nosso Blogue tem inúmeras facetas.

Quem pensava que se resumia a um repositório de memórias, de tragédias, de alegrias, de sofrimento, de descontracção, de actos militares, de recordações de situações pitorescas, etc., pode verificar como é amplo o terreno que se tem vindo a percorrer.

Há sempre divergências, é certo, mas que importa isso perante o imenso manancial de elementos que aqui aportam?

São as fotografias, são as notícias dos êxitos recentes (em que tantos de nós estão solidariamente envolvidos), são os artigos sobre as doenças, a reflexão sobre 'a água' e tantas outras coisas...

Estas trocas de informações e pontos de vista sobre os problemas e a evolução das independências da Guiné de Cabo Verde, apoiadas em comentários concordantes e divergentes, sempre com elevado espírito de 'civilidade' ilustram bem a idéia que acima referi: o Blogue tem, ainda, um grande campo por onde se expandir.

Assim se queira.

Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

E sabe mais..meu caro Helder Valerio: o que me faz apegar a este blog...e o facto de ter descoberto nele, gente , com direitos adqueridos e de "certidao passada"... de inegavel paridade a minha, de nascimento ... afeicoadas a esse naco de terra...chao de mil rios e pantanos, de uma canicula infernal de mosquitos do tamanho de um rouxinol...mas que nem por isso, cativa !

So pode ser magia (das) negra (s)!

E quem disse que suor e sangue nao regam paixoes ?

Pois eh...Terra que assim eh adorada, nao tem que se queixar !

Nelson Herbert
USA