sábado, 25 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7036: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (2): Os tempos livres de um caiumense...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > O que é um homem pode fazer, durante o dia para passar o tempo, as horas, os dias, as semanas , os meses, num sítio, isolado, sem população, esperando um ataque do inimigo ou a passagem da próxima  coluna motorizada vinda de Piche ou de Buruntuma ? Caçava-se ou melhor montava-se armadilhas nos trilhos de passagem dos animais, de acesso ao rio... De vez em quando, lá se apanhava o porco do mato,como este da foto... Mas esta prática também o seu preço trágico: dopis militares do destacamento foram vítimas da exploisão de uma dessas armadilhas: um morreu logo e outro ficou gravemente ferido... Em 19 de Fevereiro de 1973.


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > O Rio Caium fazia, no tempo seco, as delícias dos marinheiros e dos pescadores... A sobrevivência exige imaginação...  Como se pdoe ver pela imagem, a ponte tinha quatro pilares, dois dentro do rio...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > Padeireo, municiador (e apontador) do morteiro 81, cozinheiro, pau para toda a obra, o Jacinto tinha jeito para conduzir a jangada (a qual, tal como a Nau Catrineta, teria muito que contar, se falasse)...




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium &gt > Aprendendo a pescar, à paulada, à moda dos fulas (que são um povo de pastores)... A tabanca mais próxima era a alguns quilómetros dali... Não havia convívio diário com a população local... O Jacinto, por exemplo, nunca foi a essa tabanca.



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > O Jacinto, quando veio para a Guiné, já era casado, e tinha uma filha... Veio de férias para estar com elas... Mas todos os dias o pensamento ia para elas... Ei-lo aqui a escrever uma carta... As saudades eram ainad maiores nos dias de festa, como o Natal e o Ano Novo... Na Ponte Caium não se distinguiam os dias da semana...


 
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > Pensando na esposa e na filha que ficaram a cinco mil quilómetros de distância, rezando por ele...


Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação de 1. Continuação da publicação de uma selecção de fotos do álbum de Jacinto Cristina, alentejano, industrial de panificação, com padaria e residência em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo. Hoje vou jantar com ele, a esposa, a filha, a neta e o genro... E vamos, em conjunto, melhorar as legendas...

Sobre as fotos já publicas (no poste P7033) (*), comentou o nosso camarada Luís Borrega o seguinte:

"Camarigos Que emoção ver fotos da "minha Ponte Caium", até fizeram um forno novo, o que deixámos estava situado na estrada para Buruntuma , fora do tabuleiro da ponte. Caro Luís,  na tua visita ao Alentejo dá lá um abraço ao Jacinto Cristina da parte dum "Caiumense". Diz-lhe que a Companhia dele rendeu a minha CCav 2749/BCav.2922 em Piche. Dou-lhe os parabéns por ter aguentado 13 meses na Ponte. Estive lá à volta de 3 meses e picos. Na 2ª vez que o meu Gr Comb estáva escalado para ir para lá, vim de férias e "baldei-me" ao ataque onde sofremos um ferido ligeiro, mas o PAIGC teve algumas baixas pelos rastos de sangue. Abraço Camarigo. Luís Borrega".

Luís, adorei a palavra "caiumense"... E vou levar o teu abraço até ao Jacinto, o teu,  o do Eduardo, do Hélder, da Maria Teresa Parreira e do resto da malta da Tabanca Grande.  O Jacinto está contactável por telemóvel (sempre de manhã, durante a semana, que à tarde ele dorme e à noite trabalho; sábado todo o dia, que é o seu dia de folga): 964 346 202.

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4 comentários:

Luís Graça disse...

Não sei se os nossos filhos e netos são capazes de "realizar" (sic) um cenário destes, a *Ponte Caium, onde viveram, penaram, comeram, dormiram e sofreram (e alguns morreram), muitos dos seus pais e avós, em África, numa das guerras mais longas do Séc. XX...

Quando os nossos generais e políticos diziam, na época, que o soldado português era o melhor do mundo, não sei se estavam a fazer "show off", se estavam a ser cínicos, se estavam deliberadamente a escamotear a pobreza e a vida duríssima em que se nascia e se crescia, nomeadamente no interior do país (do Algarve a Trás-os-Montes), nos anos 40 e 50.

Sabemos que na década de 60 cerca de 2 milhões de portugueses deixaram as aldeias e vilas onde nasceram... a caminho do Porto, de Lisboa, de Setúbal, de África, da França, da Alemanha... Um verdadeiro tsunami sociodemográfico que mudou, para sempre, o Portugal que conhecíamos de pequeninos... O mesmo Portugal que continuamos a amar, apesar de tudo...

Lousal, antigas minas do Lousal, Grândola (hoje transformadas em museu).

Luis

Luís Graça disse...

Estive com o Jacinto, a esposa Gorete, a filha Cristina, o genro Rui Silva e a neta...numa tarde agradabilíssima, partilhando memórias e emoções... O dia acabou com um arroz de lebre que poria a salivar um regimento...

Tenho cada vez mais admiração por este homem que foi para a Guiné, casado, pai de uma filha de três anos, e que mal sabia ler e escrever...

Foi a Gorete que foi a sua professora, em casa, no tempo da recruta, ensinando-lhe as letras suficientes para ele ler as cartas, sofridas e apaixonadas, que ela lhe mandaria de Figueira de Cavaleiros para o Ultramar (para onde quier que ele fosse), e para de volta ele contar a ela os seus segredos e sofrimentos, sem necessidade de partilhar a sua vida íntima com mais ninguém...

É uma grande lição de amor!!!

E foi a Gorete que o incentivou, depois de regressar da Guiné, a meter-se no negócio do pão: afinal, ele tinha sido o melhor padeiro do leste...

O mais espantoso foi que, quando eu cheguei lá casa, por volta das 16h, e lhe dei as duas fotos do Eduardo Campos, o Jacinto comentou, logo de rajada:
- Mas é o mê forno!...

(Há dois monumentos que se conservam na ponte de Caium, mandandos erigir por alguém da CCAÇ 3546 que terá sido empresário na Guiné-Bissau, depois da independência... Um deles é uma simples base de pedra, encimada pelo forno de Caium, que pura e simplesmente foi "removido" e "trasladado" do sítio onde estava originalmente... E nessa pedra pode ler-se a melhor homenagem que se podia fazer aos heróis de Caium: "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974"...

Bom noite a todos os amigos e camaradas da Guiné, a começar pelo Jacinto, que ontem foi o meu anfitrião. Uma noite descansada para os meus amigos Rui Silva e Cristina que vieram do Funchal para correr a meia-maratona, a da Ponte Vasco da Gama.

Serpa, 26/9/2010, meia noite e um minuto.

Anónimo disse...

Bom domingo Cristina.
Fui eu o castro condutor da cart 3521 que dei o mote para que tu entrasses na nossa tabanca atravez duma foto tirada na ponte de caium e mais uma vez é caso para dizer que o mundo é pequeno e o nosso blog é grandeeeeee.
Bom domingo cheio de um grande ronco.

Luís Graça disse...

É verdade, Henrique Castro, ao ver a tua foto, o Jacinto Cristina reconheceu-se de imediato nela... em Março passado. Obrigado pelo teu valioso contributo.

Sobbre o Castro, vd. poste:


30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)