terça-feira, 30 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7361: Contraponto (Alberto Branquinho) (19): Já que se falou de heróis

1. Em mensagem de 28 de Novembro de 2010, Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais um Contraponto:

CONTRAPONTO (19)

JÁ QUE SE FALOU DE HERÓIS…

1 – Herói, herói…
Mas, afinal, o que é um herói?
Eu próprio, passando por Bissau, fui chamado “herói” pelo pessoal do “ar condicionado” e não me senti nada bem. Já contei isso aqui, há uns tempos.

O Dicionário Francisco Torrinha, da Livraria Simões Lopes/Porto, edição dos anos 40 do século passado, define herói do seguinte modo (deixando de lado os heróis mitológicos, semideuses e afins):
«Homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras;…………………………….».

O Dicionário Porto Editora apresenta a seguinte definição:
«Homem ilustre por feitos guerreiros ou de grande coragem;………………………….».

Finalmente o Dicionário HOUAISS (para que não se diga que não falei de “bossa nova”) caracteriza o herói do seguinte modo:
«1 …………;2…………..; 3 indivíduo notabilizado pelos seus feitos guerreiros, a sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade, etc. 4…….5……,6…….7…..8…..
9 indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo………………………………….».


Portanto, é isto mesmo que todos temos em mente quando falamos de heróis, não interessando se esses feitos, proezas, etc. foram praticados em terra, no mar ou no ar, que é como quem diz por militares do Exército, da Marinha ou da Força Aérea.

2 - Mas, ao pensar exactamente nisso, surgiu-me a dúvida sobre se, no ideário (e imaginário) português, o conceito de herói é entendido como aplicável também aos que se destacaram ao serviço da Força Aérea. Ora, vejamos.

3 – Camões, n’”Os Lusíadas”, não inclui no conceito de herói, salvo melhor opinião, qualquer homem do Exército. Enaltece somente os feitos marítimos, a Marinha. Claro que não poderia ter cantado os feitos da Força Aérea, porque ela não existia ainda.
Tomemos como exemplo a terceira estância, logo no início do “Canto Primeiro”, quando Camões explica a obra a que se vai abalançar:

«…………………………………………………
………………………………………………….
………………………………………………….
………………………………………………….
Que eu canto o peito ilustre Lusitano
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
………………………………………................
………………………………………………..».


Note-se: os feitos do Portugueses nos mares foram tais que até Neptuno (deus do mar) lhes obedeceu. Não interessa, portanto, fazer especial menção aos humanos inimigos da armada Portuguesa (digamos, a Marinha).

- E Marte? - perguntarão. - O Deus da guerra também é referido por Camões.

Pois é. Mas, na minha interpretação, a referência que Camões faz à obediência prestada por Marte aos Portugueses, deve ser entendida como numa relação directa com Neptuno, portanto à guerra conduzida nos mares. No entanto, dou de barato que seja, também, uma referência às guerras apeadas feitas pelos Portugueses. Seja, portanto, uma menção aos feitos heróicos do Exército, na medida em que Marte é sempre representado com os pés assentes na terra e não embarcado.

Muito bem.
“Siga a Marinha!”

4 – Mas lembremos, agora, a letra do Hino Nacional. Há nela alguma referência à Força Aérea?
Duas passagens são de realçar:

(i) A Marinha em primeiro lugar: «Heróis do mar…»;

(ii) E uma passagem mais adiante:
«Às armas, às armas
Sobre a terra e sobre o mar
. …………………
»

Note-se: Exército e Marinha somente.
Onde está a referência (implícita que seja) à Força Aérea? Não há!

QUESTÕES:

– Será que para o ideário (e o imaginário) Português não há mesmo heróis da Força Aérea?

– Não deveria a Força Aérea constituir-se em “lobby” para conseguir que seja alterada a letra do Hino Nacional, de modo a fazer referência expressa aos seus heróis?


ANTES QUE OS ELEMENTOS DA FORÇA AÉREA COMECEM A LARGAR BOMBAS, vamos lá repor a verdade histórica e falar de uma curiosidade Portuense:

1 – “A Portuguesa”, apesar de muito anterior a 1910, só foi adoptada como Hino Nacional a seguir à implantação da República;

2 – A aviação só começou a ser Aviação já na parte final da Guerra 1914/18,

Portanto, a letra d’“A Portuguesa” nunca poderia conter qualquer referência à Aviação, então incipiente e não imaginada, então, como instrumento de combate e muito menos em Portugal.

3 – O feito de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral no início dos anos 20 do século passado (que teve um grande impacto popular) está assinalado através de um bonito painel desses tempos (em bronze?) no “hall” da Estação de São Bento, no Porto.

Terá sido colocada numa construção destinada a albergar transporte ferroviário por não existir uma estrutura aeroportuária? Ou a razão foi outra?

Alberto Branquinho
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7288: Contraponto (Alberto Branquinho) (18): Regresso

Aqui fica a letra (completa) de "A Portuguesa", de autoria de Henrique Lopes de Mendonça.
O autor da música foi Alfredo Keil


Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O Oceano, a rugir d'amor,
E teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!


Fonte: http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/portuguesa.html

8 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Ia, Meu Caro Alberto Branquinho, comentar a brincar Depois lembrei-me do tal engano e -gato escaldado de água fria tem medo...- pois mudo e quedo!

Gostei. Aliás o Contraponto é uma referência.

Segundo o Dicionário ...o Ronaldo ou o Figo (não o fruto, o ex)são Heróis...

Abraço T

Anónimo disse...

És um cómico, amigo Branquinho
mas!
um cómico muito sério.

E bem escrevente

SNogueira

Anónimo disse...

Caro Branquinho:
Apenas duas palavras, obrigado por me fazeres recordar a letra completa de “ A Portuguesa”, longe vai o tempo em que éramos obrigados a sabê-la de cor e, nas aulas de canto coral, a cantávamos.

Um abraço,

António Brandão – Ccaç 2336

Anónimo disse...

"Terá sido colocado numa construcäo destinada a albergar transporte ferroviário por näo existir uma estrutura aeroportuária? Ou a razäo foi outra?" Caríssimo Alberto Branquinho.A razäo?.....Os STRELLA!Os STRELLA! Um grande abraco.

Hélder Valério disse...

Caro A. Branquinho

Confesso que já me tinha interrogado porque não havia uma 'actualização' da letra do Hino que contemplasse também o 'ar', já que tinha concluído (sozinho...) que à data da escrita da letra o 'ar' não era elemento considerável por não haver experiência.

Espero que agora em relação a este artigo não apareçam 'desentendidos'.

Como diz o Torcato, o 'Contraponto' é isso mesmo, contraponto, e é uma referência.

Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

É lá..! Camarada Alberto Branquinho, "mã máquejeito mou..." apresentar um trabalho com pesquisas dentro do nosso contexto e que muito irá contribuir para o conhecimento dos frequentadores do blogue.

Pela minha parte era premente estar devidamente informado sobre esta matéria, porque Portugal pode vir a organizar o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018, e tenho que estar preparado para o possível grande evento.

A definição de herói é espectacular, indo ao ponto de referênciar vários contextos e só ficando algumas dúvidas.

A descrição sobre a feitura de "A Portuguêsa," com letra de Henrique Lopes Mendonça e música de Alfredo Keil, devidamente apresentada com sapiência onde sobressái o teu douto conhecimento organizativo e agora completando acartadamente com a fonte.

"PS" Estou com o Camarada Helder Valério, quando diz "espero agora em relação a este artigo não apareçam desentendidos"

Com um forte abraço, extensivo a todos os que passaram por Gandembel.
Arménio Estorninho
C.Caç.2381 "Os Maiorais"

José Marcelino Martins disse...

Porque o nosso blogue é visitado por "muita gente" que nele vem beber alguns conhecimentos, acerca deste tema A PORTUGUESA, tomo a liberdade de transcrever, com a devida vénia, a parte final da 1º coluna da página 230 do livro HISTÓRIA DE PORTUGAL EM DATAS, edição do Circulo de Leitores(1994)

"Alfredo Keil compòs A PORTUGUESA. Desde 1880, altura das comemorações do tricentenário da morte de Camões, que a temática patriótica se vinha intensificando na produção literária e artistica, e tambem na música, como principal veículo de divulgação dos ideais republicanos. Escrita para um espectáculo musical (na sequência do Ultimatum), popularizada imediatamente comno canto patriótico, proibida depois da revolução de 31 de Janeiro de 1891, foi proclamada Hino Nacional pela Assembleia Nacional Constituinte em 1911 (com letra de Henrique Lopes de Mendonça)."

Sem qualquer outro comentário.

Unknown disse...

Desculpa Branquinho, discordar da afirmação (?) de que não há herois na F.A. E então o nosso senhor D. Rei Duarte Pio de Bragança e não sei quantos ? Piloto aviador em Angola, de origem suíça e agora apostado em ser timorense ?
O homem até quiz trazer régulos angolanos (não é piadinha ao nosso régulo de Mampata e Medas) para concorrerem como deputados à Assembleia Nacional. Se isto não é ser heroi...