quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7372: (De) Caras (6): Convidado por Moura Calheiros para o lançamento do seu livro, A Última Missão, Manecas dos Santos, veterano do PAIGC, diz que "cada um de nós estava a cumprir o que era o seu dever" (Diário de Notícias, de 30/11/2010)


Manecas dos Santos, antigo comandante do PAIGC, o homem dos Strela... Diário de Notícias, 30 de Novembro de 2010. Recorte que nos foi enviado por José Moura Calheiros, o autor de A Última Missão (Porto, Editora Caminhos Romanos, 2010) (*) (**).


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7371: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (2): Excerto de Discurso do autor

(**)  Último poste da série > 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7154: (De) Caras (5): Silate Indjai, um dos primeiros guerrilheiros do PAIGC a entrar em Guileje, dirige agora os trabalhos de detecção e limpeza de UXO (Pepito)

9 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

O que Manecas Santos diz, relativamente a 'cada um cumprir o seu dever' e também e principalmente, 'que já é tempo de falarmos juntos e serenamente sobre os acontecimentos' é para mim uma posição muito correcta.

É certo que alguns, mais 'puristas', mais 'exarcebadamente patrióticos', poderão achar tal situação uma heresia, quase um crime de lesa-Pátria, mas, na realidade, há sempre um momento para a guerra e um momento para a paz.
E em ambas as situações isso é feito por homens.

A História relembra-nos que após os conflitos que opuseram nos campos de batalha os filhos dos povos em luta a mando dos seus dirigentes, houve depois um 'estender de mão' como que a selar os novos tempos.

Se assim não fosse ainda hoje, para se ir buscar um exemplo relativamente recente e que podemos reconhecer facilmente, não haveria relacionamento entre franceses e alemães, entre estes e ingleses e por aí fora...

Um abraço
Hélder S.

Torcato Mendonca disse...

Hélder Camarigo (á Mexia Alves)

Sem polémicas. cada um tem o direito á sua opinião.

#nem purista,nem patriotas, nem guerra ou paz, nem guerreiros de impérios ou libertadores#

Só que podem haver alguns que ainda não fizeram o seu LUTO.
E se eu for um deles? E, se eu respeitar o antigo Comandante do PAIGC e a sua opinião, tenho o direito a exigir o respeito pela minha. Não dele, que nem opinou aqui mas de outros concordantes com essa maneira de pensar.
Nada mais digo e um Abraço do T

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Torcato

Não será este o melhor meio para 'repicagens', no sentido de dizer e rebater (ou não) pois pode tornar a discussão, ou argumentação, ou até a simples troca de pontos de vista, como uma coisa restrita, quase pessoal. Para essas situações acho que deve funcionar o sistema de 'escrita directa' através de mail.

Mas como pode haver necessidade de salientar melhor o que escrevi, aproveito a 'embalagem' do teu comentário para o fazer.

O que entendo das palavras e das idéias que lhe estão subjacentes, e com as quais concordei e salientei, é que elas (as palavras e as idéias) devem ser 'orientadoras', ou seja, devem ser tomadas como objectivo a perseguir e a tentar alcançar. E esa é a minha opinião.

Também reconheço que, como se costuma dizer, 'cada caso é um caso' e haverá certamente razões para que essa 'orientação' não possa, ou não se queira, ser seguida, por diversos camaradas. Tudo bem!

Apenas referi a atitude a alguma 'recusa mental' à prática da postura que estava a defender assente na 'argumentação' do 'porque não', como já algumas vezes deparei em conversas que tenho tido (não aqui no Blogue) e parece-me que, quanto a isso, tenho alguma razão...

Quanto ao respeito que exiges pela tua opinião, com certeza que tens o meu, inequivocamente, e sempre!

Um abraço
Hélder S.

Unknown disse...

Com o devido respeito, penso que o Sr. Manecas dos Santos, está a escamotear (talvez momentaneamente) que uma considerável parte da juventude portuguesa era contra a G. colonial, por si mesma.
Que outro número considerável de jovens além de anti-colonialistas tambem eram anti-fascistas.
E que nem todos em pleno teatro de guerra "estavam a cumprir o que era seu dever".
Creio ter havido um lapso-memória:
porque alguns (e não poucos) tanto em Portugal nos quarteis e na sociedade civil, como dentro da entidade militar no território da Guiné Bissau, cumpriam o Seu Dever Revolucionário, tambem com considerável risco da sua liberdade e vida.
A história não se apaga, muito menos a memória. Por isso aquela não poderá ser lavada. Algum dia constará nela com outros Autores e/ou Investigadores imunes ao politicamente correcto.

Unknown disse...

Peço Desculpa esqueci de assinar.

Carlos Filipe
ex-soldado da CCS BCAÇ3872 Galomaro - Dez 1971

Torcato Mendonca disse...

Camarigo Hélder

De acordo e ponto final. Acrescentar algo mais era perca de tempo. Mas como tu pensas e escreves sei eu.

Aquela guerra era o que era. ia dizer que tudo aquilo era uma fraude. Não digo é violento. Era o que era e dá para tudo.

Podia escrever no mail. Está tudo dito.
há ainda os hérois mas não falemos desses. Para quê? Desses a História, deste Lusitano Povo e o marketing, se encarregará.

Abraçâo do T

Luís Graça disse...

Moura Calheiros convidou Manecas dos Santos, o "patrão" do Strela, a estar presente na sessão de lançamento do seu livro, "A Última Missão" mas não o sentou à mesa... Nem isso faria sentido... Ele estava na assistência, tal como eu, muita malta do BCP 12 e outros camaradas... Entre eles, o Miguel Pessoal, que foi a primeira vítima do Strela.

Não sei quais eram os sentimentos (possivelmente contraditórios) do Miguel Pessoa, ali, naquele momento, acompanhado da Giselda... Tive pudor em perguntar-lhe. Mas imagino que para ele não seria fácil, mesmo passados 37 anos, apertar a mão ao Manecas dos Santos, como eu o fiz (conheci-o apenas em 2008, como apresentador de uma comunicação, tal como eu, no Simpósio Internacional de Guiledje, Bissau, 1-7 de Março de 2008).

Há uns tempos atrás descobri, através do nosso comum amigo Pepito, o nome do homem que disparou o míssil SAM-7 Strela contra o Fiat G-91 do Ten Pilav Miguel Pessoa, na tarde de domingo desse já longínquo dia de 25 de Março de 1973... Foi um tal Caba Fati, justamente considerado um herói pelo PAIGC pela proeza de deitar abaixo a mais temida das nossas aeronaves, o Fiat G-91...

Mas logo a seguir o Pepito acrescentava que o Caba Fati falecera "durante a nossa guerra de 7 de Junho de 1998".

Recordo-me de logo a seguir reencaminhar esse mail para o Miguel Pessao, com o lacónico comentário(, não isento de alguns laivos de humor negro, e de mau gosto) : "Miguel, Já não poderás apertar a mão (e muito menos dar um abraço) ao homem que te quis matar... Luís".

Mais uma vez, o Miguel foi, na sua resposta, de uma elegância e humor admiráveis...

Já antes desse mail, eu havia publicado um poste com informação sobre o Caba Fati e com a reacção do Miguel. Reproduzo aqui parte desse poste, P4217, de 19 de Abril de 2009:

"Luís: Quando é referido, no poste P4185, 'o artilheiro do PAIGG, encarregue de disparar o Strela (Caba Fati, hoje major, se bem percebi o nome)', fiquei um bocado admirado pois, quando lá estive em 1995 no Guileje, o grupo de altos comandos guineenses, onde se incluía o Nino Vieira, contou a história do meu abate e referiu um nome de que já não tenho a certeza absoluta - Camará? Kamará? - como tendo sido o atirador do Strela que me acertou (era qualquer coisa parecida com 'camarada' mas, despistado como sou, nem escrevi o nome...).

"Na altura referiram ainda que ele não estava de momento na Guiné mas sim em Angola, como cooperante.

"Enfim, não tem grande importância, pois fosse Caba Fati, Camará ou Kamará, o facto é que fiquei cá para contar... O pessoal presente ficou um bocado chocado quando lhes disse descontraidamente que tinha andado lá mais um ano à procura dele, mas que, pelos vistos, não o tinha encontrado... Mas de que é que estavam à espera? Que lhe quisesse dar um abraço, como fazemos aqui no blogue ?!Um abraço (Cá está!) Miguel Pessoa" (...)

Na realidade, não podemos misturar os "sentimentos pessoais" com a análise (fria) da guerra "enquanto acontecimento histórico"... Moura Calheiros, de G3 em punho, nunca encontrou Manecas dos Santos, de Kalash na mão, frente a frente, na bolanha de Cufeu... Não sei se não seria de todo improvável, já que os dois eram "comandantes" (um da Frente Norte e outro do BCP 12)... Mas se isso tivesse acontecido, um deles hoje não estaria aqui para contar como tinha sido o "duelo" (tal comos nos filmes do Faroeste)... Felizmente que nunca se encontraram, a não ser em 2008 (em Guidaje ou Bissau, suponho) e agora (em Lisboa)... A história das guerras também é feita destes (des)encontros.

Luís Graça disse...

Camarigos Hélder, Torcato, Filipe e demais tabanqueiros que nos lêem:

As palavras do antigo comandante do PAIGC, Manecas dos Santos, citadas pelo "Diário de Notícias", são ao fim e ao cabo as mesmas que tentamos aqui dizer todos os dias, desde Abril de 2004, na nossa Tabanca Grande... Falemos, uns com os outros, da guerra em que estivemos, uns de um lado e outros do outro, sem sentimentos de culpa, nem complexos, de superioridade ou de inferioridade...

É a última oportunidade que temos: daqui a vinte anos, muitos de nós já não estaremos cá, ou já estaremos com o Alzheimer...

Unknown disse...

Não anulando o que antes escrevi, e porque acredito no teu 'Sonho', Luís Graça é que eu manifesto os meus pontos de vista, face à g.colonial, sem complexos, sem interferir em sentimentos de outrem.
Somente é doloroso verificar alguma erroneiedade das descrições ou constatações de outros ex-militares.

Não se trata de perdoar ou não perdoar; quem lutava por justa causa ou não; quem era mais valente ou não.
Não se trata de valorizar ou não os amigos de um, ou outro lado da barricada, Urrs,Cuba,China e Af.Sul, Usa, Rfa.Como exemplo..
Nada, absolutamente nada da guerra está divorciado da politica nacional e internacional, com Blokos ou sem eles.

Todo o sofrimento de qualquer guerra e respectivas consequencias, são ditadas pela politica e economia, nacional ou internacional.

Trata-se de dizer sempre a verdade, não desvalorizando, omitindo, mascarando ou até mesmo negando partes de um todo de um lado e de outro da barricada.
Trata-se de não confundir posições e/ou descrições pessoais com um todo dos acontecimentos.

P.ex. o assassinato de A. Cabral, a invasão (incursão) à Guiné Conakri. Porque ninguém menciona a participação da PIDE ??? Quando esta é profusamente mencionada pelo operacional chefe da mesma, Alpoim Calvão ??
Porque não se escreve sobre o ataque à mata do Morés ??
(isto são meros exemplos)

Muitos ex-militares que aqui escrevem no blogue, desconhecem (não eram obrigados a saber), ignoram, ou finjem não saber que nada na guerra era feito sem estar dentro de um plano politico em Lisboa, e Militar terrotorialmente.
Se não teriamos sido um exército tipo qualquer coisa que agora não interessa.

Creio que sob estes pressupostos o teu 'Sonho', que tambem é o meu em certa medida, se poderá erguer.

Bem já me alonguei, fico-me por aqui esperando que tenha conseguido transmitir, clareando o meu ponto de vista.
Ficando salvaguardado que agora não estava fazendo nenhum juizo de valor de qualquer pessoa.

Um abraço para cada um e para todos
Carlos Filipe
ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro