quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7371: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (2): Excerto de Discurso do autor



Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Intervenção, em último lugar, do autor do livro, A Última Missão, José Moura Calheiros, Cor Pára Ref, depois da apresentação a cargo do realizador de cinema António-Pedro de Vasconcelos (*). Editora: Caminhos Romanos, Porto.


 O título do livro é inspirado na missão, que o coronel chefiou, em Março de 2008, de recuperação dos restos mortais de três soldados pára-quedistas mortos em combate e inumados, em Guidaje, em 23 de Maio de 1973, no perímetro do aquartelamento... Recorde-se aqui os seus nomes: o Manuel da Silva Peixoto, de 22 anos, natural de Vila do Conde; o José de Jesus Lourenço, de 19 anos, natural de Cantanhede; e o António das Neves Vitoriano, de 21 anos, natural de Castro Verde. Um quarto militar da CCP 121, gravemente ferido, acabou por morrer em Bissau.  Os restos mortais de outros camaradas nossos, do exército, em nº de sete, também foram exumados nessa ocasião, em Março de 2008. A missão foi igualmente apoiada pela Liga dos Combatentes, e contou com uma equipa técnico-científica de 3 antropólogos forenses, 1 geofísico e 1 arqueóloga (Conceição Maia, irmão do sold pára Vitoriano)

Essa missão acabou por levar o antigo oficial pára-quedista, José Moura Calheiros, oriundo da Academia Militar, a rever os seus anos de guerra em África, em três teatros diferentes (Angola, Moçambique e Guiné), por ele duramente vividos , com o todo o seu cortejo de boas e más memórias.

Video (13'  32''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube Nabijoes. Todos os direitos reservados.



«(…) Não se arrisca nada se se disser que A ÚLTIMA MISSÃO, com a sua boa escrita, amplo desenho, factos fortes e consistência, é a melhor peça memorialística sobre a nossa última guerra. Assim, com este seu livro inaugural sobre a guerra que levou ao Fechamento, José de Moura Calheiros, rematando um arco de séculos, ajuda a fechar bem o trabalho iniciado pelos cronistas da Expansão. Mas o valor desta obra não se esgota no reforço da nossa debilitada tradição memorialística, reside também no facto de ser uma resposta da realidade real à altura da melhor realidade imaginada – Nó Cego, de Vale Ferraz, A Costa dos Murmúrios, de Lídia, e Jornada de África, de Alegre – sobre a Guerra Colonial, como a Esquerda lhe chama, ou Guerra do Ultramar, como a Direita prefere.» (...)  (Rui de Azevedo Teixeira, prefaciador da obra)




1. Sinopse da obra (da responsabilidade da Editora Caminhos Romanos-Unipessoal, Lda., com sede no Porto; contacto do editor,  António Carlos Azeredo, na ausência de sítio na Internet:ac.azeredo@hotmail.com)


(i) Em 1973 o autor prestava serviço no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 12 (abreviadamente, BCP 12), com sede na BA 12,  Bissalanca (Guiné)


(ii) Em 23 de Maio desse ano, numa operação por si comandada e tendo como missão atingir e reforçar a guarnição de Guidaje, cercada pelo PAIGC, a Companhia de Pára-quedistas 121 (abreviadamente, CCP 121) sofreu quatro mortos, dos quais três tiveram que ser inumados num cemitério localizado na cerca do aquartelamento daquela localidade;


(iii) Trinta e cinco anos depois, em Março de 2008, o autor regressa à Guiné integrado numa Missão da Liga dos Combatentes destinada a exumar, em Guidaje, os cadáveres daqueles três militares pára-quedistas e de outros sete do Exército;


(iv) O autor conta-nos toda a problemática relacionada com a expedição: os antecedentes, a preparação e o seu desenrolar;


(v) Simultaneamente descreve o ambiente da Guiné de hoje comparando-o com o do tempo da guerra; os usos, costumes e religiões da região de Farim e Guidaje; o sentimento da população em relação ao antigo colonizador; as mágoas dos guineenses antigos militares portugueses por Portugal os ter enganado e abandonado; conversas com velhos guerrilheiros do PAIGC, etc.;


(vi) Ao longo da missão ocorrem situações que lhe fazem recordar o passado, o tempo da guerra; nestes momentos de rebuscar das memórias “assistimos” à evolução da guerra, bem como à do pensamento do autor e do sentimento da população portuguesa em relação a ela;


(vii) Pela ordem temporal das sucessivas comissões, descreve e caracteriza os três Teatros de Operações, sempre como pára-quedista:


(viii) Angola, primeiro, para onde vai cheio de entusiasmo, ideais e utopias, certo de que a guerra seria ganha depressa; os cuidados com a família, o choque com o clima, a grandiosidade de África; a ambientação ao capim e à mata; o encontro com a guerra, ainda mais horrível do que imaginara; a surpresa com as condições de vida das populações refugiadas nas matas; a progressiva perda das ilusões e do entusiasmo com que partira da Metrópole;


(ix) A segunda comissão,   Moçambique; o título do capítulo é sugestivo: “Moçambique, o sacrifício maior”;  drandes distâncias, operações muito prolongadas, falta de meios de apoio; a sede, uma tortura, o maior flagelo; as minas, outro flagelo; a tragédia que foram os Postos Avançados de Combate, instalados como se de uma guerra clássica se tratasse; a operação Zeta, um sucesso que esteve prestes a ser uma grande tragédia;


(x) Por fim, a Guiné, a terceira comissão; a aparente abundância de meios, para quem viera de Moçambique; as primeiras impressões, muito favoráveis, do ambiente social e militar; a degradação progressiva da situação militar a partir da morte de Amílcar Cabral;


(xi) Mais: a “caça” à delegação que a ONU enviara à Guiné; a operação "louca" de protecção ao Comandante-Chefe nas conversações de Cap Skirring; a reocupação do Cantanhez, no sul (Operação Grande Empresa, uma grande, delicada e muito bem sucedida operação); 


(xii) E ainda: os mísseis terra-ar Strela, a procura de aviões abatidos e de restos de mísseis para identificar o utilizado pelo PAIGC; a crise nas fronteiras da Guiné (Maio - Junho de 1973), os dias mais críticos de toda a guerra; a Norte, o prolongado cerco de Guidaje e as sangrentas batalhas travadas em seu redor; a Sul, o terrível assédio a Gadamael, um inferno, ocorrido após a retirada de Guileje (em 22 de Maio de 1973);


(xiii) Os sentimentos dos combatentes nas diversas fases dos com bates e nas pausas da guerra...


 A ÚLTIMA MISSÃO é um livro de sentimentos, os dos soldados e os dos Comandantes, estes nas suas angústias, dúvidas e responsabilidades, enquanto chefes e homens.


Toda esta história real é contada a par da descrição da juventude e da preparação militar dos três Páras inumados em Guidaje e da sua actividade na CCP 121,  a que pertenciam.O livro dá-nos uma noção muito real da forma como os Pára-quedistas actuavam em operações, dos seus sentimentos em cada circunstância e de como era a vida numa Unidade de Intervenção de excelência – o BCP 12. E, também, da idiossincrasia dos Páras portugueses, dos seus valores, ideais e princípios.


____________


Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2010  > Guiné 63/74 - P7359: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (1): Intervenção do cineasta António-Pedro Vasconcelos


2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

Pelo que tenho seguido, quer aqui no Blogue, quer noutras informações, estou com muita curiosidade em ler o trabalho de Moura Calheiros.

Abraços
Hélder S.

antonio graça de abreu disse...

antonio graça de abreu disse...

Este sim, meu major Calheiros, é um dos últimos grandes guerreiros do império.
A honestidade, o rigor, o coração aberto até para o inimigo de então, os mortos que jamais esquecemos, o sacrifício total, a doação, a entrega, por valores límpidos e obtusos que nos circulavam no sangue
e que tinham e têm um nome, PORTUGAL.

Que diferença de algumas pulgas amestradas, vaidosas e convencidas, que saltitam, de dois em dois dias no nosso blogue!

Bem haja, meu major Calheiros!

Abraço amigo,

António Graça de Abreu

CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar (1972/74)