Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 19 de março de 2011
Guiné 63/74 - P7964: Blogpoesia (117): Aromas de Camabatela, Quando cheguei a Luanda (2) (Albino Silva)
1. Continuação do trabalho em verso de Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) dedicado à Vila de Camabatela - Angola*.
Aromas de Camabatela
Quando Cheguei a Luanda (2)
Camabatela que linda
desde que a vi então
com orgulho eu lá dizia
que meu Pai tinha razão.
A Vila não era grande
era até bem pequenina
bem arranjada e cheirosa
Camabatela a menina.
Naquele pequeno morro
Camabatela lá estava
recebendo todos aqueles
de quem da Vila gostava.
Eu te vi Camabatela
comecei a te amar
e foi em ti linda Vila
para onde fui trabalhar.
Adorava tuas ruas
os bancos de teu jardim
eu vi que eras feliz
fazias-me feliz a mim.
Há pouco tempo na Vila
mas de ti ia gostando
em cada dia passado
sabia que te estava amando.
Eu fui ganhando amigos
que me quiseram ajudar
passavam tempo comigo
para a Vila me amostrar.
Percorri ruas e quelhas
picadas para te ver
e como eu ainda era novo
e só te queria conhecer.
Oh linda Vila calminha
viver ali era bom
pessoas bem educadas
gente de bom coração.
Todos se conheciam
e ninguém era inimigo
o nativo da sanzala
em Camabatela era amigo.
Quem vinha de Samba - Caju
do lado que na Vila entrei
via Camabatela tão gira
e por ela me encantei.
Tudo na Vila era bom
eu me ia adaptando
e com o tempo a passar
eu cada vez mais gostando.
Fazia caminhadas a pé
ia ao campo de aviação
descia e subia a estrada
de Camabatela à missão.
Na Missão tinha Igreja
decorada de bom gosto
a Casa dos Capuchinhos
e um Campo de Desporto.
Com pouco tempo passado
sabia que de ti gostava
e Camabatela para mim
era a Vila que eu amava.
As casas comerciais
em algumas eu entrar
eram iguais como a minha
onde eu estava a trabalhar.
Tudo na Vila era bom
eu me ia adaptando
e com o tempo a passar
eu cada vez mais gostando.
Fazia caminhadas a pé
ia ao campo de aviação
descia e subia a estrada
de Camabatela à Missão.
Camabatela de sonho
tudo era lindo o que via
e cada dia passado
por ela amor eu sentia.
Adorava ir ao Correio
à Central e Serração
gostava de ir à Padaria
quando lá comprava o pão.
Quantas vezes eu lá fui
ficava sempre contente
pois era bem recebido
por aquela boa gente.
Eram pessoas gentis
eu gostava delas assim
adorava os Ambaquistas
porque gostavam de mim.
CAMABATELA 50 ANOS
Extracto do livro que ando a escrever ”Aromas de Camabatela”
Albino Silva
____________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7961: Blogpoesia (115): Aromas de Camabatela, Quando cheguei a Luanda (1) (Albino Silva)
Vd. último poste da série de 19 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7963: Blogpoesia (116): Neste dia 19 de Março, homenagem a meu Pai e a todos os Pais (Felismina Costa)
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2 comentários:
Albino, não estarás a querer re-escrever a história com o teu aromas de Camabatela?
É que houve alguns portugueses que tinham como dado adquirido que a história já estava explicada, e que tanto os que foram para alem Pirineus como os que fomos para o equador não fomos "abnegadamente", mas obrigados, e eis que alguem se lembrou de falar em "abnegação".
Foi um escândalo para alguns.
Claro que tu nos teus 20 anos fizeste o caminho inverso a alguns ( Paris-Lisboa), "mudaste de rumo, como a formiga no carreiro".
A história ainda é cedo para a escrever, no entanto a maioria já a esqueceu, mesmo sem a ter estudado.
Caro Amigo Ant. Rosinha,
Considero que tudo isto pertence ao passado, mas não concordo que toda a gente já esqueceu.
Todos os Anos estou em encontros com ex residentes de Camabatela, e sei bem o Amor que ainda lhe didicamos todos nós.
Este Livro é exclusivamente a falar daquela Linda Vila, que sabendo que não é nossa, esta no Coração de quem lá murou, pois fomos nós que a Fizemos.
Caso seja perguntado a alguém que esteve em Angola se já se esqueceu, a resposta é Não, e jamais será...
Albino
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