sábado, 10 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8762: Estórias avulsas (57): O 400 da CART 1746 (Manuel Moreira)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vieira Moreira (*), ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69, com data de 21 de Agosto de 2011:


Amigo e Camarada Luís,
Envio uma história das minhas "Memórias" no XIME. Se valer a pena, publica.


Um Abraço Camarigo para toda a Tabanca.
Manuel Moreira, ex. 1.º Cabo Mec Auto
CART 1746




O 400


O 400 era o Soldado que tinha o primeiro número de ordem da Companhia. De apelido Quinteiro, tinha muito vício de cravar cigarros a todos que fumassem.


Era como que o guarda costas do Alferes  Gilberto Madaíl, pelo que eram muito amigos. Tinha, além disso,  um farfalhudo bigode que fazia inveja.


Eu fumava SG Gigante, sendo os cigarros eram acesos com um isqueiro a gasolina que deitava muito fumo e ia passando despercebido.


Em finais de 1968, vim a Bissau fazer um estágio de mecânica diesel na Engenharia e comprei um isqueiro Ronson a gás muito bonito, que ainda hoje guardo de recordação porque tem gravadas as datas da minha "Guerra ".


Quando o 400 soube desta aquisição, com muito jeito me cravava todos os dia um cigarro, desta forma :
- Oh nosso Cabo, dê-me um cigarro dos seus que são grandes e acenda-mo com o seu Ronson.


Aquilo demorou muito tempo e, claro, comecei a pensar em tirar-lhe o vício da cravança.


Quando achei que já chegava, resolvi abrir a saída do gás no máximo ao isqueiro e queimei-lhe o bigode e parte da boca e nariz. Claro que me desfiz em desculpas pelo sucedido, argumentando que não fora por mal.


O certo é que poupei muitos cigarros a partir daí...


Já não fumo desde 1984, mas de vez em quando vou ver o isqueiro e lembra-me esta história.


Desde a nossa chegada, em 13 de Junho [ou Julho ?] de 1969, nunca mais soube nada do meu amigo Quinteiro que, salvo erro, é de Santiago do Cacém, e a quem mando um grande Abraço.  Caso ele leia esta História, que me dê notícias.


Saudações Camarigas, Manuel Moreira
____________


Notas de CV:


(*) Vd. poste de 5 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8226: Convívios (323): 13º Convívio da CCAÇ 2313 vai decorrer em 4 de Junho de 2011, Águeda (Manuel Moreira)


Vd. último poste da série de 6 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8643: Estórias avulsas (115): Quando o Dulombi foi flagelado pelo PAIGC com “Armas Pesadas” (Luís Dias)

6 comentários:

Anónimo disse...

Camarigo da mesma Especialidade Manuel Moreira, Saudações.

Eu, nos fins de 1968, também fui para o BEN - Brá, frequentar um Curso de Mecânica Diesel de Gerador Eléctrico.

Será que descobri o fio da meada do Camarada, que no fim de Dez./68 e/ou princípio de Jan./69 passeavamos pela Cidade de Bissau e que eu não me recordo do seu nome.

Para esclarecimento convido-te a visitares o meu Poste P5304, As minhas memórias da Guerra e que tem inclusa a Foto-9.
Se não te reconheces na mesma, tenta identifica-lo.

Com um Abraço
Arménio Estorninho
C.Caç. 2381 "Os Maiorais"Guiné 68/70

Luis Faria disse...

Caro Manuel Moreira

Curiosamente nos Comandos,Lamego(69/70),tive como um dos instrutores o Sarg.Com.Gilberto Madaíl,homem espectacular e sabedor.Será que pertence à mesma família?

Quanto ao 400...deve ter passado a olhar-te de soslaio!!! Um bigode era normalmente coisa sagrada,farfalhudo ainda mais!

Um abraço
Luis Faria

Luís Graça disse...

Isqueiros Ronson, óculos de sol Ray Ban, uísque Old Parr... Que outros produtos e outras marcas estavam então na moda, em Bissau, nas lojas onde a gente ia gastar o "patacão"... o Taufik Saad, a Gouveia. etc. ?

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Manuel Moreira

Com que então uma 'maldadezita' para contrariar os hábitos de quem gostava de fumar da marca "SMD" (se me dão).

Podia ter sido mais grave, mas a verdade é que nem se pensava nisso.

Quanto a coisas que se compravam, que estavam na moda... bem, relativamente a uísque, para além do Old Parr, estavam na moda, no 'meu tempo', a Monks, White & MacKay, President, Martin's, e outras de uísque velho e/ou de malte e também havia os novos Passaport, J. Walker de 'labels' de várias cores, etc.
Haviam os rádios e gravadores: sony, aiwa, grundig. As máquinas fotográficas 'reflex': pentax como o expoente máximo, mas também as canon, casio e outras marcas japonesas.
De roupas não me lembro. Sei que comprei tecido e levei a fazer calças a profissionais no Cupilão.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

De: Augusto Silva Santos
A propósito de marcas.
Para além do que já foi citado pelos anteriores camaradas, no meu tempo de Guiné estava também muito em moda adquirir-se o seguinte:
Máquinas fotográficas Olympus
Relógios Cauny
Whisky Antiquary
Polos da Lacoste e Fred Perry
Quando o pessoal vinha de férias ou acabava a comissão . . . É que aqui naquele tempo, muitas das coisas ainda não existiam.
Um Abraço

jdeferraz disse...

uma avalanche de memorias caiu sobre mim quando hoje abri o meu correio eletronico.
meu nome- Jose Marcal Wang de Ferraz de Carvalho- acentei tropa em Setembro de 1966- CSM- Caldas da Rainha- e depois da recruta fui enviado para Lamego no primeiro curso de Operacoes Especiais como especializacao- posteriomente ofereci-me como voluntario para a 16 companhia de comandos com a qual cheguei a Guine em 68- no fim da fase operacional nao quiz ser comando e fui entao destacado para a Cart 1746- Xime onde o Capitao Vaz me responsabilizou em formar um group de combate com o segundo pelotao cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente. Estive no Xime com a 1746 ate esta ser rendida no fim da sua comissao, fui ferido na operacao Lanca Afiado ( estilhaco na mao esquerda nao queria ser evacuado mas fui helitransportado para Babadinca onde fui tratado e no dia seguine convenci o piloto a levar-me de regresso a operacao porque nao queria deixar o meu "pessoal balanta " sem a minha participacao-- devia estar apanhado pelo clima---pasei os meus ultimos meses da minha comissao adido ao QG em Bissau- regressando a Lisboa no velho Carvalho Araujo em 1970. Desde Dezembro 1970 nos EEUU aqui me casei aqui me divorciei hoje tenho 2 filhos uma filha e 7 netos 3 rapazes e 3 muidas. Hoje com 66 anos de idade depois de uma carreira profissional que me levou a ensinar mecanica em 136 paises do mundo voltei a universidade em 2001 e formei-me com um novo titulo de Addiction Counselor- Hoje pratico a minha nova profissao ajudando pessoas que padecem de problemas com drogas e alcol a alcancarem uma nova vida livres dessa terrivel doenca. Pessoalment ha 13 anos que estou sobrio. Oxala haja alguem que se lembre de mim ainda e com quem possa trocar memorias de outros tempos que tantas saudades me trazem.....a todos os velhos companheiros e camarados um abraco do Ze Americas ou Furriel Careca.