quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8748: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (4): As notícias em Bissau - A Presse Lusitânia

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Depois de algum tempo de interregno, volto às lides e às recordações do meu tempo de Bissau.

Recordo hoje aqui o trabalho diário da difusão da PRESSE LUSITÂNIA, passados que são mais de 42 anos.

A reprodução dos documentos não é a melhor mas a possível. Os documentos estão manchados pelo tempo e eu também não sou grande técnico nas artes de utilizar o scanner. Mas a rapaziada compreenderá, até porque o que conta é a intenção e essa é a melhor.

Se entenderes que este trabalho merece ser publicado, estás à vontade.

Um abração
Carlos Pinheiro


RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (4)

Recordar nunca é demais, para que a memória não esqueça.

As notícias em Bissau – A PRESSE LUSITÂNIA

Naqueles tempos longínquos, quando ninguém sabia o que eram telemóveis e a Rádio não era nada do que hoje é, algumas notícias ouviam-se em Onda Curta, mas sempre com má qualidade e normalmente a horas impróprias. Por tudo isto, as notícias chegavam todos os dias a Bissau, expedidas de Lisboa, para todo o mundo, em Morse.

Era o Destacamento do STM do CTIG que organizava a sua recepção, a sua interpretação, a sua impressão e a sua posterior divulgação pelas Unidades Militares de Bissau.
Tínhamos ali uma equipa pluridisciplinar digna de todo o registo e digna de ser recordada ao fim de todos estes anos.
Tudo funcionava sob o comando e orientação do Comandante do Destacamento, o então Capitão João Afonso Bento Soares, hoje distinto General na reforma.

O 1º Sargento Liberal Silva, coordenava a equipa que muitas vezes já funcionava automaticamente como se estivesse em auto-gestão.

O 2º Sargento Caldas da Silva tratava da Expedição já que era o CMsgs, que ele chefiava, que tinha as viaturas e os estafetas.

Para estes dois últimos amigos que já nos deixaram há muito, vai um abraço de saudade e de uma forma especial para o Sargento Caldas, grande amigo, que naquelas terras passou grande parte da sua vida.

O Radiotelegrafista IRINEU era um especialista altamente qualificado para cumprir esta missão, por isso encarregado diariamente desse serviço. Tinha de facto uma capacidade de recepção muito acima da média e era um companheiro amigo do seu amigo que, mesmo depois do seu trabalho, muitas vezes ajudava a interpretar muitas das letras que escrevia apressadamente. Gostava de saber o seu contacto. Penso que era do Norte, mas não tenho mais referências.

Depois era eu, este modesto escriba, que se encarregava então da interpretação de todos aqueles rabiscos, que passava à máquina todo o trabalho naquelas folhas de stencil e depois era só colocá-las, uma a uma, uma de cada vez, no duplicador Gestetner, meter tinta suficiente, colocar o papel e dar à manivela para que o trabalho saísse.

De vez em quando acontecia um ou outro contratempo. Era o stencil que se rompia e tudo tinha que começar de novo. Era a tinta que borrava o trabalho e tudo também voltava ao principio, mas a noite era nossa e tudo acabava sempre em bem.

No outro dia de manhã, quando o serviço o permitia, eram dirigidos vários exemplares a cada Unidade de Bissau e esse trabalho acabava sempre perto da hora da 2ª refeição. Ia um motorista, normalmente do Recrutamento da Província, e um estafeta do Centro de Mensagens que fazia as entregas mediante Protocolo para que não haver lugar a reclamações.

Por mera curiosidade, para matar saudades e também para a rapaziada do mato que só vinha a Bissau de passagem, vão aqui dois exemplares, sendo o primeiro do dia 13 de Julho de 1969. Nesta primeira página fala-se da visita Presidencial ao Brasil, o Professor Marcello Caetano, da viagem no avião a jacto da TAP, da sua chegada e da recepção.


Nesta segunda página, como poderão verificar, fala-se de futebol, de atletismo, da digressão do Vitória de Setúbal a Angola e a Moçambique e dava-se conhecimento da Chave do TOTOBOLA daquela semana, onde só pontificavam equipas secundárias, possivelmente devido a alguma interrupção do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, quem sabe se motivada por algum jogo da Selecção Nacional.
Mas esta da Chave do Totobola, não deixa de ser interessante recordar.


Agora é a Presse do dia 31 de Julho de 1969.
Nesta página, para além das notícias da política da altura, regista-se a chegada a Lisboa do Paquete “Vera Cruz” com tropas de regresso do Ultramar, mas também se dá nota da VIDA DESPORTIVA que inclui ciclismo – VIII Grande Prémio Robbialac – dum acidente dentro desse Grande Prémio onde esteve envolvido o grande Joaquim Agostinho e termina a página com uma referência ao Campeonato Nacional de Juniores de Andebol de Onze.


Nesta página é dada nota de alguma dificuldade de ligação do grande Eusébio ao Benfica.
A página completa-se com notícias da chamada Vida Internacional.
Era assim que a tropa, neste caso o Destacamento do STM, colaborava na difusão das notícias do mundo junto das outras Unidades Militares.

É mesmo bom recordar, para que a memória não esqueça.
Carlos Pinheiro, no dia 4 de Setembro de 2011, passados 42 anos dos factos.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8448: Blogoterapia (182): A primeira vez! - Em Monte Real (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8412: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (3): Dia de Santo António de 1969

9 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Carlos Pinheiro

É interessante verificar, e nisso o nosso Blogue tem sido de uma grande utilidade, como as coisas evoluiram no tempo e no espaço, relativamente às vivências de cada um de nós e à medida que as 'comissões' se sucederam.

Vem isto a propósito do que relatas quanto à feitura da "Presse Lusitana". No 'teu tempo', ou seja, de 68 a 70, as coisas teriam funcionado como relatas. No entanto, com a criação do "Centro de Escuta", no final de 70, houve mudanças.

Quando para lá fui, a partir do final de Maio de 71 e até ao final da minha comissão, em Novembro de 72, não me recordo exactamente onde era 'produzida' ou 'composta' mas era realmente repartida por notícias de carácter nacional, do desporto e internacional. As nacionais e do desporto eram obtidas da 'Marconi' e as internacionais resultavam de recolha e compilação que fazíamos durante o nosso turno na Escuta. Essa compilação era recolhida e levada para onde se fazia a composição final (não estou agora a conseguir lembrar-me onde), depois era policopiada e enviada para as várias Unidades no interior. Houve até uma vez, um domingo, em que não foi possível recolher notícias da Marconi pelo que a "Presse" saiu só com as notícias da compilação das notícias do estrangeiro, quando normalmente só entravam duas ou três.
Tendo sido eu o 'recolector' das notícias e por ser domingo e haver menos actividade, entreti-me a coligir várias notícias de carácter variado e algumas delas não foram do agrado 'das autoridades', pelo que tive que 'explicar' o sucedido.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Camarigo Helder Valério
É natural que tivesse havido evolução na feitura da PRESSE porque os tempos sempre evoluiram. Mas passe a imodéstia, penso que os documentos que partilhei com o Blogue poderão hoje ser considerados documentos históricos. Mas deixo essa classificação para os historiadores que também temos, e bons, dentro da nossa Tabanca.
A terminar queria apelar, como aliás já tinha feito no texto, que se alguém conhecesse o IRINEU que me fornecesse o seu contacto. Foram muitas noites de autêntica loucura para que a PRESSE saisse a tempo e horas.
Um abraço para todos
Carlos Pinheiro

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Carlos Pinheiro

Pois é claro que as coisas se foram modificando, mas no meu comentário ressalta o facto de, no essencial, manter o mesmo figurino.

Quanto ao interesse histórico do documento que apresentaste não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Ele é uma boa amostra do que se fazia. Se alguém quiser 'pegar' nele para trabalhar sobre as actividades que os militares destacados, nomeadamente na Guiné, faziam durante os anos de guerra, isso é outro assunto...

Em todo o caso, para além do conteúdo, é interessante verificar a "ficha técnica" com os nomes dos intervenientes e a preciosidade do esclarecimento do trabalho ser efectuado 'fora das horas' de serviço...

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Caro Camarigo Helder Valério
Há dias, numa almoçarada com o então meu Comandante Capitão Bento Soares, hoje General na Reforma, a quem entreguei alguns exemplares da PRESSE, levantei a questão de doar alguns exemplares ao Arquivo Histórico Militar. E estou mesmo a pensar nisso. Aliás, quando andei em Comunicação Social na ESTA, Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, também ofereci alguns exemplares à Directora da Licenciatura de Comunicação Social que apreciou os documentos que acabaram por ficar para consulta na Biblioteca.
Tenho pena de não ter feito uma coleção completa, mas na altura não podiamos pensar em tudo.
Um abraço
Carlos Pinheiro

Hélder Valério disse...

Camarigo Carlos Pinheiro

Acho que fazes bem em tomar essa iniciativa.
Sugiro-te que tires alguma(s) cópia(s) porque às vezes...
O que fizeste em Castelo Branco tem também a ver com o aproveitamento que depois dão ao espólio entregue. Também pode não haver relação directa, no imediato, mas pode sempre lugar a utilização num futuro.

Talvez também que o nosso Blogue pudesse querer ficar com mais alguma cópia, para além do que agora disponibilizaste.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Camarigo Helder Valério
Desculpa só agora responder mas como não sou avisado automaticamente das respostas, porque esse serviço só está a ser disponibilizado a alguns, daí a razão na demora.
Sobre ceder cópias ao Blogue isso está sempre disponivel. SE o Luis Graça ou o Carlos Vinhal ou qualquer outro camarigo que faça parte da Tabanca quiserem, posso fotocopiar cerca de 50 páginas de originais que ainda tenho na minha posse. Eles que se manifestem que eu estou sempre disponivel para dar a conhecer o que tenho.
Um abraço
Carlos Pinheiro

Carlos Pinheiro disse...

Quem é que me ajuda a perceber como é que estes anónimos entraram aqui ao fim de dois anos? E ainda por cima em inglês técnico que eu não domino?
Alguém sabe?

Luís Graça disse...

Carlos...Quanto aos comentários em inglês, é SPAM, é lixo, que já limpei limpar...

Facilitamos os comentários, corremos riscos... É o preço da liberdade. Boa noite. Luis

Anónimo disse...

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