1. Texto de José Ferraz (ex-Fur Mil, Op Esp, CART 1746, Xime e Bissau, 1968/70; radicado nos EUA há desde 1970):
(i) Falando de acção psicossocial, de que sempre fui partidário, lembrei-me que durante uma operação de penetração ao sul do Xime, aprisionámos 2 elementos IN (*).
Depois de interrogados, guiaram-nos a uma tabanca IN. Fizemos um assalto e durante esse combate ferimos uma miúda, bajuda, com um tiro por detrás do joelho que lhe destroçou a patela [ ou rótula].
- Mata a miúda... - disse alguém.
- Não mata nada - disse eu [, que estava a comandar o pelotão].
E ordenei ao meu pessoal para fazer uma liteira, trazendo a bajuda para o Xime de onde foi posteriormente helitransportada para o hospital em Bissau. Oxalá ainda seja viva.
Nem tudo na guerra é destruição. Talvez alguém dos meus tempos no Xime se lembre deste episódio.
(ii) Mas ainda a respeito desta bajudinha do Xime, alguém que não tenha estado nesta situação, é capaz de não perceber o que me levou a fazer o que fiz.... Por outro lado, se alguém que tenha estado lá comigo se lembrar [deste episódio], seguramente dirá que o tempo que levámos a preparar a liteira, deu tempo ao IN para começar a mandar morteiradas para dentro da tabanca e tiroteio de armas ligeiras como eu nunca tinha visto. De facto, poderia ter causado sérios problemas, mas graças a Deus tudo correu bem.
A minha intenção é apenas a de dizer publicamente que nós, no mato, e em situações de perigo, tínhamos coração e respeito pela vida humana, nem sempre tudo era ronco e destruição de tudo por onde pássavamos - a [alegada política da] "terra queimada".
José Ferraz (**)
________________
Notas do editor:
(*) Muito provavelmente) trata-se da Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de "se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas quando da Op Lança Afiada [8-18 de Março de 1969], na região de Poindon".
As NT eram constituídas por dois 2 destacamentos:
(i) Dest A: CART 1746 (Xime) (a 3 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Fulacunda ou Tite) (1 Gr Comb);
(ii) Dest B: CCAÇ 2405 (Galomaro) (a 2 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Fulacunda ouTite) (1 Gr Comb).
Podemos publicar, oportunamente, um excerto do o relatório desta operação, em que foi capturado um elemento IN, desarmado. Na exploração imediata de informações dadas pelo prisioneiro, o Dest A fez uma batida à zona, surpreendendo "9 homens sentados acompanhados de 2 mulheres" (sic). Aberto fogo, foram capturadas as duas mulheres, feridas. Os restantes elementos fugiram, com baixas prováveis.
Entretanto, "ao serem prestados os primeiros socorros às mulheres feridas, um grupo IN de efectivo não estimado flagelou as NT durante cerca de 6 minutos com LGFog, mort 60 e cerca de 6 armas automáticas", sem consequências para as NT.
(Fonte: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70. História da Unidade. Cap II, pp. 78/79).
(**) Último poste da série > 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9090: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (5): O desenrascanço... na justiça militar!
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Fizeram bem em não matar a bajudinha.
Um Militar não mata, elimina os elementos In e evita eliminar civis.
Há algo que me levanta uma dúvida.
Tenho eu aqui:
Operação "Espada Grande", iniciada em 030000 de Abril (meia noite de dia 3)de 1969,com a duração de 2 dias e a finalidade de completar a destruição de acampamentos In: Satecuta,Galo Corubal...NT'S envolvidas:
DEST. A - Cart 2339 c/3 Grupos
Dest. B - Cart 2413 c/3 Grupos
Dest. C - CCaç 2406 c/3 Grupos
Houve contacto, destruí-se tudo o que ainda estava de pé e ficaram 2 mulheres feridas. Devem ter ido para o Xitole que estava mais perto. Nós depois do trabalho executado viemos para Mansambo.
A Companhia do Xitole ou Saltinho reagiram a forte emboscada e, parece, ter havido 1 morto,de uma delas, devido ás abelhas (?).
Em 2 de Abril um Grupo da 2405 sofreu uma emboscada no pontão do Almami, a 2 Km de Mansambo. Essa emboscada foi aberta para uma secção + do Pel Mil. 145 Moricanhe/Mansambo que sofreu 2 mortos,3 feridos e um prisioneiro.O In ,confirmado pelo prisioneiro que fugiu dias depois. sofreu 5 mortos e 3 feridos. Os 10.5 eram temidos pelo IN...
As datas e as forças intervenientes levantam dúvidas. A Cart 1746, não sei. Numa Operação dessas, nessa época e nessa Zona.Além das datas...
Posso estar errado.
Abraço T.
Torcato:
Faz sentido a realização das duas operações, uma a 2 e outra 3 de Abril de 1969, na sequência da Op Lança Afiada, que foi comandada pelo emtão Cor Hélio Felgas (Cmdt do Comando de Agrupamento 2957, com sede em Bafatá)...
Duas operações quase em simultãneo (diferença de um dia): uma na região do Poindon/Ponta do Inglês (subsetor do Xime), a outra na península de Satecuta/Galo Corubal (subsetor de Xitole)...
No relatório que eu tenho da Op Espada Grande, fala-se de uma violenta reação do IN mas não de prisioneiros, muito menos "2 mulheres feridas"...
A minha (e a tua) dúvida é a participação da CART 2413 (Xitole), a 3 Gr Comb...
Isto quer dizer que eles não podiam ter estado na Op Baioneta Dourada, a 2 Gr Comb...
No relatório fala-se da CCAÇ 2314, que deu uma pelotão ao Dest A (CART 1746, Xime) e outro ao Dest B (CCAÇ 2405, Galomaro) (Op Baioneta Dourada)...
Pensei que fosse erro do datilógrafo, e emendeu para CCAÇ 2413 (Xitole)... Fiz asneira, não devia ter emendado...
A CCAÇ 2314 existiu e deve ter operado na zona leste, mais do que uma vez... Aqui vão os elementos informativos:
(i) Foi mobilizada pelo RI 15;
(ii) Partiu para a Guiné em 10/1/1968 e regressou a 23/11/1969;
(iii) Esteve em Tite, Fulacunda e Tite;
(iv) Comandante: Cap Inf Joaquim Jesus das Neves;
(v) Fazia parte do BCAÇ 2834 (Bissau, Buba, Aldeia Formosa, Gadamael) de que faziam parte ainda a CCAÇ 2312(Bissorã, Bukla, Có, Bula, Bissau) e CCAÇ 2313 (Bissau, Teixeira Pinto)...
Tens, pois, razão: a companhia do Xitole (CART 2413) participou na Op Espada Grande (a 3 de Abrild e 1969) (subsector de Xitole) e não na Op Baioneta Dourada (a 2 de Abril, no subsetor do Xime)...
Vou já emendar... Obrigado por estares atento. LG
Luís: tenho que tratar de n assuntos mas o vício...Assim:
-Pode estabelecer-se confusão c/a 2413 (Xitole)e a 2314-mesmos números-
Esta,2314,esteve junto da minha no Destacamento F da Lança Afiada-(2339 c/2 grupos e a 2314 -da zona de Fulacunda /Tite c/ 1 grupo, que era comandado por um Furriel que foi ferido no 2º dia. Ele e quatro do meu grupo. Eu fui evacuado no final desse dia, carago.
- Os relatórios eram o que eram...quanto a mortos e feridos...
-Tem lógica uma operação a Norte e outra a Sul, em simultâneo "para dar continuidade ao espirita e resultados" da Lança Afiada...
Não tenho o Historial do BCAÇ 2852.
-O grupo que caiu -2 de Abril- na emboscada no Almami (só atirarão neles para os pararem, o assunto era com o Pel Mil 145)era, quase de certeza,do Paulo Raposo -2405 que viera fazer uma escolta a material para Mansambo e trouxera um engenheiro perito em retretes.
Está no Blogue em escrito meu Filhos de um Deus Menor ou o Engenheiro e o Paulo descreve isso nos apontamentos dele.
AB T-----16 Horas
Caros Companheiros e Camaradas: Luis e Torcato.
Os meus agradecimentos pelos esclarecimentos referentes as essas duas operacoes.Curiosamente fui eu que fiz os presioneiros... ia-mos a sair da mata para uma abertura com capim talves de meu metro de altura e um trilho que cruzava essa abertura em sentido perpendicular ao nosso sentido de marcha ( se bem me lembro eram dois e nao um) quando nos demos conta que eles vinham na nossa direccao a conversar e portanto nao se deram conta de nos ( ainda bem que tinha ensinado ao "pessoal balanta" os sinais apredidoa em Lamego) indiquei que alapassem e eu deita-me de costas para o chao ao lado desse trilho quando, eles so se derao conta de mim quando talvez a um par de metros donde eu estava deitado levanteio torso apontei-lhes a G3 e disse " a bo firma ai" tremiam como se tivessem visto um fantasma e eu ri-me foram entao levados para junto do comandante dessa opracao interrogados e voces ja sabem o resto da historia. Tambem me lembro agora uma historia mais do Julio que como responsavel pelos dilagrams andava sempre ligado a mim, quando o contra ataque se desencandiou ele e eu abrigamo-nos de tras de a baga baga enorme comecamos a responder e o Julio por um lado de baga baga e eu pelo outro tivemos que nos desabrigar disse-lhe para onde atirrar os dilagramas e dou-me conta de que o Julio de joelhos no chao a disparar dilagramas e cai pra frente redondo atirrei-me para junto dele com terrivel ansiadade por que estava convencido que ele tinha sido ferido quando me dei conta que estava vivo a primeira coisa que me disse -furriel os meus tomates? houve mais tiroteio acabou o contacto levanto-me ajudo o Julio a levantar-se e quando de pe ele puxa as calcas debaixo dos "tomates " e ai estava um buraco de bala uns centimetros mais a cima e pobre do Julio. Disse-lhe em descarga nervosa Ah Julio ainda bem ..senao nunca mais comia-mos galinha....
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