Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)
Guiné-Bissau > Região do Oio > Polibaque, entre Ansonhe e Quibir, a sudeste de Jugudul. Pormenor da carta de Tite (1955) (Escala 1/25000). No mapa do Google, nem sequer consta o topónimo Polibaque...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011).
1. Texto do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73 :
Assunto - Curiosidades da memória (*)
Nos últimos cerca de 6 meses da minha comissão, estive na CCaç 15, (formada essencialmente por Balantas), sediada em Mansoa.
Uma das missões da Companhia era fazer segurança na frente da estrada em construção, Jugudul/Portogole [mais tarde, Jugudul/Bambadinca].
No meu tempo, a frente dessa estrada estava num local chamado Polibaque, onde havia um muito curioso quartel/acampamento.
Se a memória não me falha, esse quartel/acampamento estava dentro de uma paliçada de troncos de madeira, muito ao jeito dos fortes dos antigos filmes de índios e cowboys.
Gostaria que alguém pudesse confirmar esta imagem que tenho, para ter a certeza de que não é fruto da minha fértil e delirante imaginação.
É que a ser verdadeira esta memória, julgo que deveria ser caso único na Guiné, e como tal, uma curiosidade digna de registo.
Monte Real, 7 de Dezembro de 2011
Joaquim Mexia Alves
PS - Aqui vai uma foto do emblema da garbosa CCaç15! Na altura disseram-me que "Taque Tchife", em balanta, significava "Agarra à Mão".
2. Comentário do editor:
Meu caro Joaquim, não é delírio teu, esse aquartelamento (ou mais provavelmente destacamento existiu... Temos várias referências (no blogue e fora dele) ao topónimo Polibaque (**)... Temos camaradas, como tu, que passaram por lá, na protecção aos trabalhos da estrada Jugudul - Portogole - Bambadinca... E lá viveram, como o Tomás Carneiro. Mas em boa verdade não temos uma única imagem desse destacamento. Nem sequer consta como marcador ou descritor no nosso blogue.
Quem lá esteve, no Carnaval de 1973, desenfiado por umas horas (por uma boa causa, diga-se de passagem, mas que podia ter-lhe custado os olhos da cara: fez Jugudul-Polibaque sozinho, com o seu Unimog ou Berliet e a sua G3, só para matar saudades dos amigos e comer com eles um cabritinho assado no forno!), foi o Tomás Carneiro. Aliás, não passou só lá umas horas... Passou lá algum tempo, em finais de 1973 e estava lá em Maio de 1974, quando foi gravemente ferido numa emboscada...
Pode ser que o Tomás Carneiro (ou o Pedro Neves, da mesma copmpanhia, a CCAÇ 4745 - Águias de Binta) nos possam ajudar... Ou então outra malta que tenha estado ou passado em Mansoa, Jugudul, Polibaque, Bissá, Portogole...
Sabemos que o destacamento (ou aquartelamento) de Polibaque existia em 1974 - provavelmente já sem a paliçada de que se lembra o Joaquim - sendo guarnecido por forças do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) sobre cuja história temos vários postes: por exemplo, em 9 de Maio de 1974, as NT sofreram uma violenta emboscada na estrada Judugudul-Bambadinca, de que resultaram 6 mortos (1 militar e 1 civil), 11 feridos graves e 18 feridos ligeiros, além de 5 viaturas danificadas. Simultaneamente, o mesmo "numeroso" grupo IN flagelou o aquartelamento (sic) de Polibaque, com Mort 82 e RPG 7, de que resultaram um morto (Furriel) e um ferido grave (1º Cabo). Nessa altura, Polibaque tinha artilharia (, o que aliás é confirmado pelo Tomás Carneiro).
Nessa emboscada um dos feridos graves foi o nosso camarada açoriano Tomás Carneiro, que estava então em Polibaque. A sua história dramática já aqui foi contada por ele, no nosso blogue.
Quando o BCAÇ 4612/72 assumiu, em 28 de Novembro de 1972, a responsabilidade do Sector 04, o seu dispositivo no terreno era o seguinte, integrando cerca de 1300 homens em armas:
- CCS / BCAÇ 4612/72: Mansoa;
- 1ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72: Porto Gole e Bissá;
- 2ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72: Jugudul, Rossum, Uaque, Bindoro;
- 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612 /72: Mansoa, Infandre, Braiua, Pista e Mancalã.
Camaradas: fica aqui o apelo (desesperado...) para nos mandarem uma fotografia, um croquis, um desenho, uma memória descritiva de Polibaque. É esscencial para completarmos o puzzle da nossa memória da Guiné. Eu e o Joaquim agradecemos. (LG)
_________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 22 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9076: Memória dos lugares (164): RTX - Rádio Televisão do Xime, Carnaval de 69, Xime, CART 1746, com o Manuel Moreira e o José Ferraz de Carvalho
(**) Referências a Polibaque
(...) CCAÇ 2587 / BCAÇ 2885
(...) A CCaç 2587 seguiu em 14Mai69 para Mansoa, a fim de render a CCaç 1686 e assumir a responsabilidade do mesmo subsector, com destacamentos em Uaque, Rossum, Bindoro e Jugudul.
Em 15Nov69, por criação do subsector respectivo, a sede da subunidade foi transferida para Jugudul, mantendo os destacamentos de Uaque, Rossum e Bindoro e sendo substituída em Mansoa pela CCaç 2588.
Em 15Jan70, por troca com a CCaç 2588, regressou a Mansoa, com a missão de intervenção e reserva do sector, onde se manteve até 04Mai70, sendo substituída pela CCaçLocher, Bindoro e Polibaque, entre outras, e escoltas a colunas.
Fonte: Portal Guiné (página de Carlos Fortunato) > Guiné - História > 1969-1974 > BCAC 2885 > CCS/CCAC 2587/2588/2589 (1969/71)
Tomás Carneiro (ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 - Águias de Binta, Binta, Cumeré e Farim – 1973/74) [ foto à esquerda, em Polibaque, no Natal de 1973]
(...) Com o Carnaval [ de 1973,] à porta recordo-me de uma cena. A “ferrugem” tinha comprado uma cabrita, para preparar uma petiscada que ficou combinada para a segunda-feira (ao fim da tarde), antes do Carnaval. Eu ainda estava nas obras da estrada [Jugudul-Bambadinca,] e não sabia se se trabalharia nessa terça-feira. Disseram-me que sim e fiquei danado.
Vi os tabuleiros a serem preparados para irem ao forno e fiquei chateado por ter que ir, mas lá fui de muito má vontade. Lembro-me que nesse dia me desloquei a Mansoa e quando regressei a Jugudul, me disseram que afinal não se trabalhava no dia de Carnaval.
Peguei na arma, saltei para a viatura e pus o motor a trabalhar. Comecei a rolar devagarinho, para ninguém perceber o que eu ia fazer e saí do quartel. Depois foi pé na “chapa” e toca a “voar” até ao Polibaque. A noite começou a cair rápida e, com os faróis nos médios, lá segui até reencontrar os meus camaradas, que ficaram admirados comigo e com a estória que lhes contei deste “desenfianço”. Enfim lá petiscamos no meio de grande convívio, algazarra e satisfação.
Quando acabamos a refeição disseram-me que tinha correio na secretaria e desloquei-me para lá, mas ao atravessar a parada, que ainda era larga, senti mesmo ao meu lado, um grande rebentamento. Atirei-me de imediato de cabeça para o chão, mas acabei por verificar que afinal era o obus local, que estava a bater a zona. Levantei-me e fui então ao correio.
Já na estrada, de volta a Jugudul, ainda ia com o “coração nas mãos”. Hoje, penso que não repetiria tal doidice, mas, com os 21 anitos de então, até deu para isso e muito mais que viesse (...)
(...) Em fins de Outubro, princípios de Novembro de 1973, fomos transferidos para um quartel novo [ Polibaque,] , que se situava entre o Jugudul e Porto Gole, numa altura em que estava a ser construída uma estrada entre Jugudul e Bambadinca e a cujas obras fizemos segurança. Nesta mudança, esperámos por alguém que nos viria acompanhar e quem devia ser esse algiuém? Nada mais, nada menos, do que os-meus companheiros e amigos “Os Gringos do Guileje”. (...)
(...) José Pedro Ferreira das Neves
(...) fiz o Curso de Operações Especiais em Lamego, 1.º curso de 1973 e dei instrução ao 2.º curso, também de 1973. Fui mobilizado para a Guiné em Julho de 1973 e ingressei na CCAÇ 4745, (Companhia de Intervenção), em Agosto de 1973. Regressei em Setembro de 1974 e passei à disponibilidade no dia 20 do mesmo mês.
Posto: Furriel Miliciano de Operações Especiais (nome de guerra PEDRO). Locais na Guiné por onde andei: Binta, Nema, Farim, Mansoa, Jugudul, Polibaque (Protecção aos trabalhos de abertura da estrada, Jugudul-Bambadinca), Bula, Binar, Nhamate, Capunga, Bissau e outros arredores, que agora não me ocorrem. (...)
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 25 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3148: O Nosso Livro de Visitas (24): José Pedro Neves, ex-Fur Mil da CCAÇ 4745 (Guiné 1973/74)
(...) Batalhão de Caçadores nº 4612/74
(...) O batalhão ficou reduzido a duas companhias, por a 3ª Compª não ter chegado a embarcar. Tendo iniciado a IAO no CMI, em Cumeré, esta foi interrompida a fim de seguir, em 24Jul74, para Mansoa, com vista a efectuar a sobreposição com o BCaç 4612/72.
Em 21Agosto74, assumiu a responsabilidade do Sector O4, com sede em Mansoa e abrangendo os subsectores de Mansabá, Porto Gole, Jugudul, Polibaque e Mansoa. Em 27Agosto74, o subsector de Jugudul foi extinto, por saída da respectiva subunidade e a sua área foi integrada no subsector de Mansoa.
Comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e desactivação e entrega dos aquartelamentos do sector ao PAIGC, sucessivamente efectuada nos subsectores de Polibaque, em 21Agosto74, Porto Gole, em 02Setembro74, de Mansabá, em 03Set74 e de Mansoa, em 10Set74.
Em 10Set74, após desactivação e entrega do aquartelamento de Mansoa, recolheu a Bissau, onde se reintegraram as suas subunidades entretanto vindas de outros pontos, e onde assegurou a segurança e protecção das instalações da área do sub-comando de Brá, então constituído, até ao seu embarque de regresso. (...)
Fonte: Guerra na Guiné 63/74 (Página de Carlos Silva) > BCAÇ 4612/74
(...) Em 05Mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.
Em 17Fev71, rendida pela CCaç 3303, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso. (...)
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7 comentários:
Camarigos
Parece-me, apesar de se terem passado dois anos de ter deixado Mansoa a caminho de T.Pinto, que o Destacamento de Polibaque no tempo da construção da nova estrada Jugudul para Porto Gole a que se referem, não se poder situar na antiga tabanca com esse nome e que é mencionada nas Cartas daquela época.
Esse Destacamento estaria possivelmente perto do antigo itinerário, mais para Norte portanto, mas na região ou zona que adquiriu esse nome.
Enviei uns comentários rápidos ao "nosso" coeditor de serviço, com dois anexos a tentar fundamentar as minhas ideias.
AB
Jorge Picado
O Destacamento ficava encostado à estrada,do lado direito no sentido do Porto Gole, disso não tenho a minima dúvida, pois estive lá dentro dele.
A minha dúvida é se o mesmo era ou não cercado de um paliçada de trancos de árvores ao jeito dos fortes dos "indios e cowboys" o que o tornava único na Guiné, julgo eu!
Abraço
Da estrada em construção, claro!
Tomás, meu caro amigo e camarada:
Para o caso de nos estares a ler, aí na tua bela ilha de São Miguel...
Tens fotos do aquartelamento de Polibaque? Ainda te lembras da paliçada, antes do quartel novo (para onde foste em Outubro/Novembro de 1973)?... Podes descrever onde ficava Polibaque e a que distância de Jugudul e de Portogole ?
Sei que tens memórias dolorosas de Polibaque, onde foste gravemente ferido em 9 de Maio de 1974... Mas faz-nos bem recordar...
Um abraço, bom feriado. Luis Graça
Meus queridos amigos e camaradas o que vos posso dizer sobre o Polibaque é que quando lá cheguei era um quartel novinho em folha ainda ninguem tinha posto lá o pé só o pesoal que lá trabalhava e fica no lado direito da estrada Jugudul Bambadinca como diz Jaquim ligando logo ali a picada para Porto Gole sem qualquer vestigio de paliçada e de tabanca eu tenho uma ideia do plano do quartel mas talves não seja o verdadeiro por isso fico-me sem mais,talves o Pedro Neves e Eduardo Andrade e ainda o Carlos Avila de S. Jorge que era Alf.mil. tenham alguma coisa a acrescentar pormonde isto ê nã tenho ma nada a acrescentar.
Um Abraço do meio do Atlantico com muito carinho
Tomas
Olá. Ao ler sobre a construção da estrada de Jugudul a Porto Gole, recordo que participei em algumas seguranças aos trabalhos, ainda no início e, portanto, bem perto ainda do Jugudul. Creio que era a empresa TCNIL que a estava a construir e, era já quase no final da minha comissão, finais de 72 ou princípio de 73. Não digo nada de novo ou importante. Apenas "mato" saudades. Abraço.
Caros amigos e camaradas
A companhia 4745 (Águias de Binta) foi a companhia com que cheguei à Guiné vinda dos Açores.
Depois do Cumeré onde tivemos instrução operacional seguimos para Binta.
Como estive de férias a seguir a Binta, fui-me encontrar com a companhia em Farim.
Depois de Farim seguimos para Polibaque.
Um quartel ou acampamento sem camas, água, comer, nada!
Mas passou-se, o Furriel Neves deve-se lembrar do tempo da ração da água.
A companhia composta por açorianos que tive o orgulho de representar sofreu na pele o que é uma companhia independente a fazer segurança a uma empresa de construção de estradas.
Levantei algumas minas, e algumas destroçaram alguns homens para quê?
Todos os graduados da minha companhia foram castigados com penas de prisão por na altura sermos revolucionários. Alguns ficaram por lá mas os que vieram são também heróis.
Obrigado a todos por este desabafo.
Jaime Rebelo, ex Furriel Miliciano 184933/72 CACÇ 4745
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