segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9448: (Ex)citações (173): Ralis com zebros no Rio Cacine...petas sobre o obus 14 enfiadas a jornalista da BBC em Gadamael (C. Martins, cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

Capa da revista Combatente, da Liga dos Combatentes, edição de setembro de 2011, alusiva às comemorações do 50º aniversário da criação da Escola de Fuzileiros, em 1961, por iniciativa do alm Reboredo e Silva. Entre os eventos que celebram a efeméride, conta-se a publicação do livro "Ordem do Dia" (144 pp .), sobre a história da escola dos Fuzileiros e os seus primórdios. Prefácio do comandante Alpoím Calvão, antigo aluno da Escola, e combatente na Guiné. Infelizmente, a obra está fora do circuito do mercado livreio.


1. Comentário, ao poste P9437 (*), do nosso leitor e camarada C. Martins (que esteve em Gadamael, a norte de Cacine, como comandante do respetivo Pel Art, entre 1973 e 1974):

Os fuzos de Cacine não faziam water-skiing [, esqui aquático,] no rio mas sim ralis com os zebros.



Quem o fazia de sintex (com o soldado operador deste completamente apavorado) e também tiro de caçadeira a todas as aves que lhe apareciam, era o cap comando Patrocínio, oficial de operações em Gadamael.


Era completamente "amalucado". Insistia comigo que operar os obuses era praticamente igual como os morteiros.


Um dia recebemos um jornalista inglês da BBC que quis uma explicação sobre o obus 14, enfiei-lhe uma série de petas:  o tubo era de fabrico alemão, as sapatas russas,o reparo americano,os amortecedores franceses, as rodas e o óleo espanhois... O cap Patrocínio assistia a tudo,  meio incrédulo.


Por fim quis gravar um tiro de obus... Bem, mandei colocar o gravador de bobines à frente do obus (perante o espanto geral dos meus soldados)... e após o tiro o dito cujo desintegrou-se. Risota geral. O newspaperman  queria que eu lhe pagasse o gravador. Expliquei-lhe que,  como nunca tinha feito uma gravação de um tiro de obus,  não sabia que o resultado era aquele.


Mais tarde soube que se queixou de mim nas altas esferas de Bissau..


Ah, comia-se bem no patrulha que frequentemente aportava em Cacine! (**)
 
_______________
 
Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 2 de fevereiro 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine...

(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9433: (Ex)citações (172): Ainda o dossiê Guidaje - Maio de 1973 (Manuel Marinho / Amílcar Carreira)

10 comentários:

Anónimo disse...

Aceite aí os meus aplausos pelo bailarico dado ao
pseudo(?)-jornalista.


SNogueira


(mas olhe que o Cap Patrocínio não era completamente 'amalucado')

Anónimo disse...

... o citado capitão Patrocínio, tinha a especialidade 'comando'?

Anónimo disse...

Caro SNogueira

O capitão "comando" Patrocínio,segundo julgo saber,já faleceu,por isso,não vou fazer comentários sobre ele.
Esteve na celebre tentativa de saneamento do actual General Jaime Neves.

C.Martins

João Carlos Abreu dos Santos disse...

...
José Marques Patrocínio, era do QEO de Infantaria; não tinha especialidade 'comando'.

Quanto à «celebre tentativa de saneamento» do inicial comandante do RCmds, teve início com a "intervenção" do citado oficial (apoiante do "saneamento" de seis oficiais, mas nenhum deles o citado J.Neves), nas seguintes circunstâncias:
1 - Pelas 11:00 de 21Abr75, em "ADU" no BCmds-Amadora, o cap Matos Gomes fez aprovar uma «moção para saneamento» de 6 oficiais daquela unidade de elite do Exército Português, tidos por «desinseridos do processo revolucionário em curso». Tal acto, foi subscrito por: capitão de cavalaria 'comando' Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes; capitão QEO de infantaria José Marques Patrocínio (contemporâneo do anterior em comissão na Guiné, onde o CCFAG lhe deu uma porrada «devido a um processo que lhe foi movido, acusado de ser o responsável pelo "desvio" de cerca de 50 contos»), e ao momento da cegada no BCmds, afecto à UDP; capitão de infantaria Norberto Santos, também conotado com a UDP; capitão de infantaria 'comando' António J. Afonso Lourenço (em 25Abr74 tenente, actuou com o major Jaime Neves e outros 'comandos', na "perigosa" Penha de França); capitão de infantaria 'comando' Manuel António Melo e Silva; tenente de artilharia 'comando' Manuel António Apolinário, afecto ao PCP; tenente SM RE José D.P. Rocha; tenente QEO de infantaria 'comando' Carlos Nuno Carronda Rodrigues; e alferes de infantaria 'comando' José Eduardo Oliveira Coimbra (adjunto do comandante da CCmds112/74). Os seis oficiais alvo do
"saneamento", foram: major de infantaria 'comando' José de Almeida Pinho Bandeira; major de infantaria 'comando' Florindo José Baptista Morais; major de infantaria 'comando' Rui Antunes Tomás; major capelão (da unidade) Bártolo; capitão de artilharia 'comando' Octávio Barbosa Henriques; aspirante miliciano Helder L.P. Abreu.

[m/comentário 1/2]

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... [m/comentário 2/2] ...

2 - Decorridas cerca de 48 horas (seja, em 23Abr75, ante-véspera do escrutínio nacional para a Assembleia Constituinte "do socialismo que temos"), naquele mesmo BCmds realizou-se nova ADU, presidida pelo coronel graduado de infantaria 'comando' Jaime Alberto Gonçalves das Neves, que «interpelou o capitão Matos Gomes, para que apresentasse factos concretos que tivessem levado a propôr a saída destes oficiais da unidade. [...] A anterior moção [subscrita às 11:00 de 21Abr75] foi aprovada incondicionalmente por 36 oficiais milicianos (29 "comandos") e considerada aceite pelo comandante, coronel Jaime Neves, na reunião de 23 de Abril de 1975. [...] A maioria genérica dos oficiais do Quadro Permanente não concordou com esta moção. [...] Ficaram na unidade, além dos 9 subscritores da referida moção, os seguintes 11 oficiais 'comando': majores de infantaria Fernando Gil Almeida Lobato de Faria e de cavalaria Miquelina Simões; e os capitães de infantaria Arnaldo José Ribeiro da Cruz, Manuel Ferreira da Silva, Chung Su Sing, de artilharia Humberto Manuel Ferreira Carapeta, do SGE José Mourato Miranda Nunes, de infantaria Carlos José de Amorim Algéos Aires, Francisco do Rosário Gonçalves Freire, Horácio da Silva Ferreira, João José Mealha de
Mendonça Ventosa, e Rui Trindade D. Guerra Ribeiro. [...] Da acta da reunião de comando, extrai-se a seguinte parte das declarações do "saneado" major Rui Antunes Tomás [falecido em 22Out2011]: «Em relação ao capitão Matos Gomes, reconhecendo-lhe [...] com valor e com coragem, esta lhe terá faltado, não tendo sido ele a ler a moção, delegando no capitão QEO de infantaria José Marques Patrocínio».

Nota final: de entre alguns dos 'progressistas' oficiais (?!) que participaram "à paisana" na celerada manif SUV's de 25Set75, destacou-se o citado Marques Patrocínio... «fardado de 'comando'» (!), entretanto compulsivamente afastado do RCmds e em serviço no 'revolucionário' RPM-Ajuda - o tal que deu maka no 25/11 -, quando «deveria estar preso na Trafaria, de acordo com o auto de corpo-de-delito que lhe foi instaurado por ordem do comandante do COpCon e da RML, em virtude de ter comandado o grupo que [no RCmds em 31Jul75] desencadeou uma sublevação, apontando armas às costas de oficiais».
O capitão Marques Patrocínio, afinal, «não era completamente 'amalucado'». Às tantas - consoante o lado da barricada -, se calhar foi simplesmente "levado" a alguns "procedimentos" esquisitos: assim a modos como que, um - entre outros - renegado ao juramento prestado na qualidade de Oficial das FA's Portuguesas.
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Anónimo disse...

Meu caro camarada Abreu dos Santos

Obrigado pelos esclarecimentos.
O capitão Patrocínio, em gadamael, andava com uma camisola dos comandos (sem comentários).
Também esteve lá colocado o 1.º sarg. Branca esse era mesmo "comando".
Foi subordinado do General Jaime Neves em Moçambique.
Falas em muitos nomes, muitos dos quais são meus conhecidos e alguns até amigos.
Apesar de seres grande conhecedor e muito bem documentado,não gosto quando fazes considerações de ordem política, porque penso que ultrapassa a temática deste blogue, mas como é evidente, cada um é livre de expressar a sua opinião.

Um alfa bravo

C.Martins

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Boa noite, caro ex(?)-artilheiro Manuel Augusto Caria Martins, veterano da Guiné do-quase-fim,
Após umas expontâneas e boas gargalhadas, devidas à «sua opinião» livre de que «considerações de ordem política [...] ultrapassa a temática deste blogue», vou por excepção "comentar" um comentário:
Ó meu caro amigo, este v/blogue - felizmente - jamais foi, ou será, apolítico!
Vai um abraço virtual, do
João Carlos Abreu dos Santos

Anónimo disse...

Caro "comando" Abreu dos Santos

Com a frontalidade que é apanágio da sua parte, também lhe digo que o então Tenente de Artilharia "comando" Manuel António Apolinário NÃO ERA afecto ao PCP, e mesmo que fosse não seria só por isso crime.
Em democracia, como sabe, cada um é livre de ter a ideologia que quiser, os actos que praticam é que podem ser ou não crimes.
Praticamente conheci quase todas as individualidades militares que cita e de alguns sou amigo,devido ao meu grande amigo Coronel de Infantaria "comando" na reserva, José Manuel da Glória Belchior.
Sobre a componente política é evidente que tem razão, mas penso que entendeu o meu ponto de vista...este blogue não deve ser de debate político, porque para isso já existem muitos,mas apenas e só um convívio entre ex-combatentes.

Um abraço

C.Martins

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... pelos vistos, caro Caria Martins, a esta hora da matina continua no seu posto de vigia.
Estava a preparar um email para o veterano José Câmara e pingou na m/mailbox esta sua tréplica.
Ficamos já por aqui (em perguntinhas-de- algibeira retórica, às quais não aguardo qq resposta): mas quem é que "enquadrou", fosse o que fosse, como «crime», para vir agora v. com um tal "papão"?; e quanto a ter "praticamente" conhecido "quase todas as individualidades militares" supra citadas, que adianta tal afirmação para o seu conhecimento de "causa"?
Desejo-lhe, sinceramente, uma boa noite de sono, descansado.
Abraço,
Abreu dos Santos

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... rectificação/esclarecimento:
José Eduardo Marques Patrocínio, em 01Dez66 era alferes de cavalaria e iniciou o 2ºCurso de Comandos no CIOE; seguiu para a RMM integrado na 4ªCCmds e após cerca de 11 meses de comissão regressou à Metrópole. Entre 1972 e 1973 no CTIG, capitão QEO, comandou – sucessivamente durante poucos meses – as seguintes subunidades: CCac3549/BC10 em Fajonquito, CCac15/CTIG em Mansoa e CCav8350/RC3 no CMI-Cumeré e em Quinhamel; (faleceu no final de 2008 ou início de 2009).

Cpts,
Abreu dos Santos
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