quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10915: O cruzeiro das nossas vidas (18): O meu batismo de voo, em 28 de março de 1973, num DC 6 da FAP (Abílio Magro)

1. Comentário do nosso leitor e camarada Abílio Magro ao poste P10912 (*):

28MAR1973, Aeroporto de Figo Maduro, Abílio Magro, 21 anos, Fur Mil Amanuense...

Embarco num DC6 da FAP com destino ao TO da Guiné, efectuando o meu baptismo de voo, já que se tratava da minha 1ª viagem de avião.

Calhou-me em sorte um lugar à janela, junto à asa direita da aeronave.
Á minha esquerda senta-se um barbudo e espadaúdo Fuzileiro com aspecto de já ter algumas comissões no "papo".

O DC6 arranca e, à medida que a velocidade aumenta, sinto que tudo aquilo treme e fico com a sensação de que, a qualquer momento, vai saltar um qualquer parafuso ou rebite. Já nem sei se quem treme sou eu, ou a aeronave.

Passada, talvez 1 uma hora, olho pela janela e vejo um dos motores da asa direita a verter óleo às golfadas. Calculo que as minhas feições tenham tomado um aspecto de aflição tal, que o Fuzileiro barbudo sentado a meu lado se apressou a sossegar-me:
- Não se preocupe, tem 2 motores em cada asa e aguenta "x" horas com só 1 em cada lado e, se pararem os quatro, aguenta "y" tempo a planar.

Para quem voava pela 1ª vez, aquela informação "sossegou-me completamente (!!!)".
Acabamos por aterrar na ilha do Sal, onde não saímos do Aeroporto e, depois de feita a manutenção, lá seguimos para Bissau, onde chegamos passadas 4 horas, de farda nº2, com blusão e camisola interior de manga comprida.

Quarta-feira, Janeiro 09, 2013 11:53:00 a.m.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 8 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10912: O cruzeiro das nossas vidas (17): Relembrando as nossas separações e partidas...

6 comentários:

Luís Graça disse...

Aproveito para convidar o Abílio para integrar a nossa Tabanca Grande... CV militar:


(...)

( i) "Em Abril de 1972 iniciei o serviço militar obrigatório no Regimento de Infantaria nº 5 - Caldas da Rainha, para frequentar o 1º Ciclo do C.S.M (Curso de Sargentos Milicianos).

(ii) "Em Julho de 1972 frequentei o 2º Ciclo do C.S.M no Regimento de Artilharia nº 4 - Leiria.

(iii) "Em Outubro de 1972 fui colocado no Quartel General da Região Militar de Lisboa onde prestei serviço até à minha mobilização para a, então, Guiné Portuguesa onde cheguei em Março de 1973 e onde prestei serviço na Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Q.G/C.T.I.G. como Furriel Miliciano Amanuense até ao meu regresso ao Continente, em Setembro de 1974." (...)

Vd. página pessoal:

http://a-magro.tripod.com/id1.html

Abílio Magro disse...

Aceito com muito gosto o convite e vou tentar compilar o "material" que se encontra disperso pelos 6 irmãos que "combateram" em África, 3 dos quais no TO da Guiné.

Manga de ronco!

AM

Álvaro Vasconcelos disse...

Camarada Abílio Magro, sê bem vindo à Tabanca Grande, onde o mundo é pequeno.
Quanto ao DC6 da FAP, eu regressei do CTIG, em Agosto de 72, nesse avião!
Já nessa altura ele vertia óleo por um dos motores. De Bissalanca a Figo Maduro, demorou 11 longas horas!
Mas chegou, e deu para perceber que a "Maralha" era tratada a baixo de cão!
Mas para quem tinha ido, em Julho de 70, de "Carvalho Araújo", com ameaça de bomba e incêndios a bordo, dia sim e dia não, a coisa até não correu muito mal!
Um abraço dum Tertúliano que espera um 2013 mais dífícil do que navegar ao largo do Saará, "a arder", e por cima da areia desse deserto a vêr a projeção da sombra do avião com marcas d´óleo! Nada o faz deixar de gritar -"continúo a sêr (ou somos?) tratado a baixo de "dog"!
Ronco? Manga dele!...
Vasconcelos

Abílio Magro disse...

Camarada Álvaro Vasconcelos:
Houve um lapso da minha parte e, efectivamente, a viagem durou cerca de 10 horas, apesar da paragem na ilha do Sal.
O grande ronco foi mesmo eu ter ficado mais acagaçado ainda com a calma explicação do Fuzileiro que me deixou com a ideia de que aquilo era de somenos importância e que, de quando em vez, até os 4 motores, paravam!
Manga mesmo, patrom!
AM

Anónimo disse...

Na sequência deste poste e do nosso parta ingressar na Tabanca Grande, o Abílio Magro mandou-nos a seguinte mensagem, ontem, às 18h16:

Camarigo Luis Graça:

Desde já um abraço com muito "ronco" pela tua Tabanca Grande.

Tenho seguido com alguma assiduidade os posts publicados na tua /nossa Tabanca, mas só hoje me dei ao "trabalho" de lá publicar um comentário ao tópico "O cruzeiro das nossas vidas", comentário esse que é mais um post, mas que não sei como publicá-lo como tal.

Acontece que possuo algum material que poderá enriquecer um pouco aquela Tabanca, já que pertenço a uma grande família de "combatentes" pois, de 8 irmãos (6 rapazes e 2 raparigas) todos os "machos" foram dar com os "costados" nos vários TO's (Angola, Moçambique e Guiné), chegando a estar 5 irmãos (todos milicianos) ao mesmo tempo, a cumprir serviço militar, dos quais 4 no Ultramar.

Dos 8 irmãos eu sou o mais novo e regressei da Guiné em Setembro de 1974, com a Guiné já independente e com guerrilheiros do PAIGC a fazerem patrulhas em Bissau, em conjunto com a nossa PM.

Desde 1967 houve, portanto, sempre a presença de, pelo menos, um irmão a "combater" em África, até ao fim da guerra.

Muito pouca gente acredita, mas é realmente verdade e passo a explicar:

O primeiro a embarcar foi o meu irmão Rogério que nasceu em 1944 e esteve em Angola entre 1967 e 1969 como Fur. Milº Atirador de Infantaria.

O segundo foi o Dálio que nasceu em 1946 e esteve em Moçambique entre 1970/1972 como Alf. Milº de Engenharia.

Também entre 1970/1972 prestou serviço em Angola o meu irmão Carlos, como cabo especialista da FAP (6 anos de serviço) e que se tinha oferecido como voluntário.
Ainda entre 1970/1972, prestou serviço na Guiné o meu irmão mais velho Fernando, como Cap. Milº de Artilharia e que, tendo nascido em 1936, já tinha prestado serviço militar obrigatório antes da guerra se iniciar em África.

Ainda na Guiné, prestou serviço como 1º Cabo Enfermeiro o meu irmão Álvaro, que nascido em 1950, tinha mais um ano e meio de idade do que eu.

Finalmente, eu, o caçula, inicio o CSM no RI 5, Caldas da Rainha, em Abril de 1972, encontrando-se, nessa altura, a Companhia Magro assim distibuída:

Disponibilidade - Rogério
Guiné - Fernando + Álvaro
Moçambique - Dálio
Angola - Carlos
Caldas da Rainha - Abílio

Entretanto, em Março de 1973, lá fui parar à Guiné onde fui recebido pelo meu irmão Álvaro, pois o Fernando, o mais velho, já tinha regressado à Metrópole.

Penso possuir, portanto, algum "material" de interesse para a tua/nossa Tabanca.
Abraço camarigo

Luís Graça disse...

A resposta que dei ontem ao Abílio:

Camarada Abílio: A tua família merece ir para o "Guiness"!... Espantoso!...

Bom, gostaria mesmo que entrasses para esta comunidade virtual. Já descobri o teu "sítio", preciso de duas fotos, uma do teu tempo da tropa e outra mais atual...

Talvez possas contar um pouco o que fazias no QG, na Justiça... Terei muito gosto em apresentar-te aos cerca de 600 "grã-tabanqueiros" que integram formalmente este blogue (que vai fazer 9 anos, em 23/4/2013)...

Luis Graça