quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11169: (In)citações (48): Vídeo "A Outra Guiné / The Other Guinea", de Hugo Costa e Francisco Santos, ou o regresso ao passado do Albano Costa, ex-1º cabo, CCAÇ 4150 (Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74)





A Outra Guiné (The Other Guinea), legendado em inglês. Vídeo (9' 27''). Cortesia de Albano Costa  e Hugo Costa  (2013)

Ficha técnica: produção: Universidade do Porto, 2012;  realização:  Hugo Costa e Tiago Costa: diretor de fotografia: Hugo Costa; som: Hugo Costa... Duração: 9' 27''.


Sinopse: Albano e um grupo de ex-combatentes voltam à Guiné-Bissau, 26 anos após o fim da guerra. Deslocam-se de jipe pelas diferentes localidades, contactando os locais, ajudando e travando amizades. O objectivo é rever o passado, encerrar um capítulo e conhecer uma outra realidade da Guiné.

(Albano and a group of ex soldiers go back to Guinea-Bissau, 26 years after the war ended. They travel by jeep, visiting different places, and contacting the locals, helping them and making friends. Their purpose is to revisit the past, closing a chapter and discovering a different reality in Guinea.)
— com Albano Costa em Guine-Bissau. (*)



1. O Albano Costa já era fotógrafo (profissional) quando fez a sua comissão de serviço, como 1º cabo, operacional, na CCAÇ 4150 (Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74).

A sua paixão pela fotografia fez com que ele seja um dos nossos camaradas com mais e melhor documentação sobre a Guiné, de ontem e de hoje.

Em Novembro de 2000, quebradas as últimas "resistências psicológicas", ele voltou à Guiné, agora como simples turista, revisitando sítios por onde estivera vinte e seis anos antes e conhecendo muitos outros de que só ouvira falar (por exemplo, a zona leste)...

Nessa altura, juntamente com o filho (finalista de um curso de comunicação social), e mais um grupo de camaradas, ex-combatentes (, o Lúcio, Casimiro, Armindo, o Carlos, o Manuel Costa, o Xico Allen, etc.),  o Albano fez um verdadeiro safari turístico-sentimental,  durante 15 dias, de 11 a 26 de Novembro de 2000, percorrendo a Guiné-Bissau, de lés a lés, em dois jipes. Dessa aventura ficou um extenso registo, em vídeo de que me chegou, em 2005,  uma cópia, em 4 DVD, por mão do Sousa de Castro, o nosso grã-tabanqueiro nº 2. É um excelente  trabalho de seis horas, sendo a realização, a insonorização e a montagem do Hugo Costa.

Nessa viagem o Albano tirou muitas e ótimas fotografias, que eu tive o privilégio de ver, em Guifões, Matosinhos, no seu estabelecimento comercial... Na altura ele explicou-me por onde andou:

(...) "Eu tive o prazer de poder ir 15 dias à Guiné, como já sabes, e conhecer localidades que só conhecia de nome quando me encontrava com colegas que diziam aonde tinham estado, e eu agora passei por muitas delas: Mansoa, Jugudul, Bambadinca, Xime, Mansambo, Xitole, Saltinho, Aldeia Formosa, a famosa ponte Balana, Buba, Guilege, Gadamael Porto, Chogué, Empada, Catió Canjabari, Jumbembem, Farim e muitas, muitas mais". (...)

Conheci o Albano, o "fotógrafo de Guifões", no Natal de 2005, na Madalena, Vuila Nova de Gaia. É um homem afável e bem disposto. Mandou-me depois umas tantas fotos, para eu matar saudades de Bambadinca e do meu Rio Geba... Aliás, em quinze dias ele e os seus camaradas foram a quase todo o lado e ainda apanharam um golpe de Estado pelo meio, o do Ansumane Mané!...  [Neste vídeo, vemos apenas a sua passagem pelo Xime, por Bissau - antigo hospital militar, HM 241 - e Cofeu e Guidaje; há, nomeadamente, em Bissau, vestígios ainda recentes da guerra civil de 1998/99; a visita às ruínas do antigo HM 241 é uma verdadeira dor de alma...].

As primeiras fotos chegaram-me com a seguinte nota que eu achei uma delícia: "Estou a enviar nove fotos tiradas em cima da ponte sobre o rio Geba, à entrada para Bambadinca... As legendas, bem, até nem é preciso, podem ficar no imaginário de cada um....Mas,  se quiseres,  ilustrar com texto de tua autoria, estás à vontade, para apróxima eu envio-te mais, vai aos poucos"...

Ao longo dos anos temos publicado muitas fotos dele e do filho (que voltou à Guiné-Bissau em 2006, numa expedição organizadas pelo Xico Allen)(**). Ao vê-las, eu tive a estranha sensação de que o tempo nada mudara: e no entanto, a Guiné-Bissau é hoje um país independente... [Eu próprio voltaria lá, em 2008]... Pelo menos, a terra continua vermelha, o Rio Geba corre limpo para o mar, as crianças parecem ser felizes e têm sonhos como todas as crianças do mundo, o peixe sai dos rios e entra nas bolanhas, há velhas pirogas abandonadas nas margens e os toca-toca andam cheios de gente viva e alegre pelas estradas esburacadas da Guiné profunda, longe do bidonville que é hoje Bissau...

Deixem-me dizer-vos quanto adorei ver este vídeo de 9 minutos. O Albano é um pai babado e tem razões para isso. O Hugo é um rapaz de grande sensibilidade e talento e dá aqui, mais uma vez, mostras do grande amor que tem pelo seu velhote.

Parabéns, Albano, Parabéns, Hugo. Temos arranjar maneira de divulgar, através do blogue, as outras 6 horas de vídeo que o Hugo fez em 2000 (e de que presente vídeo é apenas uma amostra, se bem que mais profissional)... A grande maioria dos nossos camaradas nunca irão poder voltar à Guiné para fazer a catarse ou simplesmente para matar saudades como tu, Albano, meu bom amigo e camarada...

Façam, entretanto,  o favor de consultar a página no Facebook do Hugo Costa:

(i) Designer de Imagem
(ii) Vive em Porto
(iii) Nasceu a 1 de Setembro de 1978
(iv) Sabe língua portuguesa, língua inglesa, língua castelhana e 3 outros
(v) 2012 : Concluiu os estudos na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
(vi) 2006:  Concluiu os estudos na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto;
(vii) 2005: Concluiu os estudos na École Régionale des Beaux Arts de Saint Etienne, França;
(viii) 1999: Concluiu os estudos em ESAP - Escola Superior Artística do Porto

O Albano Costa também tem página no Facebook. (LG)

5 comentários:

MANUELMAIA disse...

CARO ALBANO,

jÁ TINHA TIDO OPORTUNIDADE DE VER,VIA CARLOS DE QUEM SOU AMIGO PESSOAL,O VIDEO DA VOSSA ATRIBULADA VIAGEM.
O TRABALHO DO TEU FILHO TEM A QUALIDADE DE UM PROFISSIONAL,E AJUDA A EVOCAR OS BONS E MAUS MOMENTOS QUE POR LÁ PASSAMOS.
OBRIGADO POR O TRAZERES DE NOVO À RIBALTA.
ABRAÇO

Anónimo disse...

Reforço aqui o meu apelo para que o clã Costa nos disponibilize o resto dos vídeos... São 6 horas!...

Pode haver um problema é com a música de fundo... São de músicos guineenses, e há a questão dos direitos de autor... De qualquer a a banda sonora está muito feliz, parabéns também por isso ao Hugo, que é um grande artista... (E, a propósito, espero que ele esteja a trabalhar e a fazer o que gosta!)...

Em 15 dias, em novembro de 2000, o Albano, o Hugo, o Xico Allen e companhia, bateram quase toda a Guiné... Cada membro da comitiva quis ir revisitar os seus "sítios"...

Um Alfa Bravo. Luis Graça

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Luís, este é um resumo do filme em VHS que o Lúcio (Vizela) meu amigo e camarada d'armas da CART 3494 me disponibilizou e que mandei converter em DVD que em tempos te enviei. Estás recordado?
AB,

A. Castro

Luís Graça disse...

António Castro:

Sim, sim... Ali+ás, eu refiro o teu nome, foste tu que me mandaste cópias dos DVD, em 2005... Obrigado. Luis

PS - Como é o apelido do Lúcio ? Trá-lo até nós...

_____________


(...) Nessa altura, juntamente com o filho (finalista de um curso de comunicação social), e mais um grupo de camaradas, ex-combatentes (, o Lúcio, Casimiro, Armindo, o Carlos, o Manuel Costa, o Xico Allen, etc.), o Albano fez um verdadeiro safari turístico-sentimental, durante 15 dias, de 11 a 26 de Novembro de 2000, percorrendo a Guiné-Bissau, de lés a lés, em dois jipes. Dessa aventura ficou um extenso registo, em vídeo de que me chegou, em 2005, uma cópia, em 4 DVD, por mão do Sousa de Castro, o nosso grã-tabanqueiro nº 2. É um excelente trabalho de seis horas, sendo a realização, a insonorização e a montagem do Hugo Costa. )...)

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Chama-se: Lúcio Damiano Monteiro da Silva, ex. 1º cabo, conhecido entre nós por “VIZELA” devido à sua naturalidade. Ele ainda não domina as novas tecnologias e não vejo jeito de algum dia dominar, mas ele de facto teria muitas estórias para contar, ele foi protagonista duma estória surreal. Não me lembro qual o motivo, de um dia querer matar o Capitão, creio que na altura o nosso, era; Cap. Art. António Pereira da Costa. Entrou de G3 em punho, pela messe dos oficiais, no Xime, que era composta por duas rulotes e esteiras, creio eu, disposto a fazer miséria. Convém dizer que o pessoal estava saturado de tantos ataques ao quartel e muitos contactos com o IN. Foi preso. Recordo que estavamos a ver um filme no Xime, projectado na parede, quando uma coluna de Bambadinca chegou para o levar preso, ia com as mãos atadas, ele é demais! Recordo também numa altura em que o CMDT, Ten. Cor. Art. do BART 3873 Tiago Martins, em Bambadinca o abordou, perguntando a que companhia pertencia, ele respondeu; CART 3494 – Xime, então ordenou para que se apresentasse nesse dia em Bambadinca, devidamente uniformizado, com as patilhas (suissas) e bigode devidamente aparados. Como todos sabem, quem estava em zonas operacionais havia mais desleixo entre o pessoal. Assim sendo, logo chegado ao Xime tratou de se preparar, foi ao capitão dizendo que teria de se apresentar em Bambadinca conforme indicação do CMDT do Batalhão e que para isso teria de disponibilizar uma viatura com segurança para o levar, (convém dizer que distava entre o Xime e Bambadinca 14 a 15 Kms), o Cap. disse-lhe; Não penses nisso!... Então o nosso Lúcio (Vizela)armou-se até aos dentes, G3, granadas à cintura, meteu pés ao caminho e lá foi até Bambadinca apresentar-se ao CMDT do BART 3873. Não sei qual o dialogo travado com o CMDT. Isto aconteceu ao fim de tarde. Regressou no dia seguinte numa coluna. Mais tarde foi evacuado para o Hospital de Bissau, para tratamento de psiquiatria, quando regressou estávamos já em Mansambo, aí foi também protagonista de uma outra estória que recordo. Era nosso CMDT o Cap. Mil, Luciano Costa que se lembrou que o pessoal teria de formar todos os dias na parada. A parada era a zona onde o pessoal jogava à bola, então o nosso amigo Lúcio (Vizela) numa formatura questionou o Cap. o porquê de termos de formar todos os dias, se nunca até ali, tínhamos feito qualquer formatura, invocando que não fazia sentido e que os “turras” ao saberem desta situação, qualquer dia mandavam umas canhoadas. O que é certo é que a partir daquele momento acabaram as formaturas.

Estas, são memórias que persistem em mim, mas, naturalmente o Lúcio (Vizela) as contaria com mais rigor.