sábado, 2 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11179: In Memoriam (143): Soldados Domingos do Espírito Santo Moreno e João Amado, e 1.º Cabo João António Paulo, da CCAÇ 3489, mortos em combate, em Cancolim, no dia 2 de Março de 1972 (Juvenal Amado)

 

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 27 de Fevereiro de 2013:

Caros Luis, Carlos, Magalhães e restante camaradas da Tabanca Grande
Prestes a fazer 41 anos sobre o ataque a Cancolim em que morreram três camaradas, mando aqui uma pequena homenagem.
Juvenal Amado




Tudo a postos


Cancolin, 2 de Março de 1972

No ar paira um cheiro estranho 
Na escuridão tudo são sombras e medo 
A luz difusa amplia os nossos fantasmas 
Olhos que já não veem o desespero 
Gargantas que não articulam sons 
Jazem inertes na boca de cena 
Marionetes a quem se lhes cortou os fios 
Estão imóveis sem luz e sem chama 
O que ficou por construir será sempre uma incógnita 
A mais pequena insignificância será uma relíquia 
Através dela revive-se o homem 
Para trás ficaram os sacrifícios supremos 
Já não têm medo, nem dor, nem saudade 
No peito uma rosa de sangue 
O amor para sempre adiado 
Crianças penduram desejos na árvore da vida 
Fatalismo que se cobre de negro 
Lágrimas que teimam em rolar pelas faces 
Rostos e mãos que vão envelhecer sem esperança 
Pele amarrotada pela vigília e pela poeira dos tempos 
Mas ainda paira no ar o tal cheiro estranho 
Cheiro que se nos pegou a nós em Santa Apolónia 
Que nos quebrou nos porões ao sabor do destino 
O cheiro trágico de vidas que ficam por cumprir. 

******

Mortos em combate: 
João António Paulo 
João Amado 
Domingos do E. Santo Moreno
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 1 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11175: In Memoriam (142): Sesimbra, 26/2/2013, cemitério local, talhão dos antigos combatentes: singela mas digna cerimónia de trasladação dos restos mortais do nosso amigo e antigo comandante cor inf ref Alberto Costa Campos (Carlos Jorge Pereira)

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Juvenal:

Bem compreendo o sofrimento que transportas na alma, desde esse dia, julgo que logo no início da comissão. Comparo esse infausto acontecimento com a morte do Mata e do Figueiredo, no dia 10 de Julho de 72, em Bolama (13º dia de comissão).
A propósito da companhia de Cancolim aproveito para te perguntar se o Arlindo Vieira de Sá(Alferes) pertencia a essa companhia.

Um grande abraço
Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

Caro amigo Juvenal,
Bela e sentida homenagem a três camaradas nossos.
O Carvalho refere a mortte do Mata e do Figueiredo em Bolama. Pergunto se essas duas mortes aconteceram num acidente com uma granada?
Abraço para ambos
José Câmara

Anónimo disse...

Parabéns Juvenal, pela fluência das palavras sentidas e vívidas.
Parabéns por poder dz a dor e a saudade,e a revolta, pois poderia ter sido mais um dos que foram sem ser por nada.


Abraço fraterno

Felismina

Manuel Carvalho disse...

Caro Zé Câmara

Sou irmão do Carvalho de Mampatá e sei mais ou menos como o acidente aconteceu porque já ouvi o meu irmão com outros camaradas a falarem sobre isso.Foi um acidente no treino de dilagrama em Bolama. Pelo que eu percebi a granada, talvez por defeito soltou-se do dispositivo já sem a cavilha ainda antes do disparo mas vou pedir ao meu irmão ou ao Zé Manel da Régua para te explicarem isso melhor.
Também estive na Guiné em 68/70 em Jolmete mais ou menos na tua zona. Chegamos a fazer treino de dilagrama e decidimos não usar pelo que ouviamos dizer e tambem nos pareceu muito insegura para nós.
Um abraço

Manuel Carvalho

Anónimo disse...

Caro José Câmara:
O soladado Mata, sepultado no cemitério de Valbom-Pinhel, pertencia à minha companhia e o Figueiredo (Alferes) pertencia ao Batalhão 6520. Este alferes de Op. Especiais, era o instrutor de dilagrama, no IAO em Bolama, está sepultado no cemitério da cidade de S.Pedro do Sul.
A minha versão dos acontecimentos:
Estou a ver o instrutor e o instruendo, em mais uma operação de lançamento de dilagrama, que se vinha a repetir pela enésima vez, usando sempre o masmo método - cartucho (sem bala) na câmara, introdução do tubo do dilagrama no cano da espingarda, o instrutor tira a cavilha do dilagrama e recomenda calma ao instruendo, depois manda-o disparar e este fá-lo com sucesso, depois de colocar a patilha em posição de tiro. Só que desta vez, quando o instrutor removeu a cavilha, a alavanca da granada (por deficiência de fabrico) soltou-se imediatamente o que levvou o alferes a mandar o soldado disparar. Como o soldado demorou demasiado tempo a clocar a patilha em posição de tiro o dilagrama rebentou à boca da espingarda,matando os dois.

Um abraço
Carvalho de Mampatá

Anónimo disse...

Caro Manuel Carvalho,
Obrigado pela pronta resposta. Na altura desse acidente eu já estava no Destacamento de São João, que ficava precisamente em frente a Bolama, no começo da estrada que dava para Nova Sintra.
Recordo-me do trastorno que esse acidente causou. Foram duas mortes que chegaram antes do tempo, inflizmente como tantas outras.
Jolmete era um dos vértices do triângulo que delimitava a Mata da Caboiana. Os outros dois vértices eram o Bachile e o Cacheu. Estou referindo os quartéis da zona.
Eu usava o dilagrama de tiro curvo com frequência. Requeria muitos cuidados. Mesmo assim, para além do caso de Bolama desconheço outros acidentes com a arma.
Na Mata dos Madeiros todas as outras tropas envolvidas na proteção aos trabalhos da estrada já usavam o dilagrama de tiro directo.
Abraço,
José Câmara