Guiné > Região de Tombali > Mapa de Bedanda / Escala 1/50 mil > 1961 > Posição relativa de Cubaque onde o 'Nino' terá sido preso, em 1962...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).
1. Eis mais um documento do Arquivo Amílcar Cabral, que merece ser transcrito, lido e divulgado... Trata-se de uma carta manuscrita, de 5 páginas, sem data... Pelos acontecimentos que relata deve ser, muito provavelmente, de meados de 1961, sendo anterior portanto ao início (oficial ou oficioso) da guerra colonial (23 de janeiro de 1963, segundos alguns historiógrafos...) quando um tal João Bernardo Vieira, já conhecido por 'Nino', mais tarde comandante da Frente Sul, começou a fazer o seu trabalho de sapa, aliciando gente para o PAIGC, nomeadamente para a guerrilha, na região de Bedanda.(*)
A carreira de 'Nino' Vieira poderia ter acabado aqui, em Catió, logo m 1961, se ele não tivesse fugido da prisão com a alegada cumplicidade de um cipaio e de 3 camaradas que assaltaram de noite as instalações em que ele estava em prisão preventiva, às ordens do administrador de Catió. Imaginemos só que ele poderia ter ido parar à Ilha das Galinhas ou ao Tarrafal... Por exemplo, Rafael Barbosa é preso pela PIDE em fevereiro de 1962, depois de aliciar muitos jovens para o futuro PAIGC.
'Nino' Vieira conta aqui, entre outros, pormenores da sua prisão em Catió. É pena que a carta, como de costume, não tenah data. Traços de "transtorno da personalidade histriónica" parecem já revelar-se aqui, nesta carta que não sabemos se era dirigida ao próprio líder máximo do PAIGC, Amílcar Cabral, se ao seu irmão, Luís Cabral...
2. Carta de João Bernardo Vieira, 'Nino' [, futuro comandante da Frente Sul] a Cabral, manuscrita, de cinco folhas, numeradas de 1 a 5:
Caro camarada Cabral
Paz, sossego e bem estar te desejo em companhia de todos aqueles e aquelas do nosso campo.
Quanto a mim, vou indo bem graças ao auxílio das massas populares. Comunico-te de que há dias fui preso pelas tropas coloniais em Cubaque, motivo por que sou denunciado por um empregado da Casa Gouveia em Catió e também pelo Momba, o tal chefe de I [lhéu] de Infanda. Este mandou o seu irmão saber da minha presença em Cubaque e foi informá-lo e ele por sua vez informou também ao administrador. O administrador mandou buscar as tropas em Cufar e estas vieram-me prender.
Esta altura calhou no momento em que estive [estava] desarmado e fui [ia] para tomar banho com o sr. Francisco Venâncio de Madeira, assim que acabei de fazer a instrução aos camaradas.
As tropas depois encercaram (sic) [cercaram] a casa deste senhor, até passaram-lhe a revista, mas não têm encontrado nada porque tinha deixado o meu saco para trás com um camarada. Depois perguntaram [a]o sipaio [cipaio] Adulai Duca se sou de Bedanda, e este disse que não me conhece. Mas depois levaram-me
2
«até junto do administrador e este depois preguntou-me [sic] donde sou, disse-lhe a mesma palavra que acabei de pronunciar dantes. Disse-lhe que acabei de chegar de Bissau, e vinha somente para visitar o meu tio em Bedanda.
Depois perguntou da “guia”, e disse-lhe que não a trouxe, porque tenho cartão de identidade, também pediu-me este e disse-lhe que deixei ficar em Bissau. Depois disse-me que tenho de pagar imposto, já que deixei ficar o bilhete de identidade e mandou-me fechar à [na] prisão. Tudo isto foi porque tenho muito desembaraçado (sic) [desembaraço] com eles, por isso não me têm amar[r]ado. Naquela altura tanto o furriel dos paraquedistas como o administrador e o seu secretário não tinham a certeza se de facto era eu quem andava por aí a fazer este serviço, porque viram-me a falar muito desembarassadamente [desembaraçadamente] com eles em todas as perguntas que têm feito, até que o administrador resolveu dizer o nome do imposto neste momento.
Mas logo à noite apareceu outra vez o tal Momba [a] dizer ao administra-
3
dor de que a pessoa que se encontra na prisão é a pessoa que tem indicado. Naquela altura o administrador ficou muito furioso até que mandou chamar o Adulai Duca, naquela noite, onde autorizou-o de levar-me muito cedo para poder fazer-me interrogações. O Adulai veio depois informar-me tudo à prisão naquela noite, até disse-me para não mudar de palavra, embora com maltratos e tudo mais.
E mesmo naquela noite apareceu [apareceram] estes bravos camaradas que é [são] Djá [?], Vanguena [?] e João de Pina que arrebentaram a prisão e soltaram-me. Agora o administrador está muito atrapalhado deste facto e espalhou os homens para todas as bandas em [à] minha procura. Mandei estes camaradas com Aliu porque 4 deles foram também denunciados deste acontecimento, por isso já não podem voltar a suas casas, e mais encontram-se todos desarmados.
Também aproveitei deles que é para levarem a canoa conforme a informação do portador. Agradecia depois mandar estes camaradas todos armados, que é para poder começar a fazer pequenas sabotagens. Também acabou de chegar há dias
Paz, sossego e bem estar te desejo em companhia de todos aqueles e aquelas do nosso campo.
Quanto a mim, vou indo bem graças ao auxílio das massas populares. Comunico-te de que há dias fui preso pelas tropas coloniais em Cubaque, motivo por que sou denunciado por um empregado da Casa Gouveia em Catió e também pelo Momba, o tal chefe de I [lhéu] de Infanda. Este mandou o seu irmão saber da minha presença em Cubaque e foi informá-lo e ele por sua vez informou também ao administrador. O administrador mandou buscar as tropas em Cufar e estas vieram-me prender.
Esta altura calhou no momento em que estive [estava] desarmado e fui [ia] para tomar banho com o sr. Francisco Venâncio de Madeira, assim que acabei de fazer a instrução aos camaradas.
As tropas depois encercaram (sic) [cercaram] a casa deste senhor, até passaram-lhe a revista, mas não têm encontrado nada porque tinha deixado o meu saco para trás com um camarada. Depois perguntaram [a]o sipaio [cipaio] Adulai Duca se sou de Bedanda, e este disse que não me conhece. Mas depois levaram-me
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«até junto do administrador e este depois preguntou-me [sic] donde sou, disse-lhe a mesma palavra que acabei de pronunciar dantes. Disse-lhe que acabei de chegar de Bissau, e vinha somente para visitar o meu tio em Bedanda.
Depois perguntou da “guia”, e disse-lhe que não a trouxe, porque tenho cartão de identidade, também pediu-me este e disse-lhe que deixei ficar em Bissau. Depois disse-me que tenho de pagar imposto, já que deixei ficar o bilhete de identidade e mandou-me fechar à [na] prisão. Tudo isto foi porque tenho muito desembaraçado (sic) [desembaraço] com eles, por isso não me têm amar[r]ado. Naquela altura tanto o furriel dos paraquedistas como o administrador e o seu secretário não tinham a certeza se de facto era eu quem andava por aí a fazer este serviço, porque viram-me a falar muito desembarassadamente [desembaraçadamente] com eles em todas as perguntas que têm feito, até que o administrador resolveu dizer o nome do imposto neste momento.
Mas logo à noite apareceu outra vez o tal Momba [a] dizer ao administra-
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dor de que a pessoa que se encontra na prisão é a pessoa que tem indicado. Naquela altura o administrador ficou muito furioso até que mandou chamar o Adulai Duca, naquela noite, onde autorizou-o de levar-me muito cedo para poder fazer-me interrogações. O Adulai veio depois informar-me tudo à prisão naquela noite, até disse-me para não mudar de palavra, embora com maltratos e tudo mais.
E mesmo naquela noite apareceu [apareceram] estes bravos camaradas que é [são] Djá [?], Vanguena [?] e João de Pina que arrebentaram a prisão e soltaram-me. Agora o administrador está muito atrapalhado deste facto e espalhou os homens para todas as bandas em [à] minha procura. Mandei estes camaradas com Aliu porque 4 deles foram também denunciados deste acontecimento, por isso já não podem voltar a suas casas, e mais encontram-se todos desarmados.
Também aproveitei deles que é para levarem a canoa conforme a informação do portador. Agradecia depois mandar estes camaradas todos armados, que é para poder começar a fazer pequenas sabotagens. Também acabou de chegar há dias
4
em Catió o Jaime [James] Pinto Bull [, 1913-1970, deputado à Assembleia Nacional] (**) onde houve muita festa da [à] sua chegada.
Recebi com o Aliu a importância de 5 mil francos, um rádio marca National com as pilhas sobresselentes [, sobressalentes], medicamentos, plástico, duas camisas e mais este camarada José Domingos Gomes.
Agradecia mandar mais uma pessoa com mais experiência para ajudar-me, porque todos estes aqui trabalham bem, mas quem faz tudo sou eu e mais ninguém.
Porque quando mandei algum deles trabalhar para uma parte voltam sempre com as mesmas palavras de que toda aquela gente só quer para lá a minha presença. Portanto, embora que me encontro duma banda tenho que aparecer para lá organizá-los e tomar os seus nomes. Tudo isto é um grande atraso, por isso mandei pedir mais uma pessoa que saiba ler e escrever.
Junto envio a pistola do Tenguena [?] que tem partido o percutor no momento em que ensinava os camaradas mexer-se nela [sic]. Agradecia também mandar-se um relógio de pulso se há possibilidades, que é para poder saber a hora de abertura das estações [de rádio]. Também preciso
5
duma daquelas pistolas novas que há, para lá de 12 balas com a sua respectiva bolsa.
Também não é conveniente mandar estes camaradas desarmados, como acabou de chegar o José. E mais é melhor fazê-los regressar urgentemente junto de mim todos armados.
Manda-me estas pistolas de 12 balas para depois passar esta minha ao José.
Portanto termino na esperança de receber a sua resposta e mais todas as coisas necessárias que possa haver com estes camaradas.
Do camarada e companheiro de luta,
João Bernardo Vieira, ‘Nino’
[PS-] Junto vai o Iembará [?] Madjo e o seu companheiro porque foram chamados ao Tribunal Militar em Bissau. Por isso, depois disto chegar ao meu conhecimento, autorizei-lhes de fugir porque é a mesma questão do ano passado. Também agradecia arranjar capas para os camaradas que se encontram comigo e mais estes que ali foram. Cá dentro somos 5 pessoas, além desses que viram [virão] junto de mim. Agradecia também mandar-me 10 garrafas de óleo e mais esferográficas.
em Catió o Jaime [James] Pinto Bull [, 1913-1970, deputado à Assembleia Nacional] (**) onde houve muita festa da [à] sua chegada.
Recebi com o Aliu a importância de 5 mil francos, um rádio marca National com as pilhas sobresselentes [, sobressalentes], medicamentos, plástico, duas camisas e mais este camarada José Domingos Gomes.
Agradecia mandar mais uma pessoa com mais experiência para ajudar-me, porque todos estes aqui trabalham bem, mas quem faz tudo sou eu e mais ninguém.
Porque quando mandei algum deles trabalhar para uma parte voltam sempre com as mesmas palavras de que toda aquela gente só quer para lá a minha presença. Portanto, embora que me encontro duma banda tenho que aparecer para lá organizá-los e tomar os seus nomes. Tudo isto é um grande atraso, por isso mandei pedir mais uma pessoa que saiba ler e escrever.
Junto envio a pistola do Tenguena [?] que tem partido o percutor no momento em que ensinava os camaradas mexer-se nela [sic]. Agradecia também mandar-se um relógio de pulso se há possibilidades, que é para poder saber a hora de abertura das estações [de rádio]. Também preciso
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duma daquelas pistolas novas que há, para lá de 12 balas com a sua respectiva bolsa.
Também não é conveniente mandar estes camaradas desarmados, como acabou de chegar o José. E mais é melhor fazê-los regressar urgentemente junto de mim todos armados.
Manda-me estas pistolas de 12 balas para depois passar esta minha ao José.
Portanto termino na esperança de receber a sua resposta e mais todas as coisas necessárias que possa haver com estes camaradas.
Do camarada e companheiro de luta,
João Bernardo Vieira, ‘Nino’
[PS-] Junto vai o Iembará [?] Madjo e o seu companheiro porque foram chamados ao Tribunal Militar em Bissau. Por isso, depois disto chegar ao meu conhecimento, autorizei-lhes de fugir porque é a mesma questão do ano passado. Também agradecia arranjar capas para os camaradas que se encontram comigo e mais estes que ali foram. Cá dentro somos 5 pessoas, além desses que viram [virão] junto de mim. Agradecia também mandar-me 10 garrafas de óleo e mais esferográficas.
Fonte: (s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_37302 (2013-11-22)
[Transcrição, revisão e fixação de texto: L.G.]
3. Excerto do livro do nosso camarada Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português" (Lisboa: Associação de Comandos, 2010, pp. 30/31):
(...) "Quando eu estava em Catió, em Julho de 1961, toda a a gente falava de um tal Nino Vieira que tinha fugido da prisão da administração de Catió e que tinha sido ajudado por um cabo cipaio, o Adulai Duca Dajaló, casado com uma irmã do João Bacar Djaló.
"Nessa altura encontrava-se em Catió um colega meu de Bissau, o Adulai Djá, que enquanto fazia consultas tentava mobilizar pessoal para o PAIGC. Eram os tempos em que o PAIGC, ainda pouco conhecido, estava a começar a emitir um programa pela rádio Conacry.
"Uma tarde, convidado pelo Adulai Djá, fui ouvir a emissão a casa do cipaio. Depois voltámos muitas vezes, fechávamos a porta, para o João Bacar não saber, e ouvíamos o programa quase todo. Nessa altura, o Adulai Djá, estava a tentar aliciar-me e eu estive hesitante" (...)
3. Excerto do livro do nosso camarada Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português" (Lisboa: Associação de Comandos, 2010, pp. 30/31):
(...) "Quando eu estava em Catió, em Julho de 1961, toda a a gente falava de um tal Nino Vieira que tinha fugido da prisão da administração de Catió e que tinha sido ajudado por um cabo cipaio, o Adulai Duca Dajaló, casado com uma irmã do João Bacar Djaló.
"Nessa altura encontrava-se em Catió um colega meu de Bissau, o Adulai Djá, que enquanto fazia consultas tentava mobilizar pessoal para o PAIGC. Eram os tempos em que o PAIGC, ainda pouco conhecido, estava a começar a emitir um programa pela rádio Conacry.
"Uma tarde, convidado pelo Adulai Djá, fui ouvir a emissão a casa do cipaio. Depois voltámos muitas vezes, fechávamos a porta, para o João Bacar não saber, e ouvíamos o programa quase todo. Nessa altura, o Adulai Djá, estava a tentar aliciar-me e eu estive hesitante" (...)
4. Clicar aqui para ampliar a imagem: Casa Comum.
Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 04609.056.054
Assunto: Comunica que foi preso pelas tropas coloniais em Cubaque, depois de ter sido denunciado por um empregado da Casa Gouveia, em Catió, e por Momba, chefe de I. de Infanda, tendo sido liberto mais tarde por 3 camaradas. Informa da chegada de Jaime Pinto Bull a Catió. Solicita o envio de uma pessoa com experiência.
Remetente: João Bernardo Vieira
Destinatário: [Amílcar?] Cabral
Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondencia
Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
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Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 04609.056.054
Assunto: Comunica que foi preso pelas tropas coloniais em Cubaque, depois de ter sido denunciado por um empregado da Casa Gouveia, em Catió, e por Momba, chefe de I. de Infanda, tendo sido liberto mais tarde por 3 camaradas. Informa da chegada de Jaime Pinto Bull a Catió. Solicita o envio de uma pessoa com experiência.
Remetente: João Bernardo Vieira
Destinatário: [Amílcar?] Cabral
Data: s.d.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna).
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondencia
Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
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Notas do editor:
(*) Poste anterior da série > 8 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12267: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (7): Cartas de Marga ['Nino' Vieira] e de Luís Cabral, onde se fala dos 3 desertores de Fulacunda, presumivelmente da CART 565, elevando para 9, até ao dia 3/4/1965, o número de militares portugueses que, no TO da Guiné, tinham até então desertado...
(**) James Pinto Bull (193-1970): morreu, com outros deputados, num desastre de aviação durante uma visita à Guiné em 26/7/1970.
4 comentários:
Luis
O João Bácar Jaló falou-me, em Catió, da prisão do Nino, apontando para norte ("lá na Bedanda"). Ele, João Bácar, era, ao tempo da prisão, cipaio em Catió. Na versão dele, tinha sido o Administrador a mandar soltar o Nino contra a indicação dele, João Bácar, que conhecia o Nino desde criança.
Alberto Branquinho
Obrigado, Alberto, confirmo em parte a tua versão... Acabei de chegar de Luanda, e fui consultar o livro do Amadu Djaló... Isto passa-se em julho de 1961 (e não em 1962, como eu escrevi) e o 'Nino' beneficiou da cumplicidade do cipaio Adulai Duca Dajló, que seria cunhado do João Bacar Djaló... Já emendei e melhorei o poste... Um abração. Luis
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(,..) Excerto do livro do nosso camarada Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português" (Lisboa: Associação de Comandos, 2010, pp. 30/31):
(...) "Quando eu estava em Catió, em Julho de 1961, toda a a gente falava de um tal Nino Vieira que tinha fugido da prisão da administração de Catió e que tinha sido ajudado por um cabo cipaio, o Adulai Duca, Dajaló, casado com uma irmã do João Bacar Djaló.
"Nessa altura encontrava-se em Catió um colega meu de Bissau, o Adulao Djá, que enquanto fazia consultas tentava mobilizar pessoal para o PAIGC. Eram os tempos em que o PAIGC, ainda pouco conhecido, estava a começar a emitir um programa pela rádio Conacry.
"Uma tarde, convidado pelo Adulai Djá, fui ouvir a emissão a casa do cipaio. Depois voltámos muitas vezes, fechávamos a porta, para o João Bacar não saber, e ouvíamos o programa quase todo. Nessa altura, o Adulai Djá, estava a tentar aliciar-me e eu estive hesitante" (...)
Em nota de rodapé (, da autoria como todas as demais, do Virgínio Briote), diz-se que esse tal Adulai Djá, amigo do Amadu Djaló, chegou a 2º comandante da base principal do Morés, tendo sido morto num ataque de comandos, helitransportados (p. 30)... Não se diz a data, mas deve ser c. 1966.
Um abraço ao Virgíno.
Luís (, "de regresso à Tuga, ou à Nova Lisboa", com se diz agora em Luanda...)
Estes episódios são sempre interessantes para se apreciar como a vida tem sempre várias particularidades, mas apenas isso, já que não muda nada a realidade.
Se foi assim e se poderia ter sido de outra maneira? Claro! É sempre possível pensar noutros cenários, mas a verdade é que... já passou!
Claro que a situação de 'agitação', da captação de simpatias, é sempre muito arriscada, aliás como todas as fases, já que a fase 'das armas' não o tem menos. Não deixa de ser curiosa a 'fixação' de 'Nino' nas pistolas e nas balas, pois lembro-me de há alguns documentos atrás ele também pedir balas, salvo erro para espingarda de caça...
Abraços
Hélder S.
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