sábado, 17 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13158: Bom ou mau tempo na bolanha (56): Las Vegas, Las Vegas (Tony Borié)

Quinquagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dizem que, se perguntarmos a mil pessoas se ganharam algo nos casinos de jogo em Las Vegas, talvez cinco, vão dizer que sim. Mas isso não importa, todos procuram Las Vegas com a ideia dos casinos, restaurantes, encontros de ocasião, enfim divertirem-se nesta cidade que muitos dizem que é a “cidade da perdição”.

Nós dormimos a poucas milhas da cidade de Las Vegas, pela manhã, fomos para lá, estacionámos o nosso carro utilitário no parque de um famoso casino dizendo que íamos jogar, mas na verdade, depois do carro estacionado, saímos pela porta principal para a Las Vegas Boulevard, a tal a que chamam “Strip”, onde as pessoas caminham em qualquer sentido, é uma avenida que não dorme, de um lado e de outro, jovens, adultos e idosos de ambos os sexos caminham, entram e saem dos diversos casinos, alguns simplesmente distribuem cartões de apresentação, nem sempre sendo de assuntos honestos, oferecem-se, dão alguns sorrisos, procuram companhia num local onde companhia não falta, pois por ali circulam milhares de pessoas.


Os primeiros relatos sobre aquilo a que hoje chamam Las Vegas, foi de alguém de ascendência europeia, Rafael Rivera, por volta do ano de 1829. Las Vegas foi nomeada por espanhóis, que utilizaram a água da área durante a jornada iniciada em Texas e direcionada a norte e a oeste ao longo da Antiga Trilha Espanhola (Old Spanish Trail). Em 1800, os domínios de Las Vegas Valley continham poços artesianos que suportavam extensas áreas verdes ou prados “vegas” em espanhol, daí o nome Las Vegas.

Contam dezenas de histórias sobre Las Vegas, pessoas importantes que queriam converter a população indígena, construindo igrejas e fortalezas, servindo de uma importante escala de viajantes, no “Corredor Mormon”, entre Salt Lake City e uma próspera colónia em São Bernardino, na Califórnia, no entanto, os “mórmons” uns anos mais tarde abandonaram Las Vegas, os anos foram passando, e em 1905 Las Vegas foi criada como uma vila ferroviária, quando 110 acres, propriedade da Ferrovia San Pedro, entre Los Angeles e Salt Lake do Senador William A. Clark de Montana, foram leiloados no que é hoje centro de Las Vegas.


Resumindo um pouco, Las Vegas começou como uma escala nas trilhas dos pioneiros na “Marcha para o Oeste”, tornando-se uma cidade ferroviária popular no início do século passado. Com o desenvolvimento do caminho de ferro, Las Vegas passou por um período de decadência, mas a conclusão da barragem “Hoover Dam”, nas suas proximidades, por volta de 1935, trouxe de novo o crescimento da população e com ela o turismo.

Também dizem que o jogo, legalizado por volta do ano de 1931, levou ao surgimento dos casinos/hotéis, nas quais a cidade tem fama internacional, e que o êxito inicial dos casinos na cidade está relacionado claramente com o “crime organizado”. A maioria dos primeiros grandes casinos eram gerência, ou financiados por figuras da dita “Máfia”, ou por mafiosos da época, no entanto, por volta de 1960, com a chegada de uma personagem bilionária, portanto com grandes recursos financeiros, comprou muitos casinos, hotéis e estações de televisão na cidade, corporações legítimas começaram a comprar os tais hotéis/casinos, e a máfia foi exterminada pelo governo federal ao longo dos anos seguintes.


Continuando com a nossa narrativa, andámos de casino em casino, vendo festas, as pessoas alegres, talvez gastando o que não têm, em alguns casinos vimos pessoas famosas cantando, num desses locais, aproximámo-nos do balcão do bar, pedimos um copo com bebida, o empregado muito sorridente, colocou-nos na frente uma garrafa, cheia da referida bebida, um copo, e que podíamos beber o que quiséssemos, pois era de graça, e muito sorridente disse que nos queria ver felizes.

Como nós o compreendíamos!

É assim Las Vegas, tudo, ou quase tudo é livre, casamentos, divórcios, encontros amorosos, traições, restaurantes com especialidades de todo o mundo, vive-se vinte e quatro horas ao dia, os melhores artistas do momento procuram protagonismo, filmam-se películas na Las Vegas Boulevard, pessoas com grandes possibilidades financeiras chegam de helicóptero ou em aviões privados, chegam aos casinos com grandes mordomias e de limousine, mas também se podem ver na rua alguns “descamisados”, trajando roupa suja e, fora da medida do seu corpo, alguns empurrando um carrinho, talvez “desviado” de algum supermercado, cheio de latas vazias, de sacas de plástico, de nada que possa ter valor a não ser para eles, pois um simples naco de pão, ou o resto de uma garrafa de água, tudo apanhado no caixote do lixo, equivale a uma majestosa refeição de “steak & lobster”, com lagosta fresca, vinda do estado do Alaska, e o steak vindo do estado do Wyoming ou de Montana, de carne curada de búfalo, tudo regado com champanhe da Califórnia, servida por vários empregados, com todas as mordomias, num dos luxuosos restaurantes, lá no vigésimo ou trigésimo andar, com paisagem para o deserto do Nevada, equivalente a milhares de dólares e, esses “descamisados” por vezes acariciando um animal, que pode ser um cão ou um gato, que também deve passar fome, mas tem algum carinho e não os abandona, calçando um sapato diferente do outro, onde transportam toda a sua fortuna.


Na nossa idade não podemos pensar em “justiças ou injustiças” companheiros, vamos passar o melhor possível os anos que nos restam e, no próximo episódio, se vocês consentirem, iremos continuar com a narrativa, pois tudo isto é Las Vegas, Las Vegas, onde na rua se falam diversos idiomas, com pessoas provenientes dos mais remotos países do mundo.

Las Vegas, Las Vegas!.

Tony Borie, Maio de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13125: Bom ou mau tempo na bolanha (55): Entre militares em cenário de guerra (Tony Borié)

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