Quinquagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Dizem que, se perguntarmos a mil pessoas se ganharam algo nos
casinos de jogo em Las Vegas, talvez cinco, vão dizer que sim.
Mas isso não importa, todos procuram Las Vegas com a ideia dos
casinos, restaurantes, encontros de ocasião, enfim divertirem-se nesta
cidade que muitos dizem que é a “cidade da perdição”.
Nós dormimos a poucas milhas da cidade de Las Vegas, pela manhã,
fomos para lá, estacionámos o nosso carro utilitário no parque de
um famoso casino dizendo
que íamos jogar, mas na
verdade, depois do carro
estacionado, saímos pela
porta principal para a Las
Vegas Boulevard, a tal a
que chamam “Strip”, onde
as pessoas caminham em
qualquer sentido, é uma
avenida que não dorme, de
um lado e de outro, jovens,
adultos e idosos de ambos
os sexos caminham,
entram e saem dos
diversos casinos, alguns
simplesmente distribuem
cartões de apresentação, nem sempre sendo de assuntos honestos,
oferecem-se, dão alguns sorrisos, procuram companhia num local onde
companhia não falta, pois por ali circulam milhares de pessoas.
Os primeiros relatos sobre aquilo a que hoje chamam Las Vegas, foi de
alguém de ascendência europeia, Rafael Rivera, por volta do ano de
1829. Las Vegas foi nomeada por espanhóis, que utilizaram a água da
área durante a jornada iniciada em Texas e direcionada a norte e a oeste
ao longo da Antiga Trilha Espanhola (Old Spanish Trail). Em 1800, os
domínios de Las Vegas Valley continham poços artesianos que
suportavam extensas áreas verdes ou prados “vegas” em espanhol, daí o
nome Las Vegas.
Contam dezenas de histórias sobre Las Vegas, pessoas importantes que queriam converter a população indígena, construindo igrejas e
fortalezas, servindo de uma importante escala de viajantes, no “Corredor
Mormon”, entre Salt Lake City e uma próspera colónia em São
Bernardino, na Califórnia,
no entanto, os “mórmons”
uns anos mais tarde
abandonaram Las Vegas,
os anos foram passando, e
em 1905 Las Vegas foi
criada como uma vila
ferroviária, quando 110
acres, propriedade da
Ferrovia San Pedro, entre
Los Angeles e Salt Lake do
Senador William A. Clark
de Montana, foram
leiloados no que é hoje
centro de Las Vegas.
Resumindo um pouco, Las
Vegas começou como uma escala nas trilhas dos pioneiros na “Marcha
para o Oeste”, tornando-se uma cidade ferroviária popular no início do
século passado. Com o desenvolvimento do caminho de ferro, Las Vegas
passou por um período de decadência, mas a conclusão da barragem
“Hoover Dam”, nas suas proximidades, por volta de 1935, trouxe de novo o
crescimento da população e com ela o turismo.
Também dizem que o jogo, legalizado por volta do ano de 1931, levou ao
surgimento dos casinos/hotéis, nas quais a cidade tem fama internacional,
e que o êxito inicial dos casinos na cidade está relacionado claramente
com o “crime organizado”. A maioria dos primeiros grandes casinos eram
gerência, ou financiados por figuras da dita “Máfia”, ou por mafiosos da
época, no entanto, por volta de 1960, com a chegada de uma personagem
bilionária, portanto com grandes recursos financeiros, comprou muitos
casinos, hotéis e estações de televisão na cidade, corporações legítimas
começaram a comprar os tais hotéis/casinos, e a máfia foi exterminada
pelo governo federal ao longo dos anos seguintes.
Continuando com a nossa
narrativa, andámos de casino em
casino, vendo festas, as pessoas
alegres, talvez gastando o que não
têm, em alguns casinos vimos
pessoas famosas cantando, num
desses locais, aproximámo-nos do
balcão do bar, pedimos um copo com
bebida, o empregado muito
sorridente, colocou-nos na frente
uma garrafa, cheia da referida
bebida, um copo, e que podíamos
beber o que quiséssemos, pois era
de graça, e muito sorridente disse
que nos queria ver felizes.
Como nós o compreendíamos!
É assim Las Vegas, tudo, ou quase tudo é livre, casamentos, divórcios,
encontros amorosos, traições, restaurantes com especialidades de todo o
mundo, vive-se vinte e quatro horas ao dia, os melhores artistas do
momento procuram protagonismo, filmam-se películas na Las Vegas
Boulevard, pessoas com grandes possibilidades financeiras chegam de
helicóptero ou em aviões privados, chegam aos casinos com grandes
mordomias e de limousine, mas também se podem ver na rua alguns
“descamisados”, trajando roupa suja e, fora da medida do seu corpo,
alguns empurrando um carrinho, talvez “desviado” de algum
supermercado, cheio de latas vazias, de sacas de plástico, de nada que
possa ter valor a não ser para eles, pois um simples naco de pão, ou o
resto de uma garrafa de água, tudo apanhado no caixote do lixo, equivale
a uma majestosa refeição de “steak & lobster”, com lagosta fresca, vinda
do estado do Alaska, e o steak vindo do estado do Wyoming ou de
Montana, de carne curada de búfalo, tudo regado com champanhe da
Califórnia, servida por vários empregados, com todas as mordomias, num
dos luxuosos restaurantes, lá
no vigésimo ou trigésimo andar, com
paisagem para o deserto do
Nevada, equivalente a milhares
de dólares e, esses
“descamisados” por vezes
acariciando um animal, que
pode ser um cão ou um gato,
que também deve passar fome,
mas tem algum carinho e não
os abandona, calçando um
sapato diferente do outro, onde
transportam toda a sua
fortuna.
Na nossa idade não podemos pensar em “justiças ou injustiças”
companheiros, vamos passar o melhor possível os anos que nos restam e,
no próximo episódio, se vocês consentirem, iremos continuar com a
narrativa, pois tudo isto é Las Vegas, Las Vegas, onde na rua se falam
diversos idiomas, com pessoas provenientes dos mais remotos países do
mundo.
Las Vegas, Las Vegas!.
Tony Borie, Maio de 2014.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13125: Bom ou mau tempo na bolanha (55): Entre militares em cenário de guerra (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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