Vídeo 2' 01'' (Luís Graça, 2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes
Lourinhã, Areia Branca, 11 de maio de 2014. Homenagem ao José Henriques Mateus (1944-1966), desaparecido em combate em 10/9/1966, no sul da Guiné, durante a guerra colonial. Discurso de Narciso Cruz, empresário agricola, em nome da comissão organizadora local.
Vídeo 0' 30'' (Lu+ís Graça, 2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes.
Lourinhã, Areia Branca, 11 de maio de 2014. Homenagem ao José Henriques Mateus (1944-1966), desaparecido em combate em 10/9/1966, no sul da Guiné, durante a guerra colonial. Toque militar, a cargo de um terno de clarins da banda do exército, Serra da Carregueira.
O Jaime Bonifácio Marques da Silva é natural de Seixal, Lourinhã, foi colega de escola do Mateus, vive em Fafe (, onde foi professor de educação física e autarca, com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva). Fez a guerra colonial em Angola, como alf mil paraquedista, BCP 21 (1970/72). É membro da nossa Tabanca Grande. (**)
Parte1
1. Saudações [...]
2. Nota introdutória
Fará no próximo dia 10 de setembro 48 anos que o Lourinhanense José Henriques Mateus, nosso conterrâneo, desapareceu na sequência de uma operação de combate, denominada “Operação Pirilampo”, durante a travessia do rio Tompar na Guiné.
Em 1966, Portugal confrontava-se, já há cinco anos, com uma Guerra que se desenrolava em África em três teatros de operações diferentes: Angola (1961), Guiné (1963) e Moçambique (1964).
3 .Poderemos interrogar-nos hoje, cinquenta e três anos depois do início da Guerra em Angola e quarenta após o seu final da oportunidade de resgatar, sob o ponto de vista da evocação da História da Guerra Colonial, a memória daqueles que foram obrigados a fazer a guerra, sacrificando, muitos deles, a sua própria vida em nome de Portugal, como foi o caso do José Henriques Mateus, nosso conterrâneo e, cuja memória hoje evocamos.
A Comissão Organizadora, acredita que esta evocação histórica da memória dos que tombaram em nome de Portugal em África tem todo o sentido e justifica-se, sobretudo perante as novas gerações.
Acreditamos que o resgate da memória das causas, consequências e incidências vividas pelos combatentes durante esta Guerra, e neste caso particular, pelos ex-combatentes naturais do concelho da Lourinhã, é um ato de cidadania e deve ser uma obrigação, não só das instituições governamentais e militares a nível nacional, regional e local, bem como da sociedade civil.
É, em nosso entender, um exemplo de cidadania a homenagem prestada hoje pelo povo da Areia Branca perante o sacrífico de um dos seus “filhos da terra”, o Soldado nº 711/65 José Henriques Mateus.
4. A propósito da evocação da memória e da necessidade e obrigação da sociedade lutar contra o esquecimento daqueles que serviram e tombaram em nome de Portugal nas várias frentes de combate ao longo da nossa História, escreveu Jorge Espinha, no Jornal “Público” em 18 de outubro de 2013:
“No próximo mês de agosto fará cem anos que começou uma das maiores tragédias que se abateu sobre o continente europeu. Morreram nessa guerra milhares de portugueses (10 mil).
Devíamos refletir um pouco na maneira despiciente como comemoramos o imenso sacrifício humano das guerras em que Portugal participou.
Aqui, comemorar significa, relembrar, estudar, tentar perceber o que aconteceu e como o que aconteceu moldou o nosso país. (…) A Guerra Colonial continua mal lembrada (…), ao lembrarmos as vítimas civis e militares não estamos a branquear a história (…). Deixar esses grandes eventos no escuro nunca dá bons resultados. “
5. Será este, também, o propósito desta Comissão: contribuir para que a sociedade atual não esqueça as consequências do flagelo da Guerra Colonial e lute contra a cultura do esquecimento que se instalou em Portugal após o seu final contra “aqueles a quem Portugal tudo exigiu”.
Portugal, simplesmente, exigiu a vida do soldado Mateus e de muitos dos seus camaradas, sem que o Mateus e os seus camaradas, que nunca se recusaram a defender a sua Pátria, pudessem, sequer, quando chegados a África e confrontados com a dura realidade da guerra e do terreno pudessem questionar os seus superiores hierárquicos, confrontando-os com o facto de não os terem treinado e dado as condições técnicas em equipamento e material de guerra necessários e adequados para poderem enfrentar o inimigo e desempenhar com segurança as missões a que iriam ser submetido no terreno das operações de combate.
Na verdade, e de acordo com os documentos, entretanto, publicados, alguns deles da autoria de militares que cumpriram várias Comissões de Serviço em África exercendo as suas funções no topo da hierarquia militar, este foi um dos dramas enfrentados pelos jovens, como o Mateus, que serviram nas forças Armadas Portuguesas em Angola, Moçambique ou Guiné: Foram mal treinados, mal equipados, mal apoiados, mal alimentados e desconhecedores do tipo de terreno onde iriam operar.
Se naquela operação, a Operação Pirilampo, o Alferes, seu comandante de Pelotão, tivesse o apoio dos helicópteros da Força Aérea ou dos barcos da Marinha portuguesa para atravessas o rio Tompar e, seguramente, o Mateus ainda hoje seria vivo, tal como dezenas de seus camaradas em circunstâncias idênticas.
Quando no dia 13 de abril de 1961, Salazar ordenou aos portugueses: “Para Angola rapidamente e em força”, tomou uma decisão que, de acordo com especialistas, foi errada e fora do tempo. Primeiro, não se preocupou em avaliar se o país tinha ou não condições económicas para adequar as suas tropas às exigências daquela Guerra, depois, alheou-se do contexto histórico no qual Portugal estava inserido na Europa e no resto do mundo, da contestação da sociedade portuguesa em relação ao estado de pobreza e subdesenvolvimento do nosso país e, sobretudo, ignorando a falta de condições fundamentais para a complexa preparação de todos os fatores logísticos inerentes ao suporte do início, desenrolar e manutenção da Guerra.
A partir daqui, por incúria dos seus governantes e interesses pessoais de tantos outros, a desgraça abateu-se sobre as famílias portuguesas.
Parte 2
1. Ao lembramos, hoje, a morte do soldado José Henriques Mateus no contexto da evocação
histórica da Guerra Colonial, não podemos esquecer as consequências dessa Guerra para as famílias portuguesas:
Para as famílias do concelho da Lourinhã as consequências da guerra traduziu-se na morte de 20 dos seus filhos: 9 em angola, 5 em moçambique e 6 na guiné.
Na Guiné, onde o Mateus cumpria a sua Comissão de Serviço e de acordo com os dados disponibilizados pelo Arquivo Geral do Exército, tombaram seis (6) militares (Lourinhã, Areia Branca, Ribamar, Toxofal, Toledo e Reguengo Grande).
O primeiro militar da Lourinhã a tombar na Guiné foi o soldado José António Canôa Nogueira em 23.1.1965, natural da Vila, e o último foi o 1.º Cabo José João Marques Agostinho em 5.5.1973, natural de Reguengo Grande.
2. Sobre a vida militar e as circunstâncias da morte do Mateus a Comissão Organizadora decidiu preparar uma pequena exposição documental constituída por cinco painéis que serão expostos hoje na sede do Clube, no final desta cerimónia. A exposição tem como objetivo enquadrar e contextualizar o seu percurso militar durante a Comissão de Serviço na Guiné até ao fatídico fim de tarde do dia 10 de setembro de 1966 que lhe levou a vida, quando o seu Pelotão regressava de mais uma operação no mato .
Nos painéis transcrevemos alguns excertos de documentos oficiais que recolhi no Arquivo Geral do Exército, pertencentes ao seu Processo Individual, por cortesia do seu Irmão Abel Mateus, bem como no seu espólio pessoal cedido, também, pelo irmão que , publicamente lhe agradeço. Outros documentos foram cedidos por ex-combatentes pertencentes ao seu Batalhão, Companhia ou Pelotão enviados através do “Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné” ou por contacto pessoal através do correio ou testemunho pessoal.
2.1 Em síntese,
Podemos lembrar que o Mateus nasceu a 17.10.1944. Assentou praça no RI 7 em Leiria no dia 4 de maio de 1965 com a idade de 21 anos e, numa altura em que, como me disse o seu irmão Abel, era o “homem da casa” e o “braço direito da mãe”, uma vez que o pai já tinha falecido e tinha, ainda, mais duas irmãs e um irmão para ajudar a criar. Sobre as dificuldades das famílias em criar os seus filhos naquela época em que os trabalhadores do campo labutavam de “sol a sol” para ganharem uma “côdea”, são contas de outros rosário. A mãe do Mateus não escapava a estas dificuldades. Nem nestas circunstâncias o Governo de Portugal tinha alguma consideração: Ala para a guerra. Quem fica, que se amanhe!
O Mateus embarca para a Guiné a bordo do Navio Niassa no dia 20 de outubro de 1965, desembarcando em Bissau a 27 do mesmo mês.
Pertenceu ao Batalhão de Caçadores n.º 1858 e foi integrado na Companhia de Cavalaria n.º 1484 sediado na região de Timbali – Catió.
Sobre as características da região e do terreno onde estava sediada e atuava a companhia do Mateus, disse Benito Neves ex- Furriel da sua Companhia:
“Quando se olha aquele pedaço de mapa... nada se vê. Quem por lá passou sabe bem o que sofreu” (Benito Neves)
E Luís Graça, também, ex-furriel que cumpriu uma comissão de serviço na mesma região, afirma:
“Quando se olha para aquele pedaço de mapa de Bedanda, à esquerda e á direita do Rio Cumbijã, está-se perante o inferno na terra!... Aquilo é só bolanhas, lalas, lianas, tarrafo, lodo, água, rios, riachos, floresta-galeria"...
2.2. Operação Pirilampo
Foi num terreno com estas características que no dia 10 de setembro de 1966 o José Henriques Mateus será destacado para participar na Operação de Combate, denominada “Operação Pirilampo”, vindo a desaparecer no decorrer da mesma quando atravessava o rio Tompar.
Sabemos que, de acordo com os documentos oficiais disponíveis, nesta operação participaram duas Companhias:
A Companhia de Cavalaria nº.º 1484, à qual pertencia o Pelotão do Mateus comandado pelo Alferes Fernando Pereira da Silva Miguel e sendo o Furriel Egídio Ornelas Teles o seu comandante de secção.
Alguns dos textos que inserimos nos painéis a expor no Clube [da Areia Branca] relatam-nos as circunstâncias e sobretudo, realço, o desespero de todos os seus camaradas na busca do Mateus.
Só quem esteve lá e viu morrer ou ficar estropiados nas minas os seus camaradas e amigos poderá avaliar o desespero e o sofrimento dos camaradas do Mateus!
Eu estive lá, na guerra, em Angola e comandei um pelotão. Sei, por isso, avaliar a responsabilidade, o desespero e a impotência de nada mais poder fazer do Alferes Miguel e do Furriel Egídio, perante a tragédia de ver desaparecer um seu camarada.
Termino lembrando uma frase tão atual nos tempos que correm:
“Só existe uma coisa mais terrível do que uma guerra, fazer de conta que ela nunca aconteceu”.
Por tudo isto e porque Portugal comemora neste ano de 2014 os quarenta anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 que colocou um ponto final na Guerra em África, estamos certos que, ao homenagear e evocar a memória de um dos seus filhos da terra, o Povo do Lugar da Areia Branca, com a família do Mateus, a Comissão da Igreja, a Associação de Desporto e Proteção da População do Lugar da Areia Branca, aos quais se associaram em boa hora a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, alguns dos seus camaradas de Pelotão e companhia, seus companheiros na Guiné (aqui presentes), amigos e as Associações ligadas à causa dos Combatentes , também, aqui presentes (ADF, AVECO, LCP) , cumprem um dever cívico e de cidadania, não só, perante a memória dos que tombaram em nome de Portugal, mas também, dando um exemplo de solidariedade às gerações mais jovens.
Tenho dito.
Lugar da Areia Branca, 11 de maio de 2014
Jaime Bonifácio Marques da Silva
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13129: In Memoriam (189): José Henriques Mateus (1944-1966): uma singela e tocante homenagem das gentes da sua terra, Areia Branca, Lourinhã, na manhã de domingo, 11 de maio... Um exemplo a ser seguido por outras terras deste país.
1. Saudações [...]
2. Nota introdutória
Fará no próximo dia 10 de setembro 48 anos que o Lourinhanense José Henriques Mateus, nosso conterrâneo, desapareceu na sequência de uma operação de combate, denominada “Operação Pirilampo”, durante a travessia do rio Tompar na Guiné.
Em 1966, Portugal confrontava-se, já há cinco anos, com uma Guerra que se desenrolava em África em três teatros de operações diferentes: Angola (1961), Guiné (1963) e Moçambique (1964).
3 .Poderemos interrogar-nos hoje, cinquenta e três anos depois do início da Guerra em Angola e quarenta após o seu final da oportunidade de resgatar, sob o ponto de vista da evocação da História da Guerra Colonial, a memória daqueles que foram obrigados a fazer a guerra, sacrificando, muitos deles, a sua própria vida em nome de Portugal, como foi o caso do José Henriques Mateus, nosso conterrâneo e, cuja memória hoje evocamos.
A Comissão Organizadora, acredita que esta evocação histórica da memória dos que tombaram em nome de Portugal em África tem todo o sentido e justifica-se, sobretudo perante as novas gerações.
Acreditamos que o resgate da memória das causas, consequências e incidências vividas pelos combatentes durante esta Guerra, e neste caso particular, pelos ex-combatentes naturais do concelho da Lourinhã, é um ato de cidadania e deve ser uma obrigação, não só das instituições governamentais e militares a nível nacional, regional e local, bem como da sociedade civil.
É, em nosso entender, um exemplo de cidadania a homenagem prestada hoje pelo povo da Areia Branca perante o sacrífico de um dos seus “filhos da terra”, o Soldado nº 711/65 José Henriques Mateus.
4. A propósito da evocação da memória e da necessidade e obrigação da sociedade lutar contra o esquecimento daqueles que serviram e tombaram em nome de Portugal nas várias frentes de combate ao longo da nossa História, escreveu Jorge Espinha, no Jornal “Público” em 18 de outubro de 2013:
“No próximo mês de agosto fará cem anos que começou uma das maiores tragédias que se abateu sobre o continente europeu. Morreram nessa guerra milhares de portugueses (10 mil).
Devíamos refletir um pouco na maneira despiciente como comemoramos o imenso sacrifício humano das guerras em que Portugal participou.
Aqui, comemorar significa, relembrar, estudar, tentar perceber o que aconteceu e como o que aconteceu moldou o nosso país. (…) A Guerra Colonial continua mal lembrada (…), ao lembrarmos as vítimas civis e militares não estamos a branquear a história (…). Deixar esses grandes eventos no escuro nunca dá bons resultados. “
5. Será este, também, o propósito desta Comissão: contribuir para que a sociedade atual não esqueça as consequências do flagelo da Guerra Colonial e lute contra a cultura do esquecimento que se instalou em Portugal após o seu final contra “aqueles a quem Portugal tudo exigiu”.
Portugal, simplesmente, exigiu a vida do soldado Mateus e de muitos dos seus camaradas, sem que o Mateus e os seus camaradas, que nunca se recusaram a defender a sua Pátria, pudessem, sequer, quando chegados a África e confrontados com a dura realidade da guerra e do terreno pudessem questionar os seus superiores hierárquicos, confrontando-os com o facto de não os terem treinado e dado as condições técnicas em equipamento e material de guerra necessários e adequados para poderem enfrentar o inimigo e desempenhar com segurança as missões a que iriam ser submetido no terreno das operações de combate.
Na verdade, e de acordo com os documentos, entretanto, publicados, alguns deles da autoria de militares que cumpriram várias Comissões de Serviço em África exercendo as suas funções no topo da hierarquia militar, este foi um dos dramas enfrentados pelos jovens, como o Mateus, que serviram nas forças Armadas Portuguesas em Angola, Moçambique ou Guiné: Foram mal treinados, mal equipados, mal apoiados, mal alimentados e desconhecedores do tipo de terreno onde iriam operar.
Se naquela operação, a Operação Pirilampo, o Alferes, seu comandante de Pelotão, tivesse o apoio dos helicópteros da Força Aérea ou dos barcos da Marinha portuguesa para atravessas o rio Tompar e, seguramente, o Mateus ainda hoje seria vivo, tal como dezenas de seus camaradas em circunstâncias idênticas.
Quando no dia 13 de abril de 1961, Salazar ordenou aos portugueses: “Para Angola rapidamente e em força”, tomou uma decisão que, de acordo com especialistas, foi errada e fora do tempo. Primeiro, não se preocupou em avaliar se o país tinha ou não condições económicas para adequar as suas tropas às exigências daquela Guerra, depois, alheou-se do contexto histórico no qual Portugal estava inserido na Europa e no resto do mundo, da contestação da sociedade portuguesa em relação ao estado de pobreza e subdesenvolvimento do nosso país e, sobretudo, ignorando a falta de condições fundamentais para a complexa preparação de todos os fatores logísticos inerentes ao suporte do início, desenrolar e manutenção da Guerra.
A partir daqui, por incúria dos seus governantes e interesses pessoais de tantos outros, a desgraça abateu-se sobre as famílias portuguesas.
Parte 2
1. Ao lembramos, hoje, a morte do soldado José Henriques Mateus no contexto da evocação
histórica da Guerra Colonial, não podemos esquecer as consequências dessa Guerra para as famílias portuguesas:
Para África os Governos de Salazar e Caetano mobilizaram durante os treze anos do conflito (1961 – 1974) cerca de um milhão de jovens.
Destes, mais de 8 mil tombaram na frente de combate ou em acidentes, cerca de 120 mil foram feridos, 4 mil ficaram estropiados e, estima-se, que cerca de 100 mil ficaram a sofrer de “Stress Pós Traumático de Guerra”.
Destes, mais de 8 mil tombaram na frente de combate ou em acidentes, cerca de 120 mil foram feridos, 4 mil ficaram estropiados e, estima-se, que cerca de 100 mil ficaram a sofrer de “Stress Pós Traumático de Guerra”.
Para as famílias do concelho da Lourinhã as consequências da guerra traduziu-se na morte de 20 dos seus filhos: 9 em angola, 5 em moçambique e 6 na guiné.
Na Guiné, onde o Mateus cumpria a sua Comissão de Serviço e de acordo com os dados disponibilizados pelo Arquivo Geral do Exército, tombaram seis (6) militares (Lourinhã, Areia Branca, Ribamar, Toxofal, Toledo e Reguengo Grande).
O primeiro militar da Lourinhã a tombar na Guiné foi o soldado José António Canôa Nogueira em 23.1.1965, natural da Vila, e o último foi o 1.º Cabo José João Marques Agostinho em 5.5.1973, natural de Reguengo Grande.
2. Sobre a vida militar e as circunstâncias da morte do Mateus a Comissão Organizadora decidiu preparar uma pequena exposição documental constituída por cinco painéis que serão expostos hoje na sede do Clube, no final desta cerimónia. A exposição tem como objetivo enquadrar e contextualizar o seu percurso militar durante a Comissão de Serviço na Guiné até ao fatídico fim de tarde do dia 10 de setembro de 1966 que lhe levou a vida, quando o seu Pelotão regressava de mais uma operação no mato .
Nos painéis transcrevemos alguns excertos de documentos oficiais que recolhi no Arquivo Geral do Exército, pertencentes ao seu Processo Individual, por cortesia do seu Irmão Abel Mateus, bem como no seu espólio pessoal cedido, também, pelo irmão que , publicamente lhe agradeço. Outros documentos foram cedidos por ex-combatentes pertencentes ao seu Batalhão, Companhia ou Pelotão enviados através do “Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné” ou por contacto pessoal através do correio ou testemunho pessoal.
2.1 Em síntese,
Podemos lembrar que o Mateus nasceu a 17.10.1944. Assentou praça no RI 7 em Leiria no dia 4 de maio de 1965 com a idade de 21 anos e, numa altura em que, como me disse o seu irmão Abel, era o “homem da casa” e o “braço direito da mãe”, uma vez que o pai já tinha falecido e tinha, ainda, mais duas irmãs e um irmão para ajudar a criar. Sobre as dificuldades das famílias em criar os seus filhos naquela época em que os trabalhadores do campo labutavam de “sol a sol” para ganharem uma “côdea”, são contas de outros rosário. A mãe do Mateus não escapava a estas dificuldades. Nem nestas circunstâncias o Governo de Portugal tinha alguma consideração: Ala para a guerra. Quem fica, que se amanhe!
O Mateus embarca para a Guiné a bordo do Navio Niassa no dia 20 de outubro de 1965, desembarcando em Bissau a 27 do mesmo mês.
Pertenceu ao Batalhão de Caçadores n.º 1858 e foi integrado na Companhia de Cavalaria n.º 1484 sediado na região de Timbali – Catió.
Sobre as características da região e do terreno onde estava sediada e atuava a companhia do Mateus, disse Benito Neves ex- Furriel da sua Companhia:
“Quando se olha aquele pedaço de mapa... nada se vê. Quem por lá passou sabe bem o que sofreu” (Benito Neves)
E Luís Graça, também, ex-furriel que cumpriu uma comissão de serviço na mesma região, afirma:
“Quando se olha para aquele pedaço de mapa de Bedanda, à esquerda e á direita do Rio Cumbijã, está-se perante o inferno na terra!... Aquilo é só bolanhas, lalas, lianas, tarrafo, lodo, água, rios, riachos, floresta-galeria"...
2.2. Operação Pirilampo
Foi num terreno com estas características que no dia 10 de setembro de 1966 o José Henriques Mateus será destacado para participar na Operação de Combate, denominada “Operação Pirilampo”, vindo a desaparecer no decorrer da mesma quando atravessava o rio Tompar.
Sabemos que, de acordo com os documentos oficiais disponíveis, nesta operação participaram duas Companhias:
A Companhia de Cavalaria nº.º 1484, à qual pertencia o Pelotão do Mateus comandado pelo Alferes Fernando Pereira da Silva Miguel e sendo o Furriel Egídio Ornelas Teles o seu comandante de secção.
Alguns dos textos que inserimos nos painéis a expor no Clube [da Areia Branca] relatam-nos as circunstâncias e sobretudo, realço, o desespero de todos os seus camaradas na busca do Mateus.
Só quem esteve lá e viu morrer ou ficar estropiados nas minas os seus camaradas e amigos poderá avaliar o desespero e o sofrimento dos camaradas do Mateus!
Eu estive lá, na guerra, em Angola e comandei um pelotão. Sei, por isso, avaliar a responsabilidade, o desespero e a impotência de nada mais poder fazer do Alferes Miguel e do Furriel Egídio, perante a tragédia de ver desaparecer um seu camarada.
Termino lembrando uma frase tão atual nos tempos que correm:
“Só existe uma coisa mais terrível do que uma guerra, fazer de conta que ela nunca aconteceu”.
Por tudo isto e porque Portugal comemora neste ano de 2014 os quarenta anos da Revolução de 25 de Abril de 1974 que colocou um ponto final na Guerra em África, estamos certos que, ao homenagear e evocar a memória de um dos seus filhos da terra, o Povo do Lugar da Areia Branca, com a família do Mateus, a Comissão da Igreja, a Associação de Desporto e Proteção da População do Lugar da Areia Branca, aos quais se associaram em boa hora a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, alguns dos seus camaradas de Pelotão e companhia, seus companheiros na Guiné (aqui presentes), amigos e as Associações ligadas à causa dos Combatentes , também, aqui presentes (ADF, AVECO, LCP) , cumprem um dever cívico e de cidadania, não só, perante a memória dos que tombaram em nome de Portugal, mas também, dando um exemplo de solidariedade às gerações mais jovens.
Tenho dito.
Lugar da Areia Branca, 11 de maio de 2014
Jaime Bonifácio Marques da Silva
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13129: In Memoriam (189): José Henriques Mateus (1944-1966): uma singela e tocante homenagem das gentes da sua terra, Areia Branca, Lourinhã, na manhã de domingo, 11 de maio... Um exemplo a ser seguido por outras terras deste país.
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