terça-feira, 30 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13670: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (3): Recenseamento, Inspecção e Distribuição de Pessoal; Os Tombados em Campanha e Os Que Foram Agraciados




 1. Publicação da terceira parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13665: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (2): 3 de Agosto de 1959

2 comentários:

Luís Graça disse...

Zé:

Os números que tu coligiste e trataste com infinita paciência e sapiência, ajudam-me a "fazer as pazes" com o meu passado, com a minha juventude, com a minha geração, com a tropa, a guerra e a Guiné...

Nalguns casos surpreendeste-me, noutros vens confirmar as minhas suposições ou estimativas, feitas de leituras avulsas.

É certo que o período que analisas vai de 1961 a 1973... Se calhar deverias incluir os anos de 1959 e 1960, e ainda o de 1974... Tanto quanto sei, em 1961, por causa do início da guerra em Angola, houve camaradas nossos, já na vida civil, que foram chamados... Ora deveriam ser da recuta de 1959/60... Por outro lado, em 1975 ainda havia militares portugueses em Angola, por exemplo.

Mas fiquemos pelos teus 1 milhão e 145 mil mancebos rencenseados, entre 1961 e 1973, dops quais cerca de 200 mil são "faltosos" (, ou sejam, 17,3%, que não compareceram à inspeção militar)...

Esses números batem certo com os números que eu tinha no meu "disco rígido"... Mas serão, em rigor, "refratários" ? Quem se opunha à guerra colonial, apresentava habitualmente este número: 20% de um milhão de jovens que fugiram à guerra!... Convenhamos que é pura propaganda ou é uma interpretação abusiva dos dados: como muito bem sublinhas, muitos destes jovens terão acomnpanhado os pais ou ido a salto para França e outros destinos da emigração em massa dos anos 60/70...

Não sei muito bem qual é distinção técnico-jurídica entre "faltoso" e "refratário"... Mais abusivo ainda é chamar-lhes "desertores"... E era bom esclarecer esta terminologia bem como os números com que esgrimimos argumentos a favor desta ou daquela tese...

As motivações, os pretextos ou as razões para faltar à inspeção militar (aos 18 anos), em "tempo de guerra". serão sempre as mais diversas, mas no bosso caso seriam sobretudo de natureza económica, familiar, moral, psicossocial e, em menor grau, politica... A "objeção de consciência" não estava ainda na moda e a politização da juventude portuguesa restringia-se aos meios urbanos e à escassa população que frequentava o ensino secundário e superior (recorde-se que até 1973 só 4 universidades, públicas, 2 em Lisboa, 1 no Porto e outra - a mais antiga, e única até 1911 - em Coimbra)...

Em 1960/61, tu tinhas 112 mil alunos (em números redondos) do ensino secundário, 41% no ensino oficial e os restantes no privado... Em 1973/74, esta proporção inverte-se: tens um total de 179 mil alunos, dos quais 56% estão no público...

Rm 1959/60, o nº de alunos do ensino superior era de 18300. Em 1973/74 era de 69700, ou seja, um aumento de 380%. Não se pode ignorar o papel decisivo que teve, neste crescimento, a reforma de Veiga Simão (o professor de física, criador em 1963 da Universidade de Lourenço Marques que, entrou , em 1970, para o governo de Marcelo Caetano, como ministro da educação).

(Continua)

Luís Graça disse...

Continuando...

Zé, o que me surpreende nos teus números é o total de efetivos em campanha nos 3 teatros de operações: 1 milhão e 368 mil, dos quais 21,5% no TO da Guiné... Eu já achava que 200 mil já eram muita gente, mas tu apontas para mais de 261 mil: 80% metropolitanos e 20% do recrutamento local...

Mas se virmos as baixas no TO da Guiné (por todos os motivos: 2856), houve mais naturais da Guiné (41%) a morrer do que metropolitanos (59%), por todas as causas, incluindo em combate...

De facto, do total, 1711 (60%) morreram em combate:

1014 metropolitanos (59,3%)
697 guineenses (40,7%).

Sobre os agraciados, não me pronuncio... É uma matéria muito controversa... Todos já ouvimos muitas histórias/estórias...

Zé: fico-te grato por este trabalho de muitas horas a recolher, tratar e interpretar as estatísticas da nossa guerra... LG