terça-feira, 11 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)

1. Mensagem de José Belo [,  régulo e único membro da Tabanca da Lapónia, com sede em Abisco, Suécia, já bem, dentro do Círculo Polar Artico]:



Data: 8 de Novembro de 2014 às 15:53

Assunto: Não deveria ter ficado surpreendido.


Decidi enviar para o Blogue de Luís Graça &  Camaradas da Guiné, para o qual já näo contribuia desde há uns tempos, alguns dados e pequenas histórias sobre o PAIGC nos seus contactos com a Suécia.(*)

Foram recolhidos durante os meus tempos iniciais em Estocolmo, já há quase 40 anos, quando por aqui a Guiné ainda era um assunto com interesse. Pessoalmente, estes documentos ajudaram-me a melhor compreender as enormes dificuldades enfrentadas por Portugal na sua política colonial.



Abisco, assinalada por uma seta, é um dos  refúgios do nosso camarada e grã-tabanqueiro José Belo que agora parte, com armas e bagagens, para Key West, na Florida... Nada como ter o melhor de dois mundos...


... E, claro, que ele vá bem, em paz consigo e com os seus camaradas da Guiné, atabancados na Tabanca Grande., são os ardentes desejos.  A última coisa a que queríamos assistir, no adro da Tabanca Grande, era a um combate entre o galo de Barcelos e o bisonte de Abisco...  Segundo a nossa política editorial, o blogue defende os direitos... dos animais!


Fonte. Cortesia do blogue do José Belo, Lapland Near Key West



Recebo agora alguns e-mails muito pessoais no blogue da Lapónia por mim publicado, onde se estranha a minha necessidade de enviar para aí (e cito) :"...propaganda sueca de apoio aos nossos inimigos de então".

Apesar de por aqui ter exercido algum inocente "activismo jurídico".  não tenho qualquer procuração por parte do Reino Sueco para o defender,ou elogiar, nas suas há muito ultrapassadas políticas em relação à Guiné,ou ao colonialismo em geral.

A maioria das comunicações no Blogue efectuam-se entre camaradas,  nunca encontrados pessoalmente.

O julgar-se "conhecer" nunca é, infelizmente, o "conhecer-se". Os "pessoalismos" teräo sempre...o valor que têm,  e a ser-me desculpado gostaria de aqui referir um pequeno exemplo de atitude para com a vida quando a idade nos vai (cada vez mais) retirando máscaras de conveniências feitas.

Foi uma pequena conversa em Estocolmo, daquelas de "depois de jantar", tida com um grupo de jovens portugueses entäo de passagem pela  Suécia,  e de certo modo ligados a este Blogue [, referência à banda musical Melech Mechaya]..

Depois de alguém presente ao jantar os ter inteirado de alguns detalhes relacionados com a minha vida profissional,  aqui e nos Estados Unidos, foram simpáticos ao ponto de me felicitarem.

Décadas antes teria agradecido e...ponto final. Mas agora, e do modo que olho para estas coisas, acabei por tentar explicar-lhes que, independentemente de todos os esforços,  trabalhos humildes e cansativos, que tive que efectuar como tantos outros portugueses emigrados enquanto näo estabelecem novos alicerces, ...acabei por conhecer (e casar-me com)  uma menina sueca,  herdeira de importante empresa sueco-americana.

Deixei no ar a pergunta ingénua quanto a se teriam sido os meus esforcos,  ao tirar um curso nos Estados Unidos,  ou... os contactos familiares depois do casamento.

É claro que, e como bom Lusitano, um dos jovens perguntou de imediato como se coadunava que um activo oficial da então chamada ala esquerda do MFA tivesse caído em  tal casamento.

E lá tive que referir o amor e o romantismo lusitanos, a "Ala dos Namorados" de Aljubarrota,  somado à melhor forma de... ."reeducar" e "recuperar" capitalistas empedernidos (no caso, empedernidas).

Daí, caros senhores que me enviam tais e-mails sobre políticas ou propagandas já mais que serôdias....não se deem a tal trabalho, por inútil.

Essas pequenas grandes frustrações vistas desde este extremo do extremo norte da Europa são ridículas,  por ultrapassadas nos contextos. A serem vistas desde o outro lado do Atlântico,  nem ridículas conseguem ser.

Um grande e sincero abraço do José Belo.


________________

Nota do editor:


(*) Último poste da série > 9 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)

Vd. poste de 3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)

12 comentários:

Anónimo disse...

Joséééé Belo!

Gostei desse discurso sobre cóisas serôdias (pequeninas cóisas...) bistas e oubistas em estes tempos e a essas léguaaaaaaas de distância "...desse extremo norte da Europa" ou "...desse outro lado do Atlântico".
O tempo (e o passatempo) pararam no tempo e a gente parece que já num tem outras cóisas com que ocupar o tempo. Deus quisesse que num tibessemos!! E oh se temos!
Estou a esticar os braços pa te dar um abraço (um braço no sentido norte e outro no sentido oeste - sentes?)
Alberto Branquinho

Hélder Valério disse...

Caro Zé Belo

De facto, é preciso ter paciência, muita paciência.....

Há gentinha que acha que só os seus pontos de vista é que contam, que os podem impor, que os tempos 'vão maduros' para 'rever' a História, se possível reescrevê-la. Enfim!....

Bom Inverno lá pela Florida....
Hélder S.

Luís Graça disse...

Meu caro José, eu agora só quero saber quando é que voltas a Abisco. E se estás em condições e disposição de receber, ou poder receber, de braços abertos, à boa maneira lusitana, uma delegação da Tabanca Grande. À maneira lusitana, ou melhor, dos lusolapões (que, quanto a mim, têm a vantagem de reunir o melhor da Lusitãnia e o melhor da Lapónia; seguramente que, no teu caso, e pelo que já te conheço, não há o risco de teres o melhor de um lado e o pior do outro; na Lapónia és crioulo!)...

Já passaste mais de metade da tua vida na Suécia, tens uma família sueca, pelo que é difícil de imaginar essa coisa do coração dividido, entre Portugal e a Suécia... ´

Pessoalmente não acredito nessa história: não há corações partidos ao meio...

Os nossos camaradas que vivem na diáspora, podem continuar a ser portugueses, a sentir como portugueses, mas já não podem pensar e agir como portugueses... É humanamente impossível...São australianos, são suecos, são canadianos, são franceses, são americanos, são brasileiros...

Em suma, foi na diáspora que eles refizeram as suas vidas, casaram, fizeram filhos, desenvolveram uma carreira, aprenderam uma nova língua, criaram novas raízes, aprenderam a amar uma nova "pátria"...

Claro que Portugal está (e estará sempre) no coração, continua (e continuará) no coração, mesmo quando a gente, o povo, diz "Longe da vista, longe do coração"...

Dois anos de Guiné foi, para muitos de nós, uma experiência dolorosa, nesse sentido: quando voltámos, a casa, finda a comissão, sentimos uma sensação de estranheza... Aquele já não era o país donde tinhamos partido... Isso deve ter acontecido sobretudo com a malta que apanhou com o 25 de abril, a emio da comissão....

Não vou pedir ao Zé Belo que risque ou apague 40 anos da sua vida e volte para o Estoril... A grande maioria dos portugueses da diáspora não tem quaisquer condições (materiais, psicológicas, culturais, afetivas...) para voltar ... Os termos de troca são desiguais... Há contas por fazer, e nalguns casos ajustes de contas.... Há saudade, mas também há ressentimentos...

Todos nós, ou muitos de nós - e não é preciso viver no estrangeiro - temos uam relação bipolar com a "Pátria minha amada/odiada"...

Quem é, dos antigos combatentes, que não tem muitas vezes esta ambivalência de sentimentos ?... Quem não tem, que mande a primeira pedra...

Dito isto, boa viagem, Zé, para ti e para a família, até Key West... É a vossa transumância... em sentido figurado. Só o nosso galo é que é... de Barcelos!

... Vai dando notícias... Sabemos que vais para o bem bom, mesmo que tenhas de trabalhar, alçguns dias da semana. para o sogro-patrão...

Anónimo disse...

Joseph Belo
11 nov 2014 21:54

Os comentários na actual página do blogue(no poste lá para o fim) exprimem cada vez mais "estados de alma".

É fantástico como nós, lusitanos, somos especialistas em..."estados de alma". Não teríamos, entre outras coisas, os genuínos fados.

Nos que me enviaram para o e-mail do blogue da Lapónia,(totalmente a despropósito por lá nada existir sobre a Guiné), a procura de (des)comunicar é a única explicação.
Dificuldades atávicas de aceitar documentos, estatísticas, outros tipos de realidades e visões do mundo fora da ortodoxia paroquial que se julgava já um pouco mais ultrapassada.

Enfim,amanhã é o meu último dia de bloguismos (ou de blogueiro?) pois como já antes escrevi estas coisas säo como as cerejas.

E, a propósito das cerejas, seria talvez interessante apresentar as estatísticas e custos da nossa Accäo Psico Social na Guiné, principalmente depois da chegada do general Spínola.

Creio que muitos ficariam surpreendidos com os números, em nada impressionantes, tendo em conta a vasta propaganda então feita.

Um grande abraço com o "Adeus até ao meu regresso" do antigamente,e não estranhar o facto de e-mails e blogue estarem encerrados a partir de amanhã.

José Belo

Luís Graça disse...

Calma. José, que ainda tenho a parte VIII (e última) para publicar, amanhã ou depois... Aqui vai um "draft"


1. Última parte da publicação de alguns dados e notas de contextualização, sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência e até 1994, da autoria do nosso camarada José Belo (na Suécia há quase 4 décadas, e a quem a gente chama carinhosamente o "régulo da Tabanca da Lapónia") (...)


Data: 6 de Novembro de 2014 às 20:27

Assunto: Auxílio Sueco à Guiné (pós independência)

Caro Luís Graca.

A partir do dia 12 parto para os States por um bom período de tempo. Aproveitarei para umas longas férias "blogueiras" em todos os azimutes.
Um abraco,
José Belo


2. Depois da independência a Suécia continuou a ser o maior fornecedor de assistência à Guiné.

O auxílio estatal era dado pela Swedish International Development Cooperation Agency (SIDA) e pela Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries (SAREC), para além de Organizações näo Governamentais (ONG) como por exemplo a Save the Children/Sweden (Rädda Barnen).

O auxílio estatal entre 1974 e 1993 foi de 2 mil milhões (!) de dólares (USA),

De entre projectos financiados pela SIDA [, A Agência Sueca Para o Desenvolvimento e Cooperação Internacionais] salientam-se:

(i) Programa de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI) administrado desde o Centro Olof Palme, em Bula:

(ii) Fábrica de Blocos e Tijolos em Bafatá;

(iii) Estaleiros de reparação GUINAVE em Bissau;

(iv) Oficinas mecânicas GUIMETAL em Bissau;

(v) Companhia de madeiras SOCOTRAM que operava 3 serrações, uma fábrica de mobílias,e uma fábrica de revestimentos de madeira para construção civil:

(vi) Uma rede telefónica automática:

(vii) Oficinas Volvo de reparação e manutenção;

(viii) A PESCARTE - Direcäo Nacional da Pesca Artesanal

(ix) Laboratório Nacional de Saúde Pública e apoio em especialistas e material hospitalar para o diagonóstico e tratamento do HIV/SIDA


Dos projectos financiados pela SAREC - Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries,salienta-se:

(x) Financiamento e assistência ao INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.(Assstência e apoio ás publicações, projectos de pesquisa, conferências académicas, grupos de estudos, bolsas académicas).


Em 1994 uma avaliação muito crítica(!) aos resultados da assistência desde 1974 recomendou uma redução substancial da mesma por, entre outros motivos...menos diplomáticos..."O auxílio dado à Guiné-Bissau durante 20 anos ter resultado num crescimento económico muito limitado".


Cinco anos mais tarde, na sequência da destrutiva guerra civiil de 1998-1999 a embaixada sueca em Bissau foi encerrada.


(...)

Torcato Mendonca disse...

Olá caro Joseph Belo (só com um L)
Gostei e fui rindo com o teu modo de "cumprimentares" amigos e nem tanto... é que as letras enfileiradas, qual n bichas de pirilau, podem saltitar em arrumações diversas e tanto dizerem...até lhe chamavam frases. Isto no nosso tempo de alunos de português. Hoje é ensinado de modo tão diferente que não sei, talvez nem professores, que diacho de lingua é a nossa...Tenho que parar. Era só para dizer.- Gosto ou like, como no facebook, e enviar-te um abração e boa estadia na ponta revirada dos States...Ab,T.

Anónimo disse...

Caro camarada José Belo (do estoril)


Irritante..simplesmente irritante..gente que ainda usa "palas" e por isso só vê numa determinada direcção..militantes diletantes de "pequenas igrejas"que se mantêm isolados nos casulos das "suas verdades".

Estagnaram no tempo e querem que os outros também os acompanhem...ah e dizem-se coerentes.

Francamente..o que é que alguém tem a ver com a tua vida.

Um grande alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

PS.PS..+

Todos os os projectos descritos pelo J.Belo ,não tenho a certeza, mas julgo que já nenhum existe.

C.Martins

Anónimo disse...

Caro C.Martins.

Näo sei se existem hoje alguns programas estatais suecos de assistëncia à Guiné.
A existirem näo teräo nem a amplitude nem os financiamentos dos anos 74-94

Em 1994,uma avaliacäo muito crítica(!) dos resultados da assistëncia recomendou uma reducäo substancial da mesma por...entre outros motivos menos diplomáticos..."O auxílio dado durante vinte anos á Guiné ter resultado num muito limitado crescimento económico".
A guerra civil,os golpes de estado, a corrupcäo, e por último a droga, vieram contribuir para isso.
Näo sei se a embaixada sueca,encerrada depois da guerra civil de 1998-1999,voltou a reabrir,ou se os assuntos diplomáticos continuam a ser tratados desde a embaixada no Senegal.
Ainda quanto aos financiamentos e ajudas no pós independëncia já enviei ao Luís Graca uma lista abrangedora.
Um abraco

Antº Rosinha disse...

Todos os projectos que José Belo menciona, e não são todos, há mais principalmente mais tarde na educação, foram no tempo de Luís Cabral, e continuaram após ele, mas dentro do que Luís Cabral preconizara.

Essas ajudas foram de tal dimensão, ainda trabalhei em alguns como na construção das Oficinas Volvo e cabos telefónicos atravez da Tecnil e Soares da Costa, eram de tal grandeza, que o povo que em 500 anos nunca tinha visto tanto em tão pouco tempo,"ainda hoje está de boca aberta", e não sabe quando a volta a fechar.

Pior que aquela rapidez e grandiloquência só no que nos aconteceu a nós em Portugal, com os campos de futebol, bancos em todas as esquinas, Expo 98, Túneis na Madeira e "Zonas industriais na minha aldeia".

Como nós, a Guiné também tem licenciados a mais.

Mas que fartote!

Manuel Luís Lomba disse...

Saúdo o José Belo e venho meter a colherada referida à sustentabilidade da sofisticada "colonização" da Guiné pela Suécia.
No princípio da década de 80, ouvi altos dirigentes do PAIGC dizer, em conversas informais, que no final da guerra o fluxo do dinheiro sueco esteve em perigo, por pressão de sectores da sua sociedade civil e quem a salvou não foi a declaração
unilateral da independência nem os reconhecimentos políticos da ONU, etc, etc, mas a consumação do Acordo de Argel.
As estruturas económicas financiadas pela Comunidade internacional e por conta própria de alguns generosos falharam, incluindo a fábrica de cerveja Cicer, com mercado natural, incluindo o da exportação, que levou o nosso ex-comissário europeu e ex-ministro da Agricultura e Pescas Cardoso e Cunha à insolvência e o Faria, meu amigo e companheiro de caça, sem 80 mil contos.
Luís Cabral não conhecia a realidade do povo da Guiné e terá sido um seu
salazarzito. Sabia de contas (tinha formação e experiência de Contabilidade), mas desconheceria a economia real e as suas dinâmicas, salvo a desgastada treta do socialismo científico, versus a burocracia com o eufemismo de "economia planificada".
Um Ab
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Dado que o blogue do José Belo vai de férias lá fui uma última vez espreitar a Lena Philipsson. A versão sueca é muito melhor ... não distrai tanto do que realmente interessa!

João Almeida