Octogésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Dia 13 de Julho de 2014
Resumo do vigésimo terceiro dia
Estávamos com saudades do oceano Atlântico, portanto o
nosso destino era o leste, desviando-nos sempre para sul,
seguindo a estrada rápida número 84, por entre planícies,
vales, precipícios e algumas montanhas, surgindo longas
rectas, com placas de sinalização avisando que podia
haver fortes ventos. Entrámos no estado de Utah, onde há
muitos anos viviam duas tribos nativas americanas, que
eram os “Utes” e os “Navajos”, dizem que há
milhares de anos, antes da chegada dos primeiros
exploradores europeus membros de uma
expedição espanhola liderada por Juan Maria de Rivera, realizada em 1765, que percorreu partes do
sul do actual estado de Utah. Em 1776, no início da
Revolução Americana do mesmo ano, os espanhóis
realizaram mais explorações na região, porém não se
interessaram em colonizar a região, devido à sua
natureza desértica. Mais tarde, por volta do ano de 1850,
o Congresso Americano criou o Território de Utah, cujo nome foi dado em homenagem à tribo nativa
americana “Ute”, que vivia na região e, em Janeiro de
1896, o Utah tornou-se o 45.º Estado americano, onde
agora se pode viajar a 80 milhas por hora.
Visitámos o Centro de Informação, continuando na
estrada número 84, onde o terreno era mais plano, com
poucas montanhas, mas com o
termómetro do Jeep a marcar 112ºF (cerca de 44,5ºC), eram 10
horas da manhã, mas continuámos viajando sem
problemas, entrando, passado algum tempo, de novo na
estrada número 15, no sentido sul e, quanto mais nos
dirigíamos para sul mais frequentes eram os cruzamentos
com outras estradas que se estendiam por longas milhas
nas proximidades para além da cidade de Salt Lake City,
pois o crescimento da indústria de mineração e a
construção da primeira ferrovia transcontinental,
inicialmente, trouxeram algum crescimento económico e,
a cidade foi apelidada de "Crossroads of the West".
Salt Lake City é a capital e cidade mais populosa do
estado do Utah. O nome da cidade é muitas vezes
abreviado para Salt Lake ou SLC. Situa-se nas margens
do Grande Lago Salgado, de onde provém o seu nome. A
cidade foi fundada em 1847, no Great Salt Lake City por
um grupo de pioneiros mórmons liderados por seu
profeta, Brigham Young, que dizem ter fugido da
hostilidade e violência do meio-oeste dos Estados
Unidos. Dizem ainda que actualmente 78% da
população da cidade é adepta da religião mórmon. Está situada numa grande área urbana
chamada “Frente Wasatch”, o que podemos comprovar,
pois existem ao longo da estrada, tanto antes como
depois de passar a cidade, grandes bairros de casas nas
montanhas. Dizem que esta área tem mais de
2.300.000 habitantes.
Dizem também que, pela sua localização, centro bancário
industrial, economia, património histórico, cultura ou
acontecimentos políticos aqui passados, fizeram dela
uma das mais importantes cidades do mundo. Tem
estações de esqui, onde se desenvolve uma forte
indústria de turismo ao ar livre e, não esquecemos que foi
a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno no ano de 2002.
Podemos mostrar algumas fotos de Salt Lake City, que
com a devida vénia tirámos do “Gogle”, pois viajávamos
na estrada, e estas foram tiradas de avião, para que
possam admirar a cidade, pois quem viaja ao longo da
estrada número 15, ao atravessar Salt Lake City, repara
que atravessa uma grande metrópole.
Sempre rumo ao sul, um tempo depois, na cidade de
Spanish Fork, desviámo-nos para a estrada com paisagem,
número 6, que nos levaria de novo à número 191, com
temperaturas de 115ºF. Fomos atravessando de novo
um pequeno deserto, entrando finalmente na estrada
rápida número 70, com duas vias de trânsito, rumo ao
Atlântico, onde, talvez não reparando bem na sinalização,
mas sim, no GPS, estávamos a seguir em direcção ao
Pacífico. Um pouco à frente surge uma placa de
sinalização onde nos informava que a próxima localidade
com algumas facilidades e, onde talvez se pudesse mudar
de direcção, era a 140 milhas. À boa maneira
portuguesa, confiando no nosso veículo, quando nos surgiu
um terreno mais ou menos nivelado, entre as duas
estradas, reduzimos a velocidade, parando, a estrada
estava deserta. Fomos ver o terreno, era melhor que o
“Alaska Highway”, sem qualquer problema, voltámos em
direção ao Atlântico. Estava qualquer coisa mal, com
aquela sinalização.
Sempre rumo ao Atlântico, viajando nesta larga e deserta
estrada, que nesta direção recebe por alguma distância, a
estrada número 191, já próximo onde esta segue em direção ao sul, passando junto ao
“Arches National Park”, que era o nosso destino no
próximo dia. Como neste deserto quente, não havia
parques de campismo, procurámos um daqueles hotéis
de estrada, onde se dorme, toma banho e, às vezes o
café de manhã, encontrando um de acordo com a
nossa situação financeira, no meio do deserto, com um
nome bonito, pois chamava-se qualquer coisa, como
“Green River”, que em português quer dizer, “Rio Verde”. Por lá ficámos, já era noite, comendo o que sobrou do
dia anterior, que vinha na caixa frigorífica.
Neste dia percorremos 527 milhas, com o preço da
gasolina a variar entre $3.51 e $3.58 o galão, que são
aproximadamente 4 litros.
Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14062: Bom ou mau tempo na bolanha (79): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (20) (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Caro Tony
Estive uns tempos, ainda assim curtos, ligeiramente afastado da leitura diária do nosso Blogue, pelo que não acompanhei os teus dois últimos relatos.
Já te disse que acompanho com interesse a tua viagem. Gosto de aprender. Gosto de conhecer, ainda que indirectamente.
Sei que "isto não tem nada a ver com a Guiné", como há quem considere e, valha a verdade, apenas um camarada foi frontal nessa questão e a quem, por isso, presto a minha consideração.
Mas 'não é na Guiné' apenas temporalmente, geograficamente, pois há muitos pontos de contacto como a aventura, o desconhecido, as dificuldades, as contrariedades, o clima, as pessoas e os seus preconceitos. Falta contar as munições gastas, os IN abatidos, as armas recuperadas nas operações, mas tirando isso....
Neste relato de hoje confesso a ignorância relativamente aos "utes", de que afinal deriva o nome do Estado de Utah. Conhecia, dos livros e filmes, os "navajos", os quais ligava mais a sul, nem sei porquê.
Também a principal cidade do Estado, Salt Lake City, é conhecida, principalmente pelo que referes relativamente ao desporto mas também ignorava a forte influência 'mormón' que aparentemente por lá existe.
Sempre a aprender.
Abraço
Hélder S.
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