domingo, 28 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14090: Blogpoesia (398): O Natal Segundo Jesus Cristo (Edgar Mata / Belarmino Sardinha)

1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 26 de Dezembro de 2014:

Caros editores,
Envio este texto que, como sempre, deixo à vossa consideração a sua publicação.

Meus amigos, após todas as mensagens de Natal que vi, li e ouvi, decidi-me enviar-vos este poema, de um nosso camarada que esteve na Guiné e não se decide a entrar pela porta das nossas Tabancas, seja a Grande, a do Centro ou qualquer outra, mas que me concede o prazer da sua amizade e dos seus poemas e me autoriza a enviá-los aos amigos ou a divulgá-los.

Considero este nosso camarada um verdadeiro poeta.
Sempre que abordamos a sua publicação em livro vai dizendo não, embora com superior qualidade, o que se traduz neste poema e reflecte o sentimento de muitos que se manifestam pelo silêncio nesta quadra, sem contudo deixarem de aceitar ou respeitar os que pensam de forma diferente.

BS



O Natal segundo Jesus Cristo

Ao mundo vim entre bosta e urina
E um fedor ao excremento do gado
Ali o meu futuro foi traçado
P’lo capricho da vontade divina.

Depois, Judas, e para meu tormento
Pelas trinta moedas é tentado
Por remorsos acaba enforcado
Numa corda de arrependimento.

Desprezado eu fui p’los fariseus
Suportei toda a casta de maus-tratos
Mãos lavadas, condenou-me Pilatos
Mas, pior, foi o silêncio de Deus!

Sofri açoites, vaias, fui cuspido
Esvaí-me em sangue, exaurido
Condenado de forma amoral

Pelo ouro traíu-me um amigo
P’rá cruz meu Pai mandou-me por castigo
Por isso é que eu não gosto do Natal!

2014 – Edgar Mata

____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14076: Blogpoesia (397): O meu Menino Jesus Chinês... com votos de Feliz Natal e um Bom Ano 2015 para todos os camaradas (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

4 comentários:

Álvaro Vasconcelos disse...

Boa noite Belarmino.
Que estejas a passar uma boa época natalícia e que o ano novo seja mais um a juntar a outros (muitos) com saúde para arreganhar coragem para prosseguir e enfrentar os "bofes" que nos governam. Parabéns ao Edgar Mata, é de facto interessante e... "cada um é cada qual". Conta-lo como teu amigo...meu amigo é!
Parabéns pelas imagens: a primeira é soberba. Gosto!
Um abraço.

Hélder Valério disse...

Caro Belarmino

Pois, tal como escreve o Álvaro, "cada um é como cada qual" e relativamente a esta Quadra que vivemos os "estados de alma" são sempre muito pessoais, ainda que muitos, a maioria, seja consonante com o sentido que o colectivo lhe dá.

No que respeita à tua iniciativa, acho bem, na medida em que, respeitando o sentir e o agir dos outros, pode-se exprimir os nossos sentimentos, neste caso o do teu amigo Edgar Mata.

Quanto ao poema em si, está bem construído, pelo menos assim me soa, e reflecte o desencanto de quem não gosta de como as coisas evoluíram.

Hélder S.

Anónimo disse...

O seu a seu dono.
As imagens que ilustram o poema do Edgar Mata, imagens essas que considero excelentes e bem enquadradas, são mérito dos editores.
BS

Luís Graça disse...

Obrigado, Belarmino, obrigado, Edgar... É um soneto de antologia, e amargamente irónico... É saudável haver sempre alguém que vai contra a corrente... Cristo foi um homem que, no seu tempo, remou contra a corrente...Um abração. Luis