O documentário, já disponível em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78', 7 € ) passou na RTP 2, no dia 1 de co corrente. Tem a participação de, entre outros habitantes, de Canjajá Mané ( o mítico guardião do cinema local) (*), Dona Vitória (libanesa), casal João e Célia Dinis, Humbargo Tcham (o ourives, filho do célebre ourives de Bafatá, do nosos tempo), as irmãs Danif (libanesas), o Pombo, o presidente do Sporting Clube de Bafatá, o Toni e o Toninho... Recorde-se que o João M. Dinis, casado com a Célia, foi um militar português que ficou em Bafatá e abriu um negócio na área da restauração e hotelaria. Entre as pessoas e entidades, a quem são endereçados agradecimentos está o nosso blogue, na pessoa do seu editor, Luís Graça e do nosso camarada Fernando Gouveia. (LG)
1. Comentário de Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] ao poste P14114 (**)
Obrigado, Hélder, pelo poema. Vamos ver o mar... e, como numa maré, isto tem que mudar.
Passei hoje, toda a tarde a comunicar (via telemóvel) com os meus camaradas, da CART 11, o ex-fur mil Aurélio Duarte e ex-allf mil Pina Cabral sobre o "Bafatá Filme Clube" (RPT2), e a repetição "Portugueses pelo Mundo-Bissau" (RTP1), vistos esta semana na RTP.
Grande documentário , "Bafatá Filme Clube". Extraordinário documento que explica o fenómeno do "atrofiamento/desaparecimento" da bela, da bonita, da esplendorosa Bafatá.
O filme "Bafatá Filme Clube" é de 2012, mais parece um fantasma para todos nós que passamos por lá. Bafatá, uma cidade cheia de casas comerciais, grande movimento nas ruas, com piscina e que toda a gente tinha que andar calçada, se não pagava a multa de comprar uns chinelos de dedo.
Inesquecível Bafatá onde a rapaziada de Nova Lamego e Piche vinha gozar férias e aproveitava para tirar a carta de condução (era difícil o ponto de embraiagem naquela subida).
Fui a Bafatá vária vezes, mas recordo-me uma vez que a rapaziada veio comer comida da metrópole a Bafatá. Chegamos a meio da manhã e fomos directos à piscina, em camuflado, poeirento, suados, estafados, vindos de Contuboel. Houve uma certa resistência para nos deixarem entrar daquela maneira na piscina. Nós dissemos que não podíamos abandonar as nossas armas, ou entravamos assim e depois despíamo-nos. Não, tínhamos que despir os camuflados, deixar as armas e só depois entrar.
Depois foi uma entrada à lisboeta, "olá, tá bom" e entramos todos ao empurrão, depois tiramos o camuflado, a arrumamos as G3 e mergulhamos na refrescante piscina de Bafatá. Depois, foi visitar as lojas das libanesas, das bonitas libanesas, beber umas "bejecas" e vir até cá cima ao restaurante comer frango da metrópole.
E, partir para Contuboel a olhar lá para baixo para ver a bonita Bafatá. Inesquecível. (***)
Um abraço,
Valdemar Silva
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Notas do editor:
(*) Vd, poste de 17 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12595: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (15): O cinema local e a figura lendária do seu guardião, o Canjajá Mané... E, a propósito, relembre-se o documentário, já em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78')
(...) Vd. Também aqui o sítio da produtora Real Ficção > O filme está agora disponível em DVD [, à venda na FNAC, por exemplo]
Sinopse > "Em Bafatá na Guiné-Bissau, Canjajá Mané, antigo operador de cinema e guarda do clube da cidade, repete os mesmos gestos há cinquenta anos. Mas actualmente o cinema está fechado e não existem espectadores. Dos seus tempos como trabalhador do clube até aos nossos dias, restam apenas recordações. Na cidade, somente as pedras, árvores e o rio resistiram à erosão do tempo. E com eles, algumas pessoas, que ficaram para perpetuar na memória do mundo e dos homens, que ali já viveu gente. São essas pessoas por quem Canjajá procura e espera pacientemente até hoje". (...)
(***) Último poste da série > 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14055: Memória dos lugares (278): Samba Silate, no pós 25 de abril de 1974: As saudades que a guerra não conseguiu apagar mesmo nos guerrilheiros do PAIGC (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambdaionca e Xime, 1972/74)
2 comentários:
Caros amigos
Não vi o documentário.
Lembro-me das referências que lhe foram feitas aquando do seu aparecimento, salvo erro, e agora fiquei mais curioso sobre o seu conteúdo.
Realmente é doloroso ver a decadência de lugares que conhecemos e que nos dizem tanto. Este, Bafatá, é "lá longe, onde o sol castiga mais", mas foi para nós um 'refúgio de civilização' nos tempos de brasa.
Devia ser tão motivo de interrogação para os guineenses como para nós será ver cidades do interior a definharem, aldeias a morrerem por abandono e despovoamento.
Mas acredito que é necessário passar tempo sobre as coisas para que se possa perceber melhor o que se perde.
Lá, em Bafatá, perde-se certamente a História da Guiné, já que a sua posição central, do ponto de vista geográfico, lhe permitiu assumir uma pujança, de que fomos testemunhas. Cá, com o passar do tempo e as dificuldades já há alguns movimentos de 'regresso às origens'. temos que ser pacientes e aguardar melhores dias.
Mas lá que dá pena, isso dá!
Abraço
Hélder S.
Valdemar, gravei o documentário "Bafatá Filme Clube" que passou na RTP2 no primeiro dia do ano...
Estive a vê-lo hoje, com emoção. Devo acrescentar, às minhas notas, que é uma co-produção lusoguineense, da Real Ficção e da Telecine Bisssau...
E estive a rever Bafatá, quando a conheci bonitinha, se não mesmo esplendorosa, entre meados de 1969 e o primeiro trimestre de 1971.
Não me deixei ir na onda no saudosismo… Os países e as cidades são muito o que são a sua economia… Claro que Bafatá é hoje uma cidadezinha decadente, do interior da Guiné-Bissau, e aonde já não se vai. Nem o rio Geba Estreito é mais navegável, como no nosso tempo. As principais casas comerciais (Gouveia, Ultramarina, Barbosa…) estavam ligadas à economia colonial, e já estavam em decadência com a guerra… A Bafatá que eu conheci, que muitos de nós conhecemos, vivia do “patacão da guerra”…
O meu filho tinha estado em Bafatá em dezembro de 2009, ficou lá uma noite, conheceu o Canjajá, a Dona Vitória, a família Dinis, os novos e os velhos habitantes da cidade baixa... Percorreu as ruas e tirou fotos nalguns sítios emblemáticos: o cinema, a antiga Transmontana, a piscina, o cais, o rio, o mercado... E as fotos, mais as notas que escreveu no seu caderno, deram-me uma ideia da extrema decadência que atingia a cidade, em particular a parte baixa (e histórica) de Bafatá, depois da independência…
Acho que o filme do jovem realizador sãotomense Silas Tiny (que em tempos conversou comigo e com o Fernando Gouveia, entre outras pessoas que conheceram a Bafatá colonial) não mostra só o lado decadente de Bafatá (e, por extensão, da Guiné). Descortino no filme sinais de esperança…
Irei publicar amanhã mais algumas notas que retirei do visionamento do filme. O DVD está disponível a 7 euros... Tem uma excelemte fotografia da nossa amiga Marta Pessoa, filha de uma camarada nosso, e também ela realizadora talentosa...
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