COMO TUDO ACONTECEU
PARTE VI
A RESISTÊNCIA À COLONIZAÇÃO NA GUINÉ PORTUGUESA
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Nota do editor
Postes anteriores da série de:
16 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14884: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte I - Do povoamento do ocidente africano até à luta armada do PAIGC
30 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14949: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte II - A costa da Guiné
18 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15017: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte III - A Guiné do Século XV e meados do Século XVI
27 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15045: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte IV - A Guiné: O Parente pobre da Colonização Portuguesa
e
11 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15105: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte V - A Guiné a ferro e fogo
7 comentários:
Trabalho este de Manuel Vaz, que embora não ter chegado ainda a 24 de Setembro de 1973 e o assassinato de Amílcar Cabral, contou aquilo que os portugueses e depois os guineenses passaram em 300 ou 400 anos.
Um esforço e uma aplicação que não é para qualquer um.
Tem sido extraordinariamente oportuna esta série de Manuel Vaz.
Eu pessoalmente estava ansioso para chegar a Teixeira Pinto, à chamada pacificação, que também agora nós aqui podemos chamar de subjugação dos africanos, e enquadrá-los e demarcá-los naquelas fronteiras de 1880 (Berlim).
Assiná-lo que aquilo que Teixeira Pinto fazia com umas dezenas ou centenas de tropa europeia, os ingleses e franceses usaram em toda a África milhares de tropas especiais, preparadas até por grandes empresas coloniais, que hoje chamariamos mercenários.
Também está escrito e documentado.
Manuel Vaz ainda tem mais uns capítulos de trabalheira para explicar como de Teixeira Pinto anos 20, até às independências africanas anos 60, se preparou esta maratona a atravessar o Sahara a caminho de Ceuta, Melila e Lampedusa.
Parabens Manuel Vaz.
Bom dia Manuel Vaz,
Cordiais saudações.
Ao fim da primeira parte,quero renovar o comentário que fiz no artigo inicial:Parabéns pelo trabalho, e também pelo notável poder de síntese, que, nestes tempos de prolixidade, é sempre de admirar.
Forte abraço
VP
PS: Faço votos que seja proveitoso o contato com o Camarada Vitor Leitão.
VP
Olá Camaradas
O Manuel Vaz tem vindo, através dos seus textos, a expor o que se passou na Guiné, ao longo dos séculos. Podemos admitir que a necessidade de sintetizar lhe tenha feito perder alguma precisão e detalhe, mas as linhas gerais são aquelas e estão claramente expostas. Parece-me que deveríamos tê-las em conta cada vez que apreciamos o que se passou ali antes da guerra e mesmo depois dela. Fazer paralelos e comparações com as outras potências colonizantes não é remunerador. É certo que "cada caso é um caso", mas, em linhas gerais, não há diferenças entre os procedimentos e intenção de quem coloniza e as reacções de quem é colonizado.
Como simples exercício poderíamos pensar qual era o papel da "administração" portuguesa e quais as sua capacidades para influenciar os acontecimentos que o Manuel Vaz descreve. Afinal, quem é que mandava na Guiné?
Uma coisa é certa: a dilatação "da Fé e do Império" e o dar "novos mundos ao Mundo" são abstracções que nos foram inculcadas pelo fascismo português que as foi recuperar dos últimos monárquicos e dos republicanos com necessidade de afirmarem os seus ideais.
Se calhar tudo não passou de um equívoco e as perguntas do porquê e para quê, cada vez mais, ficarão sem resposta.
Um Ab.
António J. P. Costa
Confesso que tenho aprendido muito com a história da Guiné que o Manuel Vaz nos vai contando. Para saber conviver e ganhar a confiança dos guineenses homens diferentes, na raça, nos costumes, na religião é importante saber um pouco das suas origens e da sua história.
Que eu me recorde no antigamente só Portugal tinha uma história que impunha a todas as províncias ultramarinas. O passado dum povo tal como o passado de um homem é sagrado porque contém todos os suportes e razões que dão sentido ao presente desse povo e desse homem. Naquele tempo o regime gostava que fossemos ignorantes. Nós e os outros.
Muito obrigado camarada pelas lições de história que nos tens dado. Continua enquanto puderes.
Um abraço. Francisco Baptista
Camaradas comentadores:
Queria agradecer os comentários e contributos que todos tiveram ao participarem, esclarecendo e enquadrando algumas passagens da História da Guiné Portuguesa que a mim me pareceram importantes que os combatentes conhecessem.
Falta a II Parte do Trabalho que se refere ao período da Guerra. "Na segunda parte - lê-se no P14884 - é tratado o despoletar da luta armada, o confronto militar em todo o TO, mas particularmente o que aconteceu na fronteira sul, visto a partir de Gadamael ..." Queria pedir aos camaradas, particularmente aos que se bateram na fronteira sul, a sua particular atenção, para não me deixarem tropeçar ou desviar do essencial. Pereira da Costa, Vasco Pires, desde já, obrigado. - Manuel Vaz
Caro amigo Manuel Vaz,
Em 1999, numa entrevista a um jornal portugues, o malogrado presidente Nino (Gen. Joao Bernardo Vieira), obrigado a exilar-se em Portugal depois do conflito com o seu ex-EMGFA (Ansumane Mane), disse que (...a Guine eh um pais de odios, de mentiras e de intrigas...).
A leitura desta tua resenha historica permite-nos acrescentar mais um elemento caracteristico desta pequena porcao de terra que a todo o custo os (idealistas) portugueses quiseram preservar mesmo nao sabendo, no intimo, o que fazer com ela.
Vamos chamar este elemento de 'estrategia de posicionamento', senao vejamos:
Os Chefes tribais da savana (nomeadamente Fulas) aceitaram o acordo com os portugueses para consolidar o seu poder e, eventualmente continuar, amis tarde, a senda das suas conquistas, interrompidas com a intromissao dos europeus, no caso concreto, dos portugueses ((tactica e militarmente mais fortes desde 1881- confrontos de Forrea - Buba e seguintes).
O Alfa Yaia (Yala que é um apelido Balanta) posicionou-se e aliou-se com os franceses contra a autoridade central de Timbo, traindo e enfraquecendo assim os seus irmaos de Futa-Djalon que constituiam desde a Conf. de Berlim-1884- uma autêntica pedra nos sapatos das potencias coloniais que procuravam por diversos meios dominar a região (Franceses, Ingleses e Portugueses) e que mais tarde acaba por ser vitima isolada dos mesmos - 1906 - a semelhanca dos outros chefes tribais da mesma epoca (Mussa Molo, Infali Sonco, Samory Ture….).
O Abdul Indjai, mercenario destemido, oriundo do Senegal (na mesma linha que muitos combatentes do PAIGC, tais como Ansumane Mane e Iafai Camara que vieram da Gambia), ganha a confianca do Cap. Teixeira Pinto com quem reprime de forma rapida e violenta as revoltas dos povos do litoral, e feito régulo do Cuor, mas que ambicionava muito mais e estava rodeado de chefes de Guerra ambiciosos como ele e viciados de praticas de razias as populações e fortemente contestados pelos Assimilados, Grumetes e outros subtratos satelites das praças de Bissau, Bolama e Cacheu (elementos da Liga Guineense) contestavam a sua legitimidade na qualidade de ‘filhos-de-chao’, únicos e legitimos herdeiros da administracao colonial para ‘reinar’ em nome e, ao mesmo tempo, em detrimento das restantes populacoes tribais.
Depois da II Guerra mundial, com a conf. de Bandung e as independencias dos paises vizinhos (Guinée-Conakry e Senegal), “levaram os nacionalistas a acreditar que a independencia poderia estar para breve…”
E dai, o surgimento e multiplicação dos movimentos e dos partidos politicos, as intrigas e guerras de chefia e de posicionamentos para uns “…expulsar os colonialistas…” para outros “expulsar primeiro os lacaios dos colonialistas…” para ter hino primeiro e, de certeza, depois para serem ministros.
…E, lamentavelmente, ainda hoje continuamos nesta guerra de ódios, de mentiras, de intrigas (citando Nino Vieira) e de posicionamentos, para melhor dominar o resto da população e viver a sua custa, oferecendo os seus serviços de intermediario entre as ajudas de fora e aos seus destinatarios ou entre as empresas capitalistas mundiais sem rosto e a exploração dos recursos naturais deste territorio.
Se calhar, o mesmo que o regime colonial portugues queria fazer no sec. XIX e XX, mas nunca dizia, para nao ser mal interpretado ou simplesmente ultrapssado.
Obrigado por nos ajudar a ver melhor.
Com um abraco amigo,
Cherno Baldé
Cherno, é muito conhecida a "boca" de Samora Machel, que dizia que os europeus não percebem nada de política africana.
É a pura verdade, só que há poucos países que tenham pessoas com coragem de falar sem armas na mão.
Mas apesar desse pequenino ninho de intrigas que é a Guiné-Bissau, com certeza que será um paraíso comparado com o que se passa e passou nesses países enormes e riquíssimos nas Nigéria, Serra Leoa e os Congos etc.
Mas analisas bem quando dizes que o regime colonial português "se calhar" queriam no século XIX e XX, mas não dizia..."dominar a população e viver à sua custa".
Cherno, essa análise é aquela situação que muitos portugueses sempre disseram da colonização à portuguesa e continuam a dizer que "podíamos explorar os diamantes o petróleo o ouro e não explorámos nada, são os outros que agora aproveitam".
Era isso mesmo que muitos brancos pensavam, "abanar a árvore das patacas", principalmente Angola e Moçambique.
Eras muito novo, mas durante a guerra havia muito "branco" que no imediato era pelo abandono da Guiné que nem tinha petróleo nem diamantes.
Explorar África era o fim imediato que estava na cabeça de qualquer europeu, e ainda está, mas agora tem a concorrência chinesa.
Cherno, o que se passou com a colonização portuguesa, "do Minho a Timor" era bem clara e era mais que a simples exploração das riquezas naturais e explorar os "pretos", era mesmo fixar populações brancas e mestiças e criar aquelas cidades como Bissau, Luanda, Benguela, e Gôa por exemplo, em que as administrações iam sendo aos poucos ultramarinas.
E fixando essa gente, acontecia aquilo que um carpinteiro no Gabu (eu com Oliveira Nhanqui, 1987) me chateava, que eu "Cupêrrante" não fazia falta, bom era o colon, que fazia casa, fazia horta e dava trabalho a nós.
Seria mau? Errado? sim, para muitos portugueses foi tempo perdido desde que se começou a levar o primeiro escravo para o Brasil e outros para Nova York e Cuba até Amílcar Cabral, que para muitos era tão sonhador com a Guine-Caboverde como o regime colonial de Minho a Timor.
PS. Cherno já se passaram uns anitos, mas se vires o Engenheiro Adão, Obras Públicas que esteve penso na Roménia andou na luta, tinha também um posto militar, conviveu comigo e com o Oliveira no Gabu, dá-lhe os meus cumprimentos.
Espero que ainda se encontre bem, os anos passam.
Cumprimentos.
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