1. Em mensagem do dia 23 de Maio de 2016, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), lembra o fatídico dia 20 de Maio de 1968, quando, na estrada Mampatá-Nhala, uma coluna auto do BART 1896, a pouco tempo de terminar a sua comissão de serviço, sofreu uma emboscada, da qual resultou a morte, por ferimentos em combate, de 4 militares e a retenção pelo IN de mais 8.
************
2. Comentário do editor
Entre os militares retidos no dia 20 de Maio de 1968 está o ex-1.º Cabo Mec Auto da CCS/BART 1896, Rui Rafael Correia, natural de Leça da Palmeira, homenageado pelos seus amigos e pela Liga dos Combatentes no passado dia 30 de Abril, na Sede do Núcleo de Matosinhos.
Com a permissão do camarada José Martins, aqui ficam duas fotos alusivas ao acto:
O homenageado Rui Rafael (à esquerda na foto); Raul Ramos e Ribeiro Agostinho, seus amigos e vizinhos
Foto: Núcleo de Matosinhos da LC
O Rui recebeu dos seus amigos uma boina; das mãos do senhor Major-General Fernando Arruda (Direcção Central da LC), uma Medalha da Liga e, das mãos do senhor Ten-Coronel Armando Costa, o Cartão de Sócio do Núcleo de Matosinhos da LC.
Foto: Núcleo de Matosinhos da LC
Para memória futura aqui deixamos este ofício do então Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, de 3 de Junho de 1968, enviado ao pai do Rui Rafael, comunicando a situação de prisioneiro do seu filho.
©: Com a devida vénia a Rui Rafael Correia
____________Nota do editor
Último poste da série de 1 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16155: Efemérides (226): Programa do XXIII Encontro Nacional de Combatentes, dia 10 de Junho, em Lisboa (Manuel Lema Santos)
12 comentários:
Parabéns ao Zé Martins e ao Carlos Vinhal por nos trazerem mais este "bocado" do nosso martirológio da Guiné (1961/74). Eu não tinha a mínima ideia do que se havia passado em 20 de maio de 1968 em Ponte Balana... Quarenta anos depois "estive" em Ponte Balana, por ocasião da minha ida à Guiné-Bissau, mas ignorava por completo este trágico episódio... Bem hajam, camaradas!
Parabéns ao Carlos Vinhal pelo valioso contributo, que vem dar ao texto.
As suas fotos e texto, deviam ter sido publicadas como ARTIGO PRINCIPAL, e o que está no início, como anexo.
Abraço
Carlos e Zé Martins:
O documento enviado ao pai do Rui Rafael Correia, em nome do Chefe do Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, "assinado" por um obscuro oficial (um alferes ?), é de um cinismo atroz... Dá bem a medida da sobranceria e insensibilidade com que éramos tratados, nos 3 teatros de guerra... A um pai, aflito, a quem se comunica o desaparecimento em combate de um filho, três semanas depois do ocorrido, diz-se, secamente, que:
(i) foi "retido" (por quem ?, nem se quer se menciona o IN...);
(ii) está atualmente na Guiné-Concri (, vá-se lá saber onde isso fica):
(iii) de boa saúde;
(iv) sendo "bem tratado" (imagine-se!)... E que, o resto, já não á nada connosco...
(v) Se quiser escrever ao seu filho, não nos chateie mkais, bata à porta da Cruz Vermelha Portuguesa... O seu filho, já não vamos contá-lo com ele... Boa sorte, reze aq Deus...
Brutal, camaradas!
Qual seria a atitude do comandante de uma companhia, perante o seu superior e vice-versa, de onde desaparecem simplesmente meia dúzia de soldados?
Além do auto respectivo confidencial, os dois teriam dado baixa médica? teriam continuado normalmente nas suas funções?
Ainda falta muito para esmiuçar bem a nossa guerra.
Em Maio de 1968, data da ocorrência dessa emboscada, faltavam 4 meses para uma certa personalidade cair da cadeira.
Claro que os capitães de Abril eram nessa altura ainda alferes, tínhamos que esperar.
Houve soldados que tiveram sorte com comandantes outros nem tanto.
O melhor comandante que eu tive nos meus 36 foi um 1º cabo.
"Estão a ser realizados todos os esforços para que o seu filho seja recuperado o mais brevemente possível"...
Este documehtp é, a muitos títulos, uma "preciosidade". Não consigo identificar quem o subscreve, "A Bem da Nação", e em nome do chefe do serviço de informação pública das forças armadas... Tanto pode ser um alferes como um 1º sargento... O nome e o posto podiam e deviam ser legíveis, e não são... O próprio ofício parece ser "chapa um" e nem vem sequer em papel timbrado...
Há aqui desprezo, arrogância, prepotência... Que revolta, que tristeza, sinto, ao fim destes anos todos... Estas foram as forças armadas em que servimos...
Carlos Esteves Vinhal
6jun2016 14:07
Luís
Nesta emboscada há algo que não bate certo.
A Ponte Balana foi introduzida por mim, baseado num depoimento de um dos militares caídos na emboscada, mas tudo a crer que a mesma se desenrolou numa picada que liga Mampatá a Nhala, logo a seguir (ou antes?) de Uane.
Já removi do Poste a referência à Ponte Balana. Confere no mapa de Xitole por favor.
Abraço
Carlos
Carlos:
Fizeste bem, a ponte Balana fica antes de Gandembel, já no mapa de Guileje... A picada Mampatá-Uane-Nhala, onde terá ocorrido a fatal emboscada, "fica" na carta de Xitole...
Em 1 de março de 2008, fiz a estrada Bissau- Jugudul-Bambadinca-Xitole- Saltinho - Quebo - Mampatá - Ponte Balana - Gandembel - Guileje... Não conheci o troço Mampatá-Buba...
O Zé Teixeira (1968/70) conheceu bem esta região na margem esquerda do Rio Corubal (que incluía Contabane, Mampatá, Quebo, Uane, Nhala, Chamarra, Buba...)... Eu, no meu tempo (CCAÇ 123, 1969/71) actuei na margem direita, no chamado triângulo Xime-Bambadinca-Xitole...
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial25_mapa_Guileje.html
Este trágico acontecimento não foi em Ponte Balana,mas no pontão de Uane entre Mampatá e Nhala, na velha picada de ligação Aldeia Formosa / Buba. Um sítio muito complicado e temido junto a uma bolanha, onde existia um carreiro por onde PAIGC fazia passar o material de guerra vindo da Guiné K para o interior da Guiné, via Cantanhez.Era um lugar para muitos cuidados, com emboscadas às colunas que faziam a ligação de Buba a Aldeia Formosa a par de outro conhecido pela bolanha dos passarinhos, já muito perto de Buba. As forças estacionadas em Aldeia Formosa faziam patrulhamentos e montavam emboscadas na zona,mas ao mais pequeno descuido, como parece ter acontecido, ou pelo menos constava quando ali chegou a C.Caç 2381 em Julho para render a Cª que sofreu esta emboscada.
José Teixeira
Nos primeiros meses de 1971, no sitio que refere o José Teixeira ou muito próximo um pelotão de uma companhia de açorianos de Mampatá teve um duro e penoso combate com o inimigo de que resultaram quatro mortos para as nossas tropas. Conhecia o alferes Alves que comandava o pelotão, das colunas de reabastecimento que regularmente fazia a Buba. Voltei a vê-lo depois disso muito calado e triste pelo choque que sofreu. As forças inimigas também terão sofrido alguns mortos e feridos pois passado pouco tempo transferiram o carreiro de Uane (uma continuação do corredor de Guilege) para a Bolanha dos Passarinhos, na área da minha companhia de Buba, onde tivemos alguns recontros , algumas minas e tivemos três mortos. Essa transferência fazia parte das previsôes operacionais do batalhão pelo que a nossa actividade operacional obrigava a ter noite e dia um pelotão a vigiar a possível passagem de guerrilheiros na nossa zona, Terá sido em Maio ou Junho de 1971 a primeira vez que detetamos um carreiro deles que atravessava a estrada de terra batida Buba-Nhala. Penso que a maioria dos combates, minas, emboscads ou recontros esporádicos que havia entre as nossas tropas e as forças do Paigc eram sobretudo pela necessidade que eles tinham em conseguir passar nessa área.
Francisco Baptista
Foi por causa destas trágicas emboscadas e de tantas outras acções que vi descritas aqui no blogue, que um dia nele escrevi, que, comparativamente com os "velhinhos" que nos antecederam, a nossa comissão de 1973-74, na mesmíssima zona, foi uma coisa ligeira. Ainda assim, com muito sofrimento e algumas perdas.
No referido período da minha comissão, (e nas imediatamente anteriores), tanto o carreiro de Uane entre Mampatá e Nhala, como o carreiro da bolanha dos passarinhos entre Nhala e Buba, estavam activos e bem activos. Num dos meus textos aqui publicado, mostro numa foto a evidência da utilização do carreiro de Uane. E era quase sobre ele que se faziam as protecções às colunas constantes.
A. Murta.
não se esqueçam que a cerca de cinco quilómetros de Buba havia o aquartelamento do pAIGC em Sare Tuto. Era mesmo ali ao lado da pista na picada para para Fulacunda.
José Teixeira
Eu,como vizinho do Rui Rafael, encontrava-me já mobilizado para a Guiné, desde Abril de 1968, com 1º embarque marcado no N/M RITA MARIA a 13/o5/68, mas NOSSA SENHORA DE FÁTIMA não quis que fosse e fui adiando embarques até 10/08/68 onde embarquei a meu pedido (rendição individual)no N/M ALFREDO DA SILVA, para voltar a casa LEIXÕES e depois escalas em Mindelo e Praia (CABO VERDE)lá cheguei a BISSAU. Eu estava em 6º reserva, para embarcar e como eram só 5 que embarcavam tive que meter uma cunha, senão embarcava no UIGE no dia seguinte.
Ora quando cheguei a BISSAU a 20/08/68 e aos ADIDOS,disseram-me que a minha companhia de destino,tinha vindo embora a 18/08/68 no UIGE, o mesmo que trouxe os colegas do Rui Rafael.
Entretanto enquanto não embarquei, um dia a minha mãe foi-me acordar muito triste de manhã a dar-me a notícia do desaparecimento em combate do Rui Rafael na GUINÉ,local para onde eu estava para embarcar. Como eramos vizinhos próximos a tristeza correu nas duas casas, mas não foi fácil enfrentar o destino. Mais tarde eu já na GUINÉ, um dia recebo um aerograma da minha mãe a dizer-me que tinha estado com a mãe do Rui a conversar e pedia para ver se eu poderia falar com ele e saber como ele estava, visto estar também na GUINÉ, para dizer à mãe dele. Só agora passados 47 anos e depois de ler a comunicação que foi enviada à família percebi o que poderia ser fácil visto estar próximo, até .... (estava a ser bem tratado e estava bem)
Informações do Manuel Alegre.......
Ribeiro Agostinho
Enviar um comentário