Lisboa > Av Berna > Muro da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (FCSH / NOVA)> Destaque para a figura do cap cav Salgueiro Maia (comandante da CCAV 3420, Bula, 1971/73), nosso camarada da Guiné e que eu conheci pessoalmente no ano letivo de 1975/76 no então ISCPS - Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais, na Rua da Junqueira, onde fomos colegas, por um ano, no curso de licenciatura em Ciências Sociais e Políticas, embora sem qualquer relacionamento pessoal.
Na altura,. estupidamente (!), nem sequer me ocorreu falarmos da Guiné onde estivemos na guerra, embora em alturas e sítios diferentes, e eu, de 1969/71, em Bambadinca, ele de 1971/73, em Bula ... Das vezes que nos cruzámos, recordo-o como um típico militar do QP, de cavalaria, distante, reservado, e equidistante dos diferentes grupos estudantis de esquerda e extrema-esquerda que então imperavam no ISCSP. Alguns não lhe perdoavam a sua participação no 25 de novembro, e quase ninguém tinha distância "afetiva e efetiva" para antever o seu lugar na história de Portugal, enquanto operacional do 25 de abril (e do 25 de novembro). A crispação político-ideológica era então muito grande... Por outro lado, os portugueses, têm, de há muito, uma "relação bipolar" com os seus heróis... (mas também com os seus deuses, santos, diabos e diabretes; possivelmente, essa relação "bipolar", senão mesmo "esquizofrénica", é universal, está longe de ser exclusiva dos "tugas")...
Na altura,. estupidamente (!), nem sequer me ocorreu falarmos da Guiné onde estivemos na guerra, embora em alturas e sítios diferentes, e eu, de 1969/71, em Bambadinca, ele de 1971/73, em Bula ... Das vezes que nos cruzámos, recordo-o como um típico militar do QP, de cavalaria, distante, reservado, e equidistante dos diferentes grupos estudantis de esquerda e extrema-esquerda que então imperavam no ISCSP. Alguns não lhe perdoavam a sua participação no 25 de novembro, e quase ninguém tinha distância "afetiva e efetiva" para antever o seu lugar na história de Portugal, enquanto operacional do 25 de abril (e do 25 de novembro). A crispação político-ideológica era então muito grande... Por outro lado, os portugueses, têm, de há muito, uma "relação bipolar" com os seus heróis... (mas também com os seus deuses, santos, diabos e diabretes; possivelmente, essa relação "bipolar", senão mesmo "esquizofrénica", é universal, está longe de ser exclusiva dos "tugas")...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
E continua o relato do evento:
"A viúva do capitão de Abril, Natércia Salgueiro Maia, que recebeu das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa esta condecoração, disse estar 'reconfortada pela decisão do senhor Presidente' e agradeceu-lhe, emocionada.
"O filho de Salgueiro Maia, Filipe, e a neta, Daniela, também estiveram presentes nesta cerimónia, que decorreu na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, em Lisboa.
"Numa curta intervenção, de cerca de cinco minutos, o chefe de Estado apontou Salgueiro Maia como 0um exemplo' e defendeu que 'Portugal não é avaro em gratidão', embora isso possa acontecer tardiamente." (...)
"Natércia Salgueiro Maia considerou 'muitíssimo justas' as palavras do Presidente da República e recordou que passou com o marido 'momentos de alguma mágoa e tristeza pela forma como era tratado' (...) 'Algumas vezes ouvi-o desabafar: tratam-me como se eu fosse um traidor à pátria, então, que me julguem. Infelizmente, o meu marido já não está entre nós. Por ele, sinto-me reconfortada pela decisão do senhor Presidente em lhe atribuir esta condecoração. Muito obrigada", acrescentou.
(...) "O chefe de Estado disse que Salgueiro Maia 'era um símbolo daquilo que é o português, cá dentro e lá fora, na sua humildade, na sua simplicidade, na sua abnegação, na sua dedicação à pátria'. (...) 'A excelência de Salgueiro Maia justifica esta homenagem singular. Por isso, vou ter a honra de entregar à sua família, pensando naqueles que são mais futuro do que nós somos, aquilo que é um reconhecimento da pátria portuguesa', concluiu.
"Natércia Salgueiro Maia quis estender esta homenagem a todos 'os implicados no 25 de Abril', utilizando uma expressão do seu marido. 'É um ato de justiça e de gratidão para com aqueles que, num gesto de grande coragem, deram o seu contributo para que hoje possamos viver em democracia. Salgueiro Maia amava o seu país, um Portugal que queria livre, mais justo e em que todos pudessem ter uma vida digna. Foi com este sonho que ele participou no 25 de Abril de 74', afirmou.
"Depois da entrega das insígnias, Natércia Salgueiro Maia e Marcelo Rebelo de Sousa abraçaram-se. O Presidente cumprimentou também de forma calorosa o filho e a neta do capitão de Abril.
"Em seguida, a família de Salgueiro Maia recebeu os cumprimentos do ministro da Defesa Nacional, do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, do presidente da Câmara Municipal de Santarém e de representantes das associações 25 de Abril, dos Deficientes das Forças Armadas, da Liga dos Combatentes e dos três ramos militares, que assistiram a esta cerimónia."
(Fonte: Salgueiro Maia condecorado em gesto de "reparação histórica". Diário de Notícias, 30 de junho de 2016) (Com a devida vénia...)
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Nota do editor:
Último poste da sértie > 24 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16010 Recortes de imprensa (80): João Paulo Diniz (,que vai estar mais logo no Jornal da Meia Noite, da SIC Notícias, para relembrar o seu papel no 25 de abril): "As minhas melhores amizades são do tempo da Guiné, quando fui locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, em Bissau, em 1970/72" (Excerto de entrevista, DN -Diário de Notícias, 30/8/2015)
8 comentários:
Um homem e um soldado admirável que a pequenez e revanche de certos dignitários tentou fazer esquecer.
Esta condecoração é pouco mas já é alguma coisa.
Estou a ler novamente 10 anos depois o seu livro, faz-me bem pois aviva-me o que foram aqueles anos e o porquê do 25 de Abril que muita gente esqueceu.
É um herói da minha galeria.
Da Página Oficial do Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas:
http://www.ordens.presidencia.pt/?idc=128
HISTÓRIA DA ORDEM DO INFANTE D. HENRIQUE
A Ordem do Infante D. Henrique foi criada em 1960, para comemorar o 5.º Centenário da morte do Infante D. Henrique, o Navegador, filho do Rei D. João I e da Rainha D. Filipa de Lencastre, um dos membros da Ínclita Geração e o grande impulsionador do grande desígnio nacional que foram os Descobrimentos.
(...) O Infante D. Henrique, Duque de Viseu, nasceu no Porto a 4 de Março de 1394 e morreu em Sagres, a 13 de Novembro de 1460. O Infante foi governador e administrador da Ordem de Cristo, com cujos recursos financiou os Descobrimentos. Dedicou-se ao estudo das Matemáticas e, em especial, às ciências cosmográficas. Aplicou o uso do astrolábio na navegação e inventou as cartas planas.
Por força desta história pessoal tão fortemente ligada à História de Portugal, quando em 1960 a Ordem foi fundada “em homenagem ao infante D. Henrique e sob a sua invocação”, o Decreto 43.001, de 2 de Junho, destinou-a galardoar serviços ligados a “actividades ou estudos histórico-marítimos ou ao conhecimento e divulgação da expansão de Portugal no Mundo”.
(...) Na legislação de 1962, a finalidade da Ordem foi modificada, passando a visar “distinguir os que houverem prestado serviços relevantes a Portugal no País e no estrangeiro” e “serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, sua história e seus valores”, finalidades que se mantiveram nas alterações legislativas subsequentes.
Desde o momento da sua instituição, a Ordem conta com o grau de Grande-Colar, destinado a agraciar Chefes de Estado. O primeiro Grande-Colar da Ordem foi atribuído ao Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira do Brasil 1960. O Grande-Colar foi atribuído também, mediante decreto-lei de autorização, ao Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo.
Depois da revolução de Abril de 1974, foi atribuído a diversos dirigentes comunistas do Bloco de Leste, sendo actualmente concedido, por tradição, na primeira visita bilateral envolvendo um determinado Chefe de Estado.
Entre os Chefes de Estado agraciados estão o Rei Juan Carlos I de Espanha (1978), o Presidente François Mitterand de França (1983), o Presidente Lech Walesa da Polónia (1994), o Presidente Nelson Mandela da África do Sul (1995), o Imperador Akihito do Japão (1998) e o Presidente Xanana Gusmão de Timor-Leste (2006).
Bibliografia:
BRAGANÇA, José Vicente de; As Ordens Honoríficas Portuguesas, in «Museu da Presidência da República», Museu da P.R. / C.T.T., Lisboa, 2004
CHANCELARIA DAS ORDENS HONORÍFICAS PORTUGUESAS; Ordens Honoríficas Portuguesas, Imprensa Nacional, Lisboa, 1968
Da Página Oficial do Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas:
http://www.ordens.presidencia.pt/?idc=176
ORDEM MILITAR DA TORRE E ESPADA, DO VALOR, LEALDADE E MÉRITO
A Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito é a mais importante Ordem Honorífica portuguesa.
De acordo com o estabelecido na Lei das Ordens Honoríficas Portuguesas, destina-se a galardoar méritos excepcionalmente distintos no exercício das funções dos cargos supremos dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha. Da mesma forma, premeia feitos excepcionais de heroísmo militar ou cívico e actos ou serviços excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade.
O Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada é o mais alto grau da Ordem e é concedido, no final do mandato, a quem tiver exercido o cargo de Presidente da República. A partir de 2011, voltou a poder ser também concedido a Chefes de Estado estrangeiros, antigos Chefes de Estado e a pessoas cujos feitos, de natureza extraordinária e especial relevância para Portugal, os tornem merecedores dessa distinção.
Condecorações anteriores
MAIA Fernando José Salgueiro (Tenente-Coronel) LIBERDADE GC 1983/09/24
MAIA Fernando José Salgueiro (Tenente-Coronel) TORRE ESPADA Valor Lealdade e Mérito GO 1992/06/28
http://www.ordens.presidencia.pt/?idc=153&list=1
Bipolares? não haverá a doença tripolar, ou quadripolar, Luís Graça?
Já Machado Santos dos heróis da Rotunda foi morto, assassinado à paulada e machadada segundo alguns.
Consta que nem um tiro mereceu.
Tanto Machado Santos como Salgueiro Maia a maioria do povo respeitava-os.
Mas as franjas em Portugal são muito difíceis de aparar.
E são tantas as franjas que só génios é que as podem domar.
Este post também ajuda imenso a contar a história dos nossos contemporâneos, a que poucos ligam hoje.
Salgueiro Maia personifica a grandeza e servidão da condição militar - dedicou-se à pátria e não esperou nada dela. E quando partiu, era vítima do 25 de Abril.
Rápido e eficiente a participar no 25 de Abril, em confiança ao General Spínola, e relutante em participar nas suas derivas do 28 de Setembro, 11 de Março e 25 de Novembro, os dois campos trataram de o queimar...
Da sua vida pública conheço apenas a fundação da Associação Portuguesa dos Amigos do Castelo, notável instituto cívico, quase desconhecido.
Manuel Luís Lomba
Salgueiro Maia foi um dos melhores portugueses de sempre, mesmo assim muitos portugueses tiveram dele uma má imagem, durante alguns anos, sendo que alguns destes estão agora arrependidos. A história ensina-nos que, no percurso tumultuoso das revoluções, os heróis são muitas vezes triturados e isso quase aconteceu com Salgueiro Maia que se recusou a empurrar a revolução na direcção que alguns pretendiam. Devemos-lhe muito, ele não deve nada aos portugueses nem a Portugal. O actual Sr. Presidente da República fez o que devia.
Carvalho de Mampatá
Camarada António Carvalho:
Salgueiro Maia teve a felicidade (ou a infelicidade, para os que o amavam, a esposa, os filhos, os amigos...) de "morrer cedo de mais" (desgraçadamente, foi traído por um cancro, que hoje poderia ter tido cura.
Nunca mais esqueceremos a cena dramática, épica, que foi o seu "duelo" com os carros de combate que vieram da Ajuda e que lhe queriam barrar o caminho para a liberdade... É uma página extraordinária da nossa história!... Como cruel, e mesquinha, foi a "vingança" da hierarquia militar conservadora que retomou as rédeas do poder e fez tudo para o amesquinhar e até destruir... A última parte da sua carreira militar é das coisas mais vergonhosas que lhe fizeram!...
Não somos bons a julgar os nossos contemporâneos, e sobretudo os melhores de nós. Temos uma problema de "ejaculação precoce" nos juízos históricos... Só somos bons, a fazer consensos "pós-mortem"... Memso assim é preciso que os de fora, os "estrangeiros" nos deem uma dica... Temos um grave problema de autoestima e de autoconfiança...
Não sei se é cinismo, se é fatalismo, se é morbidez... Levamos tempo e temos dificuldade em perceber de imediato a genialidade, a generosidade, a heroicidade... dos nossos melhores: Camões, padre António Vieira, Sanches Ribeiro, Bocage, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Amadeo Sousa Cardoso, Fernando Pessoa, Aristides Sousa Mendes, Veira da Silva, Humberto Delgado, António Damásio, Salgueiro Maia, Vhils... são apenas alguns exemplos que me ocorrem, assim de repente, no campo das letras, da ciência, das artes, da ação cívica e política...
Estranho povo este... Mas não temos volta a dar: afinal somos nós, no nosso melhor e no nosso pior... Ab. grande, Luís
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