quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16357: Notas de leitura (865): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte V: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (I): queria ir para o Vietname foi parar ao Fiofioli...



Mapa das regiões [frentes e bases] do PAIGC. Os símbolos azuis correspondem aos itinerários percorridos pelo médico Diaz Delgado (de julho de 1966 a dezembro de 1967). Os verdes correspondem ao médico Alfonso Delgado (de abril de 1968 a setembro de 1969). Infogravura adapt. de Supintrep nº 31, fevereiro de 1971, por Jorge Araújo.



Quinta parte, enviada a 13 de julho último, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato e as limitações do blogue. 


 
Foto à esquerda:

O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].



1. INTRODUÇÃO

Caros tertulianos. Concluímos no P16304 (*) a publicação da primeira de três entrevistas realizadas pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch a médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência.

Estas três entrevistas, associadas a outras doze missões africanas ocorridas em situações e momentos  diferentes, como foram os casos de Argélia, Congo Leopoldville, Congo Brazzaville e Angola, estiveram na origem do seu livro, escrito em castelhano, com o título «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp. ].[Disponível "on line"em formato pdf, numa versão de pré-publicação].

Recordo que o primeiro entrevistado foi o cirurgião Domingo Diaz Delgado, elemento do primeiro grupo de clínicos chegados à Guiné em 1966, a quem foram formuladas vinte e oito questões relacionadas com a sua missão, desde a tomada de decisão pessoal [finais de 1965] e chegada a Concri,maio de 1966, até ao regresso a Havana, em janeiro de 1968.

Considerando que ela decorreu durante vinte meses, dos quais dezasseis nas matas das frentes Norte e Leste da Guiné [1966-1967], as respostas às questões formuladas dão-nos conta, com bastante detalhe, do modo como foi feita a preparação para a missão, da viagem (secreta) de barco e do processo de inclusão na estrutura do PAIGC.

 O depoimento deste homem é interessante para quem quiser conhecer melhor o contexto da guerra de guerrilha, as condições logísticas vividas em bases improvisadas, precárias e com escassos recuros recursos, bem como as misérias e as grandezas da medicina que se podia praticar naquelas condições, cvom o médico opra socorrendo os guerrilheiros feridos nos combates, ora prestando  cuidados àss populações sob o seu controlo. Descreveu, também, as actividades operacionais no interior de um bi-grupo durante os primeiros três meses de 1967, na frente Norte [Sambuia], até ao momento em que adoeceu, por paludismo, sendo transferido para Conacri aonde permaneceu durante mais três meses em recuperação. Faz, ainda, referência ao modo como foram passados os últimos seis meses de 1967 na frente Leste, acompanhando os guerrilheiros em actividades operacionais nos corredores entre Madina do Boé e Beli. Regressou a Cuba em janeiro de 1968.

Quanto à segunda entrevista, que agora se inicia, tem como principal interlocutor o médico de clínica geral, com experiência em cirurgia, Amado Alfonso Delgado. A sua missão teve início na véspera de Natal de 1967, na companhia de outro médico, voando de Havana até Conacri, com escala em Gander [Canadá], Praga, Paris e Senegal. A sua chegada a Boké, na Guiné-Conacri, aconteceu nos primeiros dias de 1968, aonde se manteve durante três meses, prestando serviço médico no Hospital local, na companhia de mais quatro clínicos cubanos: o cirurgião militar Almenares, um ortopedista, um analista de laboratório e um técnico de raio X.

Em abril de 1968 segue para a frente Leste substituindo o seu companheiro Daniel Salgado, na base de Kandiafara, por este se encontrar doente com uma forte crise palúdica. Nesta base encontravam-se vinte combatentes cubanos. Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e Fiofioli [com passagens e histórias de locais míticos que marcaram a minha vida e a de muitos de nós, como foram os casos do Xime, Ponta Coli, Ponta Varela, Poindon, Ponta do Inglês e Enxalé].[vd. infogravura acima].

É de tudo isto, e de algo mais, que o médico Amado Alfonso Delgado aborda no seu depoimentos.

Porque se trata de uma tradução (com adaptação livre e fixação do texto em português, da minha responsabilidade), não farei juízos de valor sobre o conteúdo desta e das outras entrevistas: apenas coloquei entre parênteses rectos algumas notas avulsas de enquadramento sócio-histórico ao que foi transmitido, com recurso a imagens desse contexto retiradas da Net e dos arquivos do nosso  blogue.

2.  O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [I]

Nesta longa entrevista, Amado Alfonso Delgado fala da sua família e dos seus estudos, bem como da decisão, amadurecida, de se oferecer para uma missão internacionalista em apoio à luta do PAIGC. Fala da sua longa viagem de Havana a Conacri, de Conacri a Boké, na fronteira Norte com a Guiné. Recorda as caminhadas longas de sete dias por matas e bolanhas, estas às vezes cheias de sanguessugas, dos terríveis suplícios que eram os mosquitos e as abelhas, enfim, das ofensivas das tropas portuguesas…

A entrevista tem com 25 questões. Hoje apresentamos a resposta (em itálico) às cinco primeiras, com adevdia vénia ao autor, conhecido jornalista cubano Hedelberto López Blanch (n. 1947).

“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo” (Cap XI, pp. 136 e ss)

“Para Alfonso Delgado foram dias aziagos, de sacrifícios, e por que não, de heroísmo, para servir um movimento de libertação que em meados da década de sessenta [do séc. XX] era o mais organizado e combativo de África”.

Nasceu em 1940 na cidade de Santa Clara [local da última batalha na Revolução Cubana, cujos combates foram liderados pela dupla do Exército Rebelde: Ernesto Che Guevara (1928-1967) e Camilo Cienfuegos Gorriarán (1932-1959), realizada no último dia do ano de 1958, levando ao exilio, nessa data, o então presidente de Cuba, Fulgêncio Batista (1901-1973), primeiro rumando à República Dominicana, depois até à Ilha da Madeira (Portugal) e, por último, a Espanha, onde morreu em Marbella, em 6 de Agosto de 1973, de enfarte do miocárdio].

Até à entrada para a universidade, estudou em colégio particular, dos antigos Maristas, não sem sacrifício opara a família, de origem modesta: a mãe era professora e i pai militar, “Os seus pais fizeram grandes esforços para lhe pagar, que frequentou desde o primeiro grau até ao quinto ano do bacharelato. Com a Universidade de Havana fechada, em 1957, pela ditadura de Fulgêncio Batista, teve procurar os seus pr+óprios meiso de subsistência, tendo trabalhado nomeadamente numa pequena fábrica de tubos em Cotorro [um município situado a sudoeste da Província e cidade de Havana].

Em 1959, a Universidade reabre e o nosso futuro médico começa a estudar medicina..

Na altura da entrevista, era cirurgião do Hospital Docente Clínico-Cirúrgico Dr. Salvador Allende, em Covadonga, Calçada del Cerro, em Havana. [A nova designação de Hospital Dr. Salvador Allende (1908-1973) verificou-se em 1973 em homenagem ao presidente chileno, também ele médico – morto em 11 de setembro de 1973, na sequência do golpe de estado liderado pelo seu chefe das Forças Armadas, Augusto Pinochet (1915-2006). Este estabelecimento de saúde chamava-se originalmenmte Casa de Saúde «Quinta Covadonga», tendo sido inaugurado em março de 1897.

“O início desta casa de saúde «Quinta Covadonga» é atribuído a acção desenvolvida, a partir de 1896, pelo emigrante asturiano (província espanhola) Manuel Valle, contando esta com vários pavilhões sanitários e onde existiam as tecnologias mais avançadas da época. A comunidade asturiana em Cuba passou a contar, desde o seu início, com apoio médico qualificado a preços simbólicos. De referir que esta instituição de saúde dependia do «Centro Asturiano de La Havana», uma sociedade de beneficência que promovia a solidariedade e a assistência entre os naturais das Astúrias e que no início do século XX chegou a ter cem mil sócios. Durante a década dos anos noventa, o governo do Principado decidiu apoiar a reconstrução e modernização deste centro, considerado o maior do sistema sanitário público cubano. Desde 2001 o edifício actual, reconstruído em 1927 por efeito de um incêndio em 1918, serve de sede a colecções de arte universal do Museu Nacional de Belas Artes Cubano]".




Cuba > La Habana > Cerro > Quinta Covadonga  > Hospital Docente Clínico Quirúrgico "Dr. Salvador Allende"

[Imagem da respetiva página no Facebook, reproduzida com a devida vénia[








(i)  Como eram os estudos de medicina 

nesses primeiros anos?

Em setembro de 1959 reiniciaram-se as aulas e eu pertencia ao primeiro grupo de estudantes de medicina depois do triunfo da Revolução. Nessa altura, inscrevíamo-nos sem fazer exame de ingresso. Antes, praticamente não tínhamos de assistir às aulas todos os dias, bastava ir a algumas sessões. Tinham-me dito que para ser bom médico tinha que trabalhar em hospitais, e no primeiro dia perguntei a um estudante se conhecia algum médico.

Levou-me, então, ao Hospital Kourí, actual Oncológico, aonde me apresentou a um médico que por sinal era cirurgião, e graças a essa coincidência continuei nessa área desde o início do trabalho como estudante de cirurgia no Kourí. Depois consegui outros locais para praticar, em particular a Clínica Cirúrgica de Havana. Este primeiro grupo de médicos graduou-se em 1965, no Pico Turquino [mapa abaixo], com a presença de Fidel de Castro (n-1926.08.13). Estivemos cinco dias a andar pelas colinas. Apesar de não ser muito desportista eu gostava de andar, e acabei por ser o segundo a chegar ao Pico Turquino entre os mais de trezentos que subimos.

Após a graduação perguntaram-me se queria fazer o Serviço Médico Rural nalgum local específico e perguntei-lhes aonde é que faria falta. Indicaram-me o de Realengo 18, em Guantánamo [enquadramento histórico em http://www.ecured.cu/Ejercito_ Rebelde], um dos lugares mais complicados.

Fui nomeado director da policlínica e depois transferiram-me para o Hospital de Gran Tierra de Baracoa. Ali trabalhava de manhã, à tarde e à noite, e praticamente não descansava para prestar apoio à população. Em Gran Tierra [município do oriente] passei oito meses e quando estou a terminar o Serviço Médico Rural, por volta de agosto de 1967, o director municipal dá-me conta de que existia a oportunidade de cumprir uma missão internacionalista.



(ii) Alguma vez levantou a hipótese 
de fazer essa missão?

Num determinado momento tinha expressado ao director do hospital a minha disposição de cumprir uma missão, sobretudo no Vietname pelo heroísmo desse povo, e na verdade sentia-me uma certa pena de não ter participado na guerra contra Batista. Estive afastado da acção política nesses primeiros anos. Creio que houve duas razões que me fizeram mudar, a primeira porque trabalhava com um grupo de cirurgia que ganhava muito dinheiro e quando operavam as pessoas no hospital nem falavam com o paciente. Em contrapartida, quando iam operar numa clínica privada, conversavam com a pessoa, a adulavam, e, por isso, desliguei-me do grupo. A outra teve a ver com “Crise de Outubro” (Crise dos Mísseis), em que fiquei indeciso sobre a posição a tomar.

[O princípio da crise dos misseis em Cuba, nome atribuído ao conflito entre os Estados Unidos, a União Soviética, ex-URSS, e Cuba em outubro de 1962, tem a sua origem na descoberta, por parte de espiões americanos, de bases de mísseis nucleares soviéticos em território cubano. De imediato, os Estados Unidos bloquearam a costa cubana e durante treze dias esteve eminente o início, em Cuba, de uma guerra nuclear, ou seja, a III Guerra Mundial, só ultrapassada pelo acordo a que chegaram as duas superpotências. Mesmo assim os Estados Unidos decidem bloquear totalmente a Ilha, impondo um embargo ao comércio com Cuba e proibindo os seus aliados de estabelecerem relações comerciais com aquele país [vd. enquadramento histórico aqui ].

Aí, as pessoas, ao conversarem sobre este episódio, diziam-me que havia que acordar, uma vez que uns pensavam no socialismo e outros no capitalismo, mas se ocorresse algum conflito, havia que estar do lado dos americanos. Esses dois factos levaram-me a cortar com as relações que tinha. Estive em Santa Clara e Guantánamo e quando regressei conclui a formação, embora os meus colegas de curso praticamente não me conheciam.

Voltando ao tema de partida, acrescento que o director municipal de saúde de Gran Tierra de Baracoa comunica-me que José Ramón Machado Ventura, então ministro da Saúde Pública, necessitava de alguém para uma missão, mas que devia ter absoluta garantia de que a cumpriria. Disse-lhe que iria até onde fosse necessário, perguntando-lhe se seria para o Vietname, mas apenas me foi dito que seria uma missão dura.




(iii) Encontrou-se com Machado Ventura 
[, ministro da saúde]?


De Guantánamo apanhei um avião até Havana para me encontrar com Machado Ventura, o qual já conhecia do tempo da pós-graduação, pois esteve no hospital aonde fui director. Um dia ele apareceu por lá, quando estava cheio de utentes. Porque soube que ele vinha, pensando que era uma inspecção, preparei-lhe um quarto, e pus-lhe uma coberta limpa na cama. Mas, em vez de nela se deitar, fê-lo no chão. Perguntei-lhe porquê? Respondeu-me se eu gostaria que ele sujasse a coberta.

Após a entrevista, o dr Machado Ventura despediu-se e pediu-me que estivesse contactável. Três ou quatro dias depois, fui contactado para que comparecesse no Ministério onde dois funcionários se reuniram comigo e disseram-me que a missão era para a Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau]. Comecei a preparar-me, pois deram-me roupa, fiz uma carta de despedida e recebi um passaporte como engenheiro agrícola
.

(iv) Teve algum treino militar? 


Não. Por sorte, quando estive na pós-graduação havia uma companhia serrana, constituída por combatentes que participaram no Realengo 18 [enquadramento histórico identificado acima], e cada vez que acontecia uma mobilização, deslocava-me com eles e sabia já manejar perfeitamente as espingardas: a AK [sigla da arma automática «Kalashnikov», de fabrico soviético] e outras armas, imnagem à esquerda].

(v) Como e quando fez a viagem?

Eu e outro médico voamos do Aeroporto de Havana, fazendo escala em Gander (Canadá), Praga, Paris, Senegal e Guiné-Conacri. Embarcámos no dia 24 de dezembro de 1967, chegámos a Praga a 25 e seguimos para Paris, onde permanecemos dois dias. Na República da Guiné ninguém nos esperava. Recorremos a um carro de aluguer e pedimos para nos levarem até à embaixada cubana. Levaram-nos, então, a uma casa, tocámos e apareceu um companheiro que nos informou que havia uma reunião em casa do embaixador. Dirigimo-nos até lá. Estava a decorrer uma festa e pensei: “Disseram-me que isto era duro e quando chego encontro as pessoas comendo porco e bebendo rum”. A festa, afinal, tinha a ver com a despedida do primeiro e segundo grupos de internacionalistas que regressavam a Cuba [aonde estava, certamente, o cirurgião Domingo Diaz Delgado, o primeiro entrevistado neste trabalho].

O médico que viajou comigo era militante da Juventude [Comunista] e disseram-nos que um de nós iria para um pequeno hospital junto à fronteira com a Guiné-Bissau e o outro iria acompanhar a guerrilha. Pensei que muito provavelmente esta situação seria para o outro, mas foi para mim e que aceitei.

Porém, antes da nossa partida de Havana, tinha viajado por barco um outro grupo de trinta combatentes e seis médicos [final de novembro ou início de dezembro’1967] que, quando cheguei a Conacri, já estavam no interior da Guiné-Bissau.


Continua…

____________


4 comentários:

Anónimo disse...

Conheci o ditador Fulgêncio Batista em Fevereiro de 1960 na ilha de Porto Santo.
Cheguei à ilha de aviâo em 1 de Outubro de 1959, para trabalhar no escritório da Construtora do Tâmega, que construiu o aeroporto. Quando cheguei o gerente Manuel Natal, que tinha andado na primária comigo, distribui-me uma carrinha citroen 2
cavalos, que um tratorista (Machado) me deu umas lições de condução durante a tarde do dia da chegada, um domingo.
Nos primeiros dias de Fevereiro de 60, apareceram uns barcos de carga, que desceram na ponte-cais três ou quatro carros grandes americanos, como viamos nos filmes, homens e mulheres, falando espanhol e caixotes e mais caixotes.
Então fomos informados que se tratava do ditador de Cuba e sua comitiva
Na ilha as únicas autoridades eram: um sub-chefe da PSP, um 2º Sargento e 4 praças da GNR, um comodoro da MARINHA (Leitão) e um inspector-chefe da PIDE, (o celebre PORTO).
Um ou dois dias depois da chegada, ao fim da tarde quando ia a conduzir, sózinho,na carrinha da Vila Baleeira para a ponta da calheta, vejo um oldsmobile parado na berma da estrada, reduzi a velocidade e sou parado por um tal, Martinez, com cinturão tipo cowboy, que me pediu o favor de o levar à vila para encher um jarrican de gasolina, pois haviam ficado sem combustivel.
Apresenta-mo-nos e toca a voltar para trás, para reabastecer de gasolina.
Conversa puxa conversa, e eles ficaram a saber que eu já estava apurado para a tropa, mas não sabia a data incorporação que seria em julho 1961.
Uma noite, quando ia para a Calheta, ao passar junto ao Pico Ana Ferreira, ouvi um tiroteiro e curioso fui indagar, e vi os meus amigos cubados. Na mala do carro havia pistolas (Parabellum ou Luger 45,e outras), espingardas(Tompson de tambor e sem, PPSH (costureirinha), simonov, steyr e Winchester), caçadeiras, revólveres(38 e 45)Smith and Weston. Isto é, um prefeito arsenal.
Claro que eles me convidaram a dar uns tiros ao alvo, o que eu não me fiz rogado. Aí começou o meu treino para a Guiné. O próprio Fulgencio Batista convidou alguns dos que nos encontrava no convivio do café-esplanada, para diversos almoços e jantares. Passados uns meses, que não recordo quando, embarcaram tudo e foram para
o Funchal. Quando todos os quinze dias ia ao Funchal, buscar dois mil contos (notas e moedas) encontrava-me com os capangas do ditador. Mal sabia eu que anos mais tarde ia enfrentar algumas daquelas armas.
Alcidio Marinho
C.Caç 412


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como vês, Alcídio, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande...

Quanto a este médico cubano, constato que ele esteve no nosso setor L1, e em especial nos subsetores do Xime e do Xitole. Escapou à morte um triz na mata do Fiofioli, onde se confirma a existência de um pequeno hospital que ele garante ter sido destruído pelas NT 4 vezes... Pelo que li, por alto, no original em castelhano, o homem estava no Fiofioli aquando da Op Lança Afiada, em março de 1969... Lá chegaremos... Parece-me um testemunho credível... LG

Anónimo disse...

Amigos e camaradas,
Na entrevista aqui publicada, certamente por incúria do entrevistador, o médico cubano não abordou se o referido hospital foi sempre evacuado antes de ser destruído por quarto vezes. Assumo que sim pois viveu para o contar.
Na Mata dos Madeiros também construímos duas enfermarias. Já publiquei várias fotos sobre o acampamento.
No ar fica a pergunta para quem sabe: para além do Hospital Militar 241, em Bissau, quantos hospitais foram construidos pelas nossas Forças Armadas na Guiné?
Cumprimentos,
José Câmara

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Camaara:

A mata do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal, era uma zona de difícil acesso... Já em 1968/69 constava que o PAIGC tinha lá um "hopsital de mato" (leia-se: uma pequena "enfermaria") com "enfermeiras" (cubanas!)... Puro delírio nosso!... Que eu saiba, nunca hoje "enfermeiras" cubanas no TO da Guiné"...

Afinal, este médico e cirurgião Amado Alfonso Delgado andou por lá nessa altura e tem muito para contar...


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Fiofioli

O Fiofioli estava ligada à "base" de Mina, e estava devidamente referenciado pelas NT... A mata era com alguma frequência bombardeado pela FAP. No meu tempo, só os páras podiam lá ir, helitransportados... Desde que saíssemos do Xime (ou do Xitole), éramos imediatamente detetados, e perdíamos o efeito surpresa...

Segundo o depoimento (insuspeito) do cubano, o "hospital" do Fiofioli ("hospitalito", no original, em castelhano, ou seja, pequeno hospital de campanha) terá sido destruído 4 vezes pelas NT no tempo dele... Uma dessas veses foi na operação de dez dias, a Op Lança Afiada, já aqui amplamente descrita... (Decorreu de 8 a 19 de março de 1969).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Op%20Lan%C3%A7a%20Afiada