sábado, 3 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17427: Banco do Afecto contra a Solidão (22): Notícias do antigo 1º sargento da CCAÇ 1419 (1965/67) e da CCAÇ 2312 (1968/69), e cofundador da ONG Ajuda Amiga, António Joaquim Lageira: deixou de comparecer aos convívios anuais e estava num lar do exército, em Oeiras, em 2015 (Ana Pacheco / Carlos Fortunato)


Lisboa > 19/4/2008 > Grupo fundador da ONG Ajuda Amiga (*) :

(i) de pé da esquerda para a direita: Manuel Pais e Sousa (CCav 1650), Rogério Marques Freire (CArAntónio Joaquim Lageira (CCaç 1419 e Caç 2312) [, foto à direita],  Adrião Lourenço Mateus (CArt 1525), António Jesus Picado Magalhães (CArt 1525);
t 1525) Eurico Caeiro Lavado (CCaç 1419), Júlio da Silva Esteves (CCaç 816) Carlos Manuel Rodrigues Bernardes (CCav 1650),

(ii) em baixo da esquerda para a direita: Manuel Joaquim (CCaç 1419), Carlos Silva (CCaç 2548),  José Riço  (CCav 1650) e Carlos Fortunato (CCaç 13).

Foto (e legenda): Ajuda Amiga [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradasa da Guiné] 



1. A Ana Pacheco (Anita), filha de um camarada nosso, escreveu-nos no dia 1 a seguinte mensagem;

Boa tarde,

Desculpe estar a incomodar, mas precisava da sua ajuda. 
O meu pai, João Gonçalves Pacheco, esteve na Guiné-Bissau entre 1968  e 1970, na Companhia de Caçadores 2312, onde o sr. António Lageira era 1º Sargento.

Sempre participou nos encontros que se fizerem desde há 30 anos para cá, deixando de aparecer desde há uns 6 a 7 anos, não conseguindo nenhum dos camaradas do meu pai nem o meu pai, contactá-lo pois o telefone chama e ninguém atende.

Gostaríamos de saber se tem alguma informação sobre ele (ví que ele aparece numa fotografia numa publicação do vosso blog a 4 de março de 2010) para lhes poder dar, pois têm grande estima por ele.
Grata pela atenção,

com os melhores cumprimentos
Ana Pacheco

2. Resposta do nosso editor:

Anita:
Boa noite, e obrigado pelo seu contacto.

O camarada Lageira, 1º sargento, pertenceu originalmente à CCAÇ 1419 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67)... Temos no blogue referências ao seu nome.


 Além disso, integrou originalmente os corpos sociais da ONG Ajuda Amiga, mas já não faz parte da lista eleita para o biénio 2016/17:
 
Talvez os nossos camaradas,  e membros da nossa Tabanca Grande, Carlos Fortunato, Carlos Silva e Manuel Joaquim, também cofundadores e atuais dirigentes dessa ONG, lhe possam dar notícias do camarada António Joaquim Lageira.

E espero que essas notícias sejam boas. Disponha sempre e dê um abraço nosso ao seu pai, João Pacheco, da CCAÇ 2312, subunidade da qual temos infelizmente poucas referências,  e que fazia parte do 
BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael 1968/69). Tem história da unidade disponível aqui, em sítio criado e mantido pelo nosso grã-tabanqueiro Francisco Gomes.

O nosso blogue está aberto ao seu pai e a outras camaradas da CCAÇ 2312 que queiram partilhar connosco memórias e afetos...

Saudações, o editor Luís Graça
3. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato, presidente da ONG Ajuda Amiga, com data de ontem:


 Bom dia,

A última vez que falei com o António Lageira foi ao telefone, em 2015, na altura ele contou-me que a sua saúde tinha piorado e que estava num lar do Exército que existe em Oeiras, onde cuidavam bem dele e que tinha muita dificuldade em andar.

O ofereci-me para o ir buscar e o levar aos almoços de camaradas da Guiné que organizamos perto de Oeiras, eram pequenas deslocações, recusou disse que os passeios dele eram do quarto para a sala, e apenas por vezes por insistência dos auxiliares dava um pequeno passeio pelo corredor. Também não quis ser visitado, que preferia estar assim sem visitas.

Apesar de achar que lhe faria bem sair e dar dois dedos de conversa com os seus camaradas, respeitei a opção dele de se isolar, se era assim que ele se sentia bem.

Saudações

J. Carlos M. Fortunato

Presidente da Direção
E-mail jcfortunato2010@gmail.com + E-mail jcfortunato@yahoo.com
Telem. +351 935247306
NIF 111853338
Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento

ESCRITÓRIO
Rua do Alecrim, nº 8, 1º dtº
2740-007 Paço de Arcos

SEDE
Rua Mário Lobo, nº 2, 2º Dtº.
2735 - 132 Agualva - Cacém

NIPC 508617910
ONGD – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
Pessoa Coletiva de Utilidade Publica
Site http://www.ajudaamiga.com
E-mail ajudaamiga2008@yahoo.com

Telemóvel +351 937149143

4. Depois de termos dada à Anita, estas últimas notícias sobre o camarada Lageira (e que não eram as mais "encorajantes"), ela respondeu-nos de imediato nestes termos:

Bom dia!


Quero agradecer-vos a atenção e muito obrigado pelas informações.
Agradeço e retribuo os cumprimentos dirigidos ao meu pai.

Tenho muito orgulho nele e em todos os homens que estiveram nesta guerra. Cresci a ouvir falar dela e de há 30 anos para cá tenho conhecido os rostos e as histórias daqueles que durante 2 anos viveram com o meu pai, nas terras de Guiné - Bissau.

Foi, infelizmente, na missão com a companhia do meu pai, que o sr. Lageira se feriu ao pisar uma mina quando ia com dois camaradas apanhar lenha. Um grande homem por quem tenho um profundo respeito. (**)

Obrigado por tudo!
Cumprimentos para todos,
Anita

__________________

Notas do editor:

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

È tocante, mais uma filha de um camarada nosso a servir de "intermediária" entre o blogue e o pai e os camaradas do pai... A Ana merece uma grande xicoração da parte de todos nós, membros desta Tabanca Grande...o mesmo é dizer de uma comunidade virtual (e real) que partilha memórias e afetos... LG

Valdemar Silva disse...

Luís Graça tem que ser assim.
Venham filhos, netos ou parentes falar da nossa rapaziada. Nós merecemos estes 'intermediárias'. Somos dos anos 60, não voltou haver melhor vintage.
Valdemar Queiroz

Bispo1419 disse...

Caro Luís

Conheço muito bem o sarg-mor António Joaquim Lageira que foi 1º sarg. da CCaç1419, a minha comp.ª na Guiné (1965-67).
Durante anos fomo-nos encontrando ocasionalmente em Lisboa; ele mora (morava) em Campo de Ourique e era seu hábito comparecer no encontro de confraternização anual da CCaç.1419 (desde 1992, data do 1º encontro).

Isto até há poucos anos atrás, aí uns cinco, seis anos. Desde então não apareceu mais nos convívios e tivemos conhecimento da sua fragilidade física e da sua consequente vontade de não receber as nossas visitas. A certa altura deixou de responder aos nossos telefonemas.

Acontece que perto da sua residência de C.Ourique fica o local de trabalho do meu "menino da Guiné" Zé Manel, membro nº 706 da Tabanca Grande e mais conhecido por Sarrico entre o pessoal da CCaç.1419.
Durante anos esta vizinhança permitiu que se fossem encontrando de vez em quando, até uma dada altura em que o Zé Manel estranhou o facto de ter deixado de o ver.
Assim, foi à procura de resposta no restaurante habitual do António Lageira e foi bem sucedido, ficando a saber que ele estava internado em Oeiras, no Centro de Acção Social (CAS) do Instituto de Acção Social das Forças Armadas (IASFA).

Curiosamente, voltaram a encontrar-se em Campo de Ourique, há cerca de três meses atrás. Surpreendido ao vê-lo, o Zé Manel dirigiu-se-lhe alvoroçado mas foi recebido com frieza e manifesto receio, coisa totalmente contrária ao que sempre acontecia quando se encontravam. Viu de imediato que não tinha sido reconhecido, o que só veio a acontecer após algum esforço para manter o contacto enquanto trazia para a conversa personagens e factos de conhecimento comum.

Tudo indica que esta presença do sarg.-mor Lageira em Campo de Ourique não indiciava um regresso à sua anterior residência. Há poucos dias falei com o Zé Manel, após ver o teu mail sobre este assunto. Disse-me que não o tinha voltado a ver mas iria, de imediato, procurar alguma informação junto de pessoas que sabia terem anteriormente lidado com ele no dia a dia.
Anteontem deu-me a notícia de que o nosso camarada sarg-mor estava internado no CAS de Oeiras.

Pela resposta do Carlos Fortunato, acima, parece confirmada a situação do António Lageira, tendo o seu encontro de há pouco tempo com o Zé Manel ter resultado de uma curta visita ao bairro da sua residência.

Um grande abraço, meu caro e estimado Luís

Manuel Joaquim

Anónimo disse...

Obrigado, Manel Joaquim, pela tua resposta ao nosso mail. Há dois tipos de morte; (i) a física; e (ii) a psicossocial... Esta precede a primeira: a quebra de laços familiares e afetivos, a solidão, o abandono, a depressão, a senescência, a pobreza, a miséria, etc, podem ser causas e sintomas que precipitam ou precedem a morte social...

Nalguns casos, podem haver mesmo a vontade deliberada de cortar o "cordão umbilical" que nos liga aos outros e à vida... A morte física é apenas o fim da picada... Temos que falar mais destes problemas que afetam toda a nossa geração de ex-combatentes... O nosso derradeiro combate vai ser este... Daí importância também das redes de suporte social como as nossas "tabancas", o convívio, a partilha de problemas, etc. Claro que não chega, se não houver outras redes, institucionais, como as redes de cuidados de saúde, de apoio domiciliário, os centros de dia, os lares, etc. LG