Assunto: Aerogramas
Caros amigos:
Votos de ótima saúde.
Sobre o tema aerograma, em inquérito on-line (*) ocorre-me contar um episódio no qual fui interveniente.
Como o Carlos se lembrará, (estivemos ambos em Mansabá), o meu pelotão Daimler estava dividido em dois aquartelamentos, Mansabá e Mansoa.
Após alguns meses (cerca cinco) em Mansabá, fui para Mansoa. Face ao perigo das emboscadas, sempre que possível o correio era transportado por via aérea. Quando estava em Mansoa fui várias vezes a Mansabá aquilatar as ocorrências do Pelotão.
Numa dessas deslocações aproveitei a "boleia" da avioneta DO [27]. Nessa viagem, além do piloto, ia o comandante do batalhão, Tenente Coronel Chaves de Carvalho, à frente, e, nos bancos laterais ia eu próprio e o Padre Zé Neves (presentemente nas Missões da Consolata em Moçambique)
Passámos por Porto Gole, o DO aproximou-se da pista e eu larguei o saco do correio. Logo se elevou, voando em círculo alargado com o piloto puxando energicamente a alavanca situada ao centro.
Imaginem o pânico que eu senti durante meio (?) minuto em que o DO subia cada vez mais e o capim ficava cada vez mais longe. Lá vai o Caniço pró c…!, foi o pensamento natural. De imediato pensei: Está aqui o Padre Zé, Deus vai-nos safar!
Mal concluía o pensamento e... logo a alavanca se desencravou!
A interpretação fica ao critério de cada um.
Mais tarde vim a saber pelo piloto, que a avioneta tinha uma tal "démarche" que permitia a sua aterragem sem perigo.
Mas o pânico ficou, e por muitos anos, sendo que alguns resquícios ainda permanecem.
Curioso, hoje tenho um filho que é piloto comandante da TAP.
Um abraço e a continuação de ótima saúde. (**)
Ernestino Caniço
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2. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 13 de Julho de 2017:
Caros editores deste prestigiado meio virtual de comunicação entre ex-combatentes.
Eu escrevi sempre aerogramas, raramente escrevia cartas, mas também escrevi algumas, a minha namorada (hoje minha esposa), escrevia muitas vezes cartas talvez meio por meio.
Recebemos todas as cartas, nenhuma ficou nenhuma pelo caminho. Tínhamos combinado numerar as cartas e aerogramas sempre em numeração crescente algumas cartas, eram mais rápidas do que outras, mas com todos os atrasos lá foram chegando ao seu destino, tanto de cá para lá e vice-verso.
Eu tive conhecimento ainda na Amadora (RI 1), antes de embarcar no Niassa, do SPM da minha companhia e telefonei para a minha namorada a informar a minha direcção enquanto estivesse na Guiné, e para meu espanto quando chegamos a Bissau depois de uma semana de um cruzeiro pelo Atlântico, ainda antes de embarcar foi distribuído o correio ainda a bordo, e já lá tinha a minha primeira carta.
Nunca me apercebi de cartas ou aerogramas violados, para mim sempre chegaram em perfeitas condições, embora muitas vezes com atrasos bastante largos, mas julgo que seria por ter estado numa zona que demorava sempre bastante tempo a lá chegar. Chegávamos a estar sem receber correio entre 15 e 20 dias porque não tínhamos contactos físicos, só por telecomunicações, não era possível fazer colunas regulares e a aviação estava proibida de voar para Guidage.
Albano Costa
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17579: Inquérito 'on line' (124): num total de 64 respostas, metade (50%) considera que o aerograma (ou "aero") "em geral era seguro e rápido"... Imprescindível para o sucesso do SPM foi a colaboração da TAP e da FAP.
(**) Último poste da série > 14 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17583: (De) Caras (89): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte I (Fotos e texto: Luís Graça)
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