domingo, 10 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17752: Blogpoesia (528): "Caminheiros..."; "Painel das manhãs..." e "O teu leito...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Caminheiros…

Somos caminheiros, nesta hora subindo,
Horas difíceis. Escarpas rochosas. Íngremes.
Ameaças de feras.
Sem fuga possível.
O caminho é avante.
Alcançar as alturas.
Outro mundo à espera.
Com luz e esperança.
O precipício ficou para trás.
Fases da história.
Alvoroços da vida.
Sempre os houve nas eras passadas.
A nossa é assim.
Há que enfrentá-la.
Não vai só a humanidade.
Insondáveis desígnios zelam por ela.
Não há ponto sem nó…

Ouvindo Out of Africa de A.Mozart
Mafra, 5 de Setembro de 2017
7h34m (dia muito cinzento)
Jlmg

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Painel das manhãs...

Desta janela oval que dá para a rua,
vejo um rio de gente,
pelos passeios e estrada.
Avançam prà vida.
Querem ganhar com vontade de ferro.
As mangueiras da bomba largam gazóleo aos carros sedentos.
Ao balcão da lojeca,
fazem-se as contas do deve e haver.
Uns tentam a sorte no euromilhões.
Partem sonhando enquanto não vem.
Outros mergulham no tabaco mordendo veneno,
na mortalha mortal.
Na rotunda redonda de quatro saídas,
giram com pressa e brilham faróis.
Pintados de verde, com muitas janelas, os autocarros da Câmara resolvem às dúzias e vencem batalhas
à gente sem carro.
Esguias e perdidas nas bermas,
zumbem caladas as scooters e vespas.
Aqui no café, tilintam as chávenas e ressoma a café,
enquanto nas mesas se racham cavacos com língua afiada e fome de gata.

Café Castelão em Mafra, 6 de Setembro de 2017
9h10m
dia cinzento
Jlmg

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O teu leito…

Tem feitiço o teu leito suave e brando.
Me apela forte como a maré-cheia.
Me banho nele, refresco e lavo as minhas mágoas.
Tem perfume das algas verdes e cheira a acre maresia.
Me acalma deste fervilhar de ondas.
E adormece a sono solto nas tardes quentes de calmaria.
Voo nele às alturas sequiosas do universo.
Me apaixona em fogosas cavalgadas
E alcandora às nuvens feito condor dos Andes pairando sobre à solta,
Nas vastas pradarias.
É o altar sublime onde ofereço aos deuses minhas secretas loucuras
De gamo jovem brincando à chuva…

Ouvindo Albinoni
Café Caracol em Mafra, 7 de Setembro de 2017
9h14m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17726: Blogpoesia (527): "Calhamaço..."; "Ricochete da natureza..." e "Desembecilhar a desordem...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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