quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17800: Os nossos seres, saberes e lazeres (231): Do Yorkshire profundo até Moffat, Sul da Escócia (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 20 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
No desenho inicial da viagem, ainda se supôs que era o momento azado do viandante conhecer a costa ocidental do Yorkshire, ir por ali acima, até ao mar da Irlanda. Mas o grupo insistia em caminhar diretamente para o Sul da Escócia, tinham fundadas razões aqueles septuagenários, desejavam ansiosamente percorrer os trilhos das férias de há 50 ou 60 anos atrás.
A região de Dumfries e Galloway é riquíssima em história, tem belas vilas, casas senhoriais e sobretudo lojas de traquitana, maná para o viandante. Vão ser dias de folguedo que o viandante tem pela frente. E nem se vai falar de uma experiência ímpar, acompanhar do princípio ao fim as eleições britânicas que, tanto quanto parece, estão a mudar as ideias-força do Reino Unido, já se vê o Brexit com outro olhar.
Vamos ter tempo para ver.

Um abraço do
Mário


Do Yorkshire profundo até Moffat, Sul da Escócia (2)

Beja Santos

Esta região do Sul da Escócia por onde o viandante vai cirandar dá pelo nome de Dumfries e Galloway, é território belíssimo, estão aqui algumas das mais espetaculares paisagens escocesas, longos enfiamentos de colinas a declivar para vales úberes, onde correm rios sinuosos, é uma sucessão de charnecas e pastos com ovelhas de muitas cores. Não faltaram aqui guerras entre ingleses e escoceses, e a Reforma destruiu valiosíssimo património. O passeio começou pelas ruínas de Knaresborough Castle, perto de Harrogate, cidade termal do maior interesse ali perto, em visita anterior, o viandante visitou Harewood House, foi casa da Princesa Real Mary, a filha mais velha de Jorge V, é uma preciosidade e com formosos jardins. O viandante veio atraído a Knaresborough por ser propriedade do Duque de Lancastre, há sempre uma ilusão de que vamos encontrar uma referência a D. Filipa, a única rainha que veio de Inglaterra.



Knaresborough é mais de que um castelo arruinado, tem vistas frondosas, uma ponte altaneira sobre o povoado, o viandante teve sorte com o dia e a hora, lá não muito longe vem um encastelado de nuvens escuras, não passará meia hora e todas estas cores vibrantes da natureza primaveril vão esmaecer.



É uma vergonha, impõe-se a confissão pública, perdeu-se o registo de Caerlaverock Castle, que tanto entusiasmou o viandante, ele não descansou enquanto não encontrou uma imagem alusiva, é um extraordinário castelo triangular, um espécime único da arquitetura normanda. Mais adiante, neste memorável dia de passeio infatigável visitou-se outra ruína, Sweetheart Abbey, não é a primeira vez que aqui se refere que os cemitérios em todo o Reino Unido suscitam apaziguamento, não há nada de dor, a expressão mais usada é sempre in lovely memory, por aqui se passeia sabendo que ao pó havemos de voltar, mas é tudo calmaria, nenhuma destas lápides nos amarfanha ou penitencia.


Chegou o momento de nos extasiarmos com o que a natureza oferece, a vegetação, os terrenos murados, uma cabine telefónica e um bilhete-postal a fazer humor, campos e mais campos. Lá ia o carro desabridamente a caminho de Moffat, fora um belíssimo dia, com almoço perto do lago de Santa Maria, e na hora de recolher o viandante sentiu-se fascinado por este oceano de amores-perfeitos, até lhe pareceu uma paisagem subaquática, foi estafando o condutor com pedidos de paragem, disparou em todas as direções para encontrar exemplos frisantes do que a terra escocesa oferece, é tudo largueza, águas ribeirinhas charnecas ondulantes, um suave silêncio. Entardecia quando se entrou em Moffat, a âncora da viagem, escolhida por especiais razões, aqui três irmãos passaram férias na infância e juventude, ficaram marcados pelos afetos e pela paisagem, o viandante aproveitou-se dessa peregrinação de ternura e capitalizou a seu favor. Consta que a Rainha Vitória, a caminho de Balmoral, terá dito que Moffat é a vila mais preciosa da Escócia. O viandante não cede aos encómios, irá tirar imensas imagens do local, ocasiões não faltarão.




Sabem o que estão a ver? Felizmente que o viandante ia na companhia de vários amantes de flores, pediu para se parar e caiu na asneira de dizer que nunca tinha visto um campo com tantas margaridas, houve sorrisos contidos e depois se observou que os ranúnculos na Escócia são incomparáveis.


Está dito à saciedade que o que se vê de Verão não é o que se vê de Inverno ou na Primavera. Em viagem anterior, um tanto apressada, em pleno Verão, aqui se encontraram estas cores. Vasculharam-se bilhetes-postais e muito se gostou deste, são castanhos relampejantes e no vale, em toda a sua largueza, desponta Moffat. Aqui finda o dia, o viandante saúda quem o lê, com todo o apaziguamento que lhe vai na alma.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17781: Os nossos seres, saberes e lazeres (230): De Manchester (em luto) para Leeds, passando pelo Yorkshire profundo (1) (Mário Beja Santos)

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