Foto nº 808 A > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Os homens do sintex, a banhos no mar de Varela (1)
Foto nº 808 > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Os homens do sintex, a banhos o mar de Varela (2)
Foto nº 809 > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Os homens do sintex, a banhos no mar de Varela (3)
Foto nº 25 A > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Com um grupo de jovens felupes (2)
Foto nº 25 B > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Com um grupo de jovens felupes (3)
Foto nº 806 > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Acesso à praia de Varela (1)
Foto nº 807 > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... Acesso à praia de Varela (2)
Foto nº 810 A > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Maio de 1968 > Perdidos no rio... A extensa praia de Varela (2)
[... hoje com graves problemas de erosão; em 20 de Setembro de 2009, o nosso saudoso amigo Pepito escrevia-nos a dizer o seguinte, ilustrado por uma foto. "Varela – o mar está a avançar assustadoramente. Foto tirada em 21 de Junho de 2009. O areal terminal da praia de Varela tem vindo a diminuir anualmente a uma média de perda de costa de 8 metros por ano, provocando a queda das construções inacabadas de uma hipótese de Hotel que nunca chegou a ser e que viu ser 'engolido' pelo mar cerca de 8 milhões de dollars de um estranho investimento. Em certas zonas, o material destruído fica no areal da praia e causa enorme perigo para quem a utiliza, podendo ser ferido por ferros e outro material metálico que se vai gradualmente escondendo debaixo da areia. O mais preocupante é a ausência de alternativas e soluções para minimizar os efeitos da subida da água do mar e da erosão que provoca".]
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):
As fotos, de 801 a 817 (bem como a 25), fazem parte da minha colecção especial e do capítulo ‘perdidos no rio’ [, de que publicamos três postes, sendo este o último] (*)
Foi uma missão que o nosso novo comandante, após a evacuação do meu comandante inicial, tenente coronel Saraiva, ter sido evacuado por ferimentos em combate, não encarou bem comigo, nem eu com ele, e então deu-me como missão ir comandar um sintex até Susana para carregar alguns mantimentos, pois o nosso aquartelamento [, em São Domingos,] estava sem nada, após uma tempestade tropical ter destruído quase tudo o que era perecível.
Até uma vaca viva veio no pequeno barco. Só que no regresso, e após uma visita a Varela, uma praia lindíssima mas abandonada, quando regressamos passados uns dias, o piloto perdeu-se naquele emaranhado de dezenas de rios e braços de rio, e sem rádio – nem telemóvel, naquele tempo... – fomos parar a uma aldeia indígena felupe, muito atrasada, nem sei o nome, e por lá ficamos.
Até ser dada a nossa falta, por lá ficamos a esperar até de manhã. Veio um heli e localizou-nos e fomos encaminhados para um local onde o piloto já conhecia melhor, e assim chegamos a São Domingos, a salvo, de sermos comidos vivos, pelos felupes ou pelos jacarés…
Este episódio não consta na História da Unidade, pois soube mais tarde que o comandante de batalhão, tenente coronel Renato Xavier, ficou aflito, por ter dado esta responsabilidade a um oficial não operacional, e assim, apesar de todos tomarem conhecimento, nunca foi divulgado nem escrito, foi um sonho ou pesadelo. Mas não me lembro de ter ficado amedrontado.
Ficaram as várias fotos que tenho desta aventura no Norte da Guiné, e na fronteira com o Senegal até Cabo Roxo, que visitamos também. Não foi tudo mau, mas poderia ser!
Deu tempo para conhecer também o estuário e foz do rio Cacheu, muito maior do que o Tejo. Uma coisa deslumbrante, pois estamos quase em cima do Atlântico e o clima é muito melhor.
_____________
Nota do editor:
(*) Vd. postes anteriores da série:
6 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18180: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VII: Perdidos no rio Cacheu, em maio de 1968 (2)
As fotos, de 801 a 817 (bem como a 25), fazem parte da minha colecção especial e do capítulo ‘perdidos no rio’ [, de que publicamos três postes, sendo este o último] (*)
Foi uma missão que o nosso novo comandante, após a evacuação do meu comandante inicial, tenente coronel Saraiva, ter sido evacuado por ferimentos em combate, não encarou bem comigo, nem eu com ele, e então deu-me como missão ir comandar um sintex até Susana para carregar alguns mantimentos, pois o nosso aquartelamento [, em São Domingos,] estava sem nada, após uma tempestade tropical ter destruído quase tudo o que era perecível.
Até uma vaca viva veio no pequeno barco. Só que no regresso, e após uma visita a Varela, uma praia lindíssima mas abandonada, quando regressamos passados uns dias, o piloto perdeu-se naquele emaranhado de dezenas de rios e braços de rio, e sem rádio – nem telemóvel, naquele tempo... – fomos parar a uma aldeia indígena felupe, muito atrasada, nem sei o nome, e por lá ficamos.
Até ser dada a nossa falta, por lá ficamos a esperar até de manhã. Veio um heli e localizou-nos e fomos encaminhados para um local onde o piloto já conhecia melhor, e assim chegamos a São Domingos, a salvo, de sermos comidos vivos, pelos felupes ou pelos jacarés…
Este episódio não consta na História da Unidade, pois soube mais tarde que o comandante de batalhão, tenente coronel Renato Xavier, ficou aflito, por ter dado esta responsabilidade a um oficial não operacional, e assim, apesar de todos tomarem conhecimento, nunca foi divulgado nem escrito, foi um sonho ou pesadelo. Mas não me lembro de ter ficado amedrontado.
Ficaram as várias fotos que tenho desta aventura no Norte da Guiné, e na fronteira com o Senegal até Cabo Roxo, que visitamos também. Não foi tudo mau, mas poderia ser!
Deu tempo para conhecer também o estuário e foz do rio Cacheu, muito maior do que o Tejo. Uma coisa deslumbrante, pois estamos quase em cima do Atlântico e o clima é muito melhor.
_____________
Nota do editor:
(*) Vd. postes anteriores da série:
6 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18180: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VII: Perdidos no rio Cacheu, em maio de 1968 (2)
7 comentários:
Caro camarada Virgílio Teixeira
As fotos com que nos tens presenteado são, de facto, preciosas.
Com elas podemos mostrar a quem estiver connosco a apreciar este repositório de memórias que é o "nosso Blogue", como se foi vivendo naqueles tempos e lugares.
Não me vou alongar no comentário.
Podia fazer algumas considerações, elogiosas, sobre o facto de alguém da "administração militar" se 'aventurar' a andar pelo mato mas isso fica para outra ocasião.
Quero apenas salientar, com alguma ironia, que a foto 808 e 808A mostram, para quem quiser ver, que apesar das dificuldades alimentares com que nos fomos deparando e de que por aqui, não poucas vezes, se foi dando conta, que isso não foi assim para todos, já que um dos fotografados apresenta um 'perímetro' respeitável.....
Hélder Sousa
Boa noite,
Varela , estas árvores que se vêm nas fotos, já foram levadas pelo mar.
Tenho aqui perto uma pequena palhota para passar alguns fins de semana. Há 20 anos estava a mais de 250mt do mar, agora o mar já está muito mais perto; dentro de algum tempo, já posso pescar com a cana, a partir da minha varanda…
Neste mesmo local numa clareira, aterraram os helicópteros da Fragata Vasco da Gama, para recolher os Portugueses que aqui estavam encurralados na guerra de 1998.
Foi num destes helis, que o nosso saudoso Pepito, saiu.
Eu também aqui estava…
Mas tinha por missão ajudar a sair outros Portugueses que se encontravam no interior, em Canchungo e Cacheu. Como não apareceram às horas combinadas… estive em S. Domingos e depois em Ingoré, (sem combustível e em situação de guerra) à procura deles… de onde a partir dos rádios da Missão Católica, comuniquei com a fragata a informar que estavam atrasados para a sua evacuação…
- Ao fim do dia, também saí desta praia numa canoa Nhominca, acompanhando os últimos 10 portugueses que quiseram sair, assim como de outras nacionalidades e que a Fragata autorizou o embarque…
Como destino, “o pôr do sol”… passados 18 milhas mar adentro, lá encontramos a nossa frota com 3 navios dos “filhos da escola”, que na parte final nos vierem cumprimentar nos botes e mandar subir pela escada de corda, para a Vasco.
Já não foi possível os helis voltarem a aterrar na praia, havia quem os quisesse deitar abaixo… mas fomos acompanhados pelo ar, de onde recebíamos ordens, por vezes mandavam-nos desviar de alguns obstáculos, que havia no mar …
Patrício
O que nos relatas, de forma sucinta, certamente que daria para um filme de acção e 'suspense' com muitas peripécias.
Sobre o avanço do mar, desconfio que isso pode ser 'ilusão de óptica'. Tenho ouvido e lido o que o presidente Trump considera sobre 'alterações climáticas' e por isso acho que pode haver algum exagero nessa coisa das árvores terem sido levadas pelo mar. Se foram é porque faziam falta nalgum lugar.
Quanto aos episódios com a evacuação de compatriotas aquando da guerra de 1998 não tenho dúvidas de que a tua experiência militar muito contribuiu para o sangue-frio que te foi necessário ter para resolver as contrariedades.
E, lá está, mais um meritório serviço prestado pelos "filhos da Escola", que muito fizeram e a quem não tem sido dada a devida visibilidade.
Hélder Sousa
Espantosas as fotos desta série, "perdidos no rio"... Têm uma enorme interesse diocumental, para nós e para os guineenses...
Para já, era impensável no meu tempo e no meu setor (1969/72, zona leste, L1), uma operação ou missão logística deste tipo: um alferes mil SAM a comandar uma secção (10 militares armados de G3, num sintex rio Cacheu acima, rio Cacheu abaixo)...
No setor L1, ninguém se atrevereia a vir de sintex do Xime ou Bambadinca, rio Geba acima... O outro rio, o Corubal, estava interdito... Por estrada, p+ara levar géneros a Mansambo, Xitole ou Saltinho era preciso fazer uma operação a nível de batalhão: duas companhias, 6 a 8 grupos de combate, algumas dezenas de viatutas, militares e civis... Gastava-se uma boa parte da energia e dos recursos nas operações logísticas... O setor L1 tinham 1200/1300 homens em aramas (contando com milícias)...
Por outro lado, aqueles bravos militares da CCS/BCAÇ 1933, comandados pelo valente Virgílio Teixeira, parecem náufragos numa ilha... Estão a imaginar o filme que esta hist´roia podia dar ?!...
Virgílio, manda mais da tua "arca do Ali Babá"... Afinal tinham estas preciosidades de slides e fotos e estavas relutante, desde 2013, a mostrá-las à rapaziada... Os nossos álbuns fotoráficos da Guiné podem e devem ser mostrados e partilhados... Com boas legendas como as que tu mandas... Mesmo assim, "quem não souber ler, vê os bonecos"... E os "bonecos" continuam a mexer connosco...
Os meninos felupes, hoje globalizados, pelo menos, poderão ver como era a praia de Varela há meio século atrás... E se calhar até reconhecer pais, avós e tios...
Caros camaradas Valério, Patrício e Luís Graça:
Realmente tudo isto é um espanto! Eu sou mesmo fanático pela Guiné, e apesar da minha 'especialidade' eu quase nunca liguei a ela, tinha os Furriéis e Cabos para fazerem o trabalho e o Tesoureiro para ir buscar o dinheiro para a passarada. No sector L1 o Comando do meu batalhão tinha 17 unidades independentes com cerca de 3000 homens. Foi aí que estive os primeiros 5 meses, mas a minha 'guerra' era andar por fora, nunca fui homem de secretaria. Era o braço direito do Comandante do Batalhão e isso dava-me alguns privilégios, como puder ir nas colunas para todo o sitio, visitar as companhias onde quer que estivessem. Penso que a idade e o estado quase permanente de algum álcool a mais, tirava-me o discernimento de ver as coisas como eram, e assim levei a minha vida e depois em S. Domingos foi porrada da forte, para todos, incluindo para mim, as ameixas não traziam código postal.
Este episódio da viagem a Susana / Varela foi uma excepção a tudo, até nós ficamos espantados como fomos nesta aventura, depois Varela e Cabo Roxo - com as Francesas a ver um grupo de 'Legionários' fardados e armados de G3 num Unimog, devem ter pensado onde é que estavam, para nós foi uma experiência única, inesquecível. O nosso homem de grande volume, é o meu amigo de Escola no Porto, o Furriel Pinto - também chamado entre a malta de 'Pinto Rebolo e Bola' ele já foi para lá assim gordo, era um dos meus ajudantes, um bom homem, formou-se em Direito, fez advocacia, mas continuou com a propaganda médica. Os restantes eram obviamente todos magros, começando comigo com os meus 47 kgs.
Varela era um Oásis, no meio daquela coisa toda, lamento se está tão degradada. Eu já fui 4 vezes à Guiné, entre 1984 e 1985, depois não fui mais, mas prometi a mim mesmo que não vou morrer sem lá voltar. Não cheguei a ver tudo o que queria, mas também não havia nada para ver...
Eu vou partilhando as minhas recordações, acho que tenho muito material para a malta ver, coisas que nunca viu.
Estou a propor ao Arquivo Histórico do Exército a cedência do meu espólio fotográfico, mas parece que isto passa por um crivo muito apertado, e o mais certo é não vir a concretizar-se. Eu já tenho as digitalizações todas, e chegam-me, para mim, para os filhos, netos e vindouros.
Um abraço a todos,
Virgilio Teixeira
Em, 08-01-2018
O Patrício Ribeiro não é por acaso que era conhecido em Bissau, ainda até há pouco, como o "pai dos tugas"... Os jovens, cooperantes, rapazes e raparigas, tinham por ele um enorme respeito e admiração na altura em que o meu filho, João Graça, o conheceu em dezembro de 2009, em Bissau...
Esta história do resgaste de diversos portugueses e outros, em plena guerra civil de 1998, perdidos em Varela, Canchungo e Cacheu, devia merecer honras de título de caixa alta nos jornais da época e nas parangonas dos telejornais... Não me dei conta que isso tenham acontecido... Mas é uma história de heroísmo!...
Ouvi-a contar ao saudoso Pepito, um dos "encurralados" em Varela, onde também tinha casa de praia, aquando da guerra... O Patrício conseguiu metê-lo no helí da Fragata Vasco da Gama, ancorada a 18 milhas, com mais 2 navios de apoio...
Já sabia, além disso, que na impossibilidade de voltar o heli a Varela, o Patrício se metera na sua canoa nhominca, levando mais um grupo (10 pessoas, de nacionalidade portuguesa e outras...) ao fim da tarde, pelo mar fora, até à fragata salvadora!...
18 milhas numa canoa nhominca, embarcação em que ele é perito e que muito admira!...
Esta história incrível tem de ser melhor conhecida de todos nós... O Ribeiro Patrício, que é um homem modesto, mas um verdadeiro "filho da escola" da Armada, já há muito que deveria ter sido condecorado no 10 de junho por este feito de grande coragem e altruísmo!...
Se istro não é heroísmo, então eu nunca vi um herói!
Reparem: ele ficou n Guiné, não abandonou a Guiné, mesmo em plena guerra de 1998/99... O Pepito e a família, cuja casa no bairro do Quelélé, em Bissau, foi pilhada e destruída pela soldadesca senegalesa, que apoiava o 'Nino' Vieira, esteve refugiado em Cabo Verde, creio que à volta de um ano... O Pepito tinha nacionalidade guineense, e este foi um dos acontecimentos marcantes da sua vida... Voltou à Gyiné. para recomeçar a sua vida... O Patrício Ribeiro, por sua vez, é português, é alias o português mais guinéu da Guiné-Bissau... onde vive e trabalha há quase 4 décadas...
Enfim, o Patrício Ribeiro, agora com 70 anos, está a começar a "abrir o livro"... Um homem que sabe muito, saberá até de mais, pelos círculos em que se move, mas sempre o achei uma pessoa cautelosa, discreta, e fiável...
Enfim, Vvou fazer um poste com o seu comentário... LG
Meu caro Patrício
O estado em que se encontra a Praia de Varela deve-se somente à erosão e ao avanço do mar ?
A extração de areias pesadas na zona não estarão também a ter influência nessa situação ?
Abraço
Carlos Silva
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