Alcácer do Sal > 28 de janeiro de 2018 > A frente ribeirinha, ao pôr do sol, vista da moderna ponte pedonal que faz a "cambança" do rio Sado...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário do Fernando de Sousa Ribeiro:
Luís, o texto intitulado "Alentejanos de pele escura" é meu! Fui eu que o escrevi! Juro que fui eu! O texto é meu, desde as quadras populares (exclusive, claro) até ao fim. [. Ou seja, excluimdo os três primeiros parágrafos.]
O que o blogue "Comporta - Opina" fez foi transcrever ipsis verbis o conteúdo de um post publicado em 2009 num fórum neonazi (!!!), chamado Stormfront, por um membro do dito fórum que usa o nick "Looking for a fight", que talvez seja um antirracista infiltrado no fórum. O poste está neste endereço: https://www.stormfront.org/forum/t592627/.
O membro do fórum "Looking for a fight" indicou os endereços de onde retirou os textos que transcreveu, mas o blog "Comporta - Opina" omitiu-os.
O texto "Alentejanos de pele escura" foi publicado pela primeira vez em 2008 no blogue "Da Kappo" (escrito propositadamente com K), da angolana Paula Santana, que é economista, vive em Londres e usa o nick Koluki.
O texto "Alentejanos de pele escura" foi publicado pela primeira vez em 2008 no blogue "Da Kappo" (escrito propositadamente com K), da angolana Paula Santana, que é economista, vive em Londres e usa o nick Koluki.
Um dia, Koluki convidou-me a escrever um poste destinado a ser publicado no seu blogue, sobre um tema que eu muito bem entendesse. Como Koluki é negra, lembrei-me de falar sobre os negros que deram origem aos "mulatos de Alcácer".
"Como é que um gajo do Porto se atreveu a escrever sobre pessoas de Alcácer do Sal?", poderás perguntar. Por incrível que pareça, tudo começou na tropa!
Em Mafra, numa das casernas destinadas aos cadetes do 1.º ciclo do COM [, Curso de Oficiais Milicianos], eu partilhei um beliche com um "mulato de Alcácer". Ele dormia na cama de cima e eu na de baixo.
"Como é que um gajo do Porto se atreveu a escrever sobre pessoas de Alcácer do Sal?", poderás perguntar. Por incrível que pareça, tudo começou na tropa!
Em Mafra, numa das casernas destinadas aos cadetes do 1.º ciclo do COM [, Curso de Oficiais Milicianos], eu partilhei um beliche com um "mulato de Alcácer". Ele dormia na cama de cima e eu na de baixo.
Não consigo lembrar-me do nome dele, por mais que me esforce. Do que eu me lembro (bem demais) é do seu aspeto nitidamente mestiço, da sua inconfundível pronúncia alentejana, assim como do racismo de que ele era vítima por parte de alguns outros cadetes instalados na caserna. Este "mulato" era troçado e gozado por eles de todas as formas e feitios, naquilo que agora se chama "bullying".
Como eu não o gozava, e além disso partilhava o beliche com ele, esse "mulato" deu-se bem comigo e contou-me as suas origens e a razão de ser do seu aspeto físico. Ele foi um excelente companheiro, que sofria muitíssimo com as manifestações de racismo de que era alvo, apesar de ser um português da Metrópole como os restantes cadetes.
Mais tarde, no meu pelotão em Angola, houve um soldado que era de Grândola, chamado Nunes. De vez em quando, este soldado fazia referências aos "mulatos de Alcácer", nas conversas que tinha comigo e com o resto do pelotão.
Depois de ter passado à disponibilidade e ao longo dos anos que se seguiram, continuei a ter uma certa curiosidade pelos "mulatos de Alcácer". Fui a Alcácer do Sal várias vezes, assim como a Grândola e ao Torrão, além de ter percorrido a Ribeira do Sado. Fui, nomeadamente, a S. Romão, que é, aliás, uma aldeia muito pequena.
Quando a angolana Koluki me convidou a escrever um artigo para o seu blog, fui à Biblioteca Pública Municipal do Porto consultar a bibliografia que lá existisse sobre os "mulatos de Alcácer" (escassíssima, para minha grande surpresa), no sentido de refrescar a memória e completar a informação que eu próprio tinha sobre o tema.
Mais tarde, no meu pelotão em Angola, houve um soldado que era de Grândola, chamado Nunes. De vez em quando, este soldado fazia referências aos "mulatos de Alcácer", nas conversas que tinha comigo e com o resto do pelotão.
Depois de ter passado à disponibilidade e ao longo dos anos que se seguiram, continuei a ter uma certa curiosidade pelos "mulatos de Alcácer". Fui a Alcácer do Sal várias vezes, assim como a Grândola e ao Torrão, além de ter percorrido a Ribeira do Sado. Fui, nomeadamente, a S. Romão, que é, aliás, uma aldeia muito pequena.
Quando a angolana Koluki me convidou a escrever um artigo para o seu blog, fui à Biblioteca Pública Municipal do Porto consultar a bibliografia que lá existisse sobre os "mulatos de Alcácer" (escassíssima, para minha grande surpresa), no sentido de refrescar a memória e completar a informação que eu próprio tinha sobre o tema.
Finalmente escrevi o pequeno texto que a blogger Koluki publicou em 2008 e eu próprio reproduzi no meu blog pessoal em 2012.
A concluir, lembro-me de uma canção que foi um grande êxito há uns quantos anos, chamada As Meninas da Ribeira do Sado. Em parte nenhuma da canção é referida a cor da pele das ditas meninas, e por isso toda a gente pensa que elas são tão brancas como as outras alentejanas. Mesmo assim, pergunto-me se não haverá algum racismo nesta canção, que troça das meninas da Ribeira do Sado, assim como foi troçado o cadete de Alcácer do Sal com quem partilhei o meu beliche em Mafra.
Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, CCAÇ 3535 do BCAÇ 3880, Angola 1972-74
A concluir, lembro-me de uma canção que foi um grande êxito há uns quantos anos, chamada As Meninas da Ribeira do Sado. Em parte nenhuma da canção é referida a cor da pele das ditas meninas, e por isso toda a gente pensa que elas são tão brancas como as outras alentejanas. Mesmo assim, pergunto-me se não haverá algum racismo nesta canção, que troça das meninas da Ribeira do Sado, assim como foi troçado o cadete de Alcácer do Sal com quem partilhei o meu beliche em Mafra.
Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, CCAÇ 3535 do BCAÇ 3880, Angola 1972-74
2. Comentário do editor Luís Graça:
Fernando, o seu a seu dono... Eu tinha visto o teu texto, "Alentejanos de pele escura", no blogue A Matéria do Tempo", de Fernando Ribeiro [ 18 de abril de 2012 > Alentejanos de pele escura], nome que só agora relaciono com a tua pessoa...
Fernando Ribeiro, engenheiro, do Porto, só podias ser tu... Pelo nome, e sobretudo pelos conteúdos... Aliás, o blogue já era meu conhecido e seguido por mim, ocasionalmente... Reparo agora, com mais atenção, que já existe desde dezembro de 2005, e tem entre os seus "companheiros de jornada" o nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.). Obrigado, e sobretudo parabéns, o teu é um blogue de grande qualidade, temática e literária... Por que é que nunca me falaste dele antes ?
Mas vi que este teu texto, com maiores ou menores acrescentos (e sobretudo imagens) estava "espalhado" pela Net, desde 2010 a 2019... Tendo tido dúvidas sobre a fonte original, e sobretudo o autor, acabei por "encalhar" no blogue "Comporta-Opina", para mais tinha umas belas gravuras que me convinha reproduzir. Enfim, devia ter apurado a minha pesquisa...
O poste da "Comporta-Opina" é de 2010, mas afinal de contas o texto original é teu, e é mais antigo, é de 2008: como dizes, foi publicado pela primeira vez em 2008, sob pseudónimo ("Denudado", o teu "nickname"), no blogue "Da Kappo", da angolana Paula Santana ("Koluki"). E eu confirmo, acabei por descobrir aqui o link, que reproduzo:https://koluki.blogspot.com/2008/07/be-my-guest-ii-denudado.html.
O lapso foi involuntário, mas aqui fica o meu/nosso pedido de desculpa... Nestes casos, costumo/costumamos dar a mão à palmatória. (**)
Deixa-me acrescentar que lamento a "praga" do plágio e de outras práticas desonestas, de violação da propriedade intelectual... O mínimo que temos que é é dar o seu a seu dono, citado as fontes... Enquanto professor na Escola Nacional de Saúde Pública, apanhei para aí uma dúzia de casos de "pirataria" em trabalhos académicos (em cursos de pós-graduação, mestrado e até doutoramento)... Nunca humilhei ninguém por isso, tinha sempre uma "conversa particular" com o/a prevaricador/a, e dava-lhe uma segunda oportunidade para refazer o trabalho...
Fernando, o seu a seu dono... Eu tinha visto o teu texto, "Alentejanos de pele escura", no blogue A Matéria do Tempo", de Fernando Ribeiro [ 18 de abril de 2012 > Alentejanos de pele escura], nome que só agora relaciono com a tua pessoa...
Fernando Ribeiro, engenheiro, do Porto, só podias ser tu... Pelo nome, e sobretudo pelos conteúdos... Aliás, o blogue já era meu conhecido e seguido por mim, ocasionalmente... Reparo agora, com mais atenção, que já existe desde dezembro de 2005, e tem entre os seus "companheiros de jornada" o nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.). Obrigado, e sobretudo parabéns, o teu é um blogue de grande qualidade, temática e literária... Por que é que nunca me falaste dele antes ?
Mas vi que este teu texto, com maiores ou menores acrescentos (e sobretudo imagens) estava "espalhado" pela Net, desde 2010 a 2019... Tendo tido dúvidas sobre a fonte original, e sobretudo o autor, acabei por "encalhar" no blogue "Comporta-Opina", para mais tinha umas belas gravuras que me convinha reproduzir. Enfim, devia ter apurado a minha pesquisa...
O poste da "Comporta-Opina" é de 2010, mas afinal de contas o texto original é teu, e é mais antigo, é de 2008: como dizes, foi publicado pela primeira vez em 2008, sob pseudónimo ("Denudado", o teu "nickname"), no blogue "Da Kappo", da angolana Paula Santana ("Koluki"). E eu confirmo, acabei por descobrir aqui o link, que reproduzo:https://koluki.blogspot.com/2008/07/be-my-guest-ii-denudado.html.
O lapso foi involuntário, mas aqui fica o meu/nosso pedido de desculpa... Nestes casos, costumo/costumamos dar a mão à palmatória. (**)
Deixa-me acrescentar que lamento a "praga" do plágio e de outras práticas desonestas, de violação da propriedade intelectual... O mínimo que temos que é é dar o seu a seu dono, citado as fontes... Enquanto professor na Escola Nacional de Saúde Pública, apanhei para aí uma dúzia de casos de "pirataria" em trabalhos académicos (em cursos de pós-graduação, mestrado e até doutoramento)... Nunca humilhei ninguém por isso, tinha sempre uma "conversa particular" com o/a prevaricador/a, e dava-lhe uma segunda oportunidade para refazer o trabalho...
A nota final, naturalmente, ressentia-se. Mas cheguei a dar zero a um grupo de médicos estrangeiros que copiaram um trabalho uns pelos outros... Uma coisa "tosca", "grosseira"... Nos outros casos, havia sempre uma história pelo meio: gente com dificuldades (, a começar pelos estrangeiros que são admitidos em Portugal como médicos e não dominam o português escrito e falado), mas também de alunos, mães e pais, profissionais de saúde, para mais, que tinham dificuldade em lidar com o stress conjugado da vida académica, familiar e profissional...
"Copiar" é sempre mais fácil do que "criar", mas é um "crime" que acaba por dar nas vistas, mais tarde ou mais cedo, e por não compensar... Eu costumava avisar os meus alunos, logo de início: "A cometerem um crime, que seja um crime perfeito"...
Obviamente, há aqui problemas éticos e deontológicos graves, mas também disciplinares e legais... A Academia só há pouco anos começou a levar estes casos a sério... Mas fico-me por aqui... LG
________________
"Copiar" é sempre mais fácil do que "criar", mas é um "crime" que acaba por dar nas vistas, mais tarde ou mais cedo, e por não compensar... Eu costumava avisar os meus alunos, logo de início: "A cometerem um crime, que seja um crime perfeito"...
Obviamente, há aqui problemas éticos e deontológicos graves, mas também disciplinares e legais... A Academia só há pouco anos começou a levar estes casos a sério... Mas fico-me por aqui... LG
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20194: Blogues da nossa blogosfera (111): os alentejanos de pele escura: "Ribeira do Sado, / Ó Sado, Sadeta, / Meus olhos não viram / Tanta gente preta." (Blogue Comporta - Opina, 2/1/2010)
(**) Último poste da série > 14 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19977: Dando a mão à palmatória (31): o A. Marques Lopes, coronel DFA, reformado, um dos históricos da Tabanca Grande, não é atirador de artilharia mas... de infantaria. Pedido de desculpa ao próprio e aos demais "infantes"...
(*) Vd. poste de 1 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20194: Blogues da nossa blogosfera (111): os alentejanos de pele escura: "Ribeira do Sado, / Ó Sado, Sadeta, / Meus olhos não viram / Tanta gente preta." (Blogue Comporta - Opina, 2/1/2010)
(**) Último poste da série > 14 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19977: Dando a mão à palmatória (31): o A. Marques Lopes, coronel DFA, reformado, um dos históricos da Tabanca Grande, não é atirador de artilharia mas... de infantaria. Pedido de desculpa ao próprio e aos demais "infantes"...
10 comentários:
mulato | adj. s. m.
mu·la·to
(espanhol mulato)
adjectivo e substantivo masculino
1. Que ou quem nasceu de mãe branca e pai negro ou de pai branco e mãe negra.
2. [Por extensão] O que tem cor escura ou acastanhada. = MORENO, TRIGUEIRO
"mulato", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mulato [consultado em 02-10-2019].
A origem etimológica da palavra "mulato", é controversa, mas pode ter uma conotação racista... É preferível usar o termo "mestiço" ? Há que defende que a palavra mulato / mulata é linda, e não há razão para a mandar para o "inferno do nosso léxico", por causa do fundamentalismo do "politicamente correto"...
Veja-se aqui a opinião do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:
(...) A origem etimológica desta palavra não é muito abonadora. Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, designava inicialmente o macho mestiço de cavalo com jumenta ou de jumento com égua, o mulo. Os dicionários Aurélio e Houaiss indicam como origem a palavra espanhola mulato [1525) [«'macho jovem', por comparação da geração híbrida do mulato com a do mulo, de mulo (1042), 'macho'»]. A partir do século XVI passou a ser utilizado para designar o mestiço de branco com negro.
N.E. – Ainda sobre a origem controversa da palavra mulato, cf. estes textos mais recentes: Historiadora defende que a palavra ‘mulata’ não vem de mula + Para encerrar polêmica, historiadora garante: mulata não vem de mula
https://bahia.ba/entretenimento/historiadora-defende-que-palavra-mulata-nao-vem-de-mula/
http://rubensnobrega.com.br/2017/02/23/para-encerrar-polemica-historiadora-garante-mulata-nao-vem-de-mula/
Amílcar Caffé 5 fev. 1999 (...)
Além disso, faz parte de topónimos portygueses: por exemplo, Vale de Mulatas, em Setúbal...
Como chegar lá ?... Para os aventureiros, aqui vai uma dica:
https://moovitapp.com/index/pt/transportes_p%C3%BAblicos-Estrada_Vale_De_Mulatas-Lisboa-street_6215748-2460
E quem não se lembra da fabulosa letra do "Fado Tropical", de Chico Buarte ?... Lá vem a refrência às mulatas... do Alentejo.
(...) Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa
Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas de Alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal (...)
https://www.youtube.com/watch?v=HiN5AqGaSM8
E na minha terra, Lourinhã, na freguesia de Moita dos Ferreiros, existe o Casal Mulato ou do Mulato...
https://codigopostal.ciberforma.pt/codigo-postal/casal-do-mulato/moita-dos-ferreiros/2530-465/
E o que é que a gente faz à mulata de Paquetá, a querida amiga do nosso (e deles, brasileiros) Dom João VI ? ... O Valdemar Queiroz que nos (re)conte a história... que é deliciosa. Podemos lá imaginar o (nosso) mundo sem "mulatchinhas"
23 DE MARÇO DE 2014
Guiné 63/74 - P12886: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte X): Quando a corte dos Lacraus chegou a Canquelifá...
Chico Buarque foi "politicamente (in)correto" ao trocar a "mulata" pela "morena!, na letra e música escreveu para Clara Nunes, "Morena de Angola" (originalmente interpretada por Clara Nunes no álbum Brasil Mestiço, lançado em 1980, e um dos maiores sucessos da cantor brasileira)...
Há quem pense que é uma letra infeliz, dado o contexto (brutal guerra civil em Angola) em que foi escrita a letra (propagandística) e composta a música (festiva)...
https://pt.wikipedia.org/wiki/Morena_de_Angola
Morena de Angola
Chico Buarque
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Será que a morena cochila escutando o cochicho do chocalho
Será que desperta gingando e já sai chocalhando pro trabalho
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Será que ela tá na cozinha guisando a galinha à cabidela
Será que esqueceu da galinha e ficou batucando na panela
Será que no meio da mata, na moita, a morena inda chocalha
Será que ela não fica afoita pra dançar na chama da batalha
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Passando pelo regimento ela faz requebrar a sentinela
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Será que quando vai pra cama a morena se esquece dos chocalhos
Será que namora fazendo bochincho com seus penduricalhos
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Será que ela tá caprichando no peixe que eu trouxe de Benguela
Será que tá no remelexo e abandonou meu peixe na tigela
Será que quando fica choca põe de quarentena o seu chocalho
Será que depois ela bota a canela no nicho do pirralho
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Eu acho que deixei um cacho do meu coração na Catumbela
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA
https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45148/
O correto ou incorreto no Brasil, está a maior confusão sobre a definição de preto, negro, mulato, moreno, crioulo, crioulinho, crioulão, mulato sarárá, etc...atenção, conforme a disposição do atingido, pode dar queixa crime.
Não está fácil descalçar a bota, talvez com um novo acordo ortográfico, como o português do Brasil é muito rico, um dia se resolva para bem de todos, brancos pretos e mestiços, nesta confusão em que os nportugueses «foramos» os principais responsáveis, pela confusão criada.
Luis
Obrigado por te lembrares da '.... Mulata de Paquetá' e por isso do ex.fur.mil Aurélio Duarte infelizmente já falecido.
Valdemar Queiroz
Luís Graça, a seguir ao 25 de Abril, o "Fado Tropical", de Chico Buarque, foi muito tocado pelas rádios angolanas, incluindo a própria Emissora Oficial de Angola. Mesmo muito. A corrosiva ironia da letra desta canção adquiria, em Angola, significados que nunca terão passado pela cabeça dos seus autores. As palavras «Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal», por exemplo, chocava frontalmente com o que tinha sido dito durante anos e anos pela propaganda do Estado Novo, de que «Angola é Portugal». De repente, alguém vinha dizer, ainda que recorrendo à ironia, que afinal Angola (ainda) não era Portugal. A própria Emissora Oficial o dizia!
O 25 de Abril demorou muito tempo a chegar a Angola. O MFA não estava tão implantado em Angola como estava na Guiné, nem pouco mais ou menos. A libertação dos presos políticos do campo de concentração de S. Nicolau (o "Tarrafal" angolano) só ocorreu em meados de maio de 1974. Houve mesmo uma tentativa de conservar a PIDE ativa, rebatizada "Polícia de Informação Militar"!
Os meios nacionalistas, porém, é que não perderam tempo e (já que estamos no campo da música) em junho de 1974, quando ainda não se tinha chegado sequer a algum acordo definitivo de cessar-fogo, já as rádios angolanas tocavam uma canção que apelava à independência do território, incluindo estações de rádio que dois meses antes encerravam as suas emissões com o hino "Angola é nossa"! A canção a que me refiro chamava-se "Angolano segue em frente", era da autoria de um cantor muito popular chamado Alberto Teta Lando e pode ser ouvida aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=O23MLzAQhH0.
Depois do enorme êxito desta canção e de outras de teor semelhante que entretanto foram aparecendo, tornou-se evidente que a questão que se colocava não era se Angola iria ser independente, mas sim quando.
Fernando de Sousa Ribeiro
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