segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Guiné 61/4 - P20189: A galeria dos meus heróis (33): Jorge Levi, o "caluanda" que foi desertor do exército colonial por acidente... (Luís Graça)



Angola > Luanda > Ilha de Luanda > Restaurante Coconuts > 19 de Setembro de 2004 > Em frente a praia, privativa ou quase. Com seguranças, em todos os lados. O apartheid do dinheiro. Uma almoço de peixe grelhado com vinho ficava então, no mínimo, entre 40 a 50 dólares (o equivalente ao salário mínimo na função pública, em Angola)... Estive em Luanda, pela primeira vez,  em 2003.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2004). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





O autor, em Contuboel,
c. junho/julho d
e 1969.  Foto: Luís Graça

A galeria dos meus heróis > Jorge Levi,o caluanda que foi desertor da guerra colonial por acidente


 Há uma nova versão, aumentada e melhor,  vd. poste P23094 (*)


15 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre a btalha de Mongua, há um artigi recente no "Revista Militar", n~2584, maio de 2017, da autoria de Artur Pina Guedes Osório.


https://www.revistamilitar.pt/artigo/1243

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Amato Lusitano era o nome porque era mais conhecido o maior médico português do séc. XVI: Dr. João Rodrigues (Castelo Branco, 1511 — Salonica, 1568) era um cristão-novo, infelizmente perseguido pelo anti-semitismo... Morreu em Salónica, Grécia, sob o império otomano. Deu o nome ao atual hospital de Castelo Branco, que fez 40 em 2017.

Antº Rosinha disse...

Mongua, quer dizer em português, Sal. É um lugar sem gente, desértico e no tempo seco (cacimbo) nem água existe.
Pertence a uma região de Cuanhamas, Cuamatos, Humbes, isto explicado de uma maneira ligeira.

Pertence a um espaço enorme sem água numa extenção entre o Rio Cunene e o rio Cubango, espaçados de 400 quilómetros um rio do outro.

Esse «deserto» estende-se ao longo da fronteira Angola/Namibia (Sudoeste Alemão), fronteira essa demarcada pelo paralelo 16 definido na coferência-de-berlim.

Era maior o deserto do lado alemão.

Aquelas tribos estavam dos dois lados, mas amavam mais os alemães do que os portugueses.

Os alemães em sinal desse amor deram Mauser àquelas tribos para correrem com os malvados dos portugueses, (1915)e fizeram a mesma coisa no norte de Moçambique.

Os Cuanhamas tiveram o azar de os alemães perderem a guerra...!

De referir que os Cuanhama, em 1974 viviam no seu habitat na paz de Deus, nem imposto pagavam, e até hoje nunca mais foram eles, ao que me consta.

Mas isto são outras histórias que dava para mil «romances» alheios a este blog.

Antº Rosinha disse...

Luanda foi para esses jovens tipo Levi, nos anos 50/60 um paraiso na terra.

Para todos os Levi, todos os Silvas e quem viesse, o mundo estava nas mãos de todos.

Tambem havia paraisos em Lisboa ou Porto, ou Coimbra, mas aí não dava para todos os Levis e Silvas, dava só para poucos, daí não haver termos de comparação.

Não entravam armas de qualquer espécie na Ilha de Luanda, nem canivetes, o fato de banho não tinha algibeiras.

E a tanga dos pescadores da aldeia dos pescadores da Ilha, (preservada) tambem não escondia armas.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, são mil e uma histórias que estão por contar... Nunca fui para essas bandas, ainda gostava de conhecer o Cunene, e já agora Cabinda... Mussulo, a sul de Luanda, foi "o mais longe que fui"...

Mas já não tenho nem tempo nem pernas... e sobretudo dinheiro e disposição para uma viagem dessas... de Cabinda ao Cunene... Confesso também que sei muito pouco sobre a ocupação efetiva de Angola, e sobretudo no sul / sudeste...

Está tudo ligado, Angola, Guiné, Moçambique, desde que se abriu a "Caixinha de Pandora" que foi a Conferência de Berlim... Sobre as "campanhas de pacificação do sul de Angola, e sobretudo a guerra contra os cuamatas, temos um especialista na Tabanca Grande, o cor art ref Nuno Rubim... Vou ver se ele quer publicar algum material (tem imenso!) sobre essas guerras de há mais de um século...

Obrigado pelas tuas dicas... Já não há "africanistas" como tu... LG

Antº Rosinha disse...

Em angola vivia-se muito na rua por causa do calor dentro das casas.

Era na praia, era no desporto, era nas esplanadas, era nos jardins, era nos passeios das ruas, e nas farras de quintal.

Como toda a gente se expunha havia a sensação que toda a gente se conhecia.

Daí ser conhecido um Levi, professor primário (1961) em Angola, relativamente novo, um homem fisicamente avantajado.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não consigo imaginar o que terá sido a grande debandada que ocorreu em 1974 e 1975 em Angola... De repente, quarteirões inteiros, ruas, casas, empresas, hospitais, escolas, quartéis, igrejas, aramazéns... ficaram "vazios", sem gente, nomeadamente os brancos mas não só, que procuraram a segurança e a liberdade noutras paragens: Portugal, Brasil, África do Sul...

Recordo-me o que me contou um médico, que veio de Benguela, com a esposa, também médica, para Luanda, nas vésperas da independência... Encontraram uma boa casa, devoluta, vazia, abandonada... e pura e simplesmente ocuparam-na. Outros amigos meus, médicos, disseram-me algo semelhante em relação ao Mussulo, onde a elite colonial tinha as suas vivendas de lazer... Foi um país inteiro que mudou de mãos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lembrei-me que há aqui, neste série (que tem um título "!irónico"...) um outro texto sobre os seminaristas e a guerra do ultramar / guerra colonial...


24 DE AGOSTO DE 2018
Guiné 61/74 - P18949: A galeria dos meus heróis (8): os seminaristas (Luís Graça)

Anónimo disse...

Destaque para um comentário do cor art ref António J. Pereira da Costa ao poste acima citado, o P18949:

António José Pereira da Costa disse...

Olá Camaradas
Ainda gostava de saber porque é que o número de ex-seminaristas era tão elevado nas companhias.
Em 1968, em 4 alferes possíveis 3 eram ex-seminaristas e havia mais nas outras CArt do Bart 1896.´
Mais tarde em Mansabá dos 3 existentes um era ex-seminarista e bastante avançado nos estudos. Quando no encontrámos recentemente fiquei a saber que quando ele saíu do seminário, só lá ficaram 10.
Era uma "crise de vocações" ou a igreja que tinha deixado de responder às necessidades espirituais das pessoas, neste caso dos jovens seminaristas e futuros padres?
Jogo nesta última hipótese à qual teremos de adicionar o ambiente sócio-psicológico que se vivia em Portugal e a conivência da hierarquia com "o sistema". Era frequente encontrarmos "dissidentes" e críticos, mas só na parte baixa da estrutura, como era o caso do padre o BCaç 4612.
Mas era um fenómeno inexorável a deserção do seminário. Claro que a "tropa" aproveitava-se... atiradores, com alguma tendência para liderar (que se aprendia desde o início no treino dos seminários) faziam sempre falta.

Um Ab.
António J. P. Costa

24 de agosto de 2018 às 22:09

A. Murta disse...

Caríssimo Luís Graça.
Num dos teus comentários dizes a certa altura que “Confesso também que sei muito pouco sobre a ocupação efectiva de Angola”, e ainda, sobre as “campanhas de pacificação do sul de Angola” (…), enfim, gostavas de ir até ao Cunene mas já não podes… Também não te recomendava que fosses nesta época do ano, quando as crianças morrem de fome e sede e só se vêem carcaças de animais de patas para o ar. As tuas frases, que destaquei acima, fizeram-me ficar de orelhas no ar, pois acabei de ler há umas semanas um livro que aguardava nas minhas estantes há vinte anos – como tantos outros, pela mania de ir lendo tudo o que acaba de sair – e que caiu na minha cabeça como uma bomba. Para além do que já sabia, não imaginava em Angola tantas tragédias humanas, tantas chacinas, tantos heroísmos, tanta ganância e tanta miséria. Mas foram, precisamente, as longas batalhas na “pacificação” e ocupação do sul de Angola que mais me impressionaram. E ocorreram anteontem!. Quer dizer, há pouco mais de cem anos. Para o mal e para o bem, só ficaram na posse dos portugueses, com tranquilidade, 57 anos. Depois entregá-mo-las aos angolanos.
O livro de que falo é “Senhores do Sol e do Vento – Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos” de José Bento Duarte, edição do Círculo de Leitores de Janeiro de 1999. Não sei se haverá outras edições no mercado.
Já tinha lido dois livros, entre outros, sobre a Rainha Ginga e a sua dinastia, as alianças e as lutas com esses reinos à volta de Luanda, mas perante o livro que citei não passam de episódios com poucas dezenas de anos de duração. E o livro citado termina quando se dá a pacificação plena do sul de Angola em 1917! Até a demarcação definitiva dessas fronteiras só foi feita após coacção dos vizinhos alemães que ocupavam o sudeste, em 1912!
Enfim, fiquei ainda a conhecer os Cuanhamas, Cuamatas, Humbes, Ambós, Bienos (do Bié), etc., e os seus sobas, alguns dos quais se tornaram heróis lendários para os angolanos, como o soba Mandume que se finou, suicidando-se em 1917. E as histórias dos nossos heróis, citados pela rama na instrução primária, guerreiros e exploradores. Só não faço juízos de valor sobre as acções de muitos deles.
Grande abraço.
António Murta.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, António Murta, pela partilha da informação... É importante para os angolanos mas também para nós, portugueses, conhecermos melhor este período comum da nossa história...

Há na Net diversas referências ao Mandume ya Ndemufayo (1894-1917), o 17º e último monarco do reino Cuanhama (ou Kwanhama, como os angolanos gostam de grafar...). É hoje um símbolo nacional da resistência dos povos de Angola e Namíbia contra o colonialismo europeu...

Como noutros casos, temos dificuldade em saber onde acaba a realidade e começa o mito... Infelizmente, todos os povos precisam de... heróis. Eu gostava de viver num mundo em que os não houvesse...

Tens aqui um esboço biográfico:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mandume_ya_Ndemufayo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, o nosso blogue também pode e deve assumir um papel pedagógico no conhecimento da história dos nossos povos, Portugal, Guiné, Angola, Moçambique... Temos uma "história comum"... que está, em grande parte, por recontar e redescobrir... Nesse aspeto, há muita investigação historiográfica que está por fazer, em cooperação...

A maior parte das novas gerações não sabe nada sobre este passado recente comum... Quando se olha para o mapa de África, é impressionante constatar a configuração física dos diversos estados, cuja declaração de independência é recente (séc. XX)... As suas fronteiras foram todas definidas a régua e esquadro... Veja-se o norte, o sul e o leste de Angola... Inúmeros povos foram cortados ao meio...

Não podemos "diabolizar" os nossos antepassados, de um e do outro, pelo seu papel na "construção da história e da geografia"... A história não é hagiografia... Em todo o caso, temos que reconhecer que, para a fixação da atual geografia de Angola (território maior em população e superfície do que a Namíbia), houve também muito "sangue, suor e lágrimas" de combatentes anónimos portugueses como o avô do nosso Jorge Levi, aqui evocado neste texto...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não perdendo de vista o essencial desta história de vida e o seu contexto... Não conheço mais casos, mas deve ser caso único, esta "deserção" das nossas fileiras... por amor. Amor ? Aventura ? Romantismo revolucionário ? Inconsciência dos verdes anos ?... Ou tudo junto ? Quem somos nós para nos pormos na pele do outro ?... LG

Valdemar Silva disse...

Na minha CART11, também havia um alferes mil. ex-seminarista.
Julgo que o haver tão elevado ex-seminaristas, quase todos oficiais milicianos, se deve ao facto dos mesmos terem frequentado cursos secundários em Seminários, mas sem
intenção de carreira religiosa.
Ontem, na RTP2, passou no programa 'Visita Guiada' uma visita à Sociedade de Geografia de Lisboa. Esta Sociedade, e outras em França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Espanha foram criadas a seguir à Conferência de Berlim para mapear as fronteiras da 'repartição' das colónias. Portugal, depois da independência do Brasil, virou-se para as colónias de África, principalmente para o seu interior já que após 400 anos da sua presença só, praticamente, conheciam as zonas costeiras.
E lá foram Ivens, Capelo, Paiva Couceiro conhecer e 'guerrear' com aquela gente do interior de Angola e Moçambique que nunca haviam conhecido.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... E nós, Valdemar, fechámos esse ciclo... Desgraçadamente, competiu-nos o "trabalho sujo", iniciado pela monarquia constitucional, continuado pela república, a ditadura militar e o Estado Novo e completado depois pelo regime do 25 de Abril, de liquidar um século de "colonialismo"... Fomos os coveiros do império que nunca chegou a sê-lo... Nunca tivemos um imperador à altura... LG