segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Guiné 61/74 – P20192: Agenda cultural (703): Livro do nosso camarada ranger António Chaínho "A escrava Domingas". (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

Livro do nosso camarada ranger António Chaínho 

"A escrava Domingas"
Escravos africanos


Escravos! Parafraseando o autor, António Chaínho, um camarada ranger do meu curso, 1º de 1973 em Penude, Lamego, e antigo combatente em Angola, proponho uma leitura da sua última obra intitulada: A escrava Domingas.

Escravos é, somente, a palavra inicial de um livro que trata de um assunto real onde se escondem histórias, algumas mórbidas, sendo o patrão da “matéria comprada” uma das figuras proeminentes que geriam a força humana a seu belo prazer.

A escravatura foi, sem dúvida, uma realidade social que transvazou a dignidade de homens e mulheres, trazidos em lotes, para serem vendidos a patrões que procuravam naqueles seres uma exequível razão para um trabalho onde a força física se sobrepunha aos valores morais.

O livro espelha os custos de cada lote de escravos, sendo o preço das mulheres superiores aos dos homens. É fácil entender que a mulher era, além de serviçal, utilizada para os senhorios satisfazerem-se sexualmente. Logo, o procriar era entendido como uma mais valia para o comprador. Um negro nascido era, naturalmente, um novo escravo. 

A escrava Domingas, foi uma negra oriunda de uma sanzala situada na foz do Zaire, Angola, e vendida, entre outros nove escravos, para o morgado de S. Mamede, em Vale do Sado.


Domingas, propriedade de Diogo Menezes de Athayde Lencastre, 3º Morgado de São Mamede, travou uma batalha de resistência ao longo de uma vida marcada pela escravatura e onde se sujeitou a torturas e humilhações. Porém, a sua dignidade humana foi portadora de inconfessáveis segredos que foram hermeticamente guardados no seu coração.

A história, inteligentemente trabalhada pelo autor, onde o leitor se prende com o desenrolar da narrativa, pois cada página traz-nos uma nova mensagem sobre a evolução das personagens envolvidas, remete-nos para uma crueldade racista mas que se associa, em simultâneo, com sentimentos de paixão.

Diogo Lencastre, proprietário de uma herdade muito extensa, incentivado por amigos próximos, resolveu comprar um lote de escravos a qual incorporava a escrava Domingas.

Domingas era uma jovem airosa o que desde logo provocou ao 3º Morgado de São Mamede uma enorme apetência sexual, situação esta considerada então normal nesses idos tempos, século XVIII.

Desse romance amoroso, praticado no segredo dos deuses e longe do pensamento de D. Diana, a esposa do morgado, foi gerada um criança de nome Maria Rosa. Batizada só com o nome da mãe, filha de pai incógnito, a criança cresceu e quando começou a olhar para a sombra apaixonou-se pelo filho do patrão Diogo.

Henrique, irmão de Mafalda, e por ora os únicos herdeiros do morgadio, retribuía esses ensejos e, às escondidas, lá travavam olhares para um romance amoroso futuro mas que após a morte dos pais a verdade seria literalmente desvendada.

Ou seja, após Henrique ter acesso ao testamento deixado pelo seu pai, Diogo Menezes de Athayde Lencastre, este deixou escrito que Maria Rosa era na verdade sua irmã. O clã passou a contar com o triunvirato – Henrique, Mafalda e Maria Rosa -.

No testamento deixou explícito a questão das partilhas, entre os três, e não esqueceu uma pequena dádiva para a escrava Domingas.

Proponho, de novo, a compra da obra A escrava Domingos, de António Chaínho, um camarada que vive em Grândola. 

Abraços, camaradas
José Saúde

Nota: os interessados na compra podem, caso assim o desejem, contactar o telemóvel número 961 482 269 (Zé Saúde). 



Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

20 DE SETEMBRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P20162: Agenda cultural (702): Festival TODOS 2019: "A rapariga mandjako": hoje às 21h00, amanhã às 20h00, na Escola Básica de Santa Clara, Campo de Santa Clara, 200, São Vicente, Lisboa

8 comentários:

Anónimo disse...

A escravatura em Portugal ainda está lomge de ser objeto de grande estudos ou de romqances históricos, cmo etse... Noermadamente no vale do Sado--- Com a devida vénia, transcreve-se a notícia do lançamento do livro, há dias, 13/9/2019, no Cineteatro Grandolense...

Fonte: Rostos.pt

https://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=25000398&mostra=2

Grândola - Romance histórico de António Chainho
«A escrava Domingas» encontro com a escravatura no Vale do Sado


Grândola - Romance histórico de António Chainho





«A escrava Domingas» encontro com a escravatura no Vale do SadoNo passado dia 13 foi apresentado no Cineteatro Grandolense mais um romance histórico de António Chainho, professor e ex-Presidente da Assembleia Municipal de Grândola.
“A escrava Domingas” é o seu título e trata-se de um romance de época que se desenrola no contexto da escravatura no Vale do Sado, ao longo do século XVIII. Evidencia particular protagonismo, a personagem principal, Domingas, escrava, negra, vinda da foz do Zaire, Angola, propriedade do morgado de S. Mamede, tal como outros nove escravos. Na esperança de alcançar a sua dignidade e a de todos os outros, trava uma batalha de resistência, ao longo de quase toda a sua vida, sujeitando-se a torturas, humilhações e segredos inconfessáveis, numa história passada entre Alcácer do Sal, Torrão, S. Mamede, Stª Margarida do Sado, Azinheira de Barros e Grândola.

A narrativa, a partir da recontextualização das emoções da época, muito em particular, na mulher, atribui-lhe um papel fundamental na procura da dignidade humana. Nesse sentido, recorre à sensibilidade feminina que representava a melhor encarnação do instinto social e de promotora cultural ao estimular a polidez e o refinamento, num mundo varonil demasiado poderoso.

20.09.2019 - 20:30

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Racismo e escravatura não são a mesma coisa...Historicamente, brancos escravizaram brancos, negros escravizaram negros, as grandes civilizações agrárias sempre precisaram de escravos...Claro que a civilização industrial criou outro tipo de escravos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hoje são nepaleses os novos escravos que trabalham nos nossos campos... Ainda não há robôs para tudo, por exemplo apanhar a pera Rocha...

José NASCIMENTO disse...

A pintura da Escrava Domingas parece-me ter sido feita a partir de uma foto publicada pelo Renato Monteiro e o jornalista Fernando Farinha num livro sobre a Guerra do Ultramar, ou será pura coincidência?
Um abraço

Valdemar Silva disse...

Julgo que o nome António Chaínho é por ser ao autor do livro 'E Escrava Domingas' e não o autor do desenho .
Aliás, no livro 'GUERRA COLONIAL - FOTOBIOGRAFIA', de Renato Monteiro e Luís Farinha aparece o mesmo desenho 'LAVADEIRA' Desenho de militar, assinado por R. Monteiro.

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Acrescento.
O desenho que aparece na capa do livro 'A Escrava Domingas' é uma cópia a cores e o original do R. Monteiro é a preto e branco.

Valdemar Queiroz

José Nascimento disse...

Quando eu vi o desenho chamou-me logo à atenção porque eu tenho uma foto a preto e branco feita a partir do negativo que ficou comigo e que entretanto se perdeu. Esta foto foi tirada junta à ponte do rio Udunduma que fica na estrada entre o Xime e Bambadinca. A protagonista da foto seria uma habitante da tabanca de Amedalai e que parou junto à guarnição militar para descansar. Tenho também uma foto da filha desta guineense, ainda criança, que para mim carrega um forte simbolismo.
Um abraço à Tabanca Grande.
José Nascimento

Valdemar Silva disse...

Nascimento
Rectifico.
Afinal, soube que o desenho original é a cores e continua a dúvida de como foi parar à capa do livro.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz