quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21365: (De)Caras (161): Cecília Supico Pinto e o MNF: entrevista realizada em 16/7/2005, aos 84 anos, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo cor inf Manuel Amaro Bernardo, da revista "Combatente": " A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema. Em Moçambique, o problema era também complicado"...




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Meados de Maio de 1969 >  Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por Cilinha... 

Todas as guerras têm a sua Pasionaria... A Cilinha terá sido a nossa, a da "guerra do ultramar" ... Infantilizava os combatentes tratando-os por "os seus meninos"... Em entrevista ao Expresso, de 18/2/2008, aos 86 anos, não esconde, antes pelo contrário, que tinha uma relação de grande intimidade e cumplicidade com Salazar. E dá a entender que havia gente do Estado Novo mas também comandantes militares, no mato,  que a odiavam... Talvez pelo seu excessivo protagonismo e acesso privilegiado a Salazar (que ela tratava como "príncipe" e nunca como "ditador").  Amiga do seu amigo, era capaz de interceder junto de Salazar em caso de "excessos da PIDE" (que ela diz que detestava, tal como a censura), de que foram vítimas por exemplo o casal Sousa Tavares (o advogado Francisco Sousa Tavares, "o Tareco", e a a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen).

A promiscuidade com o regime, a par do elitismo e classismo da direcção  do MNF, acabou por retirar-lhe credibilidade e aceitação social. Durante a guerra colonial, foi um mulher do regime, poderosa, colunável: a RTP dava-lhe honras de telejornal, as suas partidas para África eram tratadas quase como viagens de Estado...
 
Como seria natural, a lider do Movimento  branqueou o regime e a guerra, dando provas de dissonância cognitiva ... Apesar da sua frontalidade e até coragem... 

Terá dado apenas duas entrevistas à Comunicação Social no pós-25 de Abril: ao Expresso, em 2008, e à revista Combatente, em 2005, cujo  teor abaixo se reproduz, por cortesia do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo. 

Quanto às  fotos do José Carlos Lopes, que acima reproduzimos,  são absolutamente notáveis...  A primeira é mesmo uma  foto de antologia, (O José Carlos Lopes, do meu tempo de Bambadica, foi fur mil amanuense do conselho adminitrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (LG)




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque (em força) ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969,, já ddepois da visita da Cilinha. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província, foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes posou aqui para... a "posteridade", talvez na véspera de eu passar aqui  em 2/6/1969, a caminho de Contuboel... (LG)


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editação e e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do nosso leitor e camarada cor inf ref Manuel Amaral Bernardo (n. Faro, 1939; tem 4 comissões de serviço, no ultramar, em Angola e Moçambique; é autor do livro, entre outros, «Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980»,  Lisboa, Editora Prefácio, 2007, 410 pp.; tem mais de uma dezena e meia de referências no nosso blogue)

Data - 15 set 2020 16:45

Assnto - Cecília Supico Pinto

Caro Prof.:

Como no site têm falado na Cilinha, para o caso de querer lá postar, junto em anexo.
Boa saúde
Ab M B

2. Entrevista com Cecília Supico Pinto, para a revista "Combatente", em  16/7/2005 (*)

por Cor Manuel Bernardo


De seu nome completo Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto, era mulher de Luís Supico Pinto, antigo ministro da Economia e Presidente da Câmara Corporativa. É Sócia de Honra da Liga dos Combatentes, para que foi eleita, por aclamação, na reunião da Assembleia Geral de 21 de Junho de 1971.


P.: Na sua qualidade de ex-Presidente do Movimento Nacional Feminino [, MNF], extinto em 25 de Abril de 1974, prestou um depoimento a José Freire Antunes, que foi incluído em "A Guerra de África", vol. I (1995). Gostaria de aprofundar alguns assuntos nele abordados, tal como colocar-lhe outras questões. Uma das inovações lançadas em 1961 foi a dos aerogramas. Pode clarificar melhor a concretização desta ideia?

R.: De facto lançámos essa ideia e conseguimos concretizá-la apesar das dificuldades surgidas. Ainda recentemente fui visitada pelo General Oliveira Pinto, que me ofereceu um livro sobre esse tema, resultante de um trabalho que levou a efeito. Nele lá vem referido que foi o MNF a fazer todas a edições dos aerogramas. Conseguimos a isenção da franquia postal, mas também nos disseram que tal apenas podia ir para a frente se fossemos nós a tomar conta do desenvolvimento desse projecto. 

Na altura tínhamos somente mil e quinhentos escudos em caixa ], o equivalente, a preços de hoje, em 16/9/2020, a 663,63 €...]  , mas, através da venda de publicidade nos próprios aerogramas, conseguimos editar milhões de exemplares. Vendíamos às famílias a vinte centavos [, nove cênti,os, hoje], sendo grátis para os militares. Nessa época arcámos com toda a responsabilidade e as despesas inerentes. 


E não vieram a receber subsídios do Estado para esse efeito?

Apenas cerca de quatro anos antes de 1974, face ao alargamento das três frentes de guerra, é que passámos a receber subsídios do Ministério da Defesa Nacional, assim como apoio jurídico e de contabilidade. 

A Administração Militar passou cerca de seis meses no Movimento a verificar toda a nossa documentação administrativa. Deste modo, quando acabou, o MNF tinha todas as suas contas em ordem. 

Nos primeiros anos o SPM (Serviço Postal Militar) funcionava mal, dentro de uma grande balbúrdia, onde nós ajudávamos no serviço, com várias senhoras. A certa altura colocaram lá o Major Tavares, que conseguiu dar eficiência ao serviço. Depois, ele queixava-se que nunca mais ia para o Ultramar, pois o MNF não o libertava. De facto, nós com o receio de que tudo voltasse à confusão anterior, fazíamos com que ele não seguisse para o Ultramar quando foi mobilizado. Ficou assim "demorado" por algum tempo.


Quais eram a vossas principais preocupações?

Uma das principais era o facto dos Serviços Sociais das Forças Armadas não funcionarem devidamente. Acabámos por sermos nós a empenharmo-nos nas soluções de determinadas questões. 

Uma delas era a subvenção de família, que estava prevista numa lei que não era executada. Ela estipulava que os pais dos militares mobilizados, com mais de 60 anos, tinham direito a esta subvenção. No entanto a lei não era cumprida por desconhecimento das Unidades Militares. Chegou a realizar-se uma reunião, no Governo Militar de Lisboa, com uma nossa delegada, para esclarecer a maneira como a lei devia ser interpretada.


O vosso Movimento nasceu em 1961 ligado às "vicentinas", uma obra da Igreja Católica.

Sim. Ligámo-nos às "vicentinas" cuja presidente nacional era a D. Maria da Glória Barros e Castro. Era uma obra fantástica espalhada por todo o território nacional. Foi essa a principal razão da nossa ligação e cooperação, com a finalidade de conseguirmos chegar a todas as regiões. 

Como sabe, o MNF nasceu oficialmente em Junho de 1961, quando levámos a efeito uma sessão pública na Sociedade de Geografia, com a difusão do nosso programa através da RTP e de outros órgão de Comunicação Social.


No entanto, na parte final da guerra, houve uma evolução negativa da parte de alguns sectores da Igreja em relação ao Ultramar...

Claro que nessas ocasiões acabam por surgir alguns elementos oposicionistas. No entanto, sempre tivemos óptimas relações com os elementos da Igreja, nomeadamente com os capelães militares que prestavam com eficiência o seu serviço de assistência religiosa nas Forças Armadas. Eram uns grandes "pedinchões", como nós dizíamos. Mas era tudo em defesa da melhoria das condições de vida dos militares no mato. 

Recordo que chegámos a espalhar por grande parte das cantinas e bares das três frentes de guerra aqueles jogos de bola com bonecos, os designados "matraquilhos", que eram muito apreciados. Isto além de livros, revistas e material didáctico.


Editaram também a revista "Presença"?

Sim. Começou sendo directora a Luísa Manoel de Vilhena, em meados da década de sessenta. Era uma boa revista, muito bem paginada e com bons colaboradores. 

Mais tarde editámos igualmente a "Guerrilha", um jornal mensal, que teve como directores o Martinho Simões e, depois, o Mário Matos e Lemos.


Uma das vossas preocupações foi também resolver o problema das trasladações dos militares falecidos no Ultramar...

Claro. Inicialmente tínhamos a preocupação de fotografar as campas onde eles eram enterrados para enviar às famílias e, em Angola, chegou a existir um movimento das senhoras locais para manterem as campas com flores. 

Recordo ainda que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro da Defesa, General Luz Cunha e disse­-lhe: “Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade.” Respondeu-me: “Mande-me imediatamente esse papel!” Assim foi e nunca mais tal sucedeu.


A partir de 1967 o Exército passou a ocupar-se das trasladações para o Continente.

Sim e foi devido à pressão que fizemos nesse sentido. Nós estávamos sempre de "olho aberto". De tal modo que o Dr. Franco Nogueira afirmava que a verdadeira oposição no País éramos nós, porque chamávamos a atenção para tudo o que estava errado. E é verdade. 

Outro aspecto que também corrigimos foi o caso da vacina contra a febre amarela, que era aplicada na altura do embarque, o que era contra-producedente. Tinha que passar algum tempo para depois fazer marchar os militares para o seu destino.


Nos seus contactos pessoais com o Professor Salazar, não se apercebeu das razões por que ele nunca quis ir ao U1tramar?

Não sei porquê, já que ele tinha a paixão do Ultramar. Cheguei a dizer-lhe: “Olhe, Sr. Dr., se eu fosse a si, fazia assim, Portugal com a capital em Luanda”. Riu-se e disse. “Tenho que ir lá...; tenho todo o interesse em lá ir.”


Mas tinha receio de andar de avião...

Ele não gostava. Foi uma vez de avião, com uma senhora muito amiga, conhecida desde miúdos, que era a Geny Aragão Teixeira, mais tarde esposa do Prof. Francisco Leite Pinto, que foi Ministro da Educação Nacional. Ocorreu num 28 de Maio, em que fomos todos a Braga. Depois ela perguntou-lhe: “Então que tal?”. Resposta dele: “Foi o que fiz toda a vida, não fumar e apertar o cinto...”


Não notou uma grande diferença entre a liderança de Salazar e a de Marcello Caetano?

Claro! Julgo que o segundo não esteve à altura do que o País precisava dele, naquela época.


E a sua opinião sobre o General António de Spínola?

Foi um valente guerreiro, patriota e um bom militar em Angola e na Guiné. Nada mais do que isso. Como escritor e político deixou muito a desejar...

Para terminar poderá fazer um ponto de situação em relação à guerra no Ultramar, em 1974?

A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. 

Também acho que faltavam muitos meios nas Unidades, incluindo o armamento. A Guiné foi grave. A minha "Guinezinha" como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a "picar" a estrada.

Sobre Moçambique, que era muito grande, o problema era também complicado... De qualquer maneira devia ter-se enveredado por outros rumos. Por exemplo, por que não se fizeram novos Brasis? 

Depois do 25 de Abril e durante muito tempo recebia cartas de naturais desses países, onde me diziam que gostariam de receber de volta os portugueses. O que sucedeu foi o pior que poderia ter acontecido. Foi uma tristeza. E até uma vergonha. 


Sabe que também havia muitos oficiais descontentes com a maneira como foi tratado, pelo regime, o caso da Índia...

Sim e não só. Havia também o problema das mulheres dos oficiais que faziam comissões seguidas, assim como o caso dos brancos lá residentes, que não se portaram da melhor maneira. Eu assisti a muitos desses problemas e tentava apaziguar dentro das minhas possibilidades. Mas já era uma situação demasiado complicada...


(*) Entrevista realizada em 16-7-2005, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo


2. Nota do cor Manuel Bernardo dobre o falecimento de Cecília Supico Pinto (1921-2011): 


Caros combatentes:

Sobre esta Senhora, quero referir que apenas a conheci em Julho de 2005, quando fui encarregado pela revista Combatente,  da Liga dos Combatentes, de a entrevistar quando estava com baixa no Hospital de St. Maria. 

Além de ter sido publicada nessa revista, também faria parte do conteúdo do livro "A Mulher Portuguesa na Guerra (...)", editado por aquela Liga em 2008.

Desse texto realço alguns pontos importantes, nomeadamente em relação às suas diligências sobre a solução de problemas dos combatentes.

Sobre os aerogramas afirmou: 

"De facto foi o MNF a fazer todas as edições dos aerogramas. Conseguimos a isenção da franquia postal, mas também nos disseram que tal apenas podia ir para a frente se fossemos nós a tomar conta do desenvolvimento desse projecto. Nessa altura tínhamos apenas mil e quinhentos escudos em caixa, mas, através da venda de publicidade nos próprios aerogramas, conseguimos editar milhões de exemplares. Vendíamos ás famílias a vinte centavos, sendo grátis para os militares. Nessa época arcámos com toda a responsabilidade e as despesas inerentes."

Sobre as trasladações dos militares falecidos afirmou:

"(...) Recordo que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro Silva Cunha e disse-lhe: «Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade». Respondeu-me «Mande imediatamente esse papel!». Assim foi, e nunca mais tal sucedeu. (...)"

Sobre as suas idas à Guiné, disse:

 "(...) Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. (...)"

Cecília Supico Pinto ainda deu mais uma entrevista em 2008,que foi publicada na revista do Expresso, em 16 de Fevereiro.

Com estes destaques pretendi, nesta sua despedida, homenagear o grande esforço despendido por esta Senhora no apoio aos combatentes do Ultramar

Que descanse em paz!

Cor Manuel Bernardo
_____________

Nota do editor:

22 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Bernardo, obrigado pela cortesia. Não conhecia esta entrevista que antecedeu em 3 anos a do Expresso. Aí a entrevistada volta referir que foi 4 vezes a Madina do Boé (que podia ter sido o nosso Dien Bien Phu). Se elá foi em coluna auto (o que me pareceitou de todo improvável), e não de helicóptero, tiro o Quico, a título póstumo.
... Sem preconceitos nem complexos... Alguém pode confirmar estas visitas a mi5tica Madina do Boé ?

Liberal correia disse...

Eu fui para a guine em 1964 cart 676 e não assinei papel nenhum
seria antes desta data?
Liberal . Correia
Furriel miliciano

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ora cá está uma boa questão para debate...

Foram precisos vários até o Estado assumir a sua obrigação em relação aos seus militares mortos no ultramar. Se o MNF contribuiu para uma solução,mesmo que tardia,tudo bem, mas...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Queria dizer: foram precisos vários anos até o Estado assumir as suas obrigações...

Antº Rosinha disse...

Esta mulher de armas, de uma rara coragem para aqueles tempos em que de mulheres era apenas ela e meia dúzia de paraquedistas, a darem a cara e a coragem, é de se lhe tirar o chapéu.

Hoje vemos com a maior naturalidade, mulheres a aparecer tanto na política como nas guerras ao lado de políticos e militares onde apareciam apenas homens, naquele tempo.

Não esteve ao lado dos capitães de Abril, mas podia muito bem ter "apanhado o comboio" se fosse oportunista.

Houve tantas cambalhotas!

E hoje até haveria rua ou avenida com o seu nome.



Fernando Ribeiro disse...

A propósito da afirmação, feita pelo entrevistador José Freire Antunes, «Uma das inovações lançadas em 1961 foi a dos aerogramas», tenho a dizer que os aerogramas não foram uma inovação do Movimento Nacional Feminino, pois eles já existiam antes. Os aerogramas foram inventados por (segurem-se!) Fernando Pessoa, ele mesmo, o grande poeta, que os patenteou.

A respeito de Cecília Supico Pinto e do seu MNF, quase nada tenho a dizer. Se não fossem os aerogramas, seria como se o Movimento Nacional Feminino nunca tivesse existido. Nem à partida (no aeroporto de Figo Maduro), nem ao longo de toda a minha comissão militar, o MNF deu qualquer outro apoio à minha companhia e ao meu batalhão, a não ser o fornecimento dos benditos aerogramas. Quem nos apoiou em Angola (muito pouco, mas sempre foi melhor do que nada) foi a Cruz Vermelha Portuguesa.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, C.Caç.3535/B.Caç.3880, Angola 1972-74

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando, náo sabia dessa, que tinha sido o teu homónimo, o genial Fernando (Pessoa), a inventar o aerograma...

E a propósiyo da enrevista da CSP ao coronel Manuel Bernardo, temos que reconhecer que é patética a "boutade" da entrevistadora:

"Nós estávamos sempre de 'olho aberto'. De tal modo que o Dr. Franco Nogueira afirmava que a verdadeira oposição no País éramos nós, porque chamávamos a atenção para tudo o que estava errado. E é verdade."...

A guerra durou 13 anos (Ou 14, se cosiderarmos o caso de Angola...). Mas, com a "oposição do MNF" chegartia, no mínimo, aos 100 anos... Ou seja, ainda andaríamos por lá, à caça do Zé Turra...

Anónimo disse...

A “caridadezinha “ que minoria privilegiada usava ,como hobby ,nas demasiadas horas vagas das suas vidas “resguardadas“ poder-se-ia considerar louvável,tendo em conta a alternativa,se tivesse sido efectiva e abrangente.

Por muito voluntariosas que estas Senhoras tenham sido,e não pondo de modo algum em causa a sua dedicação(sacrifícios pessoais ,afirmavam algumas com mal disfarçado orgulho) não conseguiram atingir os objetivos que se propunham.
Os avultados números dos militares a serem beneficiados,as incríveis distâncias geográficas a abranger,tornavam necessária uma organização a um outro nível.
Nível estatal com recursos correspondentes.
Infelizmente os responsáveis políticos não os consideravam necessários para tal fim.
Custos extras para com os que mais não faziam que cumprir o seu dever nas fronteiras do Império?
Teriam Afonso de Albuquerque ou as heróicas gerações das Campanhas de África alguma vez necessitado de um punhado de aerogramas?

Obviamente que a “caridadezinha” sempre terá sido melhor que ...nada.
Que o digam os que receberam uma esferográfica,um maço de tabaco ,um isqueiro.
Ou,em período natalício,um disco do cantor(a) em moda.
Disco não para uso individual mas, em prática quase subversiva pelo seu colectivismo,a ser ouvido nas salas dos Soldados.

Ps/. Fui criado nos tais meios sociais que se entretinham com “caridadeszinhas” das mais díspares.
Não comento o MNF com inveja social sublimada em perspectivas políticas.
Segundo um estimado comentador a textos meus mais não sou que um “esquerdalho-provocador-estrangeiro-podre de rico”.
Algo disto poderei ser e muito mais.
Continuo no entanto a assinar, tanto comentários como textos,com o meu nome é não... pseudónimos convenientes.

Um abraço do J.Belo



Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Quanto às afirmações de Fernando Ribeiro sobre os aerogramas julgo que com aquele uso e grátis na sua aquisição pelos militares, tenho dúvidas que antes já tenham sido usados. En relação ao que afirma sobre o apoio dado pelo MNF em Angola e Moçambique, onde fiz quatro comissões por imposição, também não me recordo ter visto as senhoras pelos "matos" onde estive a comandar companhias de 1964 a 1973. Parece que pela entrevista que D. Cecília ne deu, que "andou" mais pelo mato da Guiné, como se vê pelas fotos apresentadas. Quanto às trasladações julgo que passaram a ser feitas pelo Exército a partir de 1966, depois da intervenção da Cilinha junto do ministro do Exército.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

A "Cilinha" era a face de um movimento de mulheres "patriotas" trabalhando em apoio da melhoria das condições de vida dos soldados. Nunca dei por isso...
Podemos perguntar se seria necessário surgir um "MNF" para que os aerogramas existissem e transportados gratuitamente pela TAP? Claro que não.
Tive uma pen-friend norueguesa que me escrevia aerogramas porque se usavam no seu país. Eu não conhecia então e creio que, em Portugal, apareceram, desapareceram e não voltarão a aparecer, mas por política empresarial e por necessidades da população. Os telegramas já desapareceram, há alguns anos, e quem não se lembra dos telegramas SDS que se mandavam pelas Tms sem necessidade do MNF? Pelo Natal de 72 recebi 8 livros RTP seleccionados "à balda" e que eram os restos da colecção 1.ª edição de livros RTP. Foi uma maneira de descarregar o stock. No anterior tinha sido "o disco" feito pelos famosos de então: Eusébio, Amália Rodrigues, Maria de Lourdes Modesto, Parodiantes de Lisboa, Nicholsen, Joaquim Agostinho, etc. a dizerem banalidades e chalaças sem piada nem interesse. Nos outros Natais, cada um saberá o que recebeu, mas não sei se era algo com interesse.
Enfim, o MNF cumpriu o seu dever "patriótico" e podemos ter a certeza de que senão tivesse existido não tinha feito falta.

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

As "boutades" da Cilinha demonstram a o modo como ela via o que se passava à sua volta. No fundo era um pequeno mundo de uma "famosa" que tinha aquele hobby. No fundo aquele modo como era recebida nos sítios onde ia alimentava-lhe o "leggo" e tranquilizava-lhe a consciência.
Sobre a questão do regresso dos mortos creio que há muita tinta para correr, mas não será o MNF armado em "oposição" que foi responsável por qualquer espécie de melhoria neste campo.
Esta caridadezinha foi como o Melhoral, não fez bem nem fez mal.
Contudo, uma análise detalhada da(s) entrevistas e até da "Presença" e da "Guerrilha" seria interessante.

Um Ab.
António J. P. Costa


Anónimo disse...

Caro Camarada Pereira da Costa

Análise detalhada das entrevistas?
Análise das referidas revistas como fonte de informação?
Só para os que quiserem saudavelmente sorrir.
(Vomitar a gargalhar seria imperdoável excesso de linguagem)

Nada terá com o conteúdo e orientação editorial das publicações.
São o que são.
Terão todo o direito de publicar as suas tão interessantes ideias.
Democratas de primeira água.

O que poderá provocar sorrisos a alguns menos distraídos será a tão apregoada “pureza virginal” de alguns colaboradores das mesmas.
Pureza virginal nos seus “apoliticismos” profissionais(!) ,de conveniência e .... quando convenientes.
Detentores das verdades absolutas que ,por mera coincidência,são sempre as deles.

Um pouco como a apreciação feita por famoso presidente norte-americano quanto a importante apoiante político:
“Aquele gajo é um grande filho da mãe! Mas é o “nosso” filho da mãe! “

Um abraço
J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro Liberal Correia, vamos lá perguntar a outra malta, do teu tempo do caqui amarelo, se assinou algum papel do género:

"Declaro, para os devidos efeitos, que concordo, patrioticamente, no caso de morrer, em ficar debaixo de um poilão +ara evitar gastar dinheiro à minha Pátria na trasladação dos meus restos mortais"...

Disse, em 2005, a presidente do MNF, na entrevista que estamos a comentar:

...) "Recordo ainda que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro da Defesa, General Luz Cunha e disse­-lhe: “Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade.” Respondeu-me: “Mande-me imediatamente esse papel!” Assim foi e nunca mais tal sucedeu." (...)


Alguém conhece essa lei ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

De 1968 a 1973, ainda ficaram, insepultos ou inumados em cemitériso locais, na Guiné,os corpos de dezenas e dezenas de camaradas nossos... A memória da entrevista era curta...

8 DE MAIO DE 2008
Guiné 63/74 - P2819: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (4): 1968-1973 (Fim) (A. Marques Lopes)


Anónimo disse...

Claro que é verdade!
Aquilo é que eram Generais com “G” maiúsculo.
Polidinhos e sempre servis.
Mesmo que só na aparência .Naqueles tempos a aparência era tudo!
E,depois de deliciados engolirem muitos sapos lá os esperava os Conselhos da Administração de empresas com dividendos “chorudos “.
Houve exceções mas.... todos esses acabaram mal!

Felizmente que eram os mais “polidinhos “ que atendiam os telefonemas da Senhora Supico Pinto e,as coisas boas aconteciam.

Dos Srs.Generais serviçais da ditadura aos Generais de aviário o salto não foi “alto”.
Os “do antigamente” colocaram-se literalmente de cócoras em Abril de 74 para os franguinhos saltitarem nas ribaltas.
Mas isso são outras histórias para as quais nenhum movimento feminino,nacional ou não, terá contribuído.
Francamente........

Um abraço
J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Em 11 de maio de 1969, a líder do MNF esteve no Olossato:


11 DE MARÇO DE 2013

Guiné 63/74 - P11235: Memória dos lugares (224): Visita da Cilinha ao Olossato, ao tempo da CCAÇ 2402, em Maio de 1969, com "graduação" em Capitão do Exército Português (Raul Abino / Vargas Cardoso)

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Neste assunto da Cilinha estamos a "gastar cera com ruins defuntos" ou que é pior, a aceitar e responder provocações além túmulo...
Sabemos bem quais eram as acções do MNF e as consequências em termos de melhoria nas nossas condições de vida...
O MNF foi como as mamas nos homens: não servem para nada mas decoram muito.

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estas visitas deviam ser visitas relâmpago. Num dia, a presidente do MNF devia ir a vários aquartelamentos... Não havia condições (hoteleiras) para pernoitar... Terá ficado uma noite em Bafatá e cantou o fado...Mas há muitas "lendas" criadas à sua volta...



11 DE MARÇO DE 2013

Guiné 63/74 - P11235: Memória dos lugares (224): Visita da Cilinha ao Olossato, ao tempo da CCAÇ 2402, em Maio de 1969, com "graduação" em Capitão do Exército Português (Raul Abino / Vargas Cardoso)


(...) Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74), a Cilinha visitou BAFATÁ e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.

Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.

Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.

No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.

Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de CANQUELIFÁ (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.

Em resultado desse contacto, a “CILINHA” , como enfermeira (que era) da CRUZ VERMELHA, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços.

Aqui deixo os episódios que vivi ou conheci, com a Presidente do então Movimento Nacional Feminino, nas 4 comissões que me orgulho de ter cumprido, na Guerra do ULTRAMAR (a 1ª em ANGOLA – Outº59 a Nov61) e tive oportunidade de ter a sua visita, nas unidades a que pertenci nas restantes 3 comissões.

MÁRIO JOSÉ VARGAS CARDOSO
COR. INF. (Reforma) (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tanto quanto sei, e estou recordado da sua biografia (que li), a Cecília Supico Pinto nunca foi enfermeira, muito menos da Cruz Vermelha. Tinha o equivalente ao 9º de escolaridade, e formação (caseira) em línguas estrangeiras, o que para a época estava muito acima da média da lietracia da mulher portuguesa...

Para frequentar a Escola Técnica de Enfermagem Francisco Gentil, que recrutava gente da elite, a candidata ao curso de enfermagem precisava de ter o antigo 5º ano dos liceus ( o que poucas tinham) e fazer 3 anos de curso, bem puxaDos.., E tinha que ser solteira para poder exercer a profissão de enfermeira...

Ora a nossa Cilinha casou-se em 1945, quando estava em vigor essa infamante lei, misógina, que proibia as enfermeiras de casar (esteve em vigor até 1963, é preciso que os portugueses saibam disto!)...

Há quem diga que frequentou a Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo... Na entrevista ao Expresso,em 2008, diz que tinha o 5º ano...


Fernando Ribeiro disse...

As enfermeiras estavam proibidas de casar, as hospedeiras da TAP também, as funcionárias do Ministério dos Negócios Estrangeiros idem e as professoras tinham que pedir autorização ao Ministério da Educação para contraírem matrimónio, o qual iria averiguar se os respetivos pretendentes ganhavam tanto ou mais do que elas, caso contrário o casamento seria recusado. Uma mulher tinha igualmente que ter autorização do marido para se poder ausentar do país e as telefonistas também estiveram proibidas de se casar até 1939. Esta retrógrada legislação não é da Alta Idade Média, como se poderia pensar. Ela foi do nosso tempo!

http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-68852014000200010.

Anónimo disse...

Casamento dos Oficiais do Exército.

O Decreto-Lei 31107 publicado no Diário do Governo de 18 de Janeiro de 1941,que regulava o casamento de militares foi submetido à Assembleia Nacional para ratificação.
A discussão prolongou-se por duas sessões (5/2/41 e 6/2/41) e gerou grande celeuma.
Entre outros artigos foi discutido:

A demonstração de que a noiva era “ portuguesa originária “.
SE NASCIDA NAS COLÓNIAS FILHA DE COLONOS BRANCOS PORTUGUESES (pai e mãe) ....Não se podia casar com Oficial.

Estava-se em 1941.
Gloriosos e saudosos tempos em que .......Tudo pela Nação!

Um abraço
J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em Bambadinca a Cilinha dormiu lá uma noite, diz-me o Fernando Calado, que era alf mil trms, da CCS/ BCAÇ 2852... E o tenente coronel que se vê na foto era da "comitiva" da Cilinha... À noite houve atuação do conjunto musical "Os Bambadincas"... Os instrumentos musicais foram oferecidos pelo MNF... O artista da noite foi o Tony, o "cantor romântico", que terá brindado a Cilinha com o melhor do seu reportório... Sabe-se que ela adorava fado ( e também cantava)...

Pelo nome e nº mecanográfico terminado em 61, descobrimos que só podia ser o 1º cabo nº 14219661 António N. Sousa: Era refratário, e tinha cinco a seis anos a mais do que nós; era natural de Lisboa, onde já cantava, com nomes fadistas conhecidos como a Maria da Fé)...

Pertencia ao grupo do Fernando Calado, que tem dezenas histórias com ele...Era um reguila jeitoso!...