quinta-feira, 13 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22196: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III A: Depois de Estremoz, fomos “despejados” para Portalegre, aguardando embarque para o CTIG

 


Foto nº 1 > Portalegre > Convento de S. Bernardo - Séc. XVI > 2021


Foto nº 2 > Portalegre> Arcadas do Convento de S. Bernardo (séc. XVI) > Os belíssimos painéis de azulejos (séc. XVIII), fazendo lembrar a belíssima Estação de S. Bento, Porto) > 2021 > A Isabel apontando um pormenor para as esposas de outros camaradas num dos encontros da companhia, neste caso em Portalegre, organizado pelo camarada Parola 

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex- furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III A (*)

 
Depois de Estremoz fomos “despejados” para Portalegre, aguardando embarque para a Guiné (**)

   

Portalegre, de passagem... com direito a fotografia...e discurso

 


Foto nº 3 > Portalegre > 1972 > Uma “carinha” de Lobito 
e um boné de “General”. Foto tirada com o boné do sargento Redondeiro.



Foto nº 4  > Portalegre > 1977 > Resquícios do efeito do “cacimbo” da Guiné... 
Com a minha Diane percorri “seca e meca” no Alentejo


 

Com o fim da instrução em Estremoz (RC3) (**), fomos “despejados” para o quartel de Portalegre,  instalado no Convento de São Bernardo, do Século XVI, com belíssimos painéis de azulejos (séc. XVIII), a maior parte deles apresentando cenas da vida de São Bernardo (fazendo lembrar a bela e “mui nobre”, estação de S, Bento no Porto), para permitir o início da instrução de novas companhias.

Permanecemos neste magnífico convento muito pouco tempo (antes que nos transformássemos em monges!!!) a aguardar embarque para a Guiné. O tempo suficiente para tirarmos umas fotografias, com o boné do sargento Redondeiro, que enchemos com folhas de jornal para o mesmo não se enterrar até ao pescoço nas nossas cabeças, para o nosso novo cartão de militar. (Foto nº 3).

Foi aqui que o mesmo sargento, de fisionomia a condizer com a patente, grande e gordo, com uma avantajada barriguinha, decidiu, dado a sua experiência de outras comissões, fazer o discurso de despedida, antes de rumarmos a Lisboa para o embarque. Era suposto um discurso a chamar ao patriotismo mas ao mesmo tempo de ânimo e de tranquilidade e de que tudo iria correr pelo melhor. Contudo o discurso saiu completamente ao lado ao começar logo por dizer:

- Caros militares, infelizmente, alguns de vocês não voltarão a casa…

O moral de todos aqueles rapazes bateu no fundo, pelo que a nossa tarefa, durante e todo o dia, recorrendo aos nossos conhecimentos de psicologia (que não eram nenhuns) e também afetados por aquele discurso, de alguém que sabia do que estava a falar, foi tentar recompor-se e recompor o pessoal.

O Redondeiro, juntamente com um seu colega Pereira (únicos militares de carreira apenas com tarefas logísticas), foram sempre bons camaradas. O Redondeiro desde o primeiro dia assumiu o papel de “paizinho” da companhia. Recordo-o aqui com muita saudade e ternura.

O pouco tempo que aqui permanecemos não deu para conhecer esta bela região alentejana e o seu fantástico triângulo: Portalegre, Marvão, Castelo de Vide. (Vd. fotos da nossa visita em 2021: Nºs 1,2, 5,6,7,8)

Só me lembro da nossa infantilidade ao entrarmos na escola secundária, em frente do quartel, “matando o tempo”, deliciando-nos com os nomes, para nós, invulgares, mesmo bizarros, dos alunos afixados nas pautas, e, quem sabe, arranjar uma (ou mais) madrinha de guerra…

Esta ida à escola foi premonitório já que no ano letivo de 1977/78, fui colocado nesta mesma escola (nesta cidade lecionou José Régio – reclamado por Vila do Conde onde nasceu e por Portalegre onde viveu, sempre no meio da sua imensa coleção de Cristos), onde conheci a minha mulher (na altura professora de matemática de uma das minhas turmas), pelo que esta região ficou para sempre marcada, pela positiva, nas nossas vidas. Em 72 não houve madrinha de guerra mas em 79 houve casamento…

O contacto com os invulgares nomes dos alunos afixados nas pautas no ano de 1972 não me livrou de pequenos percalços em 1977:  logo no primeiro dia de aulas, como era habitual, promovi as respetivas apresentações, com um aluno, de sorriso rasgado, apresentando-se como (V)Bagina. Fiquei à espera de um “bruaá” na sala, que não aconteceu. Como bom nortenho, escrevi Vagina na minha caderneta;

Na apresentação dos professores do meu grupo disciplinar, um dos mais efusivos apresenta-se como Lacão. Devido à minha surdez do ouvido direito (ainda hoje penso que devido aos disparos do canhão sem recuo no fogo real para a ilha de Tavira) entendi “Lacrau”. Passei todo o meu tempo de Portalegre a chamar Lacrau ao homem e ele, como bom alentejano, nunca nada me disse!

Nada me tira o meu Minho (… e o meu Douro vinhateiro e...) mas o Alentejo e os Alentejanos estão no meu coração, inclusive o homem que “deitou abaixo” o meu pequeno garrafão de verde tinto nos longínquos anos 60 a caminho de Ermidas Sado. (**)

Na passagem em trânsito para a Guiné, em 1972, não deu para conhecer a bela região do Alto Alentejo, desforrando-me “à tripa forra” em 1977/78.

Jamais esquecerei:

• as tertúlias na esplanada do Tarro, depois do jantar, até que os funcionários arrumando as mesas vazias e limpando o lixo debaixo dos nossos pés nos davam ordem de saída;

• o cimbalino (termo que sempre fiz questão de utilizar, com o empregado sempre retorquindo: uma bica?) depois do almoço no café “Facha”, em frente ao imponente plátano, lendo as gordas do jornal da casa;

• uma ou outra vez tomando o cimbalino, depois do jantar, no café Central, a meio da rua direita, mas que é muito “torta”, onde grandes jogadores de xadrez se juntavam;

• um pingo (com o empregado sempre a retorquir: um garoto?) e uma nata, a meio da tarde, no lindo e histórico café Alentejano (felizmente hoje ainda aberto e mantendo o mesmo “glamour”), em frente à estátua do “Semeador” namorando […]; 

• as tardes mais quentes passadas debaixo do frondoso plátano (hoje quase monumento nacional), namorando […];

• o lanche com um grupo de amigos habituais (no qual se incluía o “Lacrau”!), depois dos jogos de futebol, na tasquinha do Marchão, bebendo umas espetaculares imperiais (que eu insistia em chamar finos) acompanhadas com perninhas de rã (que eu nunca fui capaz de comer) e umas divinais empadinhas de frango, que eu devorava com sofreguidão;

• as idas a um magnífico restaurante na Serra de S. Mamede, do qual já não me lembro o nome, com paragem obrigatória no magnífico miradouro...para namorar;

• a Pensão 21 onde me instalei com outro colega e amigo de Viana do Castelo. Aqui fomos tratados como filhos pelo proprietário (o Sr. Mourato) e pela simpática empregada que nos servia as refeições. No dia em que decidimos fazer um estendal, na varanda do quarto, com as nossas cuecas a secarem ao sol, foi o dia em que não só o proprietário e a empregada bem como todos os hóspedes ficaram definitivamente rendidos aos jovens e prendados professores do Minho!;

• as refrescantes idas a uma fonte de água pura e fresca; nos dias de maior calor, a caminho da serra, onde sempre éramos alertados por simpáticas mulheres que aí vendiam fruta; que no alto da sua sabedoria espelhada nos seus cabelos brancos, que bebendo água da fonte o feitiço o ligaria ao Alentejo pelo casamento; o meu amigo de Viana do Castelo casou com uma jovem e simpática professora de Marvão (Escusa) e eu com a Isabel, uma alfacinha de Alcântara,  (embora natural de Idanha), professora também deslocada na cidade, ou como diz o provérbio, “Tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia fica lá a asa”!!!

• as idas às tasquinhas da Serra de S. Mamede, onde aprendi a letra do “Fado do Embuçado” (2);

• o calcorrear, milímetro a milímetro das ruas e tasquinhas de Marvão e Castelo de Vide;

• as incursões a , Elvas, Alegrete, Monforte, Nisa, Vila Viçosa, Campomaior, etc.;

• um fim de semana passado na casa de um colega de Évora, comendo uma divinal sopa de Cação preparada pela sua simpática esposa; a  noite passada numa taberna, estilo Zé d’Alter (2), onde o fado aparecia de onde menos se esperava devorando um magnífico gaspacho; terminando a noite a ver nascer o Sol numa das zonas altas da cidade;

• a abordagem de uma patrulha da polícia, às 4 horas da manhã quando esperava-mos o nascer do sol, pedindo-me a carta de condução, que tinha ficado na pensão, o BI, o título de propriedade da minha Diane, que também não tinha - com o polícia já desesperado a pedir, qualquer documento com fotografia que também não tinha. Dada a minha calma, adocicada com algum humor nortenho, o polícia esboçou um sorriso dizendo: parecem boas pessoas aproveitem bem o fim de semana em Évora;

• uma incursão a Badajoz com o regresso já com a fronteira fechada (chegamos 5 minutos depois da meia noite), voltando a Badajoz, esperando a abertura dos primeiros cafés para o pequeno almoço e acelerar para a primeira aula da manhã;

• assistir ao dérbi da cidade entre os Estrelas de Portalegre e o Desportivo Portalegrense com as rivalidades levadas ao extremo durante o jogo, mas logo esvaziadas nas inúmeras tabernas da cidade;

• participar numa manifestação contra a Lei Barreto, já com o PREC a perder força, com direito a carga policial (e tudo o mais a que tinha-mos direito nestas manifestações…) com fuga ao cassetete com o meu amigo deixando a sua mala de engenheiro para trás;

• as viagens de comboio (sempre adorei viajar de comboio) a caminho de casa nas pausas escolares na direção: Chança, Mata, Crato… e no regresso ao Alentejo na direção: Crato, Mata, Chança...como gostavam de dizer os portalegrenses;

Viajo de comboio sempre com o mesmo entusiasmo como se fosse a primeira vez. Com o comboio cheio de gente sinto-me personagem de um filme no meio de um turbilhão de cenas do quotidiano. Sozinho sinto-me numa sala de cinema vendo passar o mundo lá fora pela janela do comboio como se de uma tela se tratasse.

Durante as viagens faço sempre um esforço tremendo para não adormecer, já que um minuto dormido é um minuto não vivido.

Nos primeiro anos depois da Guiné vivi sofregamente os dias, “engasgando-me” aqui e ali na ânsia de agarrar o mundo todo num só dia. Fui há procura de resgatar os três anos “roubados” da minha juventude, até hoje ainda não devolvidos.


Foto nº 5 > O famoso Plátano de Portalegre. Candidato, em 2021, a árvore da Europa > 2021

 

Foto nº 6 > Castelo de Vide > 2021


Foto nº 7 > Marvão > 2021 > A Isabel, minha esposa



Foto nº 8 > Portalegre > Café Alentejano, um dos “ex libris” da cidade > 2021 (1)

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do autor:

(1) O Alentejano não é apenas um café mas um museu. Um museu vivo, que recupera memórias de gentes e de acontecimentos. O Café Alentejano foi concebido pelo pintor e decorador Benvindo Ceia, o maior artista de Portalegre, embora tenha sido depois ligeiramente alterado o projeto original. É precisamente o Alentejano, aquele que José Régio mais frequentou, de onde há notícia mais exata pelo relato escrito de David Mourão-Ferreira sobre os belos bifes que ali saboreavam, é precisamente o Alentejano que se mantém quase idêntico a esses tempos distantes mais de meio século.

(2) ...Aproveitando o descanso de um dia de instrução, reunimos um pequeno grupo de amigos e lá fomos à taberna do tão falado Zé D’Alter , para beber uns canecos e ouvir o afamado fado espontâneo. Entramos, e logo nos apercebemos que não estávamos a entrar em mais uma taberna mas sim numa casa onde estavam reunidos um grupo de amigos, tal a cumplicidade dos presentes: pessoal da terra e muitos militares. Todos falavam com todos ninguém servia ninguém cada um servia-se, da pipa, do garrafão, do tacho, da frigideira etc. Ao terceiro copo já um representante da terra dava o mote ao tocar uns acordes na sua viola cantando, timidamente, o primeiro fado da noite. O esvaziar das canecas libertou os fadistas espontâneos e já todas se achavam capazes do seu número. O ambiente foi aquecendo ao ponto do Zé D’Alter dar um murro na mesa e dizer: "Silêncio, que isto agora é para quem sabe!"... Fez-se um silêncio de ouro e o fado surge na sua nobreza e pureza maior da taberna na voz do Zé D’Alter. No fim houve palmas, lágrimas e vivas ao fado…e ao Zé.

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Notas do editor:

(*) Vd. útimo poste da série > 1 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22159: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VIII: A primeira visita... dos "vizinhos", com ataque ao arame!

Restantes postes da série > 


24 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!

23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22028: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte V: As nossas lavadeiras... e o furriel 'Pequenina'

12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21996: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IV: O embarque, as 'hospedeiras'… e África Minha

13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Adorei, Joaquim. É também uma proposta de roteiro de visita à região de Portalegre... O triângulo turístico Portalegre, Marvão e Castelo de Vide merece uma visita prolongada.

O convento de São Bernardo é um dos monumentos nacionais do distrito.

http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71143

Já agora uma pergunta aos nossos: porque é que o convento "só foi extinto em 1878" ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A prop+osito do conhecido poema de David Mourão Ferreira (1927-1996), "Écogla em tempo de guerra", já escrevemos aqui o seguinte:

(...) "Este poema tornou-se conhecido quando, em 1971, foi musicado, em França, por Luís Cília, Mas o David Mourão Ferreira tê-lo-á escrito muito antes, na altura em que cumpria o serviço militar, e por sinal em Portalegre, onde foi reencontrar (e fez amizade com) o grande poeta e esritor José Régio (1901-1969), natural de Vila de Conde. (Régio viveu praticamente toda a sua vida naquela cidade do Alto Alentejo, onde foi professor de liceu, e onde tem um museu, que é visita obrigatória, a Casa-Museu José Régio).

Este poema deve datar de 1952 quando o poeta foi aspirante, miliciano, em Portalegre, no BCA nº 1, presumo, e onde deve ter dado instrução a recrutas:

"(...) Pastor de almas de soldados, / sigo nos campos lavrados, / sem ouvir o coração. / Se o ouvisse, que ouviria? / Alegria? Certo, não.( (...) Que destino tão errado,/ o que haviam de me impor! Pastor a soldo forçado / de um gado que não é gado, / nem precisa de pastor! / E vamos!, vidas marcadas /p’las espadas do terror." (...) "E vamos, como ciganos,mas sem nenhuma aventura. / Seguem, atrás, os garranos, /pacientes, quase humanos,/ a moer a terra dura." (...).

Essses tempos já longínquos de 1952 foram evocados por David Mourão Ferreira no número especial de "A Cidade – Revista Cultural de Portalegre" (4/5, nova série, 1990), "integralmente dedicado aos 20 anos da morte do poeta José Régio e do pintor D’Assumpção, duas personalidades marcantes das letras e das artes ligadas à capital do Norte Alentejano" (, cito a págína Largo dos Correios, de António Martinó de Azevedo Coutinho, uma personalidade marcante da vida cultural e social de Portalegre, onde nasceu em 1935). (...)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/03/guine-6374-p12883-blogpoesia-385-o-dia.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Alentejano faz parte da "Rota dos Cafés com História em Portugal":

https://www.cafeshistoricos.pt/cafes/23-cafe-alentejano-portalegre

Valdemar Silva disse...

Costa, mais um interessante texto.
É verdade que quase todos os alentejanos têm apelidos fora dos vulgares 'Pereira, Silva, Ferreira, Costa' ligados a alcunhas, profissões ou lugares. Foi célebre o apelido do sargento Piça, que conheci em Contuboel, da Companhia do Luís Graça, e dizia-se que ele evitava pedir para enviar cumprimentos por sair 'cumprimentos do Piça pra si'.
No ano de 2007 foi em Alpalhão o anual Encontro-Almoço da rapaziada da minha CART.2479/CART.11.
Foi um Encontro muito concorrido, organizado pelo ex-fur.mil.armas pesadas Canatário filho da terra, e dos mais de 50 presentes e familiares ninguém pagou nada pelo almoço de boa comida alentejana.
Depois do almoço fomos em passeio por Castelo de Vide e Marvão, eu já conhecia, mas a rapaziada que veio do norte, que era a maioria, ficou siderada com Marvão ser uma localidade dentro dum castelo no alto dum penhasco. Eu e o Duarte regressamos, mas muitos ficaram lá por no outro dia haver um almoço no campo que fazia parte do Encontro.
Neste Encontro apareceu o Boi Colubali um dos soldados fulas da nossa CART.11, Cabo do meu Pelotão, que veio evacuado para o Hospital Militar/Alcoitão com graves ferimentos numa perna e, julgo, que por cá ficou não mais voltando à Guiné.
O Canatário, de Alpalhão, que organizou o Encontro-Almoço foi durante vários anos o Chefe da Repartição de Finanças de Portalegre.


Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Joaquim Costa disse...

Valdemar
Assim é meu caro. Não sou propriamente um homem viajado, contudo conheço parte da Europa e claro, Guiné e Cabo Verde, mas quanto mais viajo mais admiro este nosso Portugal:
Desde os “excessos da natureza” como escreveu o Miguel Torga quando subiu ao miradouro de S. Leonardo de Galafura, na Régua (onde também lecionei), a Marvão ou Monsaraz no Alto Alentejo.
Pois o teu camarada Canatário, como chefe das finanças de Portalegre, foi colega de trabalho do meu amigo Leonel que vive nos Fortios.
Um grande abraço e muita saúde.
Joaquim Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mas também pelas finanças, depois de vir da Guiné, não cheguei a chefe de Repartição, mas cheguei a técnico superior do Centro de Estudos Fiscais, da DGCI, antes de enveredar pela carreira académica... E nos impostos conheci alguns alentejanos, meus colegas e amigos, com apelidos curiosos: o Cara d'Anjo, infelizmente já falecido, era de Portalegre; o Macareno Bilro,era de Borba, era casado com uma jovem médica, de apelido Bacalhau Preguiça (, com o casamento, acrescentou mais o Macareno Bilro; soube, mais tarde, que se divorciaram...).

O José Manuel Rosado Piça, grande alentejano, grande sargento, grande camaradão,que me tratava oro "soviético", era um figura impagável da CCAÇ 2590/CCAÇ 12...Muitas histórias se podiam contar dele... Vive em Évora, mando-lhe um abraço fraterno...

O meu amigo Carlos Alberto Silva, da Universidade de Évora, é coautor (com o Francisco Martins Ramos) de um fabuloso tratado das alcunhas alentejanas, que já vai em 4ª edição. Ofereceu-me um exemplar autografado há muitos anos, São 600 e tal páginas e cerca de 35 mil entradas!... Um livro obrigatório para quem se interessa pelo por este fenómeno socioantropológico que é a alcunha, sua origem, enquadramento e explicação... Por que é numa aldeia podoe haver uma mulher conhecida por "c... de ouro" e um homem como o "cara de cu"...

Recorde-se que na tropa (e na guerra) muitos de nós tínhamos alcunhas...E isso nunca foi estudado...

Joaquim Costa disse...

Luís! Mas que grande novidade! Não te estava a ver de fraque!
A família Cara d'Anjo era muito conhecida em Portalegre. Sei que havia na escola, no meu tempo (1977/78), um colega desta família.
Um abraço
Joaquim Costa

Valdemar Silva disse...

Sobre o apelido Cara d'Anjo há uma senhora, creio professora, com apelido, ainda, mais interessante Mão de Ferro Cara d'Anjo.

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

A propósito da farda para a fotografia do Cartão, em 1968 usava-se a farda cinzenta.
O fotógrafo de Espinho tinha duas fardas para alugar 15 minutos à rapaziada: dolmens, bonés, camisas brancas, uma gravata preta e uma coleção de distintivos das várias armas para colocação no boné e nas lapelas do dolmem.
Sempre havia a possibilidade com as duas medidas satisfazer os mais corpulentos e os mais magros, no meu caso o boné maior ficava grande e o mais pequeno não assentava bem e o dolmem mais pequeno ficava largo e teve que ser apertado atrás.

Valdemar Queiroz