segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22827: In Memoriam (420): Jaime Brandão, ex-Fur Mil Pil da FAP, falecido em 18 de Dezembro de 2021 - Adeus e até já, Jaime. Partiu hoje um dos maiores amigos que tive na minha vida! (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp)

1. Com a devida vénia ao nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1321 de 19 de Dezembro onde o Joaquim se despede do seu velho amigo Jaime Brandão, ex-Fur Mil Piloto da FAP, recentemente falecido por doença.


ADEUS E ATÉ JÁ, JAIME!

Partiu hoje um dos maiores amigos que tive na minha vida!

As histórias com o Jaime Brandão são inúmeras desde garotos, passando pela Guiné, pela dita revolução e até aos dias de hoje.

Por causa da nossa amizade passei fins de tarde quase contínuos na BA5, mormente na Esquadra dos Falcões, e por isso mesmo me foi concedido algo único na minha vida: um voo de A7.

Claro que, embora houvesse outros “candidatos” amigos que me queriam levar, não poderia deixar de ser o Jaime a dar-me esse raro prazer, quase impossível a civis.

Foi um dia memorável.

Tal como o dia em que, envolvido na primeira Operação Militar na Guiné, no segundo mês da minha chegada, com o camuflado ainda a “cheirar a goma”, desembarco no quartel de Porto Gole e quando estou a subir a rampa para as instalações vejo o Jaime vir direito a mim a sorrir e abraçando-me com toda força.

Perguntei-lhe como era possível ao que ele me respondeu a sorrir que sabia que eu estava envolvido naquela Operação e que ia desembarcar em Porto Gole para passar a noite e como vinha de regresso a Bissau, declarou que tinha a porta aberta do DO27 e que tinha de aterrar em Porto Gole.

As histórias são inúmeras, (de dia ou de noite), e todas elas são memórias fantásticas que me trazem agora lágrimas aos olhos

O Jaime era um homem franco, honesto, sério, que não pedia licença para dizer o que pensava e sentia, mesmo que isso lhe acarretasse incompreensões ou mesmo problemas.

Amigo do seu amigo, levava a amizade muito a sério, tão a sério que não se coibia de me dizer algo que eu fizesse mal, como eu lhe dizia também a ele.

É assim a amizade verdadeira!

Mas tinha também um humor muito especial e vivemos momentos hilariantes ao longo de todo este tempo que Deus nos deu de amizade verdadeira e vivida.

Muitas vezes as nossas conversas eram quase um monólogo tal a identidade de pensamento e opinião que tínhamos os dois.

Em bom e antigo português era quase um: “se um diz mata o outro diz esfola”!

Espero, (fazendo humor), que no Céu haja cerveja, porque ele tem que ter uma esplanada onde a beber esperando por mim e por muitos mais que nos faziam companhia.

Pouco apreciador do cozido que habitualmente nos era servido nos nossos convívios, isso limitou a sua presença à mesa connosco. Mas não deixou de estar presente por várias vezes, satisfazendo-se com a sopinha do cozido ou, numa situação pontual, com uma feijoada vegetariana trazida de propósito de Lisboa pela sua camarada e amiga Giselda.

Há homens que nunca fizeram nada por Portugal e são recordados como se o tivessem feito.

O Jaime foi voluntário para a Força Aérea, serviu o seu país na Guiné e em Portugal, serviu o seu país na sua profissão como civil, lutou por um país melhor do que o “politicamente correcto”, e ninguém, com certeza desta gente que nos governa terá uma palavra para ele, o que ele, julgo eu, até agradece.

Envolvo a sua família, mulher, filhas, netos, irmãs e irmão no meu estreito e muito amigo abraço, sem palavras que as não tenho para dizer.

Estou profundamente triste, embora acredite que aos homens bons como o Jaime, Deus tem sempre junto de Si, mas isso ainda não mitiga a saudade imensa que já sinto em mim.

Como dizemos em Monte Real, pelo menos no tempo em que eramos garotos, quando as pessoas se encontram: Adeus!

Eu digo-te, Jaime meu querido amigo, adeus e até já!

Marinha Grande, 18 de Dezembro de 2021

Joaquim Mexia Alves

____________

Notas do editor:

À família do nosso camarada Jaime Brandão, a tertúlia e os editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresentam as suas mais sentidas condolências.

O Jaime Brandão participou no V e VI Encontros Nacionais da Tabanca Grande em Monte Real. Nesta foto em conversa com o Victor Barata, também ex-militar da Força Aérea Portuguesa e também ele recentemente falecido.

Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22749: In Memoriam (419): Tibério Paradela (1940-2021), capitão da marinha mercante, um "lobo do mar" ilhavense, que nos deixa um notável testemunho da epopeia da pesca do bacalhau, no seu romance "Neste mar é sempre inverno"

8 comentários:

José disse...

Um abraço solidário.
José Câmara

gil moutinho disse...

Privei com o Jaime Brandão,o "Fininho"como era alcunhado,na BA12 em Bissalanca.
Um Companheiro!!
Fez uma aterragem de emergência com um T6,algures na Guiné,e disse ele que o que teve mais medo era das cobras até ser resgatado.
Para onde foi não as encontrará ,concerteza.
Os meus pêsames para a família e amigos.
Gil Moutinho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vários camaradas nossos, membros da Tabanca do Centro e da Tabanca Grande, já aqui expressaram os seus sentimentos de pesar em relação a mais um perda de um camarada da Guiné, discreto e afável, que eu cheguei a conhecer em Monte Real, há uns anos atrás...

É cedo para partirmos, e ainda mais nas vésperas do Natal de 2021... O Joaquim já deixou aqui expresso, por escrito, com a frontalidade, sinceridade, humandidade e talento que lhe conhecemos, o seu sentimento de dor pela perda (e ao mesmo a sua homenagem à memória) de um amigo do peito, que foi mais do que um camarada. Na realidade, quando morre um amigo destes, daqueles que temos para a vida, é também parte de nós que morre.

À família e aos amigos do peito do Jaime, como o Joaquim, mas também aos camaradas da FAP, quero dizer-lhes que, face à morte, tem que ficar expressa a nossa saudade, e o nosso dever de merecer e honrar a sua memória.

Como editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,proponho que o seu nome fique lavrado no nosso memorial, na lista daqueles de nós (e, são já mais de uma centena,) que "da lei da morte já se libertaram".

O mesmo é dizer, estou a propor a sua entrada a título póstumo para Tabanca Grande, juntando-se desse modo aos bravos da FAP que passaram pela BA12, Bissalanca, e arriscaram as suas vidas sob os céus da Guiné, para nos proteger, abastecer, defender, animar, e salvar (, nomeadamente no caso do transporte de feridos graves para o HM 241, em evacuações Ypsilon, mas também no caso do transporte do correio e de "frescos"). Nunca é demais manifestar aqui a gratidão dos "infantes" e dos outros que,em terra, prescrutavam o céu à espera do Dacota, do T6, do D0-27, do heli, do Fiat G-91, quase sempre em situações dramáticas... Vou pedir ao Joaquim que nos indique o ano de nascimento do Jaime. E vamos lembrar o Jaime na nossa Consoada. E os que souberem e puderem rezar por ele, que o façam. Há muitas maneiras de o fazer, para os crentes e os não-crentes. Luís Graça.
__________

Manifestações de pesar deixadas no blogue da Tabanca do Centro:

(i) Hélder Valério

Caros amigos
Caro Joaquim

É sempre triste quando um "dos nossos" parte. Para mais quando é, não só conhecido, mas quando fez parte do nosso círculo mais chegado de amigos.

Sabemos que este doloroso acontecimentos está reservado para todos e cada um de nós.
É essa a lei da Vida.Mas, lá que custa, custa!

Joaquim, só te posso enviar um forte abraço de solidariedade. Sei que não resolve grande coisa mas é o conforto possível que te posso dar.

Muito sinceramente.
E que o Jaime possa descansar em paz.

Hélder Sousa

19 de dezembro de 2021 às 19:37

(ii) Jorge Narciso:

Com enorme surpresa recebi esta infausta noticia.

Deixo o meu profundo pesar à sua família natural e aos inúmeros amigos que soube grangear ao longo da vida.

Até sempre, Jaime
19 de dezembro de 2021 às 19:41

(iii) Juvenal Amado:

Já tinha prestado a minha solidariedade á família e ao Mexia Alves mas porque nós na Tabanca do Centro também fazemos parte desta enorme família, venho aqui expressar a minha tristeza profunda perante o acontecido. Infelizmente é a toda a hora e só me resta deixar um até sempre companheiros

19 de dezembro de 2021 às 20:10

(iv) Carlos Pinheiro:

Não tenho palavras que possam de algum modo ajudar-te, Joaquim, nesta dor infinita e irreparável. A tua vida de cristão convicto e praticante certamente ajuadrá o teu espirito a encontrar algum conforto no meio deste desconforto total. Como disse não tenho palavras. Aceita um apertado abraço amigo.
Carlos Pinheiro

19 de dezembro de 2021 às 23:27

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há aqui um poste do Joaquim Mexia Alves com memórias do Jaime Manuel Melo Brandão (, seu conterrâneo de Monte Real e contemporâneo na Guiné), que merece ser lido (ou relido):

Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > quarta-feira, 17 de setembro de 2008
ESTE É DOS NOSSOS...TAMBÉM SABE VOAR!

https://especialistasdaba12.blogspot.com/2008/09/este-dos-nossostambm-sabe-voar.html

joaquim disse...

Caro Carlos Vinhal muito obrigado pela publicação deste texto em homenagem ao Jaime Brandão meu querido amigo desde garotos em Monte Real e que, (as voltas que o mundo dá!), nos fez encontrar na Guiné e depois vivermos novamente a nossa amizade até ao infeliz dia em que partiu rumo a "outros vôos"

Ao Luís Graça peço que retire a proposta que fez no seu comentário.
Aquilo que o Jaime não quis em vida não pode ser feito depois de nos deixar.
É preciso respeitar a memória de quem nos deixa.

Abraços a todos
Joaquim Mexia Alves

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Joaquim, respeito inteiramente a tua vontade. Tu, melhor que ninguém podes ser, neste capítulo, o fiel intérprete da vontade do Jaime. Provavelmente falaste em vida em ele sobre as nossas "blogarias"... Ele foi a dois dos nossos encontros nacionais, aí em Monte Real, e deve ter matado saudades também da Guiné e da rapaziada. Mas também não fez mais aproximações ao nosso blogue.

E já agora lembro aqui um poste, antigo, que publicaste sobre o teu amigo e conterrâneo, e nosso camarada:


1 DE OUTUBRO DE 2008
Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)

Na altura comentei:

"Joaquim: Vejo que continuas em forma... A história é uma delícia, só possível numa guerra como a nossa, entre tugas da Guiné... No Vietname ou no Iraque, era capaz de dar tribunal militar... Em suma: um belíssima história de amizade e de camaradagem... Foste/és um sortudo. Não te conhecia (mas imaginava...) esse teu lado de "glorioso maluco das máquinas voadores"... Mais inclinado para os ares do que para os mares (Vd. foto ao lado, tu, no Niassa, a caminho do degredo)... Aliás, pergunto-me: com a base ali ao lado, ali tão perto de casa, em Monte Real, por que é que não foste para os aviões ? Ou será que não havia cockpits com as tuas medidas de basquetebolista ?

"Aquele abraço, extensivo ao teu amigo Brandão. Luís"

joaquim disse...

Obrigado Luís.
Com efeito convidei-o em teu nome e ele disse que não queria pertencer nem à Tabanca Grande nem a outra coisa desse tipo.
Naquela altura disse-te isso mesmo.
Normalmente ia ter connosco, com muita insistência minha, ao fim da tarde e ali ficávamos a conversar e a contar histórias.
Um abraço e Feliz Natal para ti e todos os teus.
Joaquim

Carlos Campos disse...

Infelizmente fui ao funeral do Fininho; foi duro; um amigo e camarada de armas, pois fomos do mesmo curso de pilotagem da Força Aérea, o P2-69. Durante 24 meses na Guiné partilhámos o muito e o pouco que havia, mas nunca declinámos o que aparecia para fazer, fosse bom ou mau.

Partilhamos alguns momentos já fora desse teatro operacional, nomeadamente na Tabanca Central, Monte Real, ou em almoços/confraternização entre pilotos da Guiné, ou ainda em almoços entre pilotos do mesmo curso. Infelizmente já não são muitos, mas a amizade perdura.

Por infortúnio ou azar o Covid veio interromper a série de momentos que passávamos anualmente lembrando o passado, presente ou futuro se o houvesse.

Fininho, vai em paz...

Carlos Campos