Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 3
Foto nº 4
Foto nº 5
1. O nosso camarada, Manuel Antunes, que vive há mais de meio século em Toronto, Canadá, acaba de confirmar o nome da artista que atuou para ele e os seus camaradas, os "Dragões de Jabadá" (Fotos nº 1 e 2), em data que não precisa, mas que só pode ter sido entre 4 de março de 1969 e 9 de dezembro de 1970 (A CCAV 2484 / BCAV 2867 assumiu o subsector de Jabadá em 4 de março de 1969, e foi rendida em 9 de dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.)
O Manuel Antunes mandou mais duas fotos desse espectáculo com a tal Isabel Amora (Fotos nº 1 e 4). Tudo indica que, nesse espectáculo, a artista tenha aparecido com duas indumentárias diferentes: vestido curto, mas de manga comprida e minissaia (Fotos nºs 1 e 2) e blusa de manga curta e calça à boca de sino (Fotos nº 4 r 5).
Na primeira atuação, está ao nível dos espectadores, uns sentados, outros de pé, e outros ainda empoleirados numa árvore. O local pode ser a parada do quartel ou as proximidades de alguma das casernas. Na segunda atuação, está num plano mais alto, num murete, junto à parede de um edifício.
Na foto nº 3 pode ver-se um pormenor dos sapatos, que parece estarem parcialmente enlameados ou sujos com terra. Na foto nº 5, destaca-se um elemento, feminino, que parece estar a tocar teclas (ou piano elétrico). O Fernando Feio fala em "mais dois artistas que estiveram no concerto".
2. Quem era a Isabel Amora, que entretanto já morreu, em 2020, com 74 anos?
Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)
(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)
Com Paula Amora, sua prima, Isabel faz o duo Elas, com supervisão do músico Carlos Portugal. "Entre 1971 e 1972 gravam cinco discos, contando com arranjos de Pedro Osório e com originais de Portugal e de Luís Romão (com percurso de destaque então a solo).
Mas em Jabadá Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).
(...) "Ainda em 1971, este duo pop canta na inauguração do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, e participa no único Festival da Canção da Guarda, com 'Sim, Meu Amor Foste o Primeiro'. Depois dos dois últimos discos do duo, em 1972, Isabel Amora ainda cantou em Moçambique a solo e fez teatro alguns anos mais tarde, mas os tempos de glória tinham ficado para trás."
(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)
3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):
(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.
"Os Militares e a População local durante umas horas esqueceram a guerra. Existem fotos comprovativas dos artistas em Galomaro. Acabada a actuação os artistas seguiram viagem para Bafatá ou Bambadinca." (*)
Ficamos sem saber quem promoveu o espectáculo em Jabadá (e noutros sítios, como Galomaro): O Movimento Nacional Feminino (MNF)?A atriz Helena Félix (Porto, 1920 - Lisboa, 1991)? O pai da Eunice Muñoz, que se chamava Hernâni Cardinali Muñoz, e que era o empresário da Isabel Amora?...
Enfim, será que estes e outros empresários fizeram digressões, com artistas da Metrópole, pelos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique), independentemente do Movimento Nacional Feminino? Nesse caso, quem pagava? Era o Exército?
De qualquer modo, aqui fica um apontamento sobre a Isabel Amora (***).
___________
Notas do editor:
(*) 11 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23069: Foto à procura de... uma legenda (163): Uma imagem relativamente rara, esta, de uma cançonetista, de minissaia, a atuar em Jabadá, por volta de 1969/70
(**) Blogue As raízes da Amora > 8 de novembro de 2020 > Isabel Amora e o Duo ELAS
(***) Último poste da série > 16 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22812: (De)Caras (184): Sene Sané, régulo de Pachisse, com capital em Canquelifá, tenente de 2ª linha, vogal do Conselho Legislativo, falecido em 1969
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Notas do editor:
(*) 11 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23069: Foto à procura de... uma legenda (163): Uma imagem relativamente rara, esta, de uma cançonetista, de minissaia, a atuar em Jabadá, por volta de 1969/70
(**) Blogue As raízes da Amora > 8 de novembro de 2020 > Isabel Amora e o Duo ELAS
(***) Último poste da série > 16 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22812: (De)Caras (184): Sene Sané, régulo de Pachisse, com capital em Canquelifá, tenente de 2ª linha, vogal do Conselho Legislativo, falecido em 1969
8 comentários:
Olá Camaradas
Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atou(?) em Jabadá. Atou e, se calhar como morreu, já não ata. É gralha ou é intencional?
Um Ab.
António J. P. Costa
Claro que é gralha, Tó Zé. Obrigado pelo reparo. LG
Do Arquivio do DN - Diário de Notícias,com a devida vénia...
O concurso de yé-yé em Lisboa em 1965
Concurso de Yé-Yé animava a juventude lisboeta mas servia também para angariar fundos para as tropas que combatiam em África
O concurso de yé-yé em Lisboa em 1965
© Arquivo DN
Leonídio Paulo Ferreira (textos) e Simões Dias (seleção de fotos)
19 Agosto 2016 — 00:16
A notícia do DN datado de 29 de agosto de 1965 falava de "horas de inusitada euforia" no Teatro Monumental, em Lisboa (no Saldanha, onde hoje há um centro comercial). E como "uma verdadeira onda de jovens acorreu ali para aplaudir freneticamente os intérpretes da música da sua eleição". O jornal fala ainda de uma "beatlemania" em Portugal.
Ora, o vencedor da primeira eliminatória deste concurso de yé-yé foi o conjunto Os Átomos, logo seguido de Os Dakotas. A reportagem do DN dá conta ainda de como o vocalista de Os Dakotas foi erguido no ar em pleno pelos admiradores. "O rapaz ia morrendo sufocado com tantos apertos", sublinha o jornalista.
As receitas do concurso destinavam-se às Forças Armadas Portuguesas, que na época combatiam em África. Com a guerra contra os movimentos de libertação africanos a prolongar--se quase mais uma década, é de acreditar que mais cedo ou mais tarde muitos dos rapazes que entoavam as músicas na plateia também acabaram a combater nas ex-colónias.
Estes espectáculos para os militares da "guerra do Ultramar" deviam ser organizados pelo Movimento Nacional Feminino... Tal como os concursos de música ié-ié de 1965 e 1966 no Monumental em Lisboa.
O Exército não tinha nem tradição nem vocação nem estruturas para organizar este tipo de eventos. Dava apoio ao nível local (logística, transportes, segurança...)
Os Concursos de ié-ié em 1965-66 no Monumental, em Lisboa, tiveram grande saída na época.
Os Ekos do Edmundo Falé e os Chinchilas da linha de Cascais eram os mais conhecidos.
Como teve organização a favor "dos militares na guerra do Ultramar" também teve um cunho político, por isso havia nas proximidades do Monumental umas carrinhas da polícia de choque para acalmar os "menos rockeiros".
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Pois, o famoso, e já referido muitas vezes, "concurso yé-yé".
Essa designação provém do refrão da canção dos "Beatles" "She loves you", pertencente à fase inicial desse conjunto, que veio influenciar decisivamente a música e a juventude e seus comportamentos da época.
Foi como que um slogan identitário, uma imagem de marca.
Foram vários os elementos que, integrando conjuntos a concurso ou que não chegando aí, mas que proliferaram pelo País fora, que vieram a integrar as Forças Armadas e também muitos deles (nem todos) fizeram as suas comissões de serviço em terras africanas.
Como já referi em alguns dos artigos que tenho enviado, a maioria dos elementos que fizeram o Curso de TSF na minha incorporação, eram participantes de conjuntos musicais diversos.
Comigo, na Guiné, estiveram o Luís Dutra (já falecido) e o Eduardo Pinto que pertenceram a um dos conjuntos da finalíssima, "Os Tubarões", de Viseu, sendo que no curso anterior estiveram outros, sendo que o Vítor Barros, que também pertenceu aos "Tubarões" esteve também na Guiné.
Muitos outros também estiveram, lembro assim de repente, o Vítor Raposeiro e outro elemento do meu curso, o José Fanha (que animava o "Chez Toi").
Tudo indica que a musicalidade do "morse" se ajustava muito bem para os critérios de escolha para futuros "transmissões TSF".
Hélder Sousa
No livro "Guerra Colonial: Fotobiografia", do nosso saudoso Renato Monteiro (1946-2021) (coautor: Luís Farinha) (Lisboa, Publicações Dom Quixote e Círculo de Leitores, 1990) há fotos do Raul Solnado (em Zala, Angola), Forbela Queiroz (Moçambique, 1967) e Duo Ouro Negro (em Guileje, Guiné, 10/11/1969), vd. pp. 226/227.
Legenda da foto com o Duo Ouro Negro, em Guileje, pag. 227: "Segundo modelos experimentados noutros palcos de guerra, o Movimento Nacional Feminino, com apoio dos meios empresariais do espectáculo, organizava tournées às três frentes de combate, com os artistas mais conhecidos do teatro e da música ligeira".
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