quinta-feira, 17 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23086: No céu não disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (32): Hoje há lapas na chapa e sável frito com arroz de feijão, diz a "chef" Alice...

 


Foto nº 1 > Uma boa entrada: lapas abertas na chapa, com uns pingos de manteiga e limão, e enfeitadas  com uns talos de coentros... 


Foto nº 2 > O sável, frito, depois de cortado muito fininho, por causas das espinhas... 


Foto nº 3 > Arroz de feijão para acompanhar o sável, que já vinha  sem ovas...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Amigos e camaradas: nem só de guerra nem das memórias da guerra, ou só do  passado,  vive o homem (e a mulher). Pode parecer "pornográfico" vir aqui falar de "comes & bebes", num tempo em que volta a haver guerra na nossa casa comum, a Europa, e há já  alguns milhões de refugiados, sobretudo mulheres e crianças...Há gente a  morrer, a fugir, a passar fome... E muita angústia e medo. 

Mas quem pode, ainda come todos os dias... E de preferência alguma petisco mais fora do comum. E partilha essa experiência culinária com os amigos, nesta série que tem um título apelativo, bem humorado, e que não pretende provocar ninguém, "No céu não há disto"... Que nos perdoem os crentes e os habitantes desse condomínio de luxo que é o céu do nosso imaginário (ou da fé de muitos crentes, cristãos e não cristãos). É uma brincadeira inocente.

Pois aqui fica a refeição, simples e barata, que fizémos há dias, na Lourinhã. A "chef", do costume, é a Alice, para quem o sável faz parte das seus sabores de infância, ou não tivesse ele nascido ali perto do Rio Douro: da sua casa, em Candoz, vê-se o mítico Porto Antigo, na margem esquerda, na grande baía formada pela barragem do Carrapatelo... Também lá chegavam, antes de completado o plano de construção das barragens do Douro, a lampreia e o sável, e muita gente tinha pesqueiros no rio... 

A lampreia este ano nem lhe toquei. Não a há e a que aparece, nos restaurantes,  está a preços proibitivos. O sável já o comemos várias vezes. E hoje voltamos a comer. Sempre com uns amigos, que as coisas boas desta vida são para partilhar. 

Sem querer fazer inveja a ninguém, aqui ficam três imagens da nossa refeição de sável de há uns quinze dias atrás. As lapas não as comia há anos. Não são as lapas da Mdeira nem dos Açores, mas estavam ótimas. Foram apanhadas nos rochedos, de difícil acesso, nas imediações do Porto das Barcas, Lourinhã, em frente a Tabanca do Atira-te ao Mar, que  é a tabanca mais ocidental das tabancas europeias da Tabanca Grande. Uma gentil oferta dos "duques do Cadaval", a Maria do Céu Pintéus e o Joaquim Pinto de Carvalho,  da Tabanca do Atira-te ao Mar, com quem regularmente almoçamos ou petiscamos desde o início da pandemia de Covid-19.

PS - Também se faz, nesta região da Estremadura, um delicioso arroz de lapas. Fica para a próxima. Até não há muitos anos, muitos habitantes das aldeias ribeirinhas da Lourinhã eram pescadores-recolectores de polvos, navalheiras, sapateiras, ouriços do mar, lapas, mexilhões... Além do lazer, esta atividade  também tinha algum peso na diversificação da  alimentação.  Ainda me lembro desta gente, à noite, andar à "pesca ao candeio", na maré vaza, nas rochas, equipados com camaroeiro, um pau com um isco na ponta (em geral, sardinha)  e um gasómetro, que eram alimentado com carbonato de cálcio. Um espetáculo algo surreal...
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13 comentários:

Anónimo disse...

Valdemar Silva (by email)

17 mar 2022 02:26
Quem não tem lapas ou sável come esmoregal


Pois, Luís, ter a chef Alice é outra coisa. E vai daí come-se maravilhas
Lapas e sável sei lá há quanto tempo não marcham pelo meu estreito pouco arejado.

Em Afife aparecida na estrada o peixeiro a tocar corneta e vendida sável às postas que vinham agarradas ao grande peixe e eram cortadas conforme se iam vendendo.

As lapas, eu e o meu primo íamos apanhar ao mar, mas poucas chegavam a casa que ele comia cruas pelo caminho.

Mas quem não tem lapas nem sável come esmoregal.

A minha empregada é caboverdeana e quando vai a Cabo Verde traz sempre coisas boas para mim.

Em tempos houve as criadas de servir que quando iam à terra traziam chouricinhos para os patrões, a minha empregada quando vai a Cabo Verde, como por lá não há chouriços, traz pequenas lagostas ou esmoregal para mim. Coisa fina, mas é o que mais há para oferecer ao patrão.

O esmoregal é peixe fino e caro. São apanhados grandes peixes de 3 kg para grelhar aos bocados como de postas mirandesa se tratasse e os mais pequenos são também grelhados ou feitos de outras maneiras. Eu fiz de tomatada por não ter paciência para fazer no forno e grelhado não aguentar com o fumo. Divinal mesmo assim.

Bom proveito com as lapas e o sável que a chef Alice é estrela Michelin famosa.

Saúde da boa
Valdemar

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Valdemar, já dei conhecimento à "chef" Alice (que raramente vem aqui) e nestes termos:

De "Chef" (Valdemar) para "chef" (Alice=.

Vou publicar o teu esmoregal, no próximo poste desta série. Não conheço o peixe, mas deve ser uma delícia a avaliar pelas fotos que me mandaste...

Desde puto que ouvia histórias de Cabo Verde, mas acabei por nunca poder lá ir com o "meu pai, meu velho. meu camarada"...como planeava.

Estima a tua "Bia"... Mantenhas. E as tuas melhoras. Luís

Anónimo disse...

Oh Luís, sem quereres mas já fizeste inveja!
Que pitéu esse, lapas, sável, arroz à maneira.
Bom apetite, pois a mim já me fez.
Vou almoçar salmão selvagem à posta, grelhado com uma batatinha cozida, fazemos isto muitas vezes, mas não dá este gosto, dessa iguaria, que aqui já se cheira.
Abraços,
Virgilio Teixeira

António J. P. Costa disse...

Sável sem ovas? Mas tão a gozar kumigo óhkê?
Um Ab.
TZ

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tó Zé, este foi apanhado já na desova, no regresso ao mar. Mas já comi com açorda de ovas este ano... Hoje com arroz de grelhas... Na Lourinhã não há a tradição do sável...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Gralha: arroz de GRELOS...

Anónimo disse...

Mário Vitorino Gaspar (by email)
17 mar 2022 16:47

Através do telemóvel, encontrando-se na Clínica de S. José de Camarate, Cuidados Continuados, nunca provei esse peixe esmoregal. Recordo as lapas apanhadas em dezembro de 1966 na semana de campo antes da partida para a Guiné, no Guincho. Eu e o o camarada açoriano Nicolau, que se encontra no Canadá da CART1659 - ZORBA, comemos umas lapas rijas como cornos.
Posteriormente digeri lapas em Sesimbra, deliciosas. Em relação ao famigerado sável possuo uma experiência muito diferente.

Era criança, morava em Alhandra, o meu pai pediu a um fragateiro amigo para fazer uma açorda de sável. Admirado fiquei quando vi ele fazer este manjar com água do Tejo. Não há ano que não coma essa delícia. Bem marinada - as espinhas são retiradas antes de fritar as postas bem finas deste peixe que escasseia no rio Tejo. Em diversas zonas do Ribatejo organizam essa Semana do Sável. Ter em conta que hoje em dia as ovas não são do sável.

Em Gadamael Porto, faltavam uns 6 meses para terminarmos a Comissão comemos ostras, com 25 escudos tínhamos um bidão cheio. Fomos atacados pelo PAIGC com ostras na boca.

Gostaria de provar esse esmoregal.

Um grande abraço do Ex Furriel Miliciano (hoje Furriel)

Mário Vitorino Gaspar

NOTA: Fui internado no Hospital das Forças Armadas a 16 de janeiro, às portas da morte e após mais de um mês de internamento fui transferido para os Cuidados Continuados desta Clínica. Mais um outro "Corredor da Morte". Primeiro o "Corredor de Guileje" em 1967/68; em 2002 a Operação ao Coração e o coma e agora ESTA.

Anónimo disse...

Virgilio Teixeira (by email)
17 mar 2022 17:15

Caro Mário Vitorino Gaspar:

Esta vida não é igual para todos. Uns vivem e morrem aos 100 anos sem terem uma constipação, outros, é o que se vê, todos os dias.

Como não sou especialista bem técnico de comunicação, sou apenas um ser humano, e porque já me bateu à porta esta situação, cudados intensivos, 2 operações, cancro, e septicémia, dizem os médicos que me assistiram, que em dado momento - instantâneo - fui dado como morto.

Mas ainda estou vivo, e agora compreendo muita coisa, que fiz e não devia ter feito, e outras que deveria ter feito e nunca fiz. Aos 79A a caminho dos 80, compreendi esta nova realidade, a que não podemos fugir agora.
Para ti e para todos, os que se manifestam e os outros silenciosos, as melhoras, ou uma vida sem sofrimento, o que nos resta dela.
Quanto ao assunto:

* Já comi lapas, apanhadas aqui nas praias frias do Norte, mas em restaurantes, grelhadas, não me ocorre nenhum sentimento gustativo. Prefiro as ameijoas à Bulhão Pato.

* O sável, desde tenra idade já ia com os meus pais e tios, para os lados de Entre-os-Rios, era lá que estava o bom sável. Comprava-se na estrada, as peixeiras partiam aquilo às postas finas e depois iam para casa e comia-se. Nessa altura não apreciava grande coisa.

Depois já de meia idade, comecei a comer em restaurantes, a minha 'chefe' não gostava de trabalhar com este material, e tenho muito boas recordações.
Já vaiem 2 anos ou mais que não provo.

A lampreia nunca a provei, faz-me impressão! Quanto ao 'esmoregal' vamos a ver o que é isso.

Até sempre,

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

eduardo francisco (by email)
17 mar 2022 19:50

Boa tarde companheiros/camaradas!!

Esmoregal, lapas e sável.

Dos três só provei o sável, acompanhado por uma açorda de ovas que estava magnífica.

O peixe com toda a franqueza não me disse muito, mas tendo em conta o conteúdo dos vossos comentários, presumo que terão faltado pormenores na preparação do cujo dito.

Foi um almoço organizado por malta que pisou o chão da " nossa" querida Guiné, o qual decorreu em Almada por serem lá residentes os organizadores.

Na passada semana reuniram-se numa outra refrega gastronómica onde estava presente a lampreia, mas a essa luta não tive possibilidade de ir.

O homem que é o habitual dinamizador dessas jornadas é o António Bartolomeu da minha CCaç 14.

Para todos vocês votos de muita e boa saúde.

Abraço fraterno

Eduardo Estrela

Valdemar Silva disse...

Meu caro Estrela
O esmoregal é um peixe muito famoso em Cabo Verde, julgo que não aparece por cá.
Famoso e caro, vendido grelhado nos bons restaurantes a turistas.
É um peixe pelágico, também lhe chamam lírio, normalmente apanhado ao largo os de 3 kg que é grelhado aos bocados, e até lhe chamam o peixe-carne. Os mais pequenos, como o que me ofereceram, são pescados por populares para assar no forno com banana pão, grelhado e de caldeirada.
É uma delicia, eu não tive foi paciência para o cozinhar como devia ser.
Mas, nada como um belo sargo acabado de pescar e comido no restaurante, lá em baixo, na Praia da Arrifana (Aljezur) em 1994, nunca mais lá poderei ir...

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Eduardo Estrela disse...

O sonho e a utopia dá-nos a possibilidade de acariciar muitos dos nossos desejos e acumular forças para que os mesmos se tornem muitas vezes em realidade.
Há que continuar na luta. Há muitas iguarias para serem apreciadas e muitos lugares aonde gostaríamos de regressar numa viagem de memórias.
Partilho do teu gosto pelo maravilhoso sargo da pedra capturado no mar da Costa Vicentina, mas não abdico duns carapauzinhos " alimados " petisco aqui da minha zona e que em certos hotéis com mais estrelas que um brigadeiro é comida denominada gourmet.

Para ti Valdemar e para todos os outros companheiros/camaradas que sonham, vai o meu abraço de solidariedade.
Eduardo Estrela


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Até nisto, somos plurais... Não temos que pensar todos pela mesma cabeça, não temos que gostar todos dos mesmos petiscos... O que torna o nosso país atraente e, mais do que isso, fascinante, é a nossa "idiossincrasia", a nossa diversidade, a nossa riqueza cultural (incluindo os "comes & bebes")... mas também a nossa tolerância e a nossa capacidade de abertura ao(s) outro(s), direi mesmo empatia, qualidades mais urgentes do que nunca nos dias que correm...

Eduardo Estrela disse...

É isso mesmo Luís!
O bem estar da alma e do corpo resultam da partilha do conhecimento e da troca de ideias mesmo que as mesmas se antagonizem. Tudo duma forma civilizada e honesta de modo a melhorarmo-nos em todas as vertentes.
Para quê mais guerras se na puta da vida a luta pela sobrevivência já é uma.
Como tu referes e bem, que haja mais tolerância e capacidade de entender os outros.

Abraço