segunda-feira, 14 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23076: (De)Caras (185): Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atuou em Jabadá, para os militares da CCAV 2484 (1969/70) (Manuel Antunes / Fernando Feio)... mas também em Galomaro, em 1971, ao tempo do BCAÇ 2912 (António Tavares)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné > Região de Quínara > Jabadá > CCAV 2484 (1969/70) >  A cantora ié-ié Isabel Amora, atuando para os militares do aquartelamento, que ficava na margem esquerda do Rio Geba. Fotos do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)

Fotos (e legenda): © Manuel Antunes (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] 


1. O nosso camarada, Manuel Antunes, que vive há mais de meio século em Toronto, Canadá, acaba de confirmar o nome da artista que atuou para ele e os seus camaradas, os  "Dragões de Jabadá" (Fotos nº 1 e 2), em data que não precisa, mas que só pode ter sido entre 4 de março de 1969 e 9 de dezembro de 1970 (A CCAV 2484 / BCAV 2867 assumiu o subsector de Jabadá em 4 de março de 1969, e foi rendida em 9 de dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.)

Quem primeiro identificou a cantora (Foto nº 2) foi o Francisco Feio, ex-1º cabo mecânico, também da CCAV 2484: "Isabel Amora, nome artístico, tenho fotos dela e dos outros dois artistas que estiveram no mesmo concerto" (11 de março de 2022 às 22:55, comentário ao poste P23069 (*)

O Manuel Antunes mandou mais duas fotos desse espectáculo com a tal Isabel Amora (Fotos nº 1 e  4). Tudo indica que, nesse espectáculo, a artista tenha aparecido com duas indumentárias diferentes: vestido curto, mas de manga comprida e minissaia (Fotos nºs 1 e 2) e blusa de manga curta e calça à boca de sino (Fotos nº 4 r 5).  

Na primeira atuação, está ao nível dos espectadores, uns sentados, outros de pé, e outros ainda empoleirados numa árvore. O local pode ser a parada do quartel ou as proximidades de alguma das casernas. Na  segunda atuação, está num plano mais alto, num murete, junto à parede de um edifício. 

Na foto nº 3 pode ver-se um pormenor dos sapatos, que parece estarem parcialmente enlameados ou sujos com terra. Na foto nº 5, destaca-se um elemento, feminino, que parece estar a tocar teclas (ou piano elétrico). O Fernando Feio  fala em "mais dois artistas que estiveram no concerto".

2. Quem era a Isabel Amora, que entretanto já morreu, em 2020, com 74 anos?

Segundo elementos que recolhidos na Net, foi uma "pioneira vocalista pop entre nós e que hoje em dia poucos porventura recordarão" (**)... Nasceu na Amora, concelho do Seixal, distrito de.Setubal em 1946.

Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)

(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)


Com Paula Amora, sua prima, Isabel faz o duo Elas, com supervisão do músico Carlos Portugal.  "Entre 1971 e 1972 gravam cinco discos, contando com arranjos de Pedro Osório e com originais de Portugal e de Luís Romão (com percurso de destaque então a solo).

Mas em Jabadá  Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a  fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).

(...) "Ainda em 1971, este duo pop canta na inauguração do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, e participa no único Festival da Canção da Guarda, com 'Sim, Meu Amor Foste o Primeiro'. Depois dos dois últimos discos do duo, em 1972, Isabel Amora ainda cantou em Moçambique a solo e fez teatro alguns anos mais tarde, mas os tempos de glória tinham ficado para trás."

(...) "Em 1972 fizeram uma tournée por todas as praias de Portugal - Concurso Miss Praia 72 - com o patrocínio duma Rádio, com um grupo de músicos de Almada. Participam no programa televisivo que passa na RTP1 - Canal13 - todas as segundas feiras à noite. Programa esse que era gravado no Teatro ABC nos sábados anteriores no Parque Mayer, em Lisboa. (...)

(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)



3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):

(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.

"Os Militares e a População local durante umas horas esqueceram a guerra. Existem fotos comprovativas dos artistas em Galomaro. Acabada a actuação os artistas seguiram viagem para Bafatá ou Bambadinca." (*)

Ficamos sem saber quem promoveu o espectáculo em Jabadá (e noutros sítios, como Galomaro): O Movimento Nacional Feminino (MNF)?A atriz Helena Félix (Porto, 1920 - Lisboa, 1991)?  O pai da Eunice Muñoz, que se chamava Hernâni Cardinali Muñoz, e que era o empresário da Isabel Amora?... 

Enfim,  será que estes e outros empresários  fizeram digressões, com artistas da Metrópole,  pelos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique), independentemente do Movimento Nacional Feminino? Nesse caso, quem pagava? Era o Exército?

8 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atou(?) em Jabadá. Atou e, se calhar como morreu, já não ata. É gralha ou é intencional?

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Claro que é gralha, Tó Zé. Obrigado pelo reparo. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Do Arquivio do DN - Diário de Notícias,com a devida vénia...


O concurso de yé-yé em Lisboa em 1965

Concurso de Yé-Yé animava a juventude lisboeta mas servia também para angariar fundos para as tropas que combatiam em África


O concurso de yé-yé em Lisboa em 1965
© Arquivo DN

Leonídio Paulo Ferreira (textos) e Simões Dias (seleção de fotos)
19 Agosto 2016 — 00:16

A notícia do DN datado de 29 de agosto de 1965 falava de "horas de inusitada euforia" no Teatro Monumental, em Lisboa (no Saldanha, onde hoje há um centro comercial). E como "uma verdadeira onda de jovens acorreu ali para aplaudir freneticamente os intérpretes da música da sua eleição". O jornal fala ainda de uma "beatlemania" em Portugal.

Ora, o vencedor da primeira eliminatória deste concurso de yé-yé foi o conjunto Os Átomos, logo seguido de Os Dakotas. A reportagem do DN dá conta ainda de como o vocalista de Os Dakotas foi erguido no ar em pleno pelos admiradores. "O rapaz ia morrendo sufocado com tantos apertos", sublinha o jornalista.

As receitas do concurso destinavam-se às Forças Armadas Portuguesas, que na época combatiam em África. Com a guerra contra os movimentos de libertação africanos a prolongar--se quase mais uma década, é de acreditar que mais cedo ou mais tarde muitos dos rapazes que entoavam as músicas na plateia também acabaram a combater nas ex-colónias.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estes espectáculos para os militares da "guerra do Ultramar" deviam ser organizados pelo Movimento Nacional Feminino... Tal como os concursos de música ié-ié de 1965 e 1966 no Monumental em Lisboa.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Exército não tinha nem tradição nem vocação nem estruturas para organizar este tipo de eventos. Dava apoio ao nível local (logística, transportes, segurança...)

Valdemar Silva disse...

Os Concursos de ié-ié em 1965-66 no Monumental, em Lisboa, tiveram grande saída na época.
Os Ekos do Edmundo Falé e os Chinchilas da linha de Cascais eram os mais conhecidos.
Como teve organização a favor "dos militares na guerra do Ultramar" também teve um cunho político, por isso havia nas proximidades do Monumental umas carrinhas da polícia de choque para acalmar os "menos rockeiros".

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...

Pois, o famoso, e já referido muitas vezes, "concurso yé-yé".

Essa designação provém do refrão da canção dos "Beatles" "She loves you", pertencente à fase inicial desse conjunto, que veio influenciar decisivamente a música e a juventude e seus comportamentos da época.
Foi como que um slogan identitário, uma imagem de marca.
Foram vários os elementos que, integrando conjuntos a concurso ou que não chegando aí, mas que proliferaram pelo País fora, que vieram a integrar as Forças Armadas e também muitos deles (nem todos) fizeram as suas comissões de serviço em terras africanas.
Como já referi em alguns dos artigos que tenho enviado, a maioria dos elementos que fizeram o Curso de TSF na minha incorporação, eram participantes de conjuntos musicais diversos.
Comigo, na Guiné, estiveram o Luís Dutra (já falecido) e o Eduardo Pinto que pertenceram a um dos conjuntos da finalíssima, "Os Tubarões", de Viseu, sendo que no curso anterior estiveram outros, sendo que o Vítor Barros, que também pertenceu aos "Tubarões" esteve também na Guiné.
Muitos outros também estiveram, lembro assim de repente, o Vítor Raposeiro e outro elemento do meu curso, o José Fanha (que animava o "Chez Toi").
Tudo indica que a musicalidade do "morse" se ajustava muito bem para os critérios de escolha para futuros "transmissões TSF".

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No livro "Guerra Colonial: Fotobiografia", do nosso saudoso Renato Monteiro (1946-2021) (coautor: Luís Farinha) (Lisboa, Publicações Dom Quixote e Círculo de Leitores, 1990) há fotos do Raul Solnado (em Zala, Angola), Forbela Queiroz (Moçambique, 1967) e Duo Ouro Negro (em Guileje, Guiné, 10/11/1969), vd. pp. 226/227.

Legenda da foto com o Duo Ouro Negro, em Guileje, pag. 227: "Segundo modelos experimentados noutros palcos de guerra, o Movimento Nacional Feminino, com apoio dos meios empresariais do espectáculo, organizava tournées às três frentes de combate, com os artistas mais conhecidos do teatro e da música ligeira".