Diorama de Guileje > 2008 > A casota do gerador Lister: miniatura, da autoria de Nuno Rubim, destinada ao Núcleo Museológico de Guileje, Guileje, região de Tombali, Guiné-Bissau
Fotos (e legenda): © Nuno Rubim (2008). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Um gerador de marca Lister, parecido com o que deveria existir em Guileje.
Imagem retirada da Net: Nuno Rubim (2007)
1. Mensagem de Manfred Stoppok (foto à esquerda), antropólogo social, investigador de pós-doutoramento, da Universidade de Bayreuth, Alemanha
Data - 26 de setembro de 2022, 16:44
Assunto - A electrificação e os militares na Guiné-Bissau nos anos 1960
Exmos Senhores,
O meu nome é Manfred Stoppok, sou investigador pós-doc na Universidade de Bayreuth, Alemanha.
O meu nome é Manfred Stoppok, sou investigador pós-doc na Universidade de Bayreuth, Alemanha.
Já fui várias vezes à Guiné-Bissau, e neste momento faço um estudo sobre a história da eletricidade no país.
Eu descobri nos arquivos históricos ultramarinos em Lisboa que, durante a guerra de 1961/74, uma grande parte da capacidade de produção de eletricidade estava nas mãos das forças armadas portuguesas: dos 59 lugares com geradores fora de Bissau, 47 tinham somente um gerador nas mãos das forças armadas, e somente 19 tinham uma distribuição civil.
Em termos da capacidade de produção, ambas, a administração civil e as forças armadas, tinham cerca de 1 MW cada um no total.
Este aspeto é provavelmente uma coisa muito especial no desenvolvimento do sector de energia. Neste sentido, tenho algumas perguntas, na resposta às quais os senhores talvez me possam ajudar.
(i) Os geradores dos militares forneciam eletricidade em geral somente para os quartéis – para uso próprio – ou também forneciam eletricidade para as unidades administrativas, escolas, hospitais, etc.? Ou até mesmo para alguns particulares ou comerciantes?
(ii) Ou havia uma iluminação pública das ruas naqueles lugares? Em pelo menos alguns casos isso acontecia, havia eletricidade para a administração, mas eu não sei se isso era a regra ou a exceção.
Eu descobri nos arquivos históricos ultramarinos em Lisboa que, durante a guerra de 1961/74, uma grande parte da capacidade de produção de eletricidade estava nas mãos das forças armadas portuguesas: dos 59 lugares com geradores fora de Bissau, 47 tinham somente um gerador nas mãos das forças armadas, e somente 19 tinham uma distribuição civil.
Em termos da capacidade de produção, ambas, a administração civil e as forças armadas, tinham cerca de 1 MW cada um no total.
Este aspeto é provavelmente uma coisa muito especial no desenvolvimento do sector de energia. Neste sentido, tenho algumas perguntas, na resposta às quais os senhores talvez me possam ajudar.
(i) Os geradores dos militares forneciam eletricidade em geral somente para os quartéis – para uso próprio – ou também forneciam eletricidade para as unidades administrativas, escolas, hospitais, etc.? Ou até mesmo para alguns particulares ou comerciantes?
(ii) Ou havia uma iluminação pública das ruas naqueles lugares? Em pelo menos alguns casos isso acontecia, havia eletricidade para a administração, mas eu não sei se isso era a regra ou a exceção.
(iii) E, bem interessante para mim, o que é aconteceu com os geradores militares na hora da independência da Guiné-Bissau? O mais provável é que os geradores tenham sido levados para Portugal, o que significou a perda de quase 50% da capacidade de produção fora do capital Bissau. Ou será que estes equipamentos ficaram na Guiné?
Eu agradecia muito se os senhores puderem e quiserem partilhar as suas experiências comigo ou então indicar-me onde posso encontrar documentação sobre estas coisas.
Eu também estarei em Lisboa por duas ocasiões nos próximos meses – no final do outubro de 2022 e no início de fevereiro de 2023 – e teria muito gosto em ter um encontro pessoal com quem quiser partilhar as suas informações e memórias relativamente a este assunto,
Com os melhores cumprimentos
Dr. Manfred Stoppok
[Revisão e fixação de texto, negritos: L.G.]
Manfred Stoppok | Post-Doc Researcher
f: funded by Fritz Thyssen Foundation
a: University of Bayreuth – Social Anthropology
e: manfred.stoppok@uni-bayreuth.de
w: www.history-electrification.com
Capa do livro "A Engenharia Militar na Guiné: o Batalhão de Engenharia". Coordenação do Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa: Direção de Infra-estruturas do Exército, 2014, 166 pp.
Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): José Nunes (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Comentário do editor LG:
Meu caro Manfred: vamos tentar ajudá-lo (*). Obrigado pelo seu contacto. Procurei melhorar a sua mensagem em português. Mas não temos, à partida, grande informação (e muito menos conhecimento) sobre a eletrificação da Guiné-Bissau no nosso tempo (1961/74). E falta-nos, enquanto antigos combatentes, uma visão geral sobre a situação da eletrificação do território...
Nos quartéis, havia pelo menos um gerador (nalguns casos, haveria um sobresselente para suprir avarias) que funcionava preferencialmente à noite. Nunca ou raramente estavam a operar 24 horas por dia. Fez-se um esforço por eletrificar todos os aquartelamentos localizados em povoações importantes. E isso competia à engenharia militar (BENG 447).
Havia quartéis maiores do que outros, e alguns estavam implantados nas próprias povoações, sendo natural que contribuissem para a ilumição pública fora do perímetro do arame farpado, nas proximidaxes da porta de armas e na rua principal da localidade (caso de Bambadinca, Teixeira Pinto, Nova Lamego, Farim, Catió...).
Em localidades como Bambadinca (onde eu estive, de julho de 1969 a março de 1971, e que teria, na altura 2 mil habitantes, e cerca de 400 militares), e que era um posto administrativo fazendo parte do município de Bafatá (a segunda maior cidade do território, a 30 quilómetros, a nordeste), o perímetro militar integrava as instalações e a casa do chefe de posto, a escola (com a casa da professora, cabo-verdiana), bem como uma capela cristã... O edifício dos correios, se bem recordo, já ficava fora... As casas comerciais estendiam-se ao longo de uma rua de trezentos metros que era ilumianada, tanto quanto me lembro... O resto (duas tabancas) ficava às escuras... O gerador militar também fornecia luz ao posto de intendência no porto fluvial, na margem esquerda do rio Geba Estreito, a escssas centenas do aquartelamento, sede de um batalhão (BCAÇ 2852 e depois BART 2917)...
Os frigoríficos (tanto dos comerciantes civis como os da tropa, e de um ou outro particular) eram alimentados a petróleo. E alguns de nós, graduados, tinham também pequenos frigoríficos, nos quartos para manter frescas as bebidas como a cerveja... (Um luxo, a cerveja gelada, o gelo para o uísque, a água de Vichy e de Perrier...).
Por outro lado, temos ainda a memória do cinema ambulante, que passava, mesmo no tempo da guerra, por algumas povoações mais importantes do leste da Guiné. E havia localidades que tinham sala de cinema (Bafatá, Teixeira Pinto, Nova Lamego...).
É importante que fale com os nossos camaradas do BENG 447, o Batalhão de Engenharia nº 447, que estava sediado em Brá, Bissau, e era responsável também pela construção e eletrificação das instalações militares no mato.
Fica aqui o seu apelo. Vamos ver se aparece informação relevante para si e o seu projeto sobre a história da electricificação da Guiné, terra a que nos ligam fortes laços afetivos e muitas memórias (boas e más). Vejo que fala e/ou escreve português. Isso facilita os contactos. Boa sorte, boa saúde, bom trabalho. LG
PS1 - Temos ideia que houve, no tempo do governador Sarmento Rodrigues (1945/49) e depois do general António Spínola (1968/73), uma melhoria da eletrificação do território. Mas não temos informação detalhada. Por outro lado, Bissau estava muito melhor iluminada, à noite, antes da independência do que depois. Em 2008, quando lá voltei, a cidade vivia às escuras. Fale também com o nosso camarada Mário Beja Santos, que é um enciclopédico estudioso da história da presença portuguesa no território, bem como o nosso camarada Patrício Ribeiro, fundador e diretor da empresa, com sede em Bissau, Impar Lda, do sector de energia. Dar-lhe-ei depois os contactos,
PS2 - O nosso José Nunes (José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo Mecânico de Eletricidade no BENG 447 (Brá, 15Jan68 - 15Jan70) esteve na Central Elétrica do Quartel General, em Bissau. Tem, por certo, conhecimento da matéria. (Vd. o precioso poste P2470, de 22 de janeiro de 2008 " (**)
___________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 25 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23459: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (95): PSP / 7ª Companhia Móvel de Polícia: selecção de fotos da visita a Bissau, de Américo Tomás (em 2/2/1968) e de Marcelo Caetano (em 14/4/1969) (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)
(*) Último poste da série > 25 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23459: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (95): PSP / 7ª Companhia Móvel de Polícia: selecção de fotos da visita a Bissau, de Américo Tomás (em 2/2/1968) e de Marcelo Caetano (em 14/4/1969) (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)
(...) Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 Janeiro de 1970. Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos, Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglés, Bolama, Bissum-Naga.
Acerca dos manuais que o Camarada Coronel NUno Rubim precisa, deve ser difícil pois nunca os vi em 2 anos e um dia de Comissão, nem na escola Militar tivemos acesso a eles.
Os grupos geradores mais utilizados eram: 500/250 KVA, 150, 50/47,5 KVA.
No Quartel General (QG), na Central nova, havia dois Dorman de 250 KVA, com 6 cilindros, refrigeração a água por radiador e, um grupo gerador de emergência Lister de 75 KVA.
Na Central velha, existia operacional um Deutz de 12 cilindros em V, refrigerado a ar e um Lister de 50 KVA.
Na Engenharia [ BENG 447] e no Hospital Militar estavam os grupos geradores maiores.
No mato, normalmente, encontravam-se geradores com potências de 50, 20 e 7,5 KVA.
As marcas Stanford e Frapil para pequenas potências até 20 KVA. As motorizações eram diversas: Dorman, Deutez, Lister e EFI produção nacional.
Em Porto Gole havia um Lister de 47,5/50 KVA, na Ponta do Inglês havia um Gerador de 20 KVA que lá fui levar com um operador de Motores Fixos [ e que se avariou, obrigando o pessoal a recorrer à iluminação a petróleo com garrafas de cerevja] .
Ajudei a transferir o grupo gerador, na lama, da LDP (Lancha de Desmbarque Pequena) para cima do Unimog, a descarregar no local e a fazer ligações de potência.
Por azar, o meu camarada inverteu a polarização na excitação e o gerador ficou inoperacional.
Tive de me pirar porque fui lá desenfiado só para ajudar e para ver se o Operador vinha no mesmo dia para Bissau, mas ficaram sem iluminação e o Engenheiro ficou lá até ao próximo transporte, regressando eu a Porto Gole onde levei uma valente piçada.
Ponta do Inglês [destacamento do Xime, na foz do rio Corubal], iluminação? A bazucas [garrafas de cerveja, de 0,6 l] cheias de petróleo penduradas no arame farpado.
Ponta do Inglês [destacamento do Xime, na foz do rio Corubal], iluminação? A bazucas [garrafas de cerveja, de 0,6 l] cheias de petróleo penduradas no arame farpado.
A iluminação nos aquartelamentos era feito com cibes [ rachas de troncos de palmeira] a fazer de postes, linhas de cobre nú de 2,5 mm2, circuito fechado em anel, lâmpadas Philips 150 Watts spot.
Os quadros eléctricos eram em baquelite, equipados com fusíveis ou disjuntores quando os havia.
Não havia uniformização nos geradores, tal como muita coisa era comprada ao sabor de quem dava melhor percentagem, mas a maioria dos aquartelamentos tinha geradores de 7,5 ou 20 KVA. (...)
Não havia uniformização nos geradores, tal como muita coisa era comprada ao sabor de quem dava melhor percentagem, mas a maioria dos aquartelamentos tinha geradores de 7,5 ou 20 KVA. (...)
26 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4867: Memória dos lugares (35): Porto Gole, Março/Abril de 1968, CART 1661 (José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70)
19 comentários:
Os geradores que operavam no interior do quartel de Bolama, alimentavam os candeeiros de iluminação pública da cidade.
Abraço
Eduardo Estrela
Há vários relatos de militares que encontravam, à noite, os jovens estudantes, em Bissau, a fazer os trabalhos de casa (TPC) à luz dos candeeiros de iluminação pública... Alguns até lhes davam explicações: de português, matemática... Em 2008, quando estive em Bissau, era uma cidade às escuras: só havia luz nos hotéis e restaurantes... Tudo, de geradores.
O que aconteceu aos geradores da tropa quando de lá saímos em 1974 ? Alguém sabe ? Quem é que trabalhava com os geradores nos quartéis ?
Tanto quanto me lembro, em Bafatá acontecia um caso curioso. Ali, o quartel, pelo menos o do Comando de Agrupamento e o do Esquadrão de Cavalaria ao lado, recebiam a energia elétrica pública da Administração a troco do combustíbel para os geradores.
Abraços
Fernando Gouveia
Fernando, és sempre bem aparecido... Isso que contas ainda é no tempo do administrador Guerra Ribeiro, não ?... O mesmoo que construiu a piscina de Bafatá, e foi depois era superintendente em 1972 (. Temos fotos dele com o Spínola, em Bambadinca, onde funcionava um Cnetro de Instrução Militar das milícias de leste)...
Bafatá foi elevada à categoria de cidade ainda no meu tempo (princípios ou meados de 1970), e pelas fotos que temos vê-se que já tinha iluminação pública, pelo menso estão lá os postes...
Esse acordo com a tropa era interessante: afinal, gasóleo era coisa que não faltava ao exército, nesse tempo... Um navio-tanque da SACOR abastecia regularmente o território com todo o tipo de combustíveis...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/03/guine-6374-p11293-memoria-dos-lugares.html
Olá Camaradas
Nos quartéis onde estive, quem trabalhava com o gerador era um soldado que tinha jeito e tinha aprendido a reabastecer, mudar o óleo e vigiar os manómetros? Era como se fosse uma viatura. Recordo-me que em Cameconde, os dois condutores "residentes" eram os responsáveis pelo motor.
Um Ab.
António J. P. Costa
Olá amigos e camaradas
No meu Sector O2 - Farim que compreendia além de Farim, o subsector de Jumbembem onde estive 18 meses, o aquartelamento era dotado de um gerador que apenas funcionava durante a noite e a população que até meados de Setembro também beneficiava da iluminação porque estava enquadrada dentro do aquartelamento. Com o reordenamento a partir de meados de 1970 a população ficou fora do arame farpado e como tal deixou de beneficiar de iluminação, excepto as tabancas que estavam próximas do arame farpado.
Creio que esta situação também se verificava nos aquartelamentos de Canjambari e Cuntima.
Estive no mês de Novembro de 1969 no K3/Saliquinhedim, e o abastecimento/funcionamento eléctrico era igual.
Os frigoríficos eram alimentados a petróleo.
Quanto à vila da Farim onde estive 4 meses até Dezembro 1969, os edifícios militares dispersos, e os arruamentos tinham iluminação pública abastecida por uma central eléctrica que lá existia/existe junto às piscinas. Actualmente creio que não funciona, mas existe iluminação com a implantação de postes solares.
Os comerciantes, alguns tinham geradores.
Mas para mim, presumo que a electrificação ou fornecimento de energia nos aquartelamentos em toda a Guiné, era semelhante com recurso aos geradores excepto nos grandes aglomerados, como Farim, Mansoa, Teixeira Pinto, Bafatá, Nova Lamego, Cacheu etc, etc
Portanto para mim, esta era a característica geral da Guiné no que se refere à energia.
Abraço
Carlos Silva
Caros amigos,
No quartel de Fajonquito (sede da companhia) situado ao lado da aldeia, havia um pequeno e barulhento gerador a diesel que servia para iluminar dentro e a volta do aquartelamento que, se a memoria nao me falha, chegou em meados de 68/69, antes utilizavam-se candeeiros vacuos em alguns sitios (para iluminar a zona do refeitorio e a messe de oficiais e sargentos, entre outros). Havia um militar encarregue especialmente dos seus cuidados de manutençao.
Apos a independencia, ainda funcionou durante alguns meses (penso que enquanto durou a reserva de combustivel deixado pela tropa portuguesa), mas com a decisao de acabar com o aquartelamento e centralizar tudo na sede do Sector (Contuboel), destruiram as instalaçoes que eram antigas casas comerciais e levaram consigo o Gerador. Ninguém deu satisfaçao a populaçao local, também nao fazia muita falta, porque nunca tinham beneficiado dos seus serviços, salvo a criançada que procurava as zonas iluminadas para brincadeiras nocturnas.
De qualquer modo a nossa aldeia ficou mais escura e triste com a partida da tropa e, mais tarde, da confiscaçao do gerador. Sou de opiniao que a tropa metropolitana concentrada mais nas manobras da sua retirada e regresso a casa, nao teria qualquer interesse em retirar os geradores ja nos aquartelamentos que ja tinham entregue, de forma pacifica e amistosa, aos guerrilheiros.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Obrigado, Cherno, mais uma vez, pela partilha das tuas memórias de menino e moço em Fajonquito. Também me parece que, com a retirada das NT, ao longo de julho/agosto/setembro de 1974, o essencial do equipamento (geradores, incluidos...), tirando o armamento, ficou lá nos quartéis do mato, e naturalmente em Bissau... Era um gesto de paz e amizade, depois dos acordos de Argel...
De resto, o custo de transporte para a metrópole era elevado, poara não dizer proibitivo...nem havia meios de transporte suficientes... Para os guinenenes, o grande desafio era depois a manutenção... E aí foi um desastre, o PAIGC foi um "bluff", não tinha quadros para desempenhar tarefas, aparentemente tão simples como a manutenção e reparação da "rede elétrica" deixada no mato... Cionfiaram nos amigos russos, suecos, cubanos e outros... Em Bissau, não sei como foi, mas pelo que vi, "in loco", em 2008, era uma dor de alma aquela cidade... Não consegui sequer entrar nos meus antigos aposentos, em Bambadinca, tive vontade de chorar...
Luís nem dá para comentar é do conhecimento geral o PAIGC só foi rico em propaganda antes da independência, porque após independência não preservou nada degradação total tanto móveis como imóveis enquanto durou e funcionou OK a seguir sucata ou ruinas. Veja-se a linda cidade colonial de Bolama como eu a conheci, hoje um abandano total de ruínas, mas é que não foi só Bolama foi a totalidade de quase tudo para não dizer tudo, o que os tugas lá deixaram. É desolador.
Não sei se a expressão "gerador elétrico" não é redundante... Os nossos engenheiros que me corrijam... O que será mais correto para figurar como descritor no nosso blogue: gerador ? gerador de energia ? gerador elétrico ?... O gerador produz "energia elétrica", mas pode ser movido a diesel, a gás, a vapor, e não sei que mais...
Vejamos o que diz o dicionário:
gerador
gerador | adj. n. m. | n. m.
ge·ra·dor |ô|
(latim generator, -oris)
adjectivo e nome masculino
1. Que ou o que gera; que ou o que produz geração. = CAUSADOR, CRIADOR, PRODUTOR
nome masculino
3. Aquele que gera. = PROGENITOR
4. Dispositivo que transforma energia mecânica, química ou calorífica em energia eléctrica.
5. Parte da máquina em que se produz o vapor. = CALDEIRA
"gerador", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/gerador [consultado em 27-09-2022].
Na Wikipedia usa-se o termo "gerador elétrico" (português) ou "eletric generator" (inglês). O que se usava na Guiné, no nosso tempo, eram geradores eletricos a diesel... Correto ?
https://en.wikipedia.org/wiki/Electric_generator
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gerador_el%C3%A9trico
Julgo que em Nova Lamego o gerador produzia electricidade para os civis e para a tropa, e penso que a manutenção e a segurança era feita por gente da administração e sipaios. Digo isto por, nunca a minha CART11 ter feito segurança ao gerador, mas montava emboscados e rondas nocturnas como o pessoal do Batalhão.
Quando Nova Lamego foi atacada por "mísseis" os nosso soldados foram fazer a segurança ao gerador, o meu pelotão não foi e não me lembro se estava assim pré definido ou se foi alguma ordem ocasional. Mas os frigoríficos da Companhia trabalhavam a petróleo.
Não vem a propósito mas pode interessar, o sistema de iluminação que estava montado na fiada interior do arame farpado em volta de Giro Iero Bocari e era o cúmulo do desenrasca das invenções. Guiro Iro Bari era um destacamento de Paúnca com dois pelotões junto da população, apenas com umas tendas, valas e duas fiadas de arame farpado em todo o perímetro.
Uma lata vazia, das grandes, de doce/feijão aberta ficando a tampa presa por forma a ser dobrada para se aproveitar ao máximo, como uma pala virada para o céu. Dentro da lata uma garrafa de cerveja com petróleo tapada com uma carica furada e uma torcida. Á noite acendia-se a torcida e a luz refletida na tampa da lata dava um bom candeeiro que só dava luz para a frente.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Muito obrigado pelos valiosos comentários!
Posso partilhar aqui algumas informações sobre a evolução do sistema de eletricidade na Guiné:
Distribuição e iluminação publica em Bolama e Bissau a partir de 1930; em Bafatá a partir de 1933. Nos anos 1920 já tinha iluminação de alguns prédios em Bubaque, e provavelmente também em Bolama, mas não foi uma distribuição publica.
Em outros lugares somente depois da segunda guerra mundial, respetivamente a partir de 1947 foram instalados geradores em vários sítios (cerca 20 lugares).
O fornecimento de energia elétrica 24/7 somente realizou se em Bissau.
Existiam planos para criar uma rede de distribuição em alta tensão mesmo para o interior – mas não foram realizados. A administração optou para o sistema de pequenos geradores em todos lugares, porque no curto prazo foi o mais viável, o mais barato, o mais rápido. Mesmo que, já naquele tempo, sabiam que um sistema assim, vai criar muitas problemas na manutenção e vai ser muito fraco ao longo prazo.
Deve ser que o militar instalou a maior numero de geradores no país na sequencia da guerra.
A fonte sobre os geradores no país é um relatório do engenheiro José Correia da Cunha Barros de 1969. Em anexo desde relatório tem uma tabela que conto 73 lugares, dos quais 59 tem gerador. E daqueles, a maioria na propriedade do militar. Naquele tabela consta de mesmo os nomes e números dos geradores – bem detalhada:
Barros, José Correia da Cunha (16.07.1969): Problemas eléctricos na Província de Guiné - Visita efectuada de 18 a 30 de Junho de 1969. Arquivos Históricos do Ultramarino (AHU), PT/IPAD/MU/DGOPC/DSE/1579/00782.
Bem, foi este fonte que me avisou, que o militar tem um certo papel na historia da eletricidade na Guiné. E parece que este papel esta maior de que somente iluminar os próprios aquartelamentos.
Si alguém esta interessado nos detalhes dos geradores – posso partilhar o relatório com a tabela numa versão digital.
Aparece que esta lista não é completa. Como eu li nos comentários havia mais aquartelamentos, e todos tinhas um gerador.
Em geral, o engenheiro da Cunha Barros descreve o sistema dos geradores como um sistema muito degradado já no final dos anos 1960. Falta de peças, faltas de manutenção, diferentes marcas, mal instalados, sistemas avariados há muito tempo e ele não entende porque. Ele dou algumas ideais para melhorar o sistema (entre outras, unificar os geradores, ter somente uma marca, e somente três, quatro diferentes potencias), mas aparentemente, não se realizou antes da independência.
Depois, aquele sistema de geradores caiu totalmente. Por outro lado – o sistema é persistente. Ate hoje, a distribuição elétrica na Guiné funciona a partir de pequenos grupos de geradores, são frequentemente adquiridos novo grupos, instalados, abandonados, degradados, um circulo vicioso. Mas, é neste maneira que o sistema de eletricidade funciona principalmente ate hoje. O fundo do poço foi em 2008, quando mesmo a cidade de Bissau raramente tinha luz – isso melhorou bastante desde 2014/15.
Por isso o meu projeto fala de um período de eletrificação (até os anos 1980) – de de-eletrificação (anos 1980 – até 2008) e re-eletrificação (a partir de 2008) na Guiné-Bissau.
Neste sentido, quero comprender melhor qual foi o impacto da electricidade fornecida pelas forças armadas.
Stoppok, Manfred (by email)
terça, 27/09/2022, 21:41
Boa noite,
muito obrigado para publicar meu pedido no blogue.
Já tem mais comentários e pessoas para contatar que eu imaginava!
E tudo tao rápido!
Também vou responder nos comentários a partilhar o que eu consegui saber sobre a “evolução” da eletricidade na Guiné até agora.
Cumprimentos,
Manfred Stoppok
O nosso amigo e camarada, transmontano de Bragança, Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Manutenção da CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73) (e que estudou nos Pupilos do Exército), disse-me ao telemóvel o seguinte sobre os geradores:
(i) havia dois em Aldeia Formosa, no seu tempo;
(ii) a responsabilidade pela sua gestão era do pelotão de manutenção da CCS/BCAÇ 3852, de que ele era o responsável, enquanto alferes miliciano;
(iii) em caso de avaria, é que se chamava o BENG 447;
(iv) funcionavam os dois, alternadamente, até à 1h00 da noite, depois eram desligados;
(iv) forneciam luz para o quartel e parte da tabanca;
(v) não tinham potência para iluminar a tabanca toda;
(vi) ele chegou a sugerir a eletrificação da pista de aviação (onde aterravam todas as aeronaves, exceto o FIAT G-91); mas nunca se concretizaou: em caso de emergência, à noite, usavam-se garrafas a petróleo para balizar a pista (!)...
(vii) ficou de me dar mais informação técnica sobre os geradores de Aldeia Formosa (hoje Quebo).
Até no forte Apache do Cachil ilha do Como em 1964 havia um gerador elétrico para iluminar durante a noite as casernas e as fiadas de protecção do arame farpado, mas na noite de 16/11/1964 num ataque da guerrilha ao quartel o inimigo deitou abaixo a luz do gerador, a antena de transmissões, em Catió temeu-se o pior sem comunicações nossas durante toda a noite e tendo ouvido o detonar das granadas e das "costureirinhas" E das nossas g3 e Bredas.
De manhã cerca das onze horas após reparar a antena horizontal e comunicar com Catió Até eu ouvi o grito de alegria do operador (É o Cachil á escuta) o comandante Sr. coronel Narsélio Matias que s mantinha no posto rádio para saber qualquer notícia em 1ª mão quiz ser ele a falar mas nem queria acreditar no que lhe estava a dizer interrogou-me isso é verdade o que estás a dizer, Vai lá chamar o capitão o teu comandante que quero ouvi-lo de viva voz assim se fêz tranquilizou-se Catió e não só porque a seguir seguiram as mensagens codificadas com informação total sobre o tema em causa.
Nesta noite de 16/11/ de 1964 uma força nossa que foi de louvar foi o apoio do pelotão de morteiros 912 comandado pelo furriel Santos Oliveira mas aqui a união fêz a força.
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