1. Parte IV da publicação de um excerto do livro "Um Olhar Retrospectivo", de Adolfo Cruz (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 - Gadamael e Quinhamel, 1970/72), parte que diz respeito à sua vida militar.
IV - Guiné…
Dia 31 de Outubro de 1970, outra data marcante, lá estamos, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, onde o velho Carvalho Araújo nos aguardava para o embarque rumo à Guiné.
O agora capitão Assunção e Silva, promovido nessa altura, pôde confirmar a falta de mais dois graduados, o Cunha e o Rosa, nessa altura, já em França… Mas o Neves e o Cruz estavam presentes…
O capitão Assunção e Silva era conhecido, em Lamego, onde tinha dado instrução, por ‘assassino das falinhas mansas’, pelo baixo tom de voz e porque atingiu dois instruendos, durante a instrução, com bala real de G3.
Eu poderia ter pedido adiamento da ida para a Guiné, pois o meu irmão ainda estava em Moçambique, nesta altura, embora por mais dois ou três meses. No entanto, isso significaria mais tempo de serviço militar, para mim, abandonar a companhia já formada e ser mobilizado, novamente, em rendição individual, logo que o meu irmão chegasse.
Cerca do meio-dia, o Carvalho Araújo apita e começa a arrastar-se pelo Tejo, deixando aqueles lenços brancos a esvoaçar e as lágrimas das gentes a correr pelas tristes faces. A navegar, começámos a sentir uma certa instabilidade no navio, bastante de lado, água e lamas pelos corredores e pelos camarotes que utilizávamos, as portas dos corredores arrancadas para passarem a servir de passadeiras, sobre a água e lamas, uma maravilha. E eu que detestava barcos, não pelos barcos, em si, mas pela água, pois não conseguia ver o que estava lá em baixo…
Tudo indicava que não conseguiríamos comer com sossego e isso veio a verificar-se. Além do enjoo que se instalou, os tabuleiros com a comida deslizavam para todo o lado, ao sabor dos balanços do navio. Nos porões, onde era acondicionado o gado dos Açores, durante anos, os soldados tentavam descansar, com um enorme esforço para se alhearem daqueles odores impregnados, sem alternativa.
Ainda não tínhamos completado um dia de viagem, é-me entregue um telegrama. O sentido apurado de mãe e o facto de ter desconfiado da minha despedida, diferente do habitual, no seu dia de aniversário, levou-a a telefonar para o Campo Militar de Santa Margarida e correr tudo até lhe ser dito que eu tinha partido para a Guiné, já a navegar, no Carvalho Araújo! Aquele telegrama da minha mãe deixou-me um pouco triste mas, ao mesmo tempo, cheio de força para enfrentar a aventura que me esperava.
Um dia de felicidade, quando fizemos a escala em Cabo Verde, ilha de S. Vicente, cidade do Mindelo, onde estivemos cerca de doze horas, para abastecer o navio.
O capitão Assunção e Silva era conhecido, em Lamego, onde tinha dado instrução, por ‘assassino das falinhas mansas’, pelo baixo tom de voz e porque atingiu dois instruendos, durante a instrução, com bala real de G3.
Eu poderia ter pedido adiamento da ida para a Guiné, pois o meu irmão ainda estava em Moçambique, nesta altura, embora por mais dois ou três meses. No entanto, isso significaria mais tempo de serviço militar, para mim, abandonar a companhia já formada e ser mobilizado, novamente, em rendição individual, logo que o meu irmão chegasse.
Cerca do meio-dia, o Carvalho Araújo apita e começa a arrastar-se pelo Tejo, deixando aqueles lenços brancos a esvoaçar e as lágrimas das gentes a correr pelas tristes faces. A navegar, começámos a sentir uma certa instabilidade no navio, bastante de lado, água e lamas pelos corredores e pelos camarotes que utilizávamos, as portas dos corredores arrancadas para passarem a servir de passadeiras, sobre a água e lamas, uma maravilha. E eu que detestava barcos, não pelos barcos, em si, mas pela água, pois não conseguia ver o que estava lá em baixo…
Tudo indicava que não conseguiríamos comer com sossego e isso veio a verificar-se. Além do enjoo que se instalou, os tabuleiros com a comida deslizavam para todo o lado, ao sabor dos balanços do navio. Nos porões, onde era acondicionado o gado dos Açores, durante anos, os soldados tentavam descansar, com um enorme esforço para se alhearem daqueles odores impregnados, sem alternativa.
Ainda não tínhamos completado um dia de viagem, é-me entregue um telegrama. O sentido apurado de mãe e o facto de ter desconfiado da minha despedida, diferente do habitual, no seu dia de aniversário, levou-a a telefonar para o Campo Militar de Santa Margarida e correr tudo até lhe ser dito que eu tinha partido para a Guiné, já a navegar, no Carvalho Araújo! Aquele telegrama da minha mãe deixou-me um pouco triste mas, ao mesmo tempo, cheio de força para enfrentar a aventura que me esperava.
Um dia de felicidade, quando fizemos a escala em Cabo Verde, ilha de S. Vicente, cidade do Mindelo, onde estivemos cerca de doze horas, para abastecer o navio.
Antes de acostarmos ao cais, os miúdos mergulhavam nas águas transparentes daquele mar livre de poluição, para apanharem as moedas com a boca. Mas a felicidade acabou por ser aparente, durante aquelas horas pois, apesar de termos tido a possibilidade de comer bem e relaxar um pouco, o cenário encontrado deixou-nos infelizes, frustrados, revoltados.
Entrámos na cidade - aquilo era uma cidade?! - E procurámos os correios e um sítio onde houvesse jornais ou qualquer coisa que nos desse notícias. Estou nos correios, a preparar um telegrama para a Metrópole, quando sinto alguém a mexer-me nos pés: era um miúdo dos seus quinze anos a limpar-me os sapatos e com material para engraxar.
Entrámos na cidade - aquilo era uma cidade?! - E procurámos os correios e um sítio onde houvesse jornais ou qualquer coisa que nos desse notícias. Estou nos correios, a preparar um telegrama para a Metrópole, quando sinto alguém a mexer-me nos pés: era um miúdo dos seus quinze anos a limpar-me os sapatos e com material para engraxar.
Disse-lhe que não precisava, pois havia muito pó e iria sujar-me, logo a seguir. Logo me respondeu que precisava de ajuda, que tinha o quinto ano, mas não havia trabalho. Dei-lhe uns escudos, que trocaria por pesos, a moeda local.
A casa do governador, uma moradia de traça tropical, um liceu novo e um hotel novo, tudo o que sobressaía daquele mundo de casinhas de madeira, algumas transformadas em cafés, com esplanadas, e muito, muito pó castanho avermelhado pelo ar. Ficção, pensava eu, mas as cabras e vacas passeavam pelas ruas e comiam papel de jornal!
O pior deste cenário triste era a prostituição, como é costume dizer-se, porta sim, porta sim, ao longo daquelas ruelas de terra e pó castanho, sinal da necessidade instalada.
Hora do almoço e sou aconselhado a comer no hotel. Lagosta enorme, Pesos 70$00 (Esc 70$00 = € 0,35). Garrafa de Casal Garcia, Pesos 120$00 (Esc 120$00 = € 0,60). Claro que os produtos atingem preços altos, mais por força do custo do transporte.
Cenários que foram mal reconstruídos e continuaram mal tratados, podendo ter tido outro destino, principalmente, no acompanhamento dos mais pequenos, aqueles que mais sofrem, pois têm de ajudar os pais, pobres e sem horizonte. Aliás, tivemos esse exemplo por cá, em certas zonas do país, como já falámos.
A casa do governador, uma moradia de traça tropical, um liceu novo e um hotel novo, tudo o que sobressaía daquele mundo de casinhas de madeira, algumas transformadas em cafés, com esplanadas, e muito, muito pó castanho avermelhado pelo ar. Ficção, pensava eu, mas as cabras e vacas passeavam pelas ruas e comiam papel de jornal!
O pior deste cenário triste era a prostituição, como é costume dizer-se, porta sim, porta sim, ao longo daquelas ruelas de terra e pó castanho, sinal da necessidade instalada.
Hora do almoço e sou aconselhado a comer no hotel. Lagosta enorme, Pesos 70$00 (Esc 70$00 = € 0,35). Garrafa de Casal Garcia, Pesos 120$00 (Esc 120$00 = € 0,60). Claro que os produtos atingem preços altos, mais por força do custo do transporte.
Cenários que foram mal reconstruídos e continuaram mal tratados, podendo ter tido outro destino, principalmente, no acompanhamento dos mais pequenos, aqueles que mais sofrem, pois têm de ajudar os pais, pobres e sem horizonte. Aliás, tivemos esse exemplo por cá, em certas zonas do país, como já falámos.
Viagem retomada, restavam-nos as cartas, lerpa, sete e meio e montinho, principalmente, com muito dinheiro a rolar na nossa frente. Final do dia, já noite, notámos a falta do nosso enfermeiro, o Vítor Coelho. De um lado para o outro, corremos tudo e nada dele. Continuámos, até que, num camarote, um rabo e umas pernas saíam de uma janelinha redonda, constatando que o resto do corpo estava do lado de fora do navio.
Era o Vítor Coelho, debruçado para o lado de fora, com um cabo de vassoura na mão, a que tinha atado uma faca de mato, em ângulo recto, a tentar apanhar um peixe voador. Só o Vítor Coelho poderia lembrar-se disto!…
Algum tempo depois, passámos pela capital, a cidade da Praia, na ilha de Santiago, com pena de não ter sido possível conhecer, pois era a parte mais avançada do arquipélago. Limitámo-nos a apreciar, de longe…
No decorrer da viagem, fomos dando algum conforto moral aos soldados, pois eram os que mais mereciam, dadas as circunstâncias em que viajavam. Comer, uma grande dificuldade, pois tudo andava às voltas…
E a viagem continuava longa, como nos tinham dito. O que não nos disseram foi que o navio andava de lado, com água nos corredores e camarotes pelo meio da perna, lama, probabilidade de incêndio, etc.
E dez dias passaram, até que chegámos ao porto de Bissau. Não nos deixaram desembarcar, claro, pois o anoitecer estava perto e tornava-se perigoso.
Sabe uma coisa, Daniel? Tenho pena de não ter preparado uma garrafa de vidro, com uma mensagem dentro, e atirá-la borda fora, lá no alto mar, só para ver onde iria ter e se teria resposta, como tantos fizeram…
Porto de Bissau, oito da manhã, toca a sair do navio e entrar nas viaturas militares que ali nos aguardavam, rumo ao Depósito de Adidos, em Brá, perto do aeroporto de Bissau.
Não poderia imaginar que já éramos conhecidos ou falados, mas logo nos disseram:
- Ah, são a 2796, a que vai para a colónia penal da Guiné?!
Como acabávamos de chegar, logo, designados ‘periquitos’, eu pensei logo que poderia ser uma espécie de praxe, para nos amedrontar. Organizámos o ‘acampamento’, ajudando os nossos homens na distribuição dos espaços e das tendas de campanha, após o que nos deram uma refeição rápida, na cantina do Depósito de Adidos.
E dez dias passaram, até que chegámos ao porto de Bissau. Não nos deixaram desembarcar, claro, pois o anoitecer estava perto e tornava-se perigoso.
Sabe uma coisa, Daniel? Tenho pena de não ter preparado uma garrafa de vidro, com uma mensagem dentro, e atirá-la borda fora, lá no alto mar, só para ver onde iria ter e se teria resposta, como tantos fizeram…
Porto de Bissau, oito da manhã, toca a sair do navio e entrar nas viaturas militares que ali nos aguardavam, rumo ao Depósito de Adidos, em Brá, perto do aeroporto de Bissau.
Não poderia imaginar que já éramos conhecidos ou falados, mas logo nos disseram:
- Ah, são a 2796, a que vai para a colónia penal da Guiné?!
Como acabávamos de chegar, logo, designados ‘periquitos’, eu pensei logo que poderia ser uma espécie de praxe, para nos amedrontar. Organizámos o ‘acampamento’, ajudando os nossos homens na distribuição dos espaços e das tendas de campanha, após o que nos deram uma refeição rápida, na cantina do Depósito de Adidos.
Para os graduados, tendas individuais, um colchão pneumático, já com um ou outro gomo rasgado, mas era melhor do que nada. Silêncio, luzes de presença e segurança, ali estávamos a tentar descansar, já sentindo um certo cheiro a pó africano.
De repente, sinto qualquer coisa nas traseiras da tenda, que davam para a vedação de arame farpado, um som que correspondia a corte na lona. Mesmo na penumbra, vejo uma lâmina a entrar e a sair, lentamente, com cuidado, a cortar a lona, junto ao chão de terra castanha com tom avermelhado.
Consigo resvalar para o lado contrário, a saída da tenda, e rastejar de faca de mato na mão, a única coisa de defesa que tinha, pois ainda não tínhamos recebido as armas. Quando chego ao lado de trás, só vejo um vulto, africano, a correr em direcção ao arame farpado, dando um salto de peixe na primeira linha e novo salto na segunda linha, desaparecendo no escuro…
Logo chamei a atenção do sargento Moreira, no sentido de providenciar a distribuição de armas para o dia seguinte, logo de manhã, pois não se sabia que mais nos estava reservado, mesmo dentro do Depósito de Adidos.
Entretanto, tínhamos de aguardar disponibilidade de LDG (lancha de desembarque grande), com transbordo para LDM’s (lancha de desembarque média) e para LDP’s (lancha de desembarque pequena) ou batelões, caso apanhássemos a maré vazia, um grande problema.
O Daniel está a ver que lanchas são estas, as tais utilizadas no desembarque das forças aliadas, EUA, Inglaterra, França Livre e aliados, na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, considerada a maior invasão marítima da história, episódio que quase era dos nossos tempos. Parece que partiram todos de vários portos de Inglaterra, atravessaram o Canal da Mancha e invadiram a França ocupada pelos alemães, a Normandia.
Como eu ia dizendo, enquanto esperávamos pela hora da partida para o Sul, dava para umas visitas ali perto, Engenharia, Força Aérea, Comandos e à cidade, onde podíamos comer e beber umas coisas melhores do que no quartel, enquanto não nos avisavam da hora de partida para Gadamael Porto.
Na Força Aérea, encontrei um amigo da Figueira da Foz, o Flórido, que estava a acabar a comissão, logo, a preparar o regresso à Metrópole. Ficou contente por me ver e, ao mesmo tempo, preocupado comigo, quando lhe respondi que ia para Gadamael Porto, e isso respondeu à minha dúvida sobre o que nos tinham dito quando chegámos, ‘colónia penal…’.
Na cidade, além de tomarmos contacto com alguns locais que nos diziam interessantes e úteis, sinceramente, nada de jeito, tivemos a primeira noção de realidades estranhas, como produtos de consumo corrente com preços distintos, conforme procedentes da Metrópole ou importados, ou produtos inexistentes, sem justificação, para nós. Por exemplo, não havia água de Castelo, sumos e refrigerantes, logo, nacionais.
Havia água Perrier, coca-cola, logo, estrangeiras. Whisky, Gin, Licores de Whisky, por exemplo, imensas marcas, tudo original, importado - mais baratos do que qualquer bebida idêntica na Metrópole. Na esplanada de um café, um cálice balão de Whisky, Pesos 2,50 e uma água pequena Perrier, Pesos 7,50.
Os armazéns e retalho, principalmente, propriedade de portugueses, embora alguns de propriedade libanesa, pela tradição de comércio instalado, que era feito entre os países africanos, passando pela Guiné Conacry, atravessando a Guiné Bissau e seguindo pelo Senegal.
Vasta gama de equipamentos de alta-fidelidade e fotografia, pelo que adquiri um leitor gravador Hitachi, de boa qualidade, e uma máquina fotográfica Olympus.
Ainda me recordo de algumas casas, como a Casa Ultramarina, ligada ao BNU, a Casa Gouveia, ligada ao grupo CUF, a Casa António Pinto, conhecida por Pintosinho.
E fomos sabendo de algumas das etnias indígenas que encontraríamos pela Guiné, como Bailundos, Nalús, Sossos, Manjacos, Futa-Fulas, Fulas, Papeis, Balantas, Mandingas, Beafadas, Bijagós, Mancanhas, Felupes, Banhus, Tandas… Cada etnia tinha a sua própria cultura e estou a lembrar-me dos Manjacos que se distinguiam pelos panos que produziam em teares artesanais, os panos coloridos muito apreciados, as danças e sons muito característicos, só a título de exemplo.
E, apesar da grande confidencialidade, conseguimos um ’cheirinho’ sobre a razão da demora em partirmos para Gadamael Porto: qualquer coisa relacionada com as tais lanchas, ao mesmo tempo que davam a entender qualquer coisa de operações em curso, enfim, coisas que nada nos diziam, mas tinham todo o sentido, pelo que veio, a seguir…
(Continua)
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Nota do editor
Poste anterior de 29 de Novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23827: "Um Olhar Retrospectivo", autobiografia de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796. Excerto da pág. 407 à 483 - Parte III - Abrantes e Santa Margarida; três dias de detenção e, o Rosa e o Cunha
10 comentários:
Porque será que nunca ninguém se preocupou com 0 transporte das tropas do exercito.Como era possível os responsáveis pelo fretamento dum palha bote sem condições de segurança aceitarem tal situação.E nunca ter havido recusa de embarque Provavelmente esses responsáveis serão hoje no mínimo todos coronéis com brilhantes folhas de serviço
No dia 24 de Maio de 1969 a bordo do Niassa, vi, indignado e revoltado, a forma como os soldados de Portugal eram transportados a caminho duma guerra irracional.
Ainda guardei a secreta esperança duma recusa geral em serem largados como carga nos porões do navio.
Infelizmente nada aconteceu, como tinha sido antes e continuou a ser depois.
A nata da juventude Portuguesa tratada como mercadoria e/ou animais a caminho da defesa do sagrado solo dos interesses dos vilões.
Abraço
Eduardo Estrela
Cruz, cerca de um ano antes Feve.1969 os preços eram iguais: medida/balão do bioxene 2$50 e a água Perier 7$50.
A minha CART2479 (só quadros e especialistas) também acampou em Brá, mas não me lembro do arame farpado.
Então, um rapazinho tentou assaltar-te e calhando assassinar-te e fugiu sem ires atrás dele?
Entrou nas instalações em Brá, com a ideia de assaltar um periquito e depois saltando a arame fugiu para onde?
Bem podes dizer que tiveste um baptismo de fogo muito especial.
A minha CART2479 teve problemas com lacraus, que até deu azo ao nosso apelido, quando formamos Companhia com soldados fulas passando CART11'Os Lacraus'.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
José Macedo (by email)
05/12/2022, 21:37
Luis, enviei ao blogue o meu comentário ao post do camarada Cruz, criticando as falsidades/invenções sobre o Mindelo que, pelo que parece, estaria em piores condições de quando teu pai lá esteve.
Para além das “inverdades”, o artigo é bastante ofensivo a Cabo Verde, as mulheres Cabo-Verdianas, etc.
A minha crítica reflete não só o meu repúdio mas também o de outros Cabo-Verdianos (e Portugueses) a quem foi dado acesso ao post. Ate me sugeriram para envio o post e o meu comentário aos jornais Expresso das Ilhas, A Semana. O Jornal e outras publicações em Cabo Verde. Claro que tudo, com a devida vénia. Disse-lhes que não o iria fazer sem primeiro falar contigo sobre a publicação (ou não) do meu poste.
Aguardo.
Obrigado, camarada Luis e Festas Felizes
Luís Graça (by email)
9 dez 2022 21:48
Zeca: lamento muito, mas só agora percebi que tu estavas à espera que eu inserisse o teu comentário no poste em questão. Com atraso de 4 dias, já lá está, como podes verificar.
Em princípio deve ser o leitor, por si próprio, a inserir o seu comentário... Contrariamente a outros blogues e páginas na Net, cultivamos há muito a liberdade de comentar (sem moderação prévia). Nalguns casos, fazemo-lo nós, editores, quando o comentário chega por email, como é o caso...
Não tenho acompanhado, com a necessária atenção crítica, por falta de tempo, o que o Adolfo Cruz tem publicado na sua série "Um Olhar Retrospectivo", autobiografia de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796. Excerto da pág. 407 à 483"... e de que já se publicaram sete postes...
Confesso que alguns só os li na "diagonal, ou seja, a correr...Creio que só ká pus um comentário meu, pessoal... Mas tencionava lê-los, mais tarde, com tempo e vagar.
Vou pedir, entretanto, também o parecer do coeditor que está com esta série, o Carlos Vinhal. E gostava igualmente que o Adolfo Cruz lê-se o teu comentário de protesto. Dou também conhecimento ao "provedor do blogue", o Hélder Sousa.
Prometo responder-te o mais rápido possível. Também tenho o Mindelo, Cabo Verde e o povo cabo-verdiano no meu coração, como sabes. Temos leitores em Cabo Verde (e alguns são membros da Tabanca Grande), mas não me chegaram reparos críticos em relação ao que escreveu o Adolfo Cruz sobre a sua efémera passagem pelo Mindelo a caminho da Guiné, em 1970....
Retribuo-te os teus votos de Feliz Natal e Melhor Ano Novo. Um abraço fraterno, Luís
PS - Estou a ler as "Estórias contadas" do Germano Almeida (Prémio Camões, 2018). Aprecio, além da sua "morabeza", o recurso, com conta, peso e medida, da ironia, humor e do sarcasmo... É um cabo-verdiano (da Boavista, a viver no Mindelo) que tem uma inegável capacidade de rir-se de si próprio e da sua "insularidade", sem cortar as pontes que o ligam aos outros, à língua e cultura portuguesas, à CPLP, e ao próprio legado resultante da presença histórica de Portugal em Cabo Verde (que não pode reduzir-se a um visão a "preto e branco").
Adolfo Cruz (by email)
10 dez 2022 00:33
Meu Caro Amigo Luís Graça,
Os meus votos para que estejas bem.
Não queria maçar-te, mas não posso deixar de 'tocar' nas reações que constatei, por parte de outros Amigos.
Sim, compreendo que possa ter sido demasiado inconveniente ou agressivo, quando relato vivências e experiências desagradáveis que, quando relatadas ou lembradas, poderão criar suscetibilidades, desconforto.
No entanto, como não deixam de ser registos de episódios, realmente, vividos por mim, durante períodos mais ou menos agradáveis, fazendo parte da minha passagem por esta vida, seria hipócrita se não o fizesse, mesmo correndo o risco de má interpretação ou de ferir a sensibilidade de alguém.
E quem me dera não ter passado por algumas experiências e cenários, principalmente, pelas que vivi durante aqueles dois anos (1970 a 1972)...
Permito-me defender que tudo o que faz parte daquele meu escrito 'um olhar retrospectivo' corresponde ao que vivi, à minha realidade.
Um Abraço, com votos de Boas Festas e Um Ano Novo com Saúde e Felicidade.
adolfo
O pomo da discórdia... O trecho que o nosso camarada dos USA, de orige,m cabo-verdiana, José Macedo, antigo fuzileiro, não gostou e considerou insultuoso para com o Mindelo e as suas gentes:
(...) Um dia de felicidade, quando fizemos a escala em Cabo Verde, ilha de S. Vicente, cidade do Mindelo, onde estivemos cerca de doze horas, para abastecer o navio.
Antes de acostarmos ao cais, os miúdos mergulhavam nas águas transparentes daquele mar livre de poluição, para apanharem as moedas com a boca. Mas a felicidade acabou por ser aparente, durante aquelas horas pois, apesar de termos tido a possibilidade de comer bem e relaxar um pouco, o cenário encontrado deixou-nos infelizes, frustrados, revoltados.
Entrámos na cidade - aquilo era uma cidade?! - E procurámos os correios e um sítio onde houvesse jornais ou qualquer coisa que nos desse notícias. Estou nos correios, a preparar um telegrama para a Metrópole, quando sinto alguém a mexer-me nos pés: era um miúdo dos seus quinze anos a limpar-me os sapatos e com material para engraxar.
Disse-lhe que não precisava, pois havia muito pó e iria sujar-me, logo a seguir. Logo me respondeu que precisava de ajuda, que tinha o quinto ano, mas não havia trabalho. Dei-lhe uns escudos, que trocaria por pesos, a moeda local.
A casa do governador, uma moradia de traça tropical, um liceu novo e um hotel novo, tudo o que sobressaía daquele mundo de casinhas de madeira, algumas transformadas em cafés, com esplanadas, e muito, muito pó castanho avermelhado pelo ar. Ficção, pensava eu, mas as cabras e vacas passeavam pelas ruas e comiam papel de jornal!
O pior deste cenário triste era a prostituição, como é costume dizer-se, porta sim, porta sim, ao longo daquelas ruelas de terra e pó castanho, sinal da necessidade instalada.
Hora do almoço e sou aconselhado a comer no hotel. Lagosta enorme, Pesos 70$00 (Esc 70$00 = € 0,35). Garrafa de Casal Garcia, Pesos 120$00 (Esc 120$00 = € 0,60). Claro que os produtos atingem preços altos, mais por força do custo do transporte.
Cenários que foram mal reconstruídos e continuaram mal tratados, podendo ter tido outro destino, principalmente, no acompanhamento dos mais pequenos, aqueles que mais sofrem, pois têm de ajudar os pais, pobres e sem horizonte. Aliás, tivemos esse exemplo por cá, em certas zonas do país, como já falámos. (...)
Passando agora por cima de outras "impressões", mais polémicas, do viajante sobre o Mindelo, há 52 anos atrás... Vejamos o "custo de vida"... O Aolfo Cruz, nas 12 horas que lá passou fpi almoçar a um hotel (não diz as estrelas)...
(...) "Hora do almoço e sou aconselhado a comer no hotel. Lagosta enorme, Pesos 70$00 (Esc 70$00 = € 0,35). Garrafa de Casal Garcia, Pesos 120$00 (Esc 120$00 = € 0,60). Claro que os produtos atingem preços altos, mais por força do custo do transporte."(...)
Na realidade, a lagosta a preços de hoje era a 21 euros o quilo, e a garrafa de "Casal Garcia" (vinho verde) custaria 36 euros...
Luís Graça (by email):
Zeca: querido amigo...Temos um problema: o teu "direito à indignação" e a tua/nossa "sacrossanta" liberdade de expressão (base das nossas sociedades democráticas)... Recordemos aqui a nossa "política editorial" que tem 10 regras básicas:
(...) Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:
(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(...) (iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);
(...) (viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;
(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;(...)
(...) Luís Graça & Camaradas da Guiné
31 de Maio de 2006, revisto em 23 de Abril de 2011"
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/07/guine-6374-p8588-excitacoes-143.html
Zeca: aceito que o Adolfo Cruz fez uma "generalização abusiva" acerca, não da existência mas da extensão da prostituição no Mindelo, em 1970 (existia na altura e continua a existir hoje): "O pior deste cenário triste era a prostituição, como é costume dizer-se, porta sim, porta sim, ao longo daquelas ruelas de terra e pó castanho, sinal da necessidade instalada." (Negritos meus).
Trata-se. obviamente, de uma "força de expressão", ele não estava ali como "sociólogo" ou como "jornalista" mas apenas como "turista acidental"... E nem sequer chegou a conhecer a cidade, que já no tempo do meu pai (1941/43), e apesar de todas as dificuldades da época (a começar pela tragédia da seca e da fome de 1942, e entrarad de um conbtngente de mais de 3 mil numa população de 15 mil), tinha um ar urbano e até cosmopolita, com o único liceu do arquipélago a funcionar (lá estudaram tanto Amílcar Cabral como o furriel e mais tarde capitão, SGE, e escritor metropolitano Manuel Ferreira, e tantas figuras da futura elite cabo-verdiana)...
Eu tenho um grande carinho pelo Mindelo, por Cabo Verde, pelos cabo-verdianos, tenho vizinhos e amigos cabo-verdianos, cá e lá, não gostaria nada de ver este este pequeno "pomo de discórdia" (que é apenas um problema de óculos e de olhares) degenerar em polémica, escarrapachada na montra principal do blogue... (Ou, pior, ainda, "exportada" para os jornais das ilhas...). E para mais na véspera de Natal...
Não vou, por isso, dar-lhe maior visibilidade: uma coisa são as nossas pequenas "diferenças" (de leitura da realidade, micro, mezzo ou até macro, por exemplo...), outras são as "nossas grandes questões fracturantes" (religiosas, filosóficas, político-ideológicas ou até "clubísticas"...).
Em 1970 o Mindelo era uma "cidade colonial, portuguesa" e onde existia probreza e prostituição (ilegalizada desde 1963, se não erro) tal como existia em Lisboa, nos bairros populares (Bairro Alto, Alfama, Mouraria, etc.). Ou em Setúbal, Tavira, Chaves, e por aí fora, em terras onde havia uartéis e homens a preparam-se para a guerra...Mas podíamos acrescentar Bissau, Luanda, Lourenço Marques, etc....
Ninguém fica indignado, aqui no blogue, por ler que, na véspera de embarque para a Guiné, havia camaradas nossos que iam fazer uma "despedida" no Bairro Alto ou no Cais do Sodré ou na Reboleira... Ou, quando estavam em Bissau, chegavam a dormir no Pilau... Não passaria pela cabeça de ninguém dizer que em Lisboa (ou em Bissau) a prostituição era "porta sim, porta sim"...
Zeca, gostaria de ouvir a tua segunda opinião. O Adolfo Cruz já se manifestou em comentário no poste em questão. A porta continua aberta para o diálogo ou o triálogo. Boa continuação da preparação para as festividades natalícias. Luís
Adolfo Cruz (by email)
12 dez 2022 19:44
Meu Caro Amigo José Macedo,
Antes de mais, reitero o meu pedido de desculpas pela forma como descrevo as minhas experiências, mais precisamente, expressas no meu 'livrinho' de algumas memórias, escrito no ano em que completei os 70 (2018).
Como tantos outros, vivi momentos alegres e bons e momentos menos alegres e menos bons ou maus, ao longo de sete décadas, principalmente, vividas aqui, na então designada metrópole.
Talvez um pouco envolvido em uma certa contrariedade ou revolta, alguns cenários chamaram mais a minha atenção e ficaram registados na memória, como os referidos na minha curta passagem por Cabo Verde e em dois anos de Guiné.
Da mesma forma, tantos outros com que convivi aqui e em algumas outras partes do Planeta, em viagens de trabalho e turismo, acabei e acabo por relatar em comentários pessoais, entre amigos.
Naquele tempo, claro, as coisas eram mais difíceis e sinistras, em todo o lado, o que tocava a nossa sensibilidade, pela verdura da nossa existência, mas eram comuns e 'vulgares', como bem diz o nosso Amigo Luís Graça.
Já vivi em onze terras e tive períodos de permanência em países estrangeiros, o que me permite algumas conclusões e, até, juízos de valor, dentro dos limites da educação e bom senso que os meus pais me transmitiram.
Isto, para dar uma ideia do meu critério de análise, apreciação e expressão, sem intenção de ferir a sensibilidade de terceiros, sejam quais forem, mesmo quando no uso de 'força de expressão', como foi o caso, e referido pelo nosso Amigo Luís Graça.
Ao longo da vida, participei em reuniões, tertúlias e conversas informais e, sempre, fui visto como frontal, direto e objetivo, sem qualquer sinal de intenção de ofender os interlocutores, colegas, amigos ou simples conhecidos.
Não posso deixar de salientar o quanto apreciei e aprecio as culturas africanas e as amizades que fiz, durante a minha adolescência e vida académica, principalmente, com cabo-verdianos, angolanos e são-tomenses, quer em Coimbra, quer em Lisboa.
Falei em Coimbra, e recordo-me de muitos maus momentos que lá passei, aquando da minha passagem por lá, pois as perseguições e ataques das polícias eram 'um dia a dia', experiências também vividas por algumas das minhas amizades africanas...
Permito-me tomar algumas das palavras do nosso Amigo Luís Graça, no que concerne à forma considerada forte ou rude como me expresso, mas agradecendo que isso não seja tomado por mais do que 'forças de expressão'.
Votos de Boas Festas.
Abraço
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