sábado, 3 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23842: Os nossos seres, saberes e lazeres (544): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (79): A exposição de homenagem a Francis Graça, pioneiro do bailado em Portugal, Museu Nacional do Teatro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Outubro de 2022:

Queridos amigos,
Penso que não vi nenhum espetáculo desta companhia de bailado, a música sim, em adolescente, e com fortes restrições para gastos, fazia o possível para não perder os concertos gratuitos da Orquestra Filarmónica de Lisboa, habitualmente no Pavilhão dos Desportos ou na Estufa Fria, o maestro Fernando Cabral incluía sempre obras portuguesas, foi assim que eu vim a conhecer trabalhos de Ruy Coelho ou Frederico de Freitas, pouco tocados nos concertos do Tivoli aos sábados, pela orquestra da Emissora Nacional, preços generosos no 2º balcão. Embora as escolhas da Companhia estivessem pautadas por temas populares (D. Sebastião, a Nazaré, o folclore, D. Pedro e Inês de Castro...) houve um sério esforço para atrair o público às salas de espetáculos. A Companhia vai ter a sua extinção nos anos de 1960, suceder-lhe-á um empreendimento de grande vulto, a Companhia Gulbenkian, chegava o momento de se formar uma escola profissional, com bailarinos convidados de gabarito, alguns deles ainda hoje em funções, e com desempenhos de altíssima qualidade.Impunha-se homenagear quem alcandorou a Companhia ao maior nível daquele tempo, Francis Graça, morreu praticamente esquecido de todos.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (79):
A exposição de homenagem a Francis Graça, pioneiro do bailado em Portugal, Museu Nacional do Teatro


Mário Beja Santos

Esteve patente até setembro passado uma exposição sobre o trabalho de Francis Graça (1902-1980), bailarino, coreógrafo e ator, pioneiro do bailado em Portugal, em 1940 participou na criação da Companhia de Bailado Verde Gaio, um projeto idealizado por António Ferro (à época responsável pelo Secretariado da Propaganda Nacional), o objetivo era ter um conjunto modernista que pudesse realçar os valores nacionais através da dança e do bailado. Francis Graça (de nome completo Francisco Florêncio Graça) era um autodidata, estudou no Conservatório Nacional música, cedo abandonou os estudos para se dedicar à dança e bailado, estudou em Paris e ganhou notoriedade, sobretudo na década de 1930, nos seus trabalhos ao nível da revista. Irá impor-se como bailarino principal nas décadas de 1940 e 1950, será depois substituído por Margarida de Abreu à frente da Companhia, nunca se recomporá da humilhação, acabará os seus dias num quase total desconhecimento.
A exposição esteve patente no Museu Nacional do Teatro, procura destacar os eventos mais salientes do seu trabalho, relacionou-se com importantes nomes da composição do tempo, como Ruy Coelho, Armando José Fernandes e Frederico de Freitas.
Eu peço licença ao leitor, já estou no museu e vou a caminho da exposição, mas há aqui um conjunto de imagens que me parecem interessantes registar, este museu tem enormes riquezas e um acervo impressionante, aqui fica uma pálida ideai de que o visitante pode encontrar.

Imagem de Eunice, ela representou no filme “A Morgadinha dos Canaviais” em 1949
A iluminação é muito crua, dei voltas que me permitisse mostrar este belo trabalho de Rafael Bordalo Pinheiro alusivo a uma peça que se representou no Teatro de Ginásio, em 1890
O Museu guarda desenhos, aguarelas e óleos de autores e compositores, veja-se à direito um trabalho de Columbano e ao centro Amélia Rey Colaço num belo traço de Maria Adelaide de Lima Cruz
Moniz Pereira, Maria Keil, Bernardo Marques e Lucien Donnat aqui presentes com os seus trabalhos para idealizar guarda-roupas, traços belíssimos e ajustados
Maquete alusiva ao velho cineteatro Monumental, um espaço grandioso, uma impressionante sala de cinema e um teatro onde primaram alguns dos grandes nomes do seu tempo, basta lembrar Laura Alves ou João Villaret
Um belo trabalho em miniatura para se ficar com uma pálida ideia do que era o Teatro D. Leonor
Francis Graça e Ruth Walden, na verdade os nomes principais do Verde Gaio, em Passatempo, 1941
Capa de um programa de um espetáculo realizado no Teatro Nacional de S. Carlos, em 1944
Figurino de Maria Keil para os Bailados Verde Gaio, 1940
Imagem de Francis Graça a mostrar os seus dotes
Francis Graça pintado por Mário Eloy
Figurino de Francis Graça por Maria Adelaide de Lima Cruz, 1930
Elemento curioso da exposição, Francis Graça aparece ao lado de uma histórica representação de Romeu e Julieta, no Coliseu dos Recreios em junho de 1968, a companhia era o Ballet do século XX, dirigida por Maurice Béjart, Béjart acabaria expulso, bem como toda a companhia por ter pedido um minuto de silêncio pelo assassinato de Robert Kennedy, “vítima do fascismo e do imperialismo”
A derradeira imagem, a Companhia Verde Gaio mereceu honras de ficar registada em filme
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23819: Os nossos seres, saberes e lazeres (543): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (78): Do Badoca Safari Park para o Circo Arena (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Fernando Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.