Amigos e camaradas da Guiné
Cruzei-me várias vezes com Jaime Gama no CICA 2, mas apenas falei com ele 4 vezes durante um serviço comum, ele no papel de Oficial de Dia e eu no papel de Sargento de Dia. Foi o único contacto directo que tive e por isso não dá para falar do ex-Presidente da Assembleia da República, enquanto pessoa ou militar. Desse dia recordo a imagem dum individuo pouco falador, não dava nas vistas, não era vaidoso, não era militarista mas cumpria as regras. Depois da minha mobilização foi um exemplo a seguir para evitar problemas na tropa.
No final da recruta do 1.º turno em fevereiro de 1974 no CICA 2, realizou-se a semana de campo numa mata chamada Foitos, localizada na freguesia de Louriçal, apesar de decorrer sem incidentes, ficou gravada na minha memória para sempre. No penúltimo dia da dita semana, uma 5.ª feira, houve melhoria de rancho, o Vitor Costa pouco bebia e não era todos os dias que se comiam febras na brasa (rancho melhorado) e eu aproveitei a oportunidade para regar as febras com tintol.
Com o aproximar da noite, a bebida a subir à cabeça e eufórico, decidi fazer uma sessão de esclarecimento à tropa contra a guerra colonial, estava a dita tropa já acomodada dentro das viaturas Morris cobertas com toldo. Que seca... deviam pensar os soldados, quem pensa este gajo que é. Quando terminei a sessão lá fui para o acampamento do "IN" a que pertencia, salvo erro, com a arma e as munições simuladas.
No dia seguinte, sexta-feira, com a boca ainda seca, começaram os preparativos para a tropa regressar ao quartel e o Victor Costa ia recordando as peripécias da noite anterior e nem me queria lembrar daquilo que tinha feito. Na segunda-feira seguinte e durante a semana tudo decorreu sem incidentes e eu, já mais calmo, comecei a pensar que afinal não tinha dado nas vistas. Mas veio a outra segunda-feira e, às nove horas da manhã, chamaram-me pelo altifalante do quartel, ao gabinete do 2.º Comandante, o Major Pires. Ao chegar à porta faço anunciar-me, faço a continência e, "V.ª Ex.ª meu Major dá-me licença", segue-se um momento de silêncio e lá veio a resposta:
No dia seguinte, sexta-feira, com a boca ainda seca, começaram os preparativos para a tropa regressar ao quartel e o Victor Costa ia recordando as peripécias da noite anterior e nem me queria lembrar daquilo que tinha feito. Na segunda-feira seguinte e durante a semana tudo decorreu sem incidentes e eu, já mais calmo, comecei a pensar que afinal não tinha dado nas vistas. Mas veio a outra segunda-feira e, às nove horas da manhã, chamaram-me pelo altifalante do quartel, ao gabinete do 2.º Comandante, o Major Pires. Ao chegar à porta faço anunciar-me, faço a continência e, "V.ª Ex.ª meu Major dá-me licença", segue-se um momento de silêncio e lá veio a resposta:
- Entre nosso cabo miliciano, esteja à vontade. Seguiu-se um período de silêncio.
- Então a semana de campo correu bem - pergunta-me de chofre.
Seguiu-se um período de silêncio e lá veio a resposta.
- Sim meu major correu bem...
- Hum - ouvi eu...
- Mas, ouvi dizer que houve política que não estava no programa da semana de campo... -
- Sim meu major correu bem...
- Hum - ouvi eu...
- Mas, ouvi dizer que houve política que não estava no programa da semana de campo... -
Silêncio.
Seguiu-se uma lição de meia hora sobre dever, disciplina, exemplo a dar à tropa, a política não era para ali chamada etc. E a terminar:
Seguiu-se uma lição de meia hora sobre dever, disciplina, exemplo a dar à tropa, a política não era para ali chamada etc. E a terminar:
- Olhe, quero dizer-lhe que foi mobilizado para a província portuguesa da Guiné para render um camarada seu. É tudo, pode sair.
Faço a continência, despeço-me, dou meia volta aos tacões e lá segui para casa, com a convicção que tinha mijado fora do penico e falado de mais. Daquela reunião com o 2.º Comandante, fiquei também a saber com quantos paus se faz uma canoa, ou seja, havia um pau que tinha uma ponta no bico e tinha havido uma mão que tinha aproveitado o pau para escrever.
Aqui começou o início de uma nova vida, seguiram-se 10 dias de licença para tratar da farda e da papelada, no Depósito Geral de Adidos de Lisboa, e apanhar um Boeing 727 da FAP em Lisboa e daí para Bissalanca. Até nisso eu tive sorte, porque foi a primeira vez que andei de avião. Ao chegar a Bissalanca já tinha uma carrinha Mercedes do Exército para me levar para os quartos do QG em Bissau junto ao bar de Sargentos.
No outro dia depois de arrumar a mala com o fardamento e outros pertences, dirijo-me para o dito bar e, ao passar pelas mesas na esplanada, começo a ouvir umas bocas que me eram dirigidas, não liguei e dirigi-me para o balcão.
As bocas, "piu... piu... piu"..., eram de gozo, divertidas, nunca as tinha ouvido e com tendência para aumentar. Que sorte, eu a pensar que ia ver gente triste e carrancuda e sai-me esta cena, a seguir de uma das mesas começa um coro, que só lhe faltava a música. Hoje já não existem praxes pelo menos daquele tipo, para mim que sempre gostei de praxes, esta foi do melhor, ser praxado permite conhecer novas pessoas e uma boa integração melhora o nosso moral.
Entretanto o coro foi aumentando:
piriquito vai no mato... óréréré
que a velhice vai no Bissau... óréréré
salta, salta piriquito... óréréré
que a velhice já saltou... óréréré
E a festa continuou.
Numa das mesas as picadelas tornaram-se mais fortes e foi para lá que eu me dirigi para os cumprimentar. Nem parecia que tinha chegado à Guerra, de onde és pergunta um, não havia sol lá na terra, diz outro, para onde vais? Vai trocar as divisas porque essas cheiram a leite (ainda hoje tenho as divisas de outro furriel). O que queres beber, foi aqui que comecei a beber o bom Whisky Old Parr, simples e seco, porque a água estraga o whisky e este, 5$00 a bolha e 127$50 a garrafa, era barato.
Só no dia seguinte é que comecei a ouvir relatos sobre a guerra. O ambiente era bom, não fosse a saturação e a pancada no sotão, em alguns "velhinhos" com mais de 28 meses de comissão, fartos daquilo que era a fruta da época a aguardar que os mandassem para casa. Na minha primeira visita ao "Barracão", perdão queria dizer Hospital Militar de Bissau, para visitar uns amigos do "velho" furriel Bilhau da Leirosa, é que vi que tinha chegado à Guerra.
No dia 17 de Março, ao som do altifalante e da voz de Raul Solnado, que falava das munições da Guerra de 1908, recebi a ordem para fazer o espólio dum furriel miliciano morto em combate na região de Bafatá e que era o objecto da minha mobilização.
Foi um momento difícil, conhecer o historial desse camarada, fazer a seleção dos seus pertences para os enviar à família e queimar a correspondência imprópria das cartas enviadas por cinco mulheres ou raparigas que com ele tinham tido uma relação muito íntima, não sei se seriam madrinhas de guerra ou outra ligação qualquer, a verdade é que aquele tipo de escrita até dava vida a um morto.
No dia 17 de Março, ao som do altifalante e da voz de Raul Solnado, que falava das munições da Guerra de 1908, recebi a ordem para fazer o espólio dum furriel miliciano morto em combate na região de Bafatá e que era o objecto da minha mobilização.
Foi um momento difícil, conhecer o historial desse camarada, fazer a seleção dos seus pertences para os enviar à família e queimar a correspondência imprópria das cartas enviadas por cinco mulheres ou raparigas que com ele tinham tido uma relação muito íntima, não sei se seriam madrinhas de guerra ou outra ligação qualquer, a verdade é que aquele tipo de escrita até dava vida a um morto.
Fiquei então a saber que a fotografia dele de camuflado com chapéu à cowboy com a walter de 9 mm a pender para o lado direito pronta a sacar não era nada, quando comparada com a dita escrita das cartas. Apenas o vi em fotografias, não vi nem o caixão e a dita escrita não permitiu saber que tipo de vida levava na Metrópole, prefiro recordá-lo apenas como um guerreiro com tomates.
Entretanto a dita rendição para Bafatá nunca se concretizou, nem cheguei a saber a razão. O facto é que fui direitinho para a CCaç 4541/72 para aprender a arte da Guerra. Depois de começar a beber bom Whisky é difícil parar, só temos que manter o controle da situação. A primeira coisa que me lembro quando cheguei à CCaç 4541/72, foi da minha deslocação ao barraco, perdão queria dizer Bar, pedir um Old Parr e o soldado dizer que não havia, porque dava prejuízo, foi a minha oportunidade para saber quantas bolhas tinha uma garrafa e ensinar o soldado a gerir o bar.
Entretanto a dita rendição para Bafatá nunca se concretizou, nem cheguei a saber a razão. O facto é que fui direitinho para a CCaç 4541/72 para aprender a arte da Guerra. Depois de começar a beber bom Whisky é difícil parar, só temos que manter o controle da situação. A primeira coisa que me lembro quando cheguei à CCaç 4541/72, foi da minha deslocação ao barraco, perdão queria dizer Bar, pedir um Old Parr e o soldado dizer que não havia, porque dava prejuízo, foi a minha oportunidade para saber quantas bolhas tinha uma garrafa e ensinar o soldado a gerir o bar.
De facto 5$00 por cada dose e sendo elas 28, dava para ganhar dinheiro, mas a melhor opção seria vender do Dimple porque a garrafa custava 125$00, ainda hoje é raro o dia, não beber um Whisky a seguir ao almoço. As moedas que ainda mantenho na minha posse têm a ver com Whisky. Na tropa aprendi que há limites para tudo e 10$00 correspondia a dois Whisky e eram suficientes para andar direito, não falar demais, não dar nas vistas e não fazer coisas que nos tragam problemas. É o melhor remédio.
Destas recordações sobre a minha mobilização para a Guiné, resta-me apenas um papel timbrado que a grande maioria não possui, que guardo como recordação e sem complexos de esquerda ou de direita. O facto de ser contra a situação da guerra nas ditas colónias, refletia o pulsar da juventude do meu tempo e ela só trazia problemas, mas uma vez chegado à guerra da Guiné, o meu lado da barricada estava escolhido, a minha obrigação era cumprir e fazer cumprir as ordens, respeitar a hierarquia e fazer a guerra, ali comecei a respeitar aquele povo, mas também a aprender que, afinal, além de ter costelas de esquerda, tinha uma mão direita e um dedo que disparava a G3 apenas com o apoio do braço e da anca do mesmo lado e enquanto existissem ordens as ditas eram para funcionar.
A minha passagem pela Guiné mostrou-me que, se o Regime que nos conduziu à Guerra não era bom, o PAIGC não era melhor e as minhas costelas de esquerda começaram a perder força. Entre outras coisas eu consegui uma Declaração em papel timbrado de uma comissão por imposição, que nem o filho do Secretário do Gabinete do Ministro das Colónias, Baltazar Rebelo de Sousa dessa altura tem.
Destas recordações sobre a minha mobilização para a Guiné, resta-me apenas um papel timbrado que a grande maioria não possui, que guardo como recordação e sem complexos de esquerda ou de direita. O facto de ser contra a situação da guerra nas ditas colónias, refletia o pulsar da juventude do meu tempo e ela só trazia problemas, mas uma vez chegado à guerra da Guiné, o meu lado da barricada estava escolhido, a minha obrigação era cumprir e fazer cumprir as ordens, respeitar a hierarquia e fazer a guerra, ali comecei a respeitar aquele povo, mas também a aprender que, afinal, além de ter costelas de esquerda, tinha uma mão direita e um dedo que disparava a G3 apenas com o apoio do braço e da anca do mesmo lado e enquanto existissem ordens as ditas eram para funcionar.
A minha passagem pela Guiné mostrou-me que, se o Regime que nos conduziu à Guerra não era bom, o PAIGC não era melhor e as minhas costelas de esquerda começaram a perder força. Entre outras coisas eu consegui uma Declaração em papel timbrado de uma comissão por imposição, que nem o filho do Secretário do Gabinete do Ministro das Colónias, Baltazar Rebelo de Sousa dessa altura tem.
Quando regressei da Guiné esperava-me outra surpresa. Fomos mal recebidos, os empregos eram poucos e muito menos para aqueles que não fossem soviéticos ou próximo deles, mas a tropa e a psícola da Guiné tinham-me tornado mais forte e por isso fui à luta.
No início de 1975 comecei a trabalhar na empresa Sepsa, de Leça do Balio, na montagem da Petrosul em Sines, o centro do furacão da revolução no Alentejo, onde vi e assisti àquela cegueira ideológica dos soviéticos que nada tinham compreendido daquele poema do Zeca Afonso, ou da queima das fitas e da linha férrea entre Coimbra e a Figueira.
Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
Quando um homem se põe a pensar
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme a noite ao relento na areia
Dorme a noite ao relento do mar
Dorme a noite ao relento do mar
E se houver uma praça de gente madura
e uma estátua
uma estátua de febre a arder
Anda alguém
pela noite de breu à procura
E não há quem lhe queira valer
E não há quem lhe queira valer
Vejam bem
Daquele homem a fraca figura
Desbravando os caminhos do pão
Desbravando os caminhos do pão
E se houver
Uma praça de gente madura
Ninguém vai levantá-lo do chão
Ninguém vai levantá-lo do chão
Vejam bem que não há só gaivotas em terra
Quando um homem
Quando um homem se põe a pensar
Que poema bonito este.
Mas a realidade era outra, aquela gente no complexo Industrial de Sines esqueceu-se que alguns da minha geração já conheciam o poema, conheciam as praxes académicas de Coimbra e já tinham aprendido a pensar e aquela revolução tinha mais a ver com aquele ditado popular "Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço" e o pior, estava para vir.
Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24226: (In)citações (237): "Reflexão sobre a pobreza" (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)
No início de 1975 comecei a trabalhar na empresa Sepsa, de Leça do Balio, na montagem da Petrosul em Sines, o centro do furacão da revolução no Alentejo, onde vi e assisti àquela cegueira ideológica dos soviéticos que nada tinham compreendido daquele poema do Zeca Afonso, ou da queima das fitas e da linha férrea entre Coimbra e a Figueira.
Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
Quando um homem se põe a pensar
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme a noite ao relento na areia
Dorme a noite ao relento do mar
Dorme a noite ao relento do mar
E se houver uma praça de gente madura
e uma estátua
uma estátua de febre a arder
Anda alguém
pela noite de breu à procura
E não há quem lhe queira valer
E não há quem lhe queira valer
Vejam bem
Daquele homem a fraca figura
Desbravando os caminhos do pão
Desbravando os caminhos do pão
E se houver
Uma praça de gente madura
Ninguém vai levantá-lo do chão
Ninguém vai levantá-lo do chão
Vejam bem que não há só gaivotas em terra
Quando um homem
Quando um homem se põe a pensar
Que poema bonito este.
Mas a realidade era outra, aquela gente no complexo Industrial de Sines esqueceu-se que alguns da minha geração já conheciam o poema, conheciam as praxes académicas de Coimbra e já tinham aprendido a pensar e aquela revolução tinha mais a ver com aquele ditado popular "Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço" e o pior, estava para vir.
Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24226: (In)citações (237): "Reflexão sobre a pobreza" (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)
9 comentários:
Ai Costa, Costa, a vida custa.
Então ainda na recruta fazias de Sargento de Dia? O CICA 2 não tinha cabos milicianos rodoviários suficientes?
No meu tempo, ano de 1968, quando estava no RAP3 havia uma grande discussão com o CICA 2, por causa dos serviços PU na cidade, eles não "autorizavam" que nós interpelássemos tropas do seu Quartel.
A semana de campo dos copos e da palestra politica foi em 1974? Mas em 1974 estavas na Guiné.
Ainda estás um bocado apanhado e trocaste as datas. E eu estou confuso a pensar como é que o Jaime Gama era Oficial de Dia em 1972 sabendo-se que em 1973 e 1974 estava a cumprir o serviço militar no CICA 2, quer dizer que não foi mobilizado.
Um pormenor, tu eras furriel mil. atirador de inf. e no CICA era dada instrução a recrutas para condutores auto e, pela explicação, também o CSM para atiradores?
"Fomos mal recebidos, os empregos eram poucos e muito menos para aqueles que não fossem soviéticos ou próximo deles, mas a tropa e a psícola da Guiné tinham-me tornado mais forte e por isso fui à luta."
Ultimamente tenho notado estar a ficar sem memória, talvez pela idade/doença ou por viver sozinho sem conversar com as pessoas, e por isso não me lembro de nada do que dizes e acima transcrevi. Nos anos 1997/98/99 apareceram muitos russos para trabalhar na construção civil, mas não me lembro como estava o mercado laboral em 1974/75, e contigo que és da Beira Litoral não houve problemas em arranjares logo emprego na Sepsa.
Agora como está a chegar o Verão, aproveita para ouvir outra vez Zeca Afonso e perceberes melhor o que é que ele queria dizer com os seus poemas.
É que "quando um homem se põe a pensar" não dá para mais de uma interpretação, e tem de ser aquela do tempo que escreveu e cantou.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Victor, quem passou pela Guiné, naqule tempo, no princípio, no meio ou no fim da guerra, nunca mais foi o mesmo. Obrigado pela tua sinceridade e pela tua partilha de memórias.
Sobre o "patacão", temos 35 referèncias:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/patac%C3%A3o
E sobre o "uísque" temos 15;
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/u%C3%ADsque
Bebia-se muito no meu e no teu tempo. Bebe-se muito em todas as guerras...
Gostei de ler, Caro Víctor!
Abraço
V Briote
________
Victor, vê lã o raio da inflacção que disparou em 1973... 10 escudos (metropolitanos) valiam 3 très euros no meu tempo (1969), e apenas dois no teu, em 1974... (Retira agora 10% a este valor, uma vez que o valor do "peso" guineense, na candonga, era equivalemte a 90 % do nosso escudo...).
Tu bebias dois uísques em 1974 por 10 pesos, e eu quase cerca de très... Também bebi muito, hoje é raro beber um uísque (e o fígado agradece)... LG
Qunatio vale hoje o dinheiro do passado ? Converter escudos em euros na Pordata:
https://www.pordata.pt/
Em Fevereiro de 1969, na "Solmar" em Bissau um bioxene de medida custava 2 pesos e meio e a água Perrier ou das Pedras 5 pesos.
Com uma moeda de 10 pesos, que o Costa apresenta, atirava-se abaixo uma travessa de ostras na "Ultramarina" que dava para encher a barriga.
Evidentemente, em Fev/69 ainda pagávamos com moedas da metrópole e havia sempre uma "oferta" em vez de troco correcto: um bioxene de 2$50 pago com 10$00 metrópole, o troco seria 8$50.
E quanto ao deitar abaixo Old Parr, Antiquaire, Monkys, Dimple, White Horse, e outros era mato como diz o Abílio Duarte.
Em Nova Lamego, quando havia o fornecimento pra cantina, tínhamos "direito" a umas garrafas de bioxene e as marcas variavam.
Valdemar Queiroz
Costa, agora reli o poste e reparei que quando estavas no CIAC2 já eras cabo miliciano, o que fica sem sentido algumas minhas observações.
Valdemar Queiroz
Victor, nas situações de conflito social (incluindo a guerra) há uma dinâmica de grupo que leva a esbater as diferenças interindividuais e a reforçar a identidade e a coesão do grupo... Aliás, é esse o papel da instrução militar, mais evidente ainda nas tropas especiais...
Por isso, é compreensivel que tenhas ido para a Guiné como "contestatário" e lá tenhas perdido algumas ilusões e pegado em armas decidido a combater o "inimigo"... Como se dizia em Mueda, "aqui entras cordeiro e sais lobo"...
O ser humano precisa de um "sentido de coerência" para tudo o que faz... Mas houve gente que, não tendo desertado, fez resistência passiva ou teve um comportamento decente, como português, como combatente e como ser humano, no TO da Guiné, mesmo pagando um preço alto.
Vamos lá ver.
Mesmo quem fosse contra o salazarismo, contra guerra colonial e admiração pelos revoltosos nas províncias ultramarinas, estivesse na tropa e fosse mobilizado para a guerra, não se passava para o inimigo na primeira oportunidade ou praticava sabotagens contra a nossa tropa. Não são conhecidos destes casos, por razões politicas desertar para a tropa do inimigo.
Depois, o contacto no terreno não fazia mudar de ideias, antes aumentava a necessidade de mudança de regime para acabar com o problema da guerra colonial.
Com certeza, por muita massa óssea de esquerda que alguém tivesse, em caso de ataques ao quartel, emboscadas, minas criminosas, não gritaria 'viva o Amílcar' antes diria revoltado 'esta merda não acaba'.
Agora, se o contacto com a guerra fazia alterar a composição da massa óssea teria de haver grande filha da putice do inimigo para isso acontecer, como exemplo no caso do assassinato dos majores que dava para pensar bem no assunto. No entanto, julgo, sempre com o pensamento de haver mudança politica para acabar com a merda da guerra.
Valdemar Queiroz
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